terça-feira, 2 de maio de 2023

Bernardo Guimarães Tabela do IR é só a ponta do iceberg, FSP

 O pronunciamento do presidente parecia anunciar uma grande mudança: "a faixa de isenção do Imposto de Renda havia oito anos estava congelada em R$ 1.903. A partir de agora, o valor até R$ 2.640 não pagará nem mais um centavo de Imposto de Renda".

Sim. Mas antes quem recebia R$ 2.379 também não pagava —o que era deduzido na fonte voltava no ano seguinte.

Se não houvesse correção alguma na tabela, quem tem salário de R$ 2.640 pagaria, no final, uns R$ 15 por mês de Imposto de Renda (fazendo a declaração simplificada). Algo como 0,6% do ganho mensal.

A questão sobre tributação da renda do trabalho é bem maior que isso e muito importante.

Em primeiro lugar, a contribuição previdenciária é muito maior que o Imposto de Renda para quem ganha entre 1 e 5 salários mínimos. O funcionário paga entre 7,5% e 14% do seu salário e o empregador paga 20% —com algumas exceções, como sempre. Por exemplo, empregadores domésticos pagam 8%.

A contribuição do empregador pode parecer menos importante, mas não é. Não importa muito se o imposto é recolhido por quem paga ou por quem recebe o salário. Se o imposto sobre o empregador é mais alto, o salário que ele topa pagar para um funcionário é menor. Então boa parte do imposto acaba, de qualquer forma, afetando quanto o trabalhador recebe.

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Assim, o total de contribuições previdenciárias custa uns 30% do salário (e pouco mais da metade disso para empregados domésticos). Por outro lado, o Imposto de Renda para quem ganha R$ 4.000 por mês é algo como 3% do salário.

Em segundo lugar, não é óbvio quanto queremos taxar as pessoas em cada faixa de renda.

Se a tabela do Imposto de Renda tivesse sido reajustada pela inflação nos últimos anos, quem ganha R$ 3.000 ou R$ 4.000 não pagaria Imposto de Renda. Pessoas nessa faixa de renda estão entre os 20% maiores salários do Brasil. Faz sentido que elas paguem um pouco de Imposto de Renda?

A questão é interessante, mas o Imposto de Renda é uma pequena parte dos impostos sobre o trabalho. Não faz sentido considerá-lo isoladamente.

Por fim, o que está em jogo não é apenas uma questão distributiva. As regras tributárias, além de definir quanto cada um paga, afetam os empregos criados e o que é produzido na economia.

Isso é particularmente importante em países como o Brasil, onde muitas pessoas trabalham sem carteira assinada –ou no setor informal, ou como pessoas jurídicas, emitindo notas fiscais como se fossem empresas.

O objetivo da informalidade é fugir da tributação. Se as alíquotas fossem reduzidas, os incentivos para trabalhar como pessoa jurídica seriam menores. Mais gente pagaria os impostos. O aumento da base tributária compensaria parte da queda das alíquotas.

Além disso, empresas que não empregam sem carteira assinada estariam em melhores condições de competir no mercado de trabalho e contratariam mais. Os empregos criados seriam diferentes.

Não é claro, porém, o tamanho desse efeito. E as mudanças não aconteceriam rapidamente. Muitos dos ganhos entrariam no orçamento do próximo presidente.

As guerras de narrativas nas redes sociais discutem os números da tabela do IR como se houvesse uma briga entre o bem e o mal. É difícil progredir desse jeito, mas não parece que sairemos dessa logo. Assim caminha a sociedade, com passos de formiga, sem vontade.

Regras de tributação da renda têm grandes impactos na informalidade, nos empregos e na distribuição de recursos. É um tema difícil, mas importante, e há espaço para melhora.

Colunista do New Tork Times publica obituário das Redações de jornais, FSP

 Pedro Lovisi

SÃO PAULO

A colunista do The New York Times Maureen Dowd estava animada para voltar à Redação do jornal após dois anos dentro de casa devido à pandemia de Covid-19. Mas, desde o ano passado, ela encontra o local, em Washington, praticamente vazio –os jornalistas estão preferindo trabalhar de casa.

foto mostra várias edições de jornais empilhados sobre uma grade.
Jornalista escreve obituário da Redação de jornal, no New York Times. - Tim Mossholder/ Unsplash

A cena é inusitada para ela. Dowd começou a trabalhar no NYT na década de 1980, época em que as redações eram lotadas de jornalistas curiosos, barulhentos, raivosos e fumantes. Os espaços foram retratados desta forma nos filmes "Todos os Homens do Presidente", "Spotlight" e "O Jornal".

