quarta-feira, 17 de julho de 2024

Paris ainda e sempre Aristide Maillol e a mulher, FSP

 Aristide Maillol se deixou inspirar continuamente pela mulher para esculpir e expor os seus nus. Paris fez para a obra dele um lugar especial no Jardin des Tuileries. Perdi a conta do número de vezes que fui olhar as 19 estátuas que ali estão, graças à iniciativa de André Malraux, ministro da cultura do general De Gaule.

Salta aos olhos a sensualidade e a graça do corpo feminino. O espectador gira extasiado à volta das estátuas porque enxerga o que ele nunca viu. A escultura de Maillol não é, como era antes dele, a tradução de um ou outro pensamento —histórico, literário ou mitológico— mas a pura expressão da beleza, ela prenuncia a arte abstrata.

A imagem mostra três estátuas de mulheres nuas em uma pose interativa, feitas de um material escuro, provavelmente bronze. Elas estão em frente a um edifício histórico com arquitetura elaborada, incluindo detalhes ornamentais e uma torre com um relógio. O céu está parcialmente nublado, proporcionando uma iluminação suave às estátuas e ao edifício.
"As Três Ninfas", de Aristide Maillol, no Jardin des Tuileries, em Paris - Miguel Medina /AFP

Rodin, então considerado o maior escultor da França, afirmou em 1902, que Maillol era tão grande quanto os maiores, "um gênio". Três anos depois, ele expôs no Salão do Outono, uma escultura monumental, O Mediterrâneo. A mulher sentada, inteiramente absorta nos seus pensamentos, que apoia o cotovelo no joelho e a cabeça na mão, arrebata quem olha. O tempo dela é o da eternidade, o do mar e da mãe. A escultura, primeiro feita em gesso e depois reproduzida em mármore, está hoje no Muséé d’Orsay.

Vale a pena ir a Paris, só para ver O Mediterrâneo e visitar o Musée d’Orsay, que abriga obras-primas da pintura e da escultura e possui a maior coleção de arte impressionista. Até porque foi em Paris que o impressionismo surgiu com o "clan dos revoltados", os que eram recusados no salão oficial e subverteram as convenções picturais. No clan estavam, entre outros, Renoir, Degas e Cézanne.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Demanda por ações da privatização da Sabesp chega a R$ 200 bilhões, FSP

 

SÃO PAULO

A demanda pela oferta de ações da privatização da Sabesp alcançou os R$ 200 bilhões ao final do período de reservas, encerrado nesta segunda-feira (15), segundo agentes do mercado financeiro e pessoas próximos ao processo de desestatização.

A intenção de compra dos investidores supera em 30 vezes o volume da oferta indicado inicialmente pelo estado de São Paulo, que esperava levantar cerca de R$ 7 bilhões com a oferta, além dos aproximadamente R$ 7 bilhões vindos do investidor de referência.

A Sabesp confirmou nesta terça-feira (16) que a Equatorial Energia S.A. cumpre as exigências para ser a investidora estratégica na empresa de saneamento do governo e ficará com 15% da companhia.

Garçom serve água filtrada de graça em restaurante de Guarulhos, fornecida pela Sabesp. Companhia de saneamento do estado de São Paulo está em processo de privatização. - Eduardo Anizelli/Folhapress

Apesar da forte demanda, o preço final dos papéis vendidos pelo governo paulista deve ficar em R$ 67 por ação, valor proposto pela Equatorial Energia em sua oferta.

Segundo analistas, a demanda foi alta pelo valor ofertado pela Equatorial ser bem menor que o valor atual das ações já em circulação, cotadas ao redor de R$ 81,32 nesta terça-feira (16). Ou seja, o investimento poderia ter um retorno inicial de 21%.

