quinta-feira, 17 de abril de 2025

Baterias resolvem vários problemas, mas mercado quer demanda pública para aumentar produção, FSP

SÃO PAULO

Cortes provocados pelo excesso de energiaaumento na contratação de térmicas caríssimas e negativa das distribuidoras em conectar painéis solares à rede. Alguns dos principais problemas do setor elétrico no Brasil poderiam ser solucionados se o país tivesse um mercado maior de sistemas de armazenamento de energia, também conhecidos como BESS.

Esses equipamentos reúnem, dentro de um contêiner, dezenas de baterias, além de conversores e sistemas eletrônicos capazes de armazenar e liberar energia na rede em vários momentos do dia –principalmente naqueles em que a eletricidade é mais cara.

A imagem mostra uma instalação de energia renovável com um aerogerador ao fundo e várias unidades de armazenamento de energia em primeiro plano. O local está situado em uma área rural, com campos verdes ao redor e um céu azul com algumas nuvens. Há também um veículo próximo à instalação.
Sistema de armazenamento de energia em Barásoain, na Espanha - Vincent West/Reuters

Não à toa, esses equipamentos são hoje os queridinhos do mercado internacional de energia, que vem aumentando a geração de eletricidade de fontes intermitentes em suas redes, como solar e eólica. EUA, Europa e China já têm as maiores capacidades instaladas de BESS e querem expandir para dezenas de vezes mais.

Mas no Brasil esse setor ainda caminha a passos lentos, apesar de interesses já declarados. O governo federal, por exemplo, promete desde o ano passado incluir esses sistemas em leilões públicos, mas a data exata de quando isso acontecerá e quanto de energia será contratado nunca foram divulgados. Já o setor privado, como os grandes geradores de energia, dizem esperar regulações sobre o tema, além de corte de impostos.

Enquanto isso, as fabricantes nacionais de baterias esperam ansiosamente pelo momento em que a demanda crescerá a ponto de agitar o mercado no país.

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Weg, Moura e UCB Power disseram recentemente estarem prontas para receber as demandas do setor pelos próximos anos. A primeira, aliás, anunciou no ano passado investimentos de R$ 1,8 bilhões para a produção de baterias em larga escala, e a segunda divulgou uma parceria com a gigante americana Powin para acelerar a produção desses sistemas.

Mas, enquanto a demanda por BESS não vier de fato, essas empresas vão precisar se contentar com a produção de transformadores, conversores e baterias de veículos e telecomunicações, o atual carro-chefe delas.

A Weg, por exemplo, tem capacidade de produzir até 1 GWh (gigawatt-hora) por ano de baterias, mas só 60% disso é usado hoje em dia, sendo que 20% da produção vem de BESS. "A gente pode dobrar os 1 GWh em um ano, se essa for a necessidade do mercado, mas tem que ter demanda", afirma Carlos Bastos Grillo, diretor superintendente de Digital e Sistemas da empresa.

Já a Moura tem capacidade de produzir 2 GWh por ano de baterias para BESS, mas se limita a 350 MWh. Ainda assim, a expectativa de aumento da demanda pode fazer com que a empresa aumente sua capacidade para 5 GWh.

A UCB, por sua vez, fabricou no ano passado 500 MWh de todo tipo de bateria, sendo que 10% vieram de BESS. "O nosso desafio agora é continuar nessa agenda de crescimento, pensando exatamente onde que a gente vai conseguir sair de soluções de KWh para MWh", afirma Marcelo Rodrigues, vice-presidente de novos negócios e soluções na empresa.

Mas para isso acontecer é necessário demanda, e a primeira demanda em escala no Brasil, segundo quem acompanha o mercado, precisará vir do setor público, justamente a partir do leilão prometido pelo governo Lula. Isso porque, apesar de terem interesse nas baterias, os grandes consumidores e geradores de energia ainda se sentem inseguros sobre o tema no país.

 

Projeto propõe descontos para uso de energias renováveis em propriedades rurais, FSP

 O deputado federal Danilo Forte (União-CE) protocolou um projeto de lei para permitir que os descontos nas contas de luz para quem usar energia elétrica em atividades de irrigação e aquicultura também sejam aplicados durante o dia, e não somente à noite.

A imagem mostra um campo aberto com várias vacas e bezerros pastando. Um homem está em pé, interagindo com os animais. Ao fundo, há uma área de pastagem verde e um corpo d'água visível. O céu está claro e há algumas nuvens.
Em Janaúba (MG), sede do maior parque de geração de energia solar da América do Sul, a pecuária cede espaço a placas fotovoltaicas - Eduardo Anizelli/Folhapress

O texto muda artigo de uma lei de 2002 que prevê descontos na conta de luz por consumo nas atividades de irrigação e aquicultura desenvolvida em um período diário contínuo de 8h30, mas que cita o horário entre 21h30 e 6h do dia seguinte. A proposta de Danilo Forte retira a menção ao intervalo.