No último fim de semana, Dowd publicou o "obituário final para a Redação do jornal americano". "Como seria um filme de jornal hoje?", questiona. "Um bando de pessoas em seus apartamentos, cercadas por plantas tristes, usando o Slack (plataforma de troca de mensagens)?"

Em seu texto, ela recorda momentos pitorescos das Redações do século 20 (e início do 21). "Era um monte de fofocas, piadas, ansiedade e personagens hilários e excêntricos. Agora sentamos em casa sozinhos olhando para nossos computadores. Que chatice", disse um colega a ela. Dowd concorda.

A colunista, que tem 71 anos e escreve sobre política, cultura e internacional, cita as palavras de Arthur Gelb, editor-chefe do The New York Times, na década de 40. "Havia um senso avassalador de propósito, fogo e vida: o ritmo estalante das máquinas de escrever, pulsando na sala de Redação no andar de cima, repórteres gritando para os copistas pegarem suas histórias. Havia também o cheiro pungente do vício: um tapete de bitucas de cigarro, redatores que eram apostadores em meio período, jogos de dados, escarradeiras de latão e uma glamorosa amante de estrela de cinema vagando por aí", escreveu ele em suas memórias.

Além disso, na década de 1970, quando ela trabalhava no The Washington Star, ratos ocasionalmente passavam em cima dos teclados, e em outras situações repórteres tinham crises de raiva, quebrando suas máquinas de escrever ou computadores no chão. Isso tudo fazia parte do "velho glamour" da Redação.

Desde o ano passado, porém, segundo Dowd, a Redação tem apenas um punhado de pessoas, e as fileiras de mesas e computadores estão sempre mais vazias. "Às vezes, um grupo maior de jornalistas é atraído para uma reunião ao redor de um prato de bagels", diz.

Petiscos à parte, o vazio da Redação tem justificativa. "As pessoas perceberam o fato completamente impressionante de que é possível publicar um ótimo jornal de casa", afirma Dowd.

O sindicato dos jornalistas do NYT negocia com a chefia que os profissionais tenham que ir apenas duas vezes por semana à Redação. A administração se comprometeu com uma política de três dias por semana neste ano, mas quer expandir isso no futuro. A chefia está preocupada com a "estagnação dos jovens".

Dowd, por exemplo, nota que repórteres mais novos preferem entrevistar suas fontes por mensagens de texto ou email. "Um problema com isso", disse Jane Mayer do The New Yorker, "é que se você entrevistar alguém por escrito, essa pessoa terá tempo para considerar e editar as respostas, o que significa que espontaneidade, citações inesperadas, imprudentes e divertidas estarão mortas".

Dowd se preocupa que o romance e a alquimia das Redações tenham acabado.


Cada coisa que você possui é um relacionamento em que você está, Raptitude. com

 Passei seis semanas me livrando de vários carros cheios de pertences e três dias organizando o que restava. Agora minhas meias estão organizadas por cores, meu apartamento é muito maior e estar em casa parece férias. Alguns de vocês têm acompanhado meu experimento com The Life-Changing Magic of Tidying Up, de Marie Kondo. Para quem não tem, funciona assim: você mexe em cada posse que possui, segura em suas mãos e guarda apenas se evocar algum tipo de “alegria”. Esse critério parece meio esquisito, mas funciona surpreendentemente bem. Quando você segura um item em suas mãos, seu efeito psicológico sobre você fica claro em um ou dois segundos. A teoria é que qualquer posse que lhe dê sentimentos ruins ou confusos é muito cara para se ter em sua vida, se for possível se livrar dela. Acabei me livrando de centenas de coisas. Agora, a limpeza leva cinco minutos, e tudo o que faço em minha casa - cozinhar, recriar, até mesmo limpar - tem uma qualidade divertida e sem esforço. Parece que tudo o que possuo está no mesmo time. Eu já havia conseguido uma casa "tudo em seu lugar" antes, então estou familiarizado com a euforia de ter espaço extra e nenhum pertence desabrigado. A arrumação é simplesmente ótima, além do benefício prático de ter mais espaço e menos desordem. Mas desta vez a euforia é diferente, porque pela primeira vez nada em minha casa me causa sentimentos contraditórios.

