A história do professor Ronaldo Pereira, de 44 anos, morador em Birigui, chamou a atenção nas redes sociais no começo da semana por causa de uma atividade que ele faz para complementar a renda: reciclagem de lixo. Essa história foi publicada pelo site The Intercept Brasil e repercutiu nacionalmente.
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Pereira é professor desde 2010 e dá aula de História e Sociologia em três escolas de Birigui. Ele foi contratado para dar aula na categoria “O”, uma espécie de trabalho temporário com prazo de três anos. Após esse tempo, o professor entra na chamada “duzentena”, um período de quase 200 dias sem trabalhar – e sem receber.
Só depois disso, ele pode voltar a ser contratado novamente. A Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) aprovou no ano passado projeto de lei complementar reduzindo o tempo da “duzentena”, mas mesmo assim, os professores ainda ficarão um tempo sem receber.
O professor, formado em História, disse à Folha da Região que o contrato dele vence em dezembro deste ano e depois disso, não sabe como vai fazer. O salário dele é de cerca de R$ 1,6 mil para sustentar a mulher, que está desempregada, e a filha.
Por aula, ele recebe do Estado R$ 11,50. O piso da categoria é R$ 2.585, mas no caso de Pereira, o valor depende da quantidade de aulas dadas. Como complemento de renda, ele passou a coletar material reciclável e revender em Birigui.
O primeiro contato dele com recicláveis foi em 2015, quando entrou na “duzentena” e lembrou de uma das escolas em que atuava. “Na escola tinha muitos livros e tinha material reciclável. Eu queria fazer mestrado nessa área, inclusive. Quando entrei na ‘duzentena’, comecei a pegar reciclado. Saía para a rua e recolhia”, contou.
Em março 2015 daquele ano, o irmão dele o apresentou a uma pessoa que estava vendendo uma carretinha para acomodar recicláveis. “Eu não tinha dinheiro para comprar, era R$ 1,6 mil. Conversei com o rapaz e ele dividiu em seis vezes o valor”, lembra.
No entanto, ele disse que hoje não consegue lucrar tanto quanto no início, porque o mercado estaria mais “competitivo” em Birigui. “Antes eu conseguia juntar R$ 1,4 mil por mês, mas agora junto, em média, R$ 400”, afirma.
SEGURANÇA
Antes de começar a dar aulas, Pereira era segurança particular em uma empresa de Birigui. Ele contou que teve a ideia de cursar faculdade quando os colegas de trabalho reclamavam da situação, do pouco dinheiro que recebiam. “Eu falava que eles tinham que estudar, para ter um futuro melhor. Aí, eu mesmo acabei fazendo faculdade pra mudar a minha vida”, lembra.
Antes de começar a dar aulas, Pereira era segurança particular em uma empresa de Birigui. Ele contou que teve a ideia de cursar faculdade quando os colegas de trabalho reclamavam da situação, do pouco dinheiro que recebiam. “Eu falava que eles tinham que estudar, para ter um futuro melhor. Aí, eu mesmo acabei fazendo faculdade pra mudar a minha vida”, lembra.
PROJETO DE LEI
Em dezembro, a Alesp aprovou o projeto de lei complementar que reduz de 200 para 40 dias, no ano letivo de 2018, o prazo estabelecido para celebração de novo contrato de trabalho pelos docentes contratados como categoria “O”.
Em dezembro, a Alesp aprovou o projeto de lei complementar que reduz de 200 para 40 dias, no ano letivo de 2018, o prazo estabelecido para celebração de novo contrato de trabalho pelos docentes contratados como categoria “O”.
Com a aprovação, 33 mil professores, que deveriam ficar 180 dias fora da rede estadual, tiveram a oportunidade de participar da atribuição de aulas no início deste ano.
De acordo com o coordenador da subsede da Apeoesp de Araçatuba, Carlos Massaiti Nishikawa, a categoria “O” é a pior que existe no magistério, sem ter direito a nada. “Quase que não tem direito nem a abono.
De acordo com o coordenador da subsede da Apeoesp de Araçatuba, Carlos Massaiti Nishikawa, a categoria “O” é a pior que existe no magistério, sem ter direito a nada. “Quase que não tem direito nem a abono.
São dois abonos durante o contrato inteiro. Um professor efetivo, tem oito dias de abono quando casa. O professor de categoria “O” tem só dois dias, não dá tempo nem de ter lua de mel. Em caso de luto, o magistério dá oito dias. No “O” são dois dias. Eu vejo como uma categoria que precisa ser revista. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) considera essa categoria como escrava”, afirma.
A reportagem procurou a Secretaria de Estado da Educação, cobrando explicações sobre a situação de Pereira, mas a informação dada pela assessoria de imprensa é de que a valorização dos docentes está entre as prioridades do Governo de São Paulo e que “a fim de ampliar o corpo docente efetivo de toda a rede estadual, desde o ano passado, já foram nomeados mais de 23 mil docentes aprovados no concurso público realizado em 2010”. A única informação a respeito de Pereira foi que “a remuneração desses profissionais ocorre de acordo com as horas aulas exercidas” e que “o professor Ronaldo Pereira recebeu R$ 1.871,42 em maio”.
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