terça-feira, 18 de junho de 2024

Lula diz que Campos Neto trabalha contra o país e Tarcísio influencia BC, FSP

 

BRASÍLIA

O presidente Lula (PT) disse na manhã desta terça-feira (18) que o presidente do Banco CentralRoberto Campos Neto, tem lado político e trabalha para prejudicar o país.

Ele também citou o jantar que o governador Tarcísio de Freitas (São Paulo) fez em homenagem ao presidente da autoridade monetária, e disse que o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) tem mais influência nas decisões de Campos Neto do que ele, como presidente.

A declaração foi dada em entrevista à rádio CBN. O chefe do Executivo criticou ainda a taxa de juros, que começa hoje a ser analisada pelo Copom, comitê do BC —a decisão sobre a taxa será tomada nesta quarta (19). Para ele, não há motivo para a taxa Selic continuar igual.

"O presidente do Banco Central, que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país", afirmou.

Pedro Ladeira-17.6.2025/Folhapress
O presidente Lula (PT) em evento no Palácio do Planalto do Ministério da Justiça e do BNDES. - Pedro Ladeira/Folhapress

O presidente citou ainda o jantar em homenagem feito a Campos Neto em São Paulo, e sugeriu que ele teria pretensões político-eleitorais.

"[Tarcísio] Tem mais [poder de influência] que eu. Não é que ele encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%", disse Lula.

"Quando ele se auto lança a um cargo...Vamos repetir [Sérgio] Moro? Presidente do Banco Central está disposto a fazer mesmo papel que Moro fez, paladino da justiça com rabo preso com compromissos políticos?", questionou.

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A comparação com Moro se dá porque, como mostrou o Painel SA, o presidente do Banco Central sinalizou a Tarcísio que aceitaria um eventual cargo de ministro da Fazenda, num eventual governo, caso ele concorra e ganhe eleição.

"A quem esse rapaz é submetido, como ele vai numa festa em São Paulo, quase assumindo candidatura um cargo no governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?", questionou novamente.

Governo busca acordo para R$ 7,9 bi em pendências de empresas com salário-educação, fsp

  

BRASÍLIA

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai intensificar a busca por acordos com empresas que tenham valores pendentes do salário-educação, numa tentativa de ampliar a arrecadação do tributo, cuja função é ajudar a financiar a educação básica.

A lista dessas empresas, obtida pela Folha, reúne R$ 7,9 bilhões em valores acumulados por 38,6 mil contribuintes que não recolheram a contribuição, equivalente a 2,5% sobre a remuneração dos empregados.

Cerca de 40% do valor está em situação regular, ou seja, as empresas apresentaram garantias para efetuar eventual pagamento enquanto questionam se o valor é de fato devido. No entanto, essa situação acaba não tendo efeito na arrecadação da área.

Mulher de braço cruzado em gabinete de trabalho
A procuradora-geral da Fazenda Nacional, Anelize Lenzi Ruas de Almeida - Washington Costa/Washington Costa - 18.dez.2023/Divulgação PGFN

plano da PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional), braço jurídico do Ministério da Fazenda, é diversificar a estratégia de cobrança para torná-la mais efetiva. No ano passado, o órgão conseguiu recuperar apenas R$ 170 milhões do salário-educação.

A Procuradoria firmou um acordo de cooperação com o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e vai lançar mão de instrumentos como protesto em cartórios, acordos de transação tributária, além da própria divulgação da lista de empresas inscritas na dívida ativa da União por pendências com o salário-educação.

"Nossa meta neste ano tem que ser maior que isso [os R$ 170 milhões arrecadados em 2023], e cada vez maior que isso", disse a procuradora-geral da Fazenda Nacional, Anelize Almeida.

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A adesão aos acordos é voluntária, ou seja, as empresas podem analisar se a transação vale a pena ou se preferem continuar contestando o débito judicialmente.

Os maiores valores sob questionamento estão nas mãos de Itaú BBA (R$ 135,1 milhões), Itaú Unibanco (R$ 123,7 milhões), Petrobras (R$ 115,8 milhões), a Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (R$ 39,2 milhões) e a PagSeguro (R$ 39,2 milhões). Desse grupo, apenas a Ascar está em situação irregular.

Completam a lista dos dez maiores a Fundação Hospitalar de Saúde de Sergipe (R$ 37,8 milhões), a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (R$ 29,6 milhões), o clube esportivo Sport Club Internacional (R$ 26,5 milhões), a Sociedade Goiana de Cultura (R$ 26,4 milhões) e a companhia Águas e Esgotos do Piauí (R$ 26,2 milhões).

A assessoria de imprensa do Itaú Unibanco, que responde também pelo Itaú BBA, disse que os valores possuem garantias e "decorrem de reflexos de autuações indevidas que buscam descaracterizar os pagamentos de Participação nos Lucros e Resultados que o Itaú Unibanco faz anualmente aos seus colaboradores".