O deputado argumenta que a regulamentação dos descontos impede o desenvolvimento das energias renováveis no campo.

"Os descontos tarifários concedidos a produtores rurais estão limitados ao período noturno, em uma lógica que remonta à necessidade de aliviar o sistema elétrico nos horários de pico", diz. "A proposta representa um avanço estratégico ao conectar a política de subsídios tarifários com o crescimento das energias renováveis no campo."

Na justificativa, ele afirma que, embora o modelo tenha cumprido sua função quando foi criado, ele se mostra atualmente insuficiente para atender às demandas do campo, "especialmente nas regiões em que as condições climáticas e agronômicas impõem a necessidade de irrigação durante o dia."

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A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) ficaria autorizada a permitir que os descontos especiais nas tarifas para consumidores rurais sejam aproveitados ao longo do dia. "Trata-se de uma proposta que se alinha às metas de transição energética do país, moderniza o setor agropecuário e reforça o papel do parlamento na construção de soluções concretas para o Brasil rural."


Butantan terá complexo industrial para resposta rápida a novos vírus, diz secretário de Saúde de SP, Patricia Pasquini, FSP

 Patrícia Pasquini

SÃO PAULO

Com a ameaça de novos vírus, novas bactérias e até de futuras pandemias, a exemplo do que ocorreu com o coronavírus, Eleuses Paiva, secretário de Estado da Saúde de São Paulo, fará do Instituto Butantan um centro de operações para tomada rápida de decisão, ou seja, um espaço para a produção acelerada de vacinas e medicamentos.

"Tudo o que nós vimos na Covid vai acontecer novamente. Precisamos nos preparar", disse em entrevista à Folha.

No comando da pasta há pouco mais de dois anos e quatro meses, o secretário afirma que cumpre a missão que recebeu de Tarcísio de Freitas (Republicanos): cuidar da saúde da população, que ainda sofre impactos da pandemia de Covid nos 645 municípios do estado.

A imagem mostra um homem sorrindo, vestindo um terno escuro. Ele está posicionado de lado, com um fundo desfocado que parece ser uma parede clara. O homem tem cabelo liso e um sorriso amigável, transmitindo uma expressão positiva.
Eleuses Paiva, em seu gabinete, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Entre as principais agendas do secretário, estão estão a regionalização da saúde, a reativação de novos leitos e a Tabela SUS Paulista, que remunera hospitais com uma cifra diferente do restante do país. A medida beneficia áreas como diagnóstico e tratamento do câncer de mama, procedimentos ortopédicos, exames e consultas especializadas, além de ampliar recursos para pacientes de longa permanência.

Como o sr. encontrou a Secretaria da Saúde ao assumir a gestão? A saúde do estado estava colapsando. Ainda havia um passivo da pandemia. As pessoas não faziam acompanhamento na maioria das doenças crônicas e não conseguíamos dar vazão às cirurgias eletivas. Fizemos algumas modificações estruturais no SUS do estado de São Paulo para colocar as filas para andar. Esse era o grande desafio.

Quais foram as modificações? Primeiro, a regionalização da saúde. O estado mais rico do país é heterogêneo. Temos regiões chamadas de Califórnia brasileira e outras com valores de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano) tão baixos que envergonha qualquer gestor. Não dava para ter uma política de saúde uniforme.

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A partir do momento que os municípios aderiam ao projeto de regionalização, eles nos colocavam quais eram as demandas e nós íamos atrás da oferta de serviço. No interior do estado, o sistema filantrópico (principalmente as Santas Casas), detém 60%,70% do atendimento. E aí nós enxergamos uma coisa clara: quase todas as filantrópicas estavam em sustentabilidade econômica praticamente desaparecidas. Com cerca de 8.000 leitos desativados no estado de São Paulo, tínhamos que fazer uma política para reabrir.

Quanto mais um provedor atendia, mais aumentava seu déficit porque a tabela que remunerava esse procedimento no SUS estava sem reajuste há muito tempo. E aí se criava sistemas de subvenção. O provedor diminuía o atendimento, fechava leito e pegava a subvenção para tentar equilibrar as contas. Para romper com essa lógica foi criada a Tabela SUS Paulista, que hoje beneficia 800 instituições.

O dinheiro para a Tabela SUS Paulista já estava previsto no orçamento? Não, saiu dos R$ 4,8 bilhões a mais que o governador Tarcísio colocou na saúde, fora do orçamento. A Tabela SUS é um plus a mais que damos no valor de cada procedimento, que varia de cerca de 50% a 400%. Montamos também uma comissão para rever esses valores a cada 90 dias. Daqueles 8.000 leitos desativados, em dois anos, reabrimos 6.400. Em 2022, o estado fazia, em média, 700 mil cirurgias. Nós saímos no primeiro ano de um milhão de cirurgias eletivas e no ano passado fomos para um milhão e 200 mil cirurgias eletivas. O que íamos realizar em três anos, fizemos em dois.

