quinta-feira, 24 de maio de 2018

Preço não faz acordo, FSP

Preço não faz acordo

Com governo premido por greve, Petrobras anuncia barateamento temporário do diesel

Caminhoneiros bloqueiam estrada em Juatuba, Minas Gerais
Caminhoneiros bloqueiam estrada em Juatuba, Minas Gerais - Douglas Magno/AFP
Não é surpresa, ainda mais em ano eleitoral, que políticos se rendam à pressão de uma greve de caminhoneiros e saiam em busca de medidasemergenciais para conter a alta dos preços dos combustíveis.
O risco, que se deve evitar a todo custo, é uma recaída no controle populista de preços, que, aliado a gestão irresponsável e corrupção, levou a Petrobras à breca —a estatal ficou no vermelho por quatro anos consecutivos, até 2017.
Nos últimos meses, o petróleo passou por valorização aguda. Desde meados do ano passado, o barril saltou de US$ 45 para quase US$ 80 nos mercados internacionais —em razão de maior consumo, contenção da oferta por parte da Opep (cartel que reúne alguns dos grandes países produtores) e tensões geopolíticas. 
O problema foi agravado pela alta do dólar nos últimos meses. Como a política da Petrobras agora é repassar aos preços tais variações, tem-se no momento o pior dos mundos para o consumidor.
Em menos de um ano, a gasolina e o óleo diesel encareceram em mais de 50% —a alta do segundo desencadeou o movimento dos caminhoneiros autônomos, que já causa desabastecimento.
Com o Palácio do Planalto sob pressão, a Petrobras anunciou nesta quarta (23) uma redução de 10% do diesel nas refinarias por 15 dias, alegando que assim se facilita a negociação com os grevistas.
Ganha-se tempo, mas as alternativas permanecem poucas.
A alta do petróleo sinaliza escassez em escala global. É por meio desse sinal de mercado que se obterá redução do consumo e novos investimentos em campos que não seriam viáveis noutro cenário.
Desde que se respeite a realidade dos preços, é legítimo que o governo considere outras ações. Cabe, por exemplo, avaliar se a estatal utiliza seu monopólio para cobrar além da conta, o que configuraria abuso de poder econômico. 
Não parece ser esse o caso, porém. Mais palpável é o peso da carga de impostos sobre os derivados, que motiva uma correria de congressistas encabeçada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O primeiro alvo deve ser a Cide, um tributo de natureza regulatória que visa justamente adequar o custo dos combustíveis. Entretanto o impacto seria modesto.
Outras taxações, como as do PIS e da Cofins, federais, e do ICMS estadual representam uma fatia bem maior dos preços, em torno de 28% no caso do diesel. Mas nem a União nem os estados têm condições financeiras para grandes renúncias de receita no momento.
Não existem, pois, soluções indolores a serem oferecidas à sociedade ou aos caminhoneiros. Abusos como o bloqueio de estradas não mudarão os efeitos dos fluxos de oferta e demanda no mundo.

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