quarta-feira, 22 de maio de 2024

Dia de derrota da Lava Jato e vitória de Moro, MEIO

 Duas decisões anunciadas ontem marcaram o que pode ser considerada uma derrocada final da Lava Jato: a anulação de todos os atos da operação contra Marcelo Odebrecht e a extinção de uma condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) por corrupção. A primeira decisão foi anunciada no início da noite por Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro considerou que os procuradores da Lava Jato agiram em “conluio processual” e “ignoraram o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa e a própria institucionalidade para garantir seus objetivos — pessoais e políticos — o que não se pode admitir em um Estado democrático de Direito”. Apesar disso, ele manteve a delação do ex-presidente da empreiteira. Marcelo Odebrecht foi condenado em 2016 a 19 anos e 4 meses de prisão pelo então juiz Sergio Moro. Fez acordo de delação que reduziu a pena para dez anos e, em 2022, o STF diminuiu o período para sete anos, já cumpridos. O executivo havia acionado o STF para pedir a extensão das decisões de Toffoli no processo em que ele determinou que as provas oriundas dos acordos de leniência da Odebrecht, atual Novonor, na Lava Jato, são imprestáveis em qualquer âmbito ou grau de jurisdição. Também havia pedido acesso aos conteúdos descobertos na Operação Spoofing. (Folha)

No despacho, Toffoli menciona mensagens reveladas pela Operação Spoofing, que investigou e prendeu os responsáveis por hackear aparelhos de agentes públicos. “Os diálogos apresentados demonstram que o ex-juiz (Moro) buscava informações que pudessem corroborar à imputação de delitos ao requerente, ainda na fase pré-processual, evidenciando o seu interesse sobre tais procedimentos”, afirmou o ministro. (Globo)

E por 3 votos a 2, a Segunda Turma do STF extinguiu ontem uma das duas condenações de Dirceu na Lava Jato. O petista foi sentenciado em 2016 e sua defesa alegou que a acusação estaria prescrita na época da condenação, já que, para réus com mais de 70 anos, o prazo cai à metade. Dirceu foi condenado a 8 anos e 10 meses de prisão por receber propina por um contrato da Petrobras com a Apolo Tubulars firmado em 2009. O julgamento, que começou em 2021, não discutiu o mérito da condenação, apenas o tempo de prescrição. Votaram a favor de manter a condenação o relator, ministro Edson Fachin, e Cármen Lúcia, quando integrava a Segunda Turma. Ricardo Lewandowski, que já se aposentou, abriu divergência e, ontem, foi seguido por Gilmar Mendes e Kassio Nunes Marques. Dirceu também pede a extinção de uma outra condenação da Lava Jato por recebimento de propina da Engevix. O caso está no Superior Tribunal de Justiça e a expectativa da defesa é que siga o entendimento de STF. (UOL)

Dirceu quer voltar à política e disputar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2026. “Seria justo voltar à Câmara dos Deputados, e a decisão do STF nos leva a essa direção”, disse o ex-ministro por meio de sua assessoria. Mas, enquanto não estiver com a ficha limpa, pretende ajudar na estruturação de candidaturas de esquerda nas eleições municipais deste ano e trabalhar pela renovação de quadros no PT. Ele só vai decidir se concorre ao posto de deputado depois que tiver sua elegibilidade restituída e passar por decisões do partido. (Meio)

Dia Nacional do Café: 10 fatos sobre o café brasileiro que talvez você não saiba, FSP

 David Lucena

SÃO PAULO

Você sabia que Minas Gerais produz mais café que a Colômbia inteira? E que 86% da produção nacional está concentrada na região Sudeste?

Embora seja uma bebida extremamente popular e consumida por todo o país, existem muitas verdades sobre os cafés do Brasil que você provavelmente não conhece.

Xícara branca com líquido preto e grãos de café ao lado
Dia Nacional do Café é celebrado em 24 de maio - Eduardo Anizelli/Folhapress

Por isso, nesta semana em que é celebrado o Dia Nacional do Café (24 de maio), o Café na Prensa elencou dez fatos sobre a bebida que muitos ignoram.

Por exemplo, você sabe qual a maior marca do Brasil? E quantas xícaras o brasileiro toma por dia? Confira abaixo essas e outras respostas:

Se você gosta de café, não deixe de acompanhar o Café na Prensa no Instagram @davidmclucena e no X (ex-Twitter) @davidlucena

Qual assunto você gostaria de ver aqui no blog? Envie sugestões para david.lucena@folhapress.com.br


Palavras submersas, Ruy Castro FSP

 Sei muito bem que não se comparam com as vidas e os sonhos levados pelas águas. Mas eles também são uma forma de vida e de sonho. Refiro-me aos livros, tomados e destruídos pelo enxurro, aos milhões, no Rio Grande do Sul. Não há exagero nesse número. Se cada exemplar de um livro pode ser insubstituível, pelo que representou na vida de uma pessoa, imagine essa morte em massa de páginas talvez ainda nem lidas. É duro constatar que o objeto em que se assentou o conhecimento humano nos últimos mil anos é tão frágil.

Assim como é frágil tudo o que permite ao livro existir e fazer a vida valer a pena: bibliotecas, livrarias, editoras, distribuidoras, gráficas. As fotos de Porto Alegre com os prédios quase submersos deram só uma tênue ideia. Quando a água acabar de baixar, as gráficas encontrarão suas impressoras com lama em cada arruela. Montanhas de bobinas de papel enrugado e perdido para sempre. Latões de tinta boiando e se jogando contra as paredes. Quantas palavras deixarão de ser impressas?

Editores e distribuidores ainda esperam ter acesso aos depósitos para calcular o tamanho da desgraça. Só se sabe que livrarias perderam grande parte do estoque, incluindo os livros já comprados e pagos e os consignados, que só seriam pagos quando vendidos. Tudo ficou sob cinco metros de água e agora entulho. E, com os computadores destruídos, como calcular os deveres e haveres?

Uma editora ficou sem a única coleção dos livros que editou, ou seja, sem sua memória. E os sebos, geralmente térreos, nas ruas mais baixas e desprotegidas, cheios de livros preciosos? Imagino o desespero dos livreiros gaúchos meus amigos, competindo com a água nas escadas, degrau por degrau, levando os títulos valiosos para as prateleiras mais altas, tentando salvá-los.

Porto Alegre sempre foi uma cidade literária —a última em que esse tipo de tragédia deveria ter acontecido.