Segundo a instituição, a cobrança "está sendo questionada nas instâncias competentes". O banco não respondeu sobre a tentativa da PGFN de buscar um acordo em torno dos valores.

A Ascar, que presta serviços de assistência social rural no Rio Grande do Sul, informou que o passivo se refere à cobrança de contribuições feitas desde 1991 e que são consideradas indevidas.

Naquele ano, um auditor do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) fez um parecer desconsiderando o direito da Ascar à imunidade tributária prevista na Constituição para entidades dessa natureza —e da qual ela gozava desde sua criação, em 1955. O caso gerou uma disputa que se arrasta há anos na Justiça.

"A entidade não reconhece o suposto débito, tampouco teria recursos para custeá-los caso fossem devidos", disse, acrescentando que todos os bens da entidade estão penhorados. A associação pretende pedir à PGFN a apreciação administrativa do caso, na busca de uma solução consensual.

O PagBank —marca atual do PagSeguro, pertencente ao Grupo UOL, que tem participação minoritária e indireta do Grupo Folha, que edita a Folha— não quis comentar. As demais empresas não responderam ao pedido de informações feito pela reportagem.

Segundo relatos de advogados das empresas, elas consideram indevido o passivo inscrito em dívida ativa. Além de questionamentos relativos a temas como PLR e imunidade, há controvérsias sobre a incidência do salário-educação sobre a parcela da remuneração de funcionários acima de 20 salários mínimos.

Em março, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) afastou o teto de 20 salários mínimos para a cobrança de contribuições recolhidas por conta de terceiros, focada no Sistema S, mas com repercussão também sobre o salário-educação. Com isso, deixou de existir um limite.

Na modulação dos efeitos da decisão, quem tinha uma liminar anterior contra a taxação ficou livre do passivo relativo ao passado. Algumas companhias, no entanto, não conseguiram posição favorável ou nem sequer tiveram uma decisão em primeira instância. Por isso, acabaram tendo os valores inscritos na dívida ativa.

O advogado Pedro Teixeira de Siqueira Neto, do Bichara Advogados, disse que esse foi o maior litígio envolvendo o salário-educação. Em sua avaliação, a vantagem do acordo vai depender da avaliação individual de cada contribuinte.

"Pode ser interessante o acordo, no caso concreto, a depender se ele acredita que a modulação vai mudar ou não. Pelas manifestações ao longo do julgamento, me parece que essa modulação, da forma que está posta, deve ser mantida", afirmou.

O advogado Adriano Moura, sócio de Tributário do Mattos Filho, afirmou que a nova linha de atuação geral da PGFN, de buscar soluções amigáveis para os débitos, é positiva ao minimizar a relação conflituosa e de desconfiança entre fisco e contribuinte.

Segundo ele, o sucesso dessas negociações requer uma "mudança de mentalidade" para chegar a uma proposta que faça sentido para a Fazenda, mas também prestigie o contribuinte.

"Vai ter o perfil de contribuinte que não quer briga nenhuma e vai fazer o possível para sair do conflito. Mas, quando vê inconstitucionalidade flagrante, ainda que seja um pagamento com benefício, não valerá a pena, pois tem que fazer a confissão e abrir mão do argumento de defesa", afirmou.

O procurador-geral adjunto de gestão da dívida ativa da União e do FGTS, João Henrique Grognet, disse que os grandes valores devem ser o foco do governo, e a divulgação da lista deve ajudar na tarefa de cobrança.

A divulgação da lista de contribuintes inscritos na dívida ativa da União é garantida pela Lei de Execução Fiscal. Ela reúne os débitos já cobrados pelos órgãos de origem (como Receita Federal), mas que não foram espontaneamente pagos.

"Tudo bem que eles estão regulares, têm garantia, estão discutindo legitimamente seu crédito", disse Grognet.

A presidente do FNDE, Fernanda Pacobahyba, afirmou que a área de educação enfrenta uma "carência orçamentária muito grande", e a cobrança dos valores pode ajudar a reequilibrar esse cenário.

Ela destacou a importância da medida, sobretudo após uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que alterou o critério de distribuição das receitas com o salário-educação, para considerar apenas o número de matrículas na educação básica —o que beneficiou estados das regiões Norte e Nordeste.

"Uma medida como essa vem a beneficiar tanto os grandes, que já tiveram dados efetivos de perda, por conta da decisão do Supremo, mas também o quinhãozinho daquele lá que eu reputo [ser] quem mais precisa", disse.