Como serão vendidas, no máximo, 220,47 milhões de ações, os interessados não irão receber todos os papéis que gostariam de comprar, sendo feito um rateio proporcional. De acordo com analistas, ele deve ficar em 3%. Ou seja, os investidores irão comprar, de fato, apenas 3% dos papéis que sinalizaram interesse.

Ao saber da grande demanda, investidores comunicaram às corretoras que gostariam de comprar mais ações do que inicialmente reservado, para que conseguissem abocanhar fatias proporcionalmente maiores do rateio.

A quantidade exata de papéis adquiridos por cada investidor será divulgada nesta quinta-feira (18), quando os valores do follow-on (oferta secundária de ações) também serão oficialmente divulgados.

Com o valor de R$ 67 por ação, a oferta deve gerar R$ 14,8 bilhões. O montante, descontando as margens dos bancos que coordenaram a oferta, irá para os cofres do governo paulista, que reduzirá sua participação na Sabesp de 50,3% para 18%.

Com experiência apenas regional no setor de saneamento, a Equatorial foi a única interessada em se tornar acionista de referência da Sabesp —uma espécie de sócio estratégico do Governo de São Paulo no negócio, que terá 15% do capital da companhia, além de peso relevante na administração.

Como acionista, a Equatorial terá direito a indicar o CEO da Sabesp, o presidente do conselho de administração e três membros.

QUANDO AS AÇÕES ESTARÃO DISPONÍVEIS PARA OS INVESTIDORES?

As ações estarão nas carteiras dos investidores nesta sexta-feira (19), quando já poderão ser vendidas. A expectativa de analistas, é que boa parte dos compradores já coloque os seus papéis a venda no próprio dia 19, o que deve pressionar o valor do papel.

A liquidação, porém, acontece apenas na segunda (22). Ou seja, o valor da compra das ações da privatização da Sabesp será cobrado no dia 22, quando a oferta será encerrada.


Para economistas, o grande interesse na oferta da Sabesp é reflexo da falta de IPOs (aberturas de capital) e follow-ons no mercado brasileiro e do maior interesse dos investidores por empresas privadas.

"Esse é um movimento muito positivo para o mercado de capitais no Brasil, que está muito carente de ofertas de ações por conta do cenário macroeconômico, com juros altos. [A privatização da Sabesp] abre caminho para novas ofertas", afirma Gustavo Bertotti, diretor de Renda Variável da Fami Capital.

O GOVERNO VAI VENDER A SABESP?

O Governo de São Paulo, que hoje tem 50,3% da Sabesp, vai vender uma fatia das ações que possui e ficar com 18% do capital, saindo do controle da companhia.

O acionista de referência vai ficar com 15% dos papéis, enquanto investidores do mercado —incluindo pessoas físicas e jurídicas, brasileiras e estrangeiras— terão 17%.

QUAL O MODELO DE PRIVATIZAÇÃO ESCOLHIDO?

O governo diz ter estudado vários modelos de desestatização, inclusive a venda total da empresa. A opção escolhida foi a de fazer uma oferta subsequente de ações (follow-on). É um modelo diferente do que aconteceu com a privatização da Eletrobras, em que as ações foram diluídas na Bolsa.

No entanto, o formato do follow-on escolhido por Tarcísio é inédito, cheio de complexidades que deixaram o mercado em dúvida ao longo do processo.

COMO SERÁ A COMPANHIA DEPOIS?

No começo de junho, o Governo de São Paulo divulgou as regras de governança da Sabesp após a privatização.

Ficou definido, entre outras coisas, que o governo estadual deverá se abster de indicar o candidato a diretor-presidente da companhia, podendo apenas participar da votação para escolha do CEO, por meio de seus representantes no conselho de administração.

O novo conselho de administração após a privatização será composto por nove membros, sendo três indicados pelo governo, três indicados pelo acionista de referência e três conselheiros independentes.

O presidente do conselho será indicado pelo investidor de referência.

