No fim de 2015, a professora Lia Zita Orsinski, 36, dava à luz a seu segundo bebê, Helena, hoje com 1 ano e um mês. Mãe de Joaquim, 2, Lia percebeu que havia alguma coisa diferente já na sala de parto. “Notei que meu marido foi ficando na sala de parto, o que não aconteceu quando o meu primeiro filho nasceu. Daí, assim que terminou de dar os pontos, o médico nos falou das características físicas da bebê e que ela provavelmente tinha síndrome de Down. Foi uma surpresa e foi muito ruim, pois logo em seguida fui para a sala de recuperação e fiquei sozinha", lembra.
Lia classifica o momento da notícia no hospital como frio e inadequado: “Não me senti acolhida”. A partir daí, ela passou a buscar cada vez mais conhecimento sobre o universo da síndrome de Down, até que, em um congresso, foi apresentada à Empathiae. “A ONG me ajuda a me sentir uma pessoa normal e menos culpada por não conseguir fazer tudo o que eu gostaria pela minha filha, pois eu trabalho, tenho outro filho, as tarefas da casa... Quando frequento os grupos, percebo que há outras pessoas na mesma situação, que estou dando o meu melhor e que o meu bem-estar é importante para o bem-estar da minha família. Além disso, me fortaleço para enfrentar os preconceitos com que a gente se depara no dia a dia, desde o nascimento”, diz.
Histórias como a de Lia, infelizmente, não são raras e, em muitos casos, família e amigos não permitem que os pais vivenciem a tristeza por não receber o filho idealizado. “É preciso dar licença para a mãe viver o luto do filho esperado. Ela precisa ter o direito de questionar o presente, para aceitar o futuro”, observa Mônica Xavier, fundadora e presidente da ONG Empathiae.
Foi pensando em ajudar mulheres como Lia, que, há um ano e meio, Mônica criou a Empathiae, cujo foco é dar acolhimento às mães com bebês que têm algum tipo de deficiência. “Meus dois filhos nasceram prematuros e, já naquela época, há 25 anos, sentia que as mães ficavam abandonadas e tinha a necessidade de dar algum tipo de apoio às mulheres. Anos depois, uma antiga chefe teve uma filha com síndrome de Down. Todos falavam da criança, mas não diziam nada da mãe. Toda minha história, solidão, veio à tona de uma maneira muito forte. A partir daí, comecei a estudar, a fazer cursos e a dar treinamentos em ONGs. O meu primeiro acolhimento foi há três anos. Pouco tempo depois nasceu a Empathiae”, lembra.
Com apoio de voluntários, a Organização oferece, por exemplo, o serviço “Cuidando de quem cuida”, um espaço no qual as mães recebem cuidados exclusivos (muitas vezes de profissionais com algum tipo de deficiência), enquanto uma equipe capacitada fica com as crianças. A ONG também oferece formação para grupos de pais voluntários para o acolhimento de famílias que recebem a notícia de que seu bebê nasceu prematuro, ou com algum tipo de deficiência, dando apoio e mostrando um futuro possível, além de capacitar mulheres para o trabalho manual e oferecer outros serviços.
Desde que foi fundada, a Empathiae já ajudou cerca de 150 mulheres, que ficam sabendo da ONG pelas redes sociais, por amigos ou profissionais parceiros. Hoje, em torno de 60 são atendidas pela organização. Além de São Paulo, há grupos de acolhimento em Vitória, Belo Horizonte e Caxias do Sul.
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