quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Uso de cigarros eletrônicos por adolescentes nos EUA cai para menor nível em dez anos, fsp

Christina Jewett
THE NEW YORK TIMES

O número de adolescentes nos Estados Unidos que relataram usar cigarros eletrônicos em 2024 despencou de um pico atingido há cinco anos. Isso aumentou as esperanças de que a tendência entre os adolescentes de fumar vapes se reverta.

Em uma pesquisa anual realizada de janeiro a maio em escolas dos EUA, menos de 8% dos estudantes do ensino médio relataram usar cigarros eletrônicos no último mês, o nível mais baixo em uma década.

Isso é muito menos do que o ápice, em 2019, quando mais de 27% dos estudantes do ensino médio que participaram da pesquisa relataram que fumavam vapes —cerca de 500 mil adolescentes a menos do que no ano passado.

O uso de cigarros eletrônicos por adolescentes cai para o nível mais baixo em 10 anos - Ezequiel Becerra/AFP

Os dados são da Pesquisa Nacional sobre Tabaco entre Jovens, um questionário preenchido por milhares de estudantes do ensino médio e fundamental que é administrado anualmente pela FDA (agência que regulamenta drogas e alimentos) e pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americano.

No geral, constatou-se menos de 6% dos estudantes do ensino médio e fundamental relataram usar cigarros eletrônicos no último mês, quase 8% menos que no ano anterior.

diminuição do uso de vapes entre os estudantes do ensino médio foi responsável em grande parte pela queda deste ano; o uso no ensino fundamental permaneceu bastante estável, com 3,5% relatando que haviam fumado cigarros eletrônicos, em comparação com 4,6% no ano anterior.

"Essa queda contínua no uso de cigarros eletrônicos entre os jovens de nosso país é uma vitória monumental para a saúde pública", disse Brian King, diretor da divisão de tabaco da FDA.

Especialistas em saúde pública disseram que vários fatores podem ter contribuído para a queda no uso de vapes entre adolescentes, incluindo proibições de tabaco com sabor em cidades e estados, uma blitz de fiscalização contra vendedores de vapes com sabor e três campanhas de mensagens públicas direcionadas a jovens sobre os perigos do cigarro eletrônico.

Alguns compararam a notícia à queda no consumo de cigarros tradicionais, que atingiu cerca de 1,6% dos adolescentes, um número significativamente baixo.

Muitos grupos de saúde pública têm levantado alarmes sobre os potenciais efeitos dos cigarros eletrônicos em jovens, incluindo a exposição a toxinas e carcinógenos —alguns dos quais ainda são desconhecidos. Os níveis de nicotina nesses produtos podem ser muito altos, aumentando o risco de vício e lesão nos cérebros em desenvolvimento dos adolescentes.

"Definitivamente, as percepções de risco do cigarro eletrônico aumentaram", disse Kathy Crosby, presidente da Truth Initiative, um grupo sem fins lucrativos que faz campanha contra o uso de vapes entre jovens. "E à medida que você vê o aumento nas percepções de risco, também vê o uso diminuindo."

Existem campanhas mundiais para proibir vapes descartáveis ou limitar consideravelmente o acesso para reduzir o uso entre adolescentes. Países da União Europeia pressionaram por uma proibição de vapes com sabor e um limite nos níveis de nicotina. O Congresso pressionou a FDA nos últimos anos para intensificar a fiscalização, especialmente contra importações ilícitas de cigarros eletrônicos com sabores, como banana e pêssego.

Uma grande empresa de tabaco, a Reynolds American, também pediu à FDA que reprimisse os vapes descartáveis e com sabor que vêm da China. As empresas de cigarros tradicionais estão visando substituir as receitas perdidas com a renda dos cigarros eletrônicos.

A FDA enfatizou que muitas marcas, como os vapes Elf Bar que têm sido populares entre os adolescentes, não estão autorizadas para venda.

King da FDA também disse que os esforços da agência em liderar uma série de apreensões e multas de cigarros eletrônicos ajudaram a impulsionar a queda no uso entre adolescentes. Isso incluiu "esmagar" empresas que vendem vapes Elf Bar, disse ele. A pesquisa deste ano com os estudantes mostrou que os adolescentes ainda preferiam o Elf Bar, com mais de um terço classificando a marca como a favorita.

A FDA e outras agências apreenderam milhões de dólares em cigarros eletrônicos no Aeroporto Internacional de Los Angeles e no porto de Chicago neste ano e no final de 2023.

Deirdre Lawrence Kittner, diretora do Escritório de Tabagismo e Saúde da CDC, disse que outros fatores podem ter reduzido a taxa de uso de vape entre adolescentes, incluindo uma campanha em 2023 incentivando educadores do ensino médio e fundamental a conversar com os alunos sobre o uso de cigarro eletrônico.

Medir a tendência decrescente no uso de vapes entre adolescentes ao longo dos anos desde o pico foi difícil durante a pandemia. Especialistas alertam em relação a comparações diretas ano a ano na crise de saúde pública, quando as escolas estavam fechadas.