Pelo menos dois dos indicados pelo governo terão que ter experiência de no mínimo cinco anos no setor de utilidades (gás, saneamento e energia). Além disso, dentro da diretoria executiva, o diretor de Engenharia e Inovação e o diretor de Operação e Manutenção deverão ter pelo menos dez anos de experiência no segmento.

POR QUE O GOVERNO VAI PRIVATIZAR A SABESP?

O Governo de São Paulo diz que a desestatização da Sabesp permite aumentar os investimentos da companhia em modernização, antecipar a universalização do acesso a água e esgoto de 2033 para 2029, incluir pessoas que hoje não estão na área de atendimento da companhia e, principalmente, baratear a tarifa para o consumidor.

Membros da oposição, contudo, dizem que não há nada além de ambição política por parte do governador. De olho no vácuo deixado por Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio quer se firmar como líder emergente da direita brasileira, fazendo das privatizações a marca de sua gestão. A Sabesp seria sua "joia da coroa".

RAIO-X DA SABESP

Fundação: 1973
Lucro líquido 2023: R$ 3,5 bilhões
Valor de mercado: R$ 57 bilhões
Funcionários: 11.170
Municípios atendidos: 375
População atendida: 28,4 milhões

Vídeo viral traz informações erradas ao dizer que padrasto ou madrasta deve pagar pensão, FSP

 É enganoso o vídeo no qual um homem afirma que as leis brasileiras obrigam o padrasto a pagar pensão aos filhos da mulher com quem se relacionou. Ele faz a declaração ao comentar o caso de uma mulher que estava saindo havia dois meses com um homem e que, após descobrir que ela tinha um filho, sumiu.

No vídeo, verificado pelo Comprova, o homem diz que a culpa pelo "sumiço" são as leis do Brasil, que "praticamente obrigam" qualquer pessoa que se envolva com uma mulher com filhos a pagar pensão. Segundo ele, isso ocorreria após um tempo, se ela acionar o parceiro na Justiça alegando proximidade com a criança.

A imagem em preto e branco mostra duas mãos adultas segurando duas mãos infantis, simbolizando proteção e cuidado. As mãos estão em destaque contra um fundo preto, enfatizando o contraste e a conexão entre as gerações.
Lei não obriga padrasto ou madrasta a pagar pensão para filhos de companheiro - Victoria/Pixabay

Nas redes sociais, o autor do vídeo enganoso publica conteúdos sobre relacionamentos e promete "dicas de como ganhar dinheiro na internet". No vídeo investigado, ele não cita a qual lei estaria se referindo. Buscamos o nome do autor no Cadastro Nacional de Advogados, mas não obtivemos resultados. Ele foi procurado por email e pelo TikTok, mas não respondeu até a publicação deste texto.

A reportagem consultou o Código Civil Brasileiro, que trata do direito de família, e entrevistou especialistas no assunto, que foram categóricas: não há lei no Brasil que obrigue o padrasto ou madrasta a pagar pensão para os filhos de uma mulher ou homem com quem se relacionaram pelo simples fato de a relação ter ocorrido.

O que existem são decisões jurisprudenciais que determinam o pagamento de pensão por pais ou mães socioafetivos, ou seja, que se comportam como pai ou mãe de um menor e que têm essa parentalidade socioafetiva reconhecida pela Justiça ou de forma voluntária. Ainda assim, o pagamento de pensão só é determinado por decisão judicial.

Embora a legislação brasileira reconheça, atualmente, a existência de pais e mães socioafetivos, o termo não aparece no atual Código Civil. Em abril, uma comissão de juristas presidida pelo ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça, apresentou ao Senado uma proposta de atualização do Código. Este texto, se aprovado, passa a reconhecer expressamente a multiparentalidade socioafetiva, ou seja, a possibilidade de reconhecimento de mais de um vínculo paterno ou materno —e coloca no texto da lei os direitos e deveres de pais e mães socioafetivos. Mas a atualização ainda não começou a tramitar.

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