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04 Maio 2018 | 03h00
Com 132 km dos seus quase 180 km já construídos – e com sua entrega completa prevista para até o fim deste ano –, o Rodoanel Mário Covas vem correspondendo inteiramente ao que dele se esperava, tanto no alívio do trânsito como na redução da poluição na capital. Esses benefícios para a população receberam números precisos em estudo feito sobre o impacto do Trecho Sul, inaugurado em 2010. Eles constituem também uma base sólida para assegurar que São Paulo vai ganhar muito mais quando o Rodoanel estiver pronto.
Dados da operadora de pedágios SPMar, que serviram de base para o estudo, indicam que 20 mil caminhões movidos a óleo diesel deixaram de circular diariamente pela cidade com a abertura daquele trecho, de 57 km de extensão, como mostrou o Estado. Ele possibilitou o desvio daqueles veículos das Marginais do Tietê e do Pinheiros e da Avenida dos Bandeirantes e facilitou seu acesso ao Porto de Santos, sem ter de enfrentar os congestionamentos que eles próprios ajudavam a formar pelas vias da capital, despreparadas para esse tipo de tráfego pesado.
A circulação daqueles caminhões pelo Trecho Sul permitiu também uma redução de até 25% na poluição por óxido de nitrogênio (NOx), com reflexos na melhoria do meio ambiente e na saúde da população da capital, segundo especialistas médicos que participaram do estudo.
O fato de o trânsito ter voltado a ficar congestionado em vias importantes, como a Avenida dos Bandeirantes, por exemplo, depois do alívio produzido pelo desvio dos caminhões – principalmente em 2011, como mostra gráfico elaborado pelos pesquisadores –, pode criar a falsa impressão de que o ganho proporcionado pelo Trecho Sul foi passageiro. A ocupação, por veículos leves, do espaço deixado pelos caminhões já era perfeitamente previsível e esperada.
Como lembra o especialista em engenharia de tráfego Sérgio Ejzenberg, isso acontece em sistemas saturados como o do trânsito de São Paulo: “Quando todas as vias da cidade estão sendo usadas no seu limite, ou próximo disso, qualquer folga é preenchida rapidamente. Ainda mais agora, com os aplicativos que enxergam o trânsito em tempo real. Antigamente, isso demorava mais a acontecer, mas hoje os aplicativos dão essa opção imediatamente ao condutor”.
Pode-se acrescentar que o que demonstra ter o Rodoanel trazido um ganho importante e permanente – não apenas temporário como pode parecer à primeira vista – para a melhoria do trânsito é imaginar como seria a situação atual sem ele. Com a presença dos 20 mil caminhões pesados desviados pelo Trecho Sul, o trânsito na Avenida dos Bandeirantes e outras beneficiadas por ele estaria evidentemente muito mais congestionado.
Ejzenberg chama a atenção para outros aspectos que também demonstram o papel relevante desempenhado pelo Rodoanel. Um deles é a maior segurança para a população proporcionada pelo desvio dos caminhões. Isso, diz ele, dá mais estabilidade para o sistema viário, porque aqueles caminhões, quando se envolviam em acidentes, provocavam transtornos que podiam durar o dia todo. Outra vantagem, acrescenta, “é que estamos tirando cargas perigosas do meio da cidade”.
A única coisa a lamentar com relação ao Rodoanel é que sua construção demorou muito a se tornar realidade. A ideia de anel viário, destinado a interligar as rodovias que passam por São Paulo em direção a outros destinos, vem dos anos 1950 e só começou a sair do papel em 1998, no governo Mário Covas. Desde então, a construção de seus quase 180 km vem se arrastando, atravancada por questões ambientais e batalhas jurídicas provocadas por desapropriações, além de dificuldades devidas a seu alto custo. O Trecho Oeste foi entregue em 2002; o Sul, em 2010; e Oeste, em 2015.
É de esperar que a conclusão do último Trecho, o Norte, ocorra mesmo no fim de 2018, de acordo com as reiteradas promessas das autoridades. Sua construção terá demorado então 20 longos anos.
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