 

Os condutores e as cavalgaduras, Sergio Rodrigues - FSP

 O coach é puxado por cavalgaduras —e se faz tempo que isso já não é necessariamente uma verdade literal, não há motivo para descartar a metáfora. Pelo contrário: ela prova que a etimologia é cheia de tesouros ocultos.

O substantivo "coach" chegou à língua inglesa em meados do século 16, vindo do francês "coche", com o sentido de carruagem grande e fechada de quatro rodas —como se sabe, um veículo de tração animal.

A palavra tinha mais prestígio internacional que o filme do Waltinho. Entre outras línguas, marcava presença no alemão "Kutsche". A fonte estava no húngaro "kocsi" —cujo sentido original era carruagem feita na localidade de Kocs, vizinha de Budapeste, onde se fabricava desde o século 15 um veículo confortável, amplo, com suspensão de molas.

Nem é preciso ir tão longe para encontrar a primeira acepção de coach. "Kocsi" chegou à nossa língua nessa época como "coche", a mesma grafia assumida pela palavra em francês e espanhol.

O termo é tão pouco usado hoje quanto a coisa em si, mas deixou uma marca viva no cocheiro, condutor de coches, seges, diligências, cabriolés, carruagens em geral —e presença quase obrigatória em romances de época.

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Foi no inglês que, no século 19, o coach começou a se desdobrar em novos sentidos. O de vagão de passageiros no transporte ferroviário —e, mais tarde, de ônibus— é uma simples metonímia, algo fácil de compreender. O de tutor e treinador é metafórico e requer explicação.

Cocheiros conduzem carruagens em Nova York (EUA) - Stan Honda - 2.jan.14/AFP

Consta que começou como gíria de estudantes da Universidade de Oxford por volta de 1830 o uso de coach para nomear o professor que, com aulas particulares, ajudava um aluno a se sair bem na temporada de provas.

E o que uma coisa tem a ver com a outra? A ideia é que o coach conduzia, transportava confortavelmente o estudante rumo à aprovação. Como se o levasse de carruagem. Sem o coach, o coitado teria que ir a pé.

Gírias são gírias, costumam ter vida curta. No entanto, três décadas mais tarde, essa acepção tutorial da palavra tinha penetrado com força no vocabulário esportivo. Nascia assim o sentido de coach como treinador, pessoa que prepara atletas para uma competição. E este pegou.

Pegou tanto que, no século 20, a ideia de coaching transbordou aos poucos do mundo do esporte para qualquer outro em que alguma forma de mentoria fosse necessária; o das artes, por exemplo. Até aí, jogo limpo.

Só recentemente o coach degenerou. Surgiram aqueles que apregoam ensinar seus pupilos a serem bem-sucedidos —não numa modalidade esportiva, não numa atividade artística, mas na própria vida. Na busca da riqueza material e da "felicidade".

Espécie de pastor secular, esse tipo agressivo de charlatão que nossa sociedade tem optado por tolerar —como vem tolerando a praga social das bets e o terrorismo dos piromaníacos— é filho de um tempo em que se cruzam duas curvas contrárias, mas amigas.

A curva descendente dos empregos para as novas gerações, numa economia global que cresce cada vez menos, se cruza com a ascendente do individualismo, da satisfação imediata e do hiperconsumo como únicas medidas de valor humano.

Como diria Brás Cubas, dessa terra e desse estrume é que nasceu essa flor.


91% do lixo coletado por estudo em praias do Brasil é plástico, FSP

 

SÃO PAULO

O estudo mais abrangente sobre lixo nas praias brasileiras já realizado no Brasil, que percorreu 8.125 km dos 17 estados litorâneos e coletou 2,3 toneladas de materiais, concluiu que 91% dos resíduos encontrados em 306 praias do país são plásticos.

Desses, 61% são aqueles chamados de plásticos de uso único, como itens descartáveis e embalagens não reutilizáveis, 22% são fragmentos de plásticos de vida longa, como brinquedos e utensílios domésticos, e 17% são apetrechos de pesca, como linhas de náilon das redes pesqueiras.

Das praias estudadas, 100% apresentaram resíduos em suas areias, e 97% delas tinham microplásticos. A identificação foi feita a partir da coleta de 16 mil fragmentos de microplásticos (aqueles com tamanhos entre 1 e 5 milímetros) e 72 mil macrorresíduos (fragmentos maiores do que 5 milímetros, como bitucas de cigarro).

Lixo na praia da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro
Lixo em praia da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel/AFP

Assim, a cada 2 metros quadrados de areia dessas praias há, em média, 10 partículas de microplásticos e 1 macrorresíduo. A praia de Pântano do Sul, no sul de Florianópolis, foi o caso mais grave: em apenas 1 metro quadrado de areia foram encontrados 17 resíduos e 144 partículas de microplástico.