OS MAIORES VALORES PENDENTES DO SALÁRIO-EDUCAÇÃO

  1. Itaú BBA (R$ 135,1 milhões)
  2. Itaú Unibanco (R$ 123,7 milhões)
  3. Petrobras (R$ 115,8 milhões)
  4. Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural - Ascar (R$ 39,2 milhões)
  5. PagSeguro (R$ 39,2 milhões)
  6. Fundação Hospitalar de Saúde de Sergipe (R$ 37,8 milhões)
  7. Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (R$ 29,6 milhões)
  8. Sport Club Internacional (R$ 26,5 milhões)
  9. Sociedade Goiana de Cultura (R$ 26,4 milhões)
  10. Águas e Esgotos do Piauí (R$ 26,2 milhões)

Reciclagem vive crise inédita no Brasil quase 14 anos após política nacional, FSP

 

SÃO PAULO

Em agosto de 2010, o Congresso Nacional aprovou o que é considerada uma das leis mais modernas do mundo sobre gestão de resíduos. Foram duas décadas de elaboração até que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) entrasse em vigor, trazendo planos e metas para estimular o reaproveitamento de materiais e a destinação correta de lixo.

Mas, quase 14 anos depois, a reciclagem passa por uma crise inédita. Membros do setor dizem que nunca viram tantos problemas se acumularem, numa espiral que inclui baixa valorização do material reciclado, insegurança tributária e falta de linhas de crédito.

Sem incentivos, os diferentes elos da cadeia passam a ter problemas para manter o negócio de pé, o que se reflete em pilhas de resíduos sobrando, empresas se desfazendo de patrimônio e, no fim das contas, menos produtos sendo reaproveitados pela indústria.

Pátio de uma plantas da Guarulhos Comércio de Sucatas, empresa que faz processamento de resíduos de metal para serem reciclados pela indústria - Bruno Santos/Bruno Santos - 18.abr.24/Folhapress

Um dos setores mais afetados pela crise é o de papel e papelão. Nos últimos anos, o preço da tonelada do material reciclado despencou, diminuindo a atratividade para os catadores.

"Se pegar 200 quilos de papelão na rua, carregar no carrinho esse peso todo, vai ganhar R$ 20 reais por dia. É muito pouco, é insalubre", afirma João Paulo Sanfins, vice-presidente da Associação de Aparistas de Papel (Anap). Na cadeia de reciclagem, o aparista é quem compra as aparas de papel para consolidar grandes volumes e vender para a indústria.

Sanfins, que também é dono de uma empresa de reciclagem em Belo Horizonte, conta que o quilo do papelão chegou ao ápice de R$ 2 na pandemia devido à falta de disponibilidade no mercado. Para aumentar a oferta, alguns fabricantes de embalagens passaram a importar o material, o que provocou queda nos preços.

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O problema é que, de 2022 para cá, os valores só caíram, enquanto os custos operacionais (diesel para os caminhões e energia, por exemplo) continuaram subindo. Hoje, o papelão coletado está sendo vendido para a indústria a R$ 0,60 o quilo, o que não é suficiente para bancar a operação. Segundo ele, a situação é "desesperadora".

"Estamos com prejuízo, tendo que nos desfazer de patrimônio para manter a empresa. Isso é um cenário que todo o setor está vivendo", diz Sanfins, que movimenta hoje um volume 30% menor de resíduos do que o normal.

Segundo a Anap, não é raro ver hoje caçambas cheias de papelão ignoradas por catadores por causa da baixa demanda e do preço pouco atraente. Também não são poucos os casos de pequenos empresários do ramo (donos de ferros-velhos, por exemplo) que abandonaram a atividade para trabalhar como motorista de aplicativo.

Sanfins acrescenta que, para piorar, o valor da celulose —que é a matéria-prima virgem— caiu muito no mercado. Isso porque, de uns anos para cá, fabricantes de embalagens passaram a investir em suas próprias fazendas de eucaliptos e pinos.

Como o setor é concentrado em poucas empresas, qualquer diminuição na compra de papel e papelão tem efeito sistêmico na cadeia de reciclagem.

"Um quilo de celulose que uma empresa põe no mercado equivale a dois quilos de material, porque ela deixou de reciclar um quilo [de papel e papelão] e está colocando outro de matéria-prima virgem no mercado."

O cenário vivido pelos aparistas de papel é mais delicado, mas não muito diferente do que acontece com a reciclagem de outros materiais. No fim das contas, membros do setor resumem a crise da seguinte forma: falta de valorização.

Rafael de Barros é diretor da Guarulhos Comércio de Sucatas, uma empresa que compra metais ferrosos, faz o processamento e vende para indústrias reciclarem.

Ele também aponta a verticalização —quando as companhias começam a produzir por conta própria a maior parte dos insumos de que precisam— como motivo para a perda de competitividade do reciclado. No entanto, evita criticar essa postura.

"Elas estão olhando o que é economicamente mais viável. O mundo é assim", diz.

