SÃO PAULO
Inaugurado em 1966 no largo do Paissandu (centro de São Paulo), o prédio que desabou após um incêndio de grandes proporções nesta terça-feira (1º) inicialmente abrigou a Cia. Comercial Vidros do Brasil (CVB).
Nos anos 1980, a construção passou a ser a sede da Polícia Federal na cidade. A decadência veio depois do ano de 2001, quando o edifício, que tem 24 andares e cerca de 11 mil metros quadrados, foi esvaziado.
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 01-05-2018: Desabrigados recebem doações no Largo do Paissandú. Eles moravam em uma ocupação em um antigo prédio da Policia Faderal que desabou no centro de São Paulo durante a madrugada desta terça-feira. (Foto: Eduardo Anizelli/ Folhapress, COTIDIANO) /Eduardo Anizelli/Folhapress
Hoje, ele é propriedade do governo federal e passou por diversas tentativas de revitalização. Desde 2017, a Prefeitura de São Paulo e o governo Federal negociavam a instalação da secretaria paulistana de educação no imóvel. Por isso, desde o ano passado, o prédio estava cedido à prefeitura.
Uma agência do INSS chegou a ser instalada apenas no térreo até 2009. No ano seguinte, foi anunciada uma parceria entre o Sesc, uma organização francesa e o governo federal para transformá-lo em polo cultural. Ficou no anúncio.
A Secretaria de Patrimônio da União cedeu o prédio para a Unifesp em 2012, que instalaria ali o Instituto de Ciências Jurídicas. O projeto não vingou, e o prédio foi invadido diversas vezes por movimentos de sem-teto.
Em 2015, ainda no governo Dilma, o ministro Nelson Barbosa autorizou que a propriedade fosse a leilão. Mas não houve nenhum interessado em pagar os R$ 21,5 milhões pedidos (a reforma consumiria outros muitos milhões).
O edifício foi desenhado pelo arquiteto Roger Zmekhol. Foi um dos primeiros a ter as esquadrias revestindo todo a construção. Também foi um dos pioneiros no sistema de ar-condicionado embutido. Tinha pisos de ipê e divisórias móveis nos escritórios, e um hall de mármore e aço inoxidável.
DESABAMENTO
O incêndio levou à queda do prédio devido à deformação dos pilares que sustentam a edificação, causada pela alta temperatura. "Nos edifícios de vários andares, nunca se vai conseguir, num incêndio como o de ontem, evitar que altas temperaturas degradem resistência das estruturas", explica o professor de Estruturas de Concreto na Escola Politécnica da USP, Henrique Campelo.
No caso do concreto, é preciso que a temperatura ultrapasse os 800°C para que o material comece perder sua resistência, fazendo com que esses pilares –os principais responsáveis pela sustentação do edifício, desde sua fundação até o topo– cedam.
Para o engenheiro civil Percival Camanho, no incêndio desta madrugada as temperaturas ultrapassaram 1.000°C, uma vez que não há estilhaços de vidro nos escombros, pois a essa temperatura o material vira líquido.
Ele também explica que o fato de o foco ter sido no quinto andar, conforme os relatos de moradores, piorou o cenário. "À medida que rompe o pilar, gera instabilidade, o que pode provocar o desabamento de todo edifício. Quanto mais baixo o andar em que foi atingido, pior as consequências."
NOTA DE PESAR
Em nota, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo afirmou que se solidariza com as famílias das vítimas do incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida. "[O conselho] lamenta que a tragédia torne explícito mais um exemplo do descaso do poder público, em todas as esferas, com o atual quadro urbanístico das nossas cidades e com ausência recorrente de uma Política Habitacional Nacional consistente aliada a preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo", complementa a nota.
A organização pede, ainda, que o prédio, tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade da capital, sirva como exemplo para evitar novas tragédias. "É hora de uma ação política urbana articulada, séria e eficaz a respeito. Não apenas pelos edifícios icônicos, mas sobretudo por justiça social."
Leia abaixo a íntegra da nota.
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo se solidariza com as famílias das vítimas do incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida e lamenta que a tragédia torne explícito mais um exemplo do descaso do Poder Público, em todas as esferas, com o atual quadro urbanístico das nossas cidades e com ausência recorrente de uma Política Habitacional Nacional consistente aliada a preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo.
O edifício, projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol, em 1961, era um dos melhores exemplos da arquitetura moderna na cidade e foi tombado, em 1992, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.
No entanto já estava degradado por abandono, falta de manutenção e sucessivas ocupações informais e outras organizadas. Sem se entenderem, o governo, nas diversas esferas e a Justiça permitiram que o cenário fosse se perpetuando, o que adiou sua possível recuperação e nova destinação, com potencial para amenizar a precária situação habitacional do centro e dar melhor uso à infraestrutura da região.
Há muitas outras construções em situação idêntica na área. Antes que novas tragédias aconteçam, é hora de uma ação política urbana articulada, séria e eficaz a respeito. Não apenas pelos edifícios icônicos, mas sobretudo por justiça social.
(O CAU/SP representa 50 mil arquitetos e urbanistas atuantes em todo Estado e faz parte do conjunto autárquico encabeçado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.)
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