Os dados são resultado da 1ª Expedição Ondas Limpas na Estrada, que reuniu 57 voluntários, entre pesquisadores do Instituto de Oceanografia da USP (Universidade de São Paulo) e integrantes da ONG Sea Shepherd Brasil, com patrocínio da empresa Odontoprev.

A expedição percorreu todo o litoral do país, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), num ônibus motor-home em que se revezaram equipes de sete pessoas, entre biólogos, oceanógrafos, coordenadores, documentarista e motorista.

Os resultados da expedição foram lançados nesta quarta-feira (18) em São Paulo.

O relatório aponta que as praias da região Sul são aquelas com maior presença de microplásticos e de macrorresíduos plásticos, tipo de material que surge também em grande proporção no Sudeste. Por outro lado, as praias na região Norte são aquelas com menor poluição plástica.

No recorte por estado, Paraná, Piauí e Pernambuco têm a maior quantidade de microplástico nas areias, enquanto Paraíba, Pernambuco e Paraná compõem o pódio dos macrorresíduos plásticos.

No outro extremo, as praias do Rio de Janeiro, Sergipe e Amapá são aquelas com menor concentração de microplásticos, enquanto as do Maranhão, Piauí e Sergipe apresentam menor quantidade de macrorresíduos plásticos.

"Os dados das coletas realizadas nessas 306 praias nos dão um retrato sólido do que é o lixo nas praias no Brasil. E tem lixo em todo lugar", explica Alexander Turra, professor do Instituto de Oceanografia da USP e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.

"Mostramos a onipresença dos resíduos plásticos de tamanhos grandes e de microplásticos, que são menores do que um grão de lentilha."

Segundo Turra, o tipo de resíduo predominante em cada região conta uma história. "Alguns têm a ver com lixos oriundos de consumos realizados nas próprias praias enquanto outros têm origem em itens domésticos e, portanto, vêm das casas. Esse tipo de achado pode guiar as políticas públicas para o combate a essa poluição", completa.

uso global de plástico, que quadruplicou nos últimos 30 anos, deve dobrar até 2060. Com isso, pode tornar-se real a projeção de que, se o cenário não mudar, em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos.

Por conta da histórica má gestão global de resíduos sólidos urbanos no planeta, mais lixo plástico escapa para o meio ambiente (22%) do que é coletado para reciclagem (15%), de acordo com estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

Estudo da ONG Blue Keepers já estimou que um terço do plástico produzido no Brasil está propenso a chegar ao oceano todos os anos. A estimativa é de que cada brasileiro seja responsável por contribuir com 16 kg de resíduos plásticos da poluição marinha no litoral do país.

Nas praias, a ação das ondas, da areia, das pedras e do vento faz do ambiente uma máquina de triturar resíduos, que também se deterioram pela ação dos raios solares, quando ficam na superfície.

Como o oceano desempenha papel importante na regulação do clima, na produção de oxigênio e na manutenção da biodiversidade, a poluição nas praias e nas águas prejudica esses serviços ambientais, agravando a crise climática.

Para Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil, a expedição foi uma epopeia que revelou a onipresença do plástico nas praias do país. "Fomos a praias isoladas, percorrendo horas em trilhas para acessá-las, e, mesmo assim, encontramos resíduos em quantidades surpreendentes."

O estudo identificou que praias em áreas de proteção ambiental integral apresentaram até duas vezes mais plásticos de uso único do que aquelas sem proteção e três vezes mais macrorresíduos que as demais. Além disso, o relatório aponta que nas praias protegidas há 150% mais presença de apetrechos de pescas que nas praias sem proteção.

Gil explica que as áreas de proteção integral em geral não têm uma política de manejo de resíduos e, por isso, o lixo que chega até elas via correntes marítimas acaba se acumulando.

"Quando protegemos uma área, precisamos de planos sobre como mantê-las protegidas", afirma. "Nos assusta a quantidade de plástico nessas áreas, bem como o volume de apetrechos de pesca, porque áreas de proteção integral têm pesca proibida", pontua.

"Pode ser que esses apetrechos de pesca venham de áreas adjacentes, mas uma parte deles pode ter origem na pesca ilegal. Ou seja, nessas áreas delimitadas justamente para proteger animais, eles estão sendo ameaçados por apetrechos que foram feitos para matá-los."

Turra, da USP, destaca que o problema da poluição plástica no oceano é complexo e tem várias origens e, portanto, várias vias de solução. "O Tratado Global de Combate à Poluição Plástica, que está sendo negociado no âmbito da ONU e deve ser concluído em dezembro, deve trazer os principais instrumentos para combater esses problemas."

Segundo o oceanógrafo, esses instrumentos passam pela redução do consumo do plástico, pelo aumento da reciclabilidade dos diferentes tipos de plástico, a partir de mudanças na composição dos materiais e no design de embalagens, pela racionalização do uso dos chamados plásticos evitáveis e dos plásticos problemáticos, além da amplificação dos sistemas de coleta e de reciclagem.

"Tudo isso também precisa ser complementado por programas de retirada dos resíduos que já estão nas praias e no oceano", afirma.