Quando há necessidade, contratamos no privado. Abrimos uma licitação em Campinas para contratar leitos privados para atender a uma demanda emergencial de procedimentos, principalmente cirúrgicos e oncológicos. Temos a invasão de outros estados e isso não nos preocupa. Em algumas regiões –pode citar oncologia–, 60% do que atendemos são de outros estados. É o caso de Campinas, por exemplo. Aumentamos a oferta e reduzimos a fila para 15, 20 dias. Atualmente já está em 50 e poucos dias, mas ninguém vai esperar mais do que 60 dias para ser atendido.

O sr. havia dito que a dengue atingiria o platô em maio e depois iria cair. A previsão continua? Não. No interior já atingiu o platô e a curva é descendente. É o caso das regiões de Araçatuba, Presidente Prudente, Marília. Os casos novos em Rio Preto, por exemplo, caíram pela metade. A nossa preocupação é a capital. Uma pergunta que todo mundo me faz é quando vamos resolver o problema da dengue. Quando tivermos vacina para colocar no braço do brasileiro.

Como estão as conversas com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]? Nós apresentamos o pedido de registro da vacina da dengue e eles solicitaram uma série de informações que foram apresentadas dia 7 de março. Aguardamos a manifestação.

Nós começamos a montar a estrutura para iniciar a produção da vacina da dengue em 2025. Fizemos uma programação para dois anos. Estamos hoje com a garantia de produção de 100 milhões de doses. E estamos olhando o aumento dessa produção, porque a Opas [Organização Pan-Americana de Saúde] já se reuniu conosco interessada em levar a vacina da dengue para outros países da América do Sul. Nós faremos do Instituto Butantan um complexo industrial para resposta rápida.

Como funcionará? Se eu tenho um vírus novo, preciso criar algum jeito de combatê-lo. Nós faremos do Butantan o maior centro de operação estratégica e tomada rápida de decisão do estado. Tudo o que nós vimos na Covid vai acontecer novamente. Precisamos nos preparar.

O que é essa tomada de decisão? Produção de vacina e medicamento. Estou tentando abrir mais seis fábricas dentro do Butantan. Vamos levar a Furp (Fundação para o Remédio Popular) para o Butantan gerenciar. Eu quero que moléculas imunizantes fiquem todas nesse centro industrial nosso. E aí, por exemplo, começou a gripe aviária. O que o Butantan fez? Nós já temos a vacina planejada.

A pandemia abriu as portas para a telemedicina. O estado tem projeto de saúde digital? Se é que a pandemia deixou algum legado positivo, a saúde digital foi um. O governador Tarcísio disse que o estado tem que ser a referência em saúde digital, pelas estruturas universitárias que temos. Buscamos casos exitosos no mundo e pegamos os modelos inglês e americano. Os dois usavam a academia como base.

Em São Paulo, fizemos a mesma coisa e usamos a USP (Universidade de São Paulo) como base num projeto de saúde digital pensando em inovação. Esses dois modelos tinham um centro líder e também montamos um, o Centro Líder de Inovação Digital. Lá, você tem o mapeamento de todo o estado, com inteligência artificial. Começamos a trabalhar com quatro grandes projetos: Tele APS (Atenção Primária à Saúde), sendo testada em 117 municípios paulistas. Partimos para o Tele SAP, que é o teleatendimento à população privada de liberdade. Começamos com 85% de resolutividade e já ultrapassamos 90%.

Os presídios já têm estrutura? Cerca de 50% deles estão com estrutura montada. Em dez meses, em média, foram feitos mais de 15 mil atendimentos.

Já houve alguma mudança para São Paulo com o Alexandre Padilha na Saúde? Não. Gostaria de elogiar o trabalho da ex-ministra Nísia. Em São Paulo, eu trabalho com política de saúde, não política na saúde. Tivemos um ótimo relacionamento com a Nísia e esperamos que possamos também ter com o Padilha.

O que o sr. espera da gestão Padilha para São Paulo? Precisamos que o Ministério da Saúde olhe mais para São Paulo porque o teto MAC (de média e alta complexidade) está defasado. No primeiro ano de governo, em outubro, nós já tínhamos estourado o teto em mais de R$ 1,2 bilhão de responsabilidades que eram do governo federal e o estado estava colocando recursos do próprio tesouro. Continuamos fazendo isso e ainda não conseguimos um reajuste do teto. Se era 1,2 bilhão em outubro do ano passado, eu posso falar que agora são três, quatro vezes mais.


RAIO-X | ELEUSES PAIVA, 71

Santos, 1953. Formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina de Itajubá. Especializou-se em medicina nuclear pela Faculdade de Medicina da USP. É professor assistente de imagenologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. Como político, foi vice-prefeito de São José do Rio Preto e atuou como deputado federal em três oportunidades, duas como suplente e uma como titular (entre 2011 e 2015). Presidiu a Associação Paulista de Medicina e a Associação Médica Brasileira por dois mandatos.