O diretor da Guarulhos Comércio de Sucatas, Rafael Barros, na planta da empresa que fica em Itaquaquecetuba (SP) - Bruno Santos/Bruno Santos - 18.abr.24/Folhapress

Na avaliação de Barros, que trabalha há 20 anos no setor, a reciclagem só avança à medida que os resíduos ganham atratividade econômica, algo que ainda não acontece.

Em uma das unidades de sua empresa, que fica em Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo, o fluxo de entrada e saída de caminhões com resíduos é incessante. O pátio, ele diz, já esteve mais cheio, mas ainda segue movimentado. Isso porque a sucata ferrosa é um dos materiais mais reciclados do mundo.

Barros faz as contas. Sua empresa tem 200 funcionários, 80 caminhões e cerca de R$ 100 milhões investidos em equipamentos. Só o shredder, uma máquina para triturar metais, custou cerca de R$ 40 milhões.

Mesmo com todos esses custos, o empresário diz não ter acesso a nenhuma linha de crédito diferenciada. Assim como os demais atores da cadeia, precisa arcar com todo o investimento usando as baixas margens de lucro, algo que causa indignação num setor visto como fundamental para a preservação do meio ambiente.

Segundo ele, o Brasil só vai parar de ver plástico, papel e outros resíduos indo parar nas ruas e na natureza quando esses materiais tiverem valor de venda competitivo.

Para garantir que isso aconteça, afirma, é fundamental desenvolver estímulos financeiros e tributários.

Hoje, o setor de reciclagem não paga PIS/Cofins na venda de materiais para a indústria. Na comercialização dentro de um mesmo estado, o ICMS também é diferido. Mas o receio é que essa situação mude.

Em 2021, o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou que a isenção dos tributos na venda de reciclados era inconstitucional. Entidades do setor entraram com embargos de declaração e, atualmente, o tema está parado após pedido de vistas do ministro André Mendonça. O placar, porém, está 2 a 1 para que PIS/Cofins sejam cobrados.

Clineu Nunes, presidente do Inesfa (Instituto Nacional da Reciclagem), afirma que a situação do setor hoje é alarmante. "O acúmulo de problemas é uma coisa inédita", diz.

A questão tributária é a que mais preocupa. Segundo ele, se as empresas tiverem de pagar os impostos, seria o fim da reciclagem no Brasil.

Para não ficar nas mãos de uma decisão do STF, o setor apoia o projeto de lei 4035, que garante a isenção e ainda autoriza a indústria a aproveitar crédito tributário ao adquirir material reciclado —o que aumentaria a competitividade frente à matéria-prima virgem.

Mas uma vitória no Congresso não seria suficiente para tranquilizar as empresas de reciclagem. Isso porque a reforma tributária reduz os benefícios que existem hoje.

Rodrigo Petry, especialista em direito tributário do escritório Almeida Advogados, diz que atualmente há total isenção na cadeia. Quando o novo sistema começar a valer, haverá apenas na compra de material vendido por catador pessoa física ou cooperativa.

"No pós-reforma tributária, muito provavelmente, a atual vantagem competitiva deixa de existir. Houve, sim, a instituição de um benefício específico para o setor de reciclagem, mas muito tímido em relação ao que se tem hoje."

Questionado sobre a crise do setor, o Ministério do Meio Ambiente citou, em nota, ações do governo federal para estimular a reciclagem, como a definição de limites para importação de resíduos de papel, papelão, plástico e vidro, além de medidas para fortalecer a logística reversa.

"Há ainda esforços para aumentar a reciclagem no Brasil e tornar obrigatórios, a partir de leis e decretos, acordos voluntários de logística reversa atualmente em vigor", diz a nota.

A pasta afirma que está preparando decretos para estabelecer metas progressivas para o aumento do percentual de embalagens retornáveis no mercado nacional, metas de conteúdo reciclado obrigatório incorporado às embalagens de plástico e a definição de responsabilidades de cada elo da cadeia de logística reversa.

Segundo Nunes, do Inesfa, o cenário atual mostra como é possível o setor viver uma crise mesmo 14 anos após a aprovação de uma política nacional robusta. "Não adianta fazer uma lei e soltar ela. Tem que ter fiscalização, incentivo, ver se é viável ou não."

Nesse cenário, quem costuma sair mais prejudicado são os catadores. Roberto Rocha, presidente da Ancat (Associação Nacional dos Catadores), diz que a desvalorização está afetando "brutalmente" esses trabalhadores, que precisam se virar para conseguir manter o mesmo nível de renda.

"É uma pena, porque esses materiais acabam indo para o aterro sanitário, que não é o que prevemos quando falamos de economia circular", diz. "Nós estamos vivendo uma das grandes crises dos materiais reciclados."