O sofrimento causado pelos caminhoneiros à sociedade não seria o mesmo se não vivêssemos na mais absoluta dependência da matriz rodoviária para o transporte de gente e de cargas. Nem mesmo os EUA, que nos “venderam” a obsessão pelos automóveis, têm proporção tão grande de transportes por caminhões.
O Brasil move 60% de suas cargas por rodovias, 20% em trens e 15% por hidrovias ou portos; nos EUA, os trens levam cerca de 42%, os caminhões, 32%, e os barcos, 25%, segundo a CNT (Confederação Nacional dos Transportes). A coisa é ainda mais grave em São Paulo: a Federação das Indústrias do Estado aponta que aqui há um quase monopólio: 93% das cargas são transportadas por rodovias.
Essa é a herança maldita que recebemos do início do século 20, quando Washington Luís (1869-1957), governador de São Paulo, depois presidente da República entre 1926 e 1930, pregava que “governar é abrir estradas”. Até então, seguíamos o modelo europeu, de incentivo às ferrovias.
É mais barato implantar rodovias. Na ferrovia, a estrada e os veículos são parte do investimento; no modelo rodoviário, o Estado ou a construtora privada pagam o leito; os usuários entram com os veículos e combustível.
E assim, com menos dinheiro (por várias décadas, todo ele público), nossos governos espalharam estradas. Até mesmo na Amazônia, com os maiores rios do mundo, o Brasil implanta estradas de rodagem em vez de hidrovias.
Tudo parecia bem até a crise do petróleo, nos anos 1970. Naquele momento, quando o barril pulou de US$ 3 para US$ 30, ficou clara a arapuca em que nos metemos: o Brasil não tinha alternativa ao transporte rodoviário, não pôde escapar dos gastos com óleo e quase quebrou. Desde então, outras crises aconteceram. E há sempre alguém lembrando o óbvio, que deveríamos ter apostado mais em ferrovias e hidrovias.
Mas todas as altas de petróleo provocam crises econômicas (ainda mais pesadas no Brasil), em que Estado e empresas ficam sem capacidade de realizar investimentos necessários para construir alternativas. Empurramos o problema com soluções imediatistas, como agora, e seguimos rodando, até a próxima crise.
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