segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O YouTube está virando a nova televisão, ronaldo Lemos - FSP

 O YouTube está virando a nova TV. Em fevereiro de 2025 a plataforma comemorou dois anos como o streaming mais visto nos EUA. No mesmo mês conseguiu um feito notável: tornou-se o maior provedor de conteúdo audiovisual, mesmo comparado com a televisão, o cabo e o streaming.

E mais importante: o lugar onde o YouTube é mais acessado hoje não é mais o celular nem o computador. É o aparelho de TV. Mais gente assiste ao YouTube na televisão hoje nos EUA do que assiste a canais abertos.

Essa mudança traz consigo um abalo sísmico na publicidade. Anunciar na TV virou anunciar no YouTube nos EUA. Marcas estão gastando a maior parte do seu orçamento para o YouTube em anúncios veiculados quando o usuário está assistindo a vídeos na TV.

Silhueta de pessoa segurando celular em frente a tela branca com logo do YouTube em destaque, incluindo o ícone vermelho de play e o texto 'YouTube'.
Logo do YouTube - Dado Ruvic/Reuters

Inclusive, o YouTube criou "breaks" especiais quando é visto pela televisão. Isso inclui anúncios quando conteúdo é pausado ("pause-vertising") e também publicidades mais longas que não permitem pular nem avançar.

Uma das razões desse sucesso na TV é o conteúdo (já vou falar sobre isso). Mas a razão principal é uma estratégia muito bem desenhada de realizar acordos com fabricantes de TVs para incluir o aplicativo do YouTube diretamente nos aparelhos de todo o planeta. É como se o YouTube viesse "de fábrica".

O sucesso dessa ação foi tão grande que agora há uma disputa para povoar as TVs com outros aplicativos "de fábrica". O aparelho que antes era usado só para canais de TV e de cabo agora virou um território de disputa.

Por exemplo, a Meta está trabalhando para colocar o Instagram nos aparelhos, com conteúdo do Reels. O TikTok está fazendo o mesmo, para que seus vídeos curtos sejam assistidos também nas salas de TV.

Com relação ao conteúdo, o YouTube construiu um império silencioso nos últimos anos. A plataforma tem hits globais como o MrBeast ou o IShowSpeed, dentre outros. E tem também hits locais muito bem articulados, como a CazéTV, com audiência de milhões de pessoas.

Esse alcance todo só é possível por causa da infraestrutura fornecida pelo Google: servidores, redes de distribuição de conteúdo em todo o Brasil, plataforma de monetização e de anúncios digitais, recomendação pelo algoritmo, e assim por diante.

Essas mudanças foram capturadas no Brasil pela última Pnad. O percentual de pessoas que "acessaram a internet" por meio do aparelho de TV subiu de 11,3% em 2016, para 53,5% em 2024. Por "acessar a internet" entenda-se justamente assistir a serviços de streaming, incluindo o YouTube, pela TV. Já o acesso à rede pelo computador caiu de 63,2% para 33,4% no mesmo período.

Nas palavras do CEO da empresa, Neal Mohan: "Em apenas duas décadas o YouTube mudou totalmente a forma como assistimos e criamos entretenimento. Tornou-se o epicentro da cultura. E a carreira dos sonhos para milhões de pessoas no mundo todo".

Milhões é pura modéstia. Só nos EUA, 54% das pessoas entre 18 e 60 anos afirmam que largariam seus empregos se pudessem viver como criadores de conteúdo em tempo integral. Não me surpreenderia com números similares no Brasil.


READER

Já era Comércio só físico

Já é Ecommerce

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Paulo Feldmann - O Brasil precisa de 1 milhão de cargos de confiança no setor público?, FSP

 

Paulo Feldmann

Professor de economia da USP; atuou como dirigente empresarial tanto no setor privado como no setor público

Em países avançados, com administração pública moderna como França, Alemanha ou Suécia, quando se elege um governante, seja ele presidente ou primeiro-ministro, o máximo que este consegue é indicar seus subordinados diretos.

Todos os outros funcionários que vão se reportar aos ministros serão ocupados por servidores que já estão nas respectivas carreiras. Nestes países, para chegar a tal posto, cada servidor público teve que prestar concurso e ser aprovado. O mesmo acontece com os presidentes das estatais, que sempre se reportam a algum ministro e obrigatoriamente devem ser recrutados entre os funcionários concursados da própria empresa.

Esplanada dos ministérios, em Brasília, que concentra o comando do funcionalismo público federal - Pedro Ladeira - 5.jul.24/Folhapress

Ou seja, nas nações avançadas a máquina governamental é operada pelo servidor público, um funcionário que foi aprovado em concurso e que atende o plano de carreira da área em que se encontra alocado. Lá não existem cargos de confiança, mais uma jabuticaba brasileira.

No Brasil, segundo o IBGE, há mais de 1 milhão de pessoas ocupando cargos de confiança, sendo que apenas em Brasília estão cerca de 30 mil. E o pior é que são esses que dirigem nosso país, sem terem feito sequer concurso público e muitas vezes sem nenhum preparo, mas foram escolhidos por serem fiéis e leais a algum político. Os cargos de confiança equivalem a 10% do número de funcionários públicos no Brasil e a maioria deles possui como única qualificação fazer parte do mesmo partido político de algum dirigente eleito, ou ser amigo de algum parlamentar. Sem contar que muitas vezes a razão da nomeação é o nepotismo.

Será que precisamos dos cargos de confiança? Por que não obrigar a existência de carreiras e concursos para todos?

Há muitos anos se fala da necessidade de uma reforma administrativa ampla. E, no início deste mês, finalmente o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) apresentou aos seus pares na Câmara dos Deputados um conjunto de propostas para modernizar e conter gastos do Estado brasileiro, mas não abordou a questão dos cargos de confiança. Com isso, a reforma por melhor que seja, não distingue Estado de governo. Em suma, essa proposta não resolve o fato de que todo funcionário no setor público brasileiro deveria ser concursado e proveniente do mesmo. E, em nenhuma hipótese, deveria se admitir a existência de servidores por indicações políticas —com a única exceção dos cargos de ministro ou de secretários estaduais e municipais.

Há no país uma grande confusão entre os conceitos de Estado e de governo. Resumidamente, podemos dizer que Estado abrange toda a sociedade política e é algo duradouro, enquanto o governo é apenas uma das instituições que compõem o mesmo (as outras são o Legislativo e o Judiciário). O governo administra apenas o Poder Executivo e por um curto período, de quatro anos, após o ano em que há eleições.

O Estado não pode nem deve servir a nenhum grupo político porque ele permeia tudo sendo soberano, impessoal, estável e permanente. Infelizmente, no Brasil, o Estado tem sido capturado por grupos políticos que o fazem através do preenchimento intenso dos cargos de confiança, com pessoas que possuem a sua ideologia e a mesma afinidade política.

Assim, a cada quatro anos, o Brasil troca completamente sua equipe dirigente nas várias instâncias e nos vários níveis hierárquicos do Executivo. Isto é incompatível com um setor público moderno que precisa, antes de tudo, de estabilidade e continuidade. É por isso que não existem planos de longo prazo nem uma estratégia para o país. Ou alguém a conhece? Os planos no Brasil têm, no máximo, o horizonte de um mandato.

Não podemos chamar nosso setor público de moderno. Afinal, qual a vantagem que o país leva com esse milhão de nomeações políticas a cada quatro anos?