Cada posse é um relacionamento A maioria de nós possui muitas coisas que nos fazem sentir mal. Presentes não utilizados. Roupas que não servem. Suprimentos para hobbies nos quais você nunca se interessou. Livros que você nunca vai ler. Porcaria de plástico da loja do dólar. Quando você segura um objeto em suas mãos, fica claro que ele o faz sentir algo - alegria, culpa, cansaço, medo, muitas vezes sentimentos mistos - às vezes muito fortes. Se é normal ter centenas ou milhares de posses, então cada um de nós, em todos os momentos, carrega o peso de centenas ou milhares desses relacionamentos. Portanto, faz sentido considerar com muito cuidado o que guardamos em nossas casas. O resultado do estilo de organização de Kondo é que você fica apenas com o que evoca alegria ou outros bons sentimentos. A menos que você já tenha feito o processo "KonMari", essa é uma sensação que você provavelmente nunca teve, porque geralmente não aplicamos um critério de "como é isso" quando adquirimos o material em primeiro lugar. Compramos coisas porque elas fazem algo de que precisamos, aceitamos presentes que não teríamos comprado e não nos livramos das coisas quando nossos gostos e valores mudam. Agora que me preocupo com todas as minhas coisas, eu as trato de maneira diferente. Parece desrespeitoso deixar algo de fora, especialmente quando se trata de um lar perfeitamente bom.


 Selecionar coisas como essa obriga você a tomar algumas decisões austeras sobre sua identidade. Você tem que confrontar certas verdades sobre o que você vai fazer tempo e espaço em sua vida. Decidi que provavelmente nunca faria Um Curso em Milagres e me livrei da minha cópia. Agora que uso um serviço de streaming para minhas músicas, me livrei de todos os meus CDs, encerrando oficialmente essa era. Doei um toca-discos em que estava sentado há anos, finalmente admitindo para mim mesmo que nunca serei um cara que coleciona discos de vinil. Todos esses momentos de “adeus” foram libertadores. Grande parte desse processo é sobre decidir quem você é e quem você não será. Você não pode seguir em frente quando está tentando manter um pé em cada porta. Livrar-se das coisas tristes pode revelar que você nunca teve realmente o que pensava ter. Sempre tive muitas roupas, mas quando as selecionei para o que realmente usava e gostava de usar, mal tinha roupas suficientes para encher uma mala grande. De repente, fica claro que só tenho um par de calças não sociais que realmente uso, mas parecia que tinha mais por causa dos cinco pares de calças que nunca usei. É como ter um par de calças e cinco pares de anticalças. Essa descoberta é fundamental - agora há um problema claro a ser resolvido, quando antes parecia que nada ficava bem em mim. A última coisa que você deve selecionar são as lembranças. Era aí que o efeito psicológico das posses era mais óbvio. A maioria dos cartões, cartas e presentes feitos à mão em minha caixa de lembranças me deram, na melhor das hipóteses, sentimentos confusos. Parecia que guardar fotos de velhos amigos e cartas de antigas namoradas era uma maneira sensata de comemorar experiências de vida significativas, mas com certeza não era bom olhar para elas. Livrar-se deles foi incrível. Agora só tenho alguns presentes selecionados de pessoas que amo, e cada um deles me faz sorrir. Esse foi um tema importante nesse processo: coisas que você acha que deveriam fazer você se sentir bem, na verdade, fazem você se sentir mal. Nem tudo que meu pai construiu me faz sentir bem em possuir. Se eu não o uso ou não se encaixa na minha vida por algum motivo, o sentimento predominante associado a possuí-lo é a culpa. Decidi deixar esses itens de lado e manter apenas os que me parecem quentes.


Provavelmente, a razão mais comum pela qual as pessoas guardam coisas que não estão usando é porque elas “têm valor” – o que significa que já custaram dinheiro. Mas o valor real das coisas é a experiência que elas criam para nós. Mesmo as coisas com valor monetário podem diminuir a qualidade de nossa experiência de várias maneiras, fazendo-nos sentir culpados, ocupando espaço ou nos mantendo preocupados com objetivos com os quais não estamos realmente comprometidos. E o dinheiro já se foi de qualquer maneira. A pergunta importante é sempre “Como é a sensação de possuir isso?” e você pode ter a resposta em segundos quando a segurar em suas mãos e perguntar.