segunda-feira, 7 de novembro de 2022

BQ.1: o que se sabe sobre variante da ômicron descoberta no Brasil, g1

 Uma nova variante do coronavírus, chamada de BQ.1, foi identificada no Rio de Janeiro, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.

A variante já havia sido encontrada no Amazonas em 20 de outubro, de acordo com a unidade da Fiocruz no estado, o que fortalece a suposição de que ela circula em diferentes locais do país.

Em entrevista à BBC News Brasil, o Secretário Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, explicou que a paciente diagnosticada na cidade é uma mulher de 35 anos, moradora da zona norte e sem sintomas graves.

"Ela já estava com as quatro doses da vacina, então os sintomas são leves e similares a infecções por outras variantes."

"A paciente não havia viajado, o que significa que essa variante já está causando transmissões localmente", completa o secretário.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, interpretados pelo infectologista Andre Lazzeri Cortez, entre as capitais, a cidade do Rio de Janeiro foi a que teve um número maior no aumento de casos nos última semana epidemiológica: foram 2202 pessoas infectadas. Na sequência, Recife apresenta 1333, Goiânia 611, Manaus 506 e São Paulo 479.

As características da BQ.1

De acordo com o infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, a BQ.1 é derivada da variante ômicron.

"É a mesma cepa que circula hoje na Europa e causou o aumento de infecções em países como Alemanha e França."

Não há mudanças em relação aos sintomas, que continuam sendo, para a maioria dos pacientes, dor de cabeça, tosse, febre, dor de garganta, cansaço, perda de olfato e paladar.

A característica principal que a difere de outras cepas, explica o médico, é um escape muito maior da proteção das vacinas.

LEIA MAIS

A BQ.1 apresenta mutações na proteína spike, uma proteína na superfície do Sars-CoV-2 que permite que ele se ligue e infecte nossas células.

Entre elas, está a mutação R346T, também encontrada na variante BA.5, que é associada por estudos com o escape imune significativo e até a evasão de anticorpos causados por infecções naturais por outras subvariantes da ômicron.

"Mas o que vemos acontecendo na Europa é que desde que as pessoas tenham a dose de reforço, ela supera a imunidade em relação à infecção, mas não causa casos graves."

No Rio de Janeiro, de acordo com Soranz, dos 47 pacientes internados na cidade, 92% não tomaram a dose de reforço ou nenhuma outra dose da vacina.

BQ.1: o que se sabe sobre variante da ômicron descoberta no Brasil — Foto: ZANUCK/GETTY IMAGES

BQ.1: o que se sabe sobre variante da ômicron descoberta no Brasil — Foto: ZANUCK/GETTY IMAGES

Aumento de casos é esperado

A variante foi identificada no Rio de Janeiro pela Fiocruz. "Temos uma unidade sentinela que seleciona as amostras de casos positivos na cidade e envia para sequenciamento genético. Fazemos isso regularmente desde 2021", diz o secretário municipal de saúde.

Soranz aponta que a subvariante pode estar relacionada com o aumento no número de casos verificada nas últimas semanas.

O infectologista Alberto Chebabo indica que o aumento de casos ainda deve seguir acontecendo nas próximas três a quatro semanas. "Será o resultado da circulação da nova variante associado a outras questões, como confraternizações de fim de ano e até fatores da vida que seguiu normalmente, com muitas pessoas sem usar máscara em locais de trabalho, por exemplo."

Recomendações para a população

A principal recomendação é estar com o calendário vacinal completo e atualizado, incluindo as duas doses de reforço.

"Vale lembrar que as infecções por covid-19 também implicam indiretamente em aumento na morbidade por doenças cardiovasculares, e sequelas que por vezes são irreversíveis", diz o médico infectologista e professor da Unoeste Guarujá, Andre Lazzeri Cortez.

"A proporção de indivíduos suscetíveis na população influencia diretamente na transmissibilidade das novas subvariantes. Essa proporção pode variar pois a imunidade dos indivíduos, seja a induzida por infecção prévia, seja a resposta induzida por vacinas, decresce em poucos meses", alerta.

Os médicos consultados pela reportagem também recomendam procurar uma unidade de saúde básica caso sintomas comumente associados a covid-19 apareçam.

"Cuidado redobrado deve ser tomado no caso de gestantes, idosos, crianças de baixo peso, imunossuprimidos e portadores de comorbidades crônicas descontroladas", recomenda Cortez.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/63537803

Lula prepara ‘revogaço’ de decretos de Bolsonaro, Meio

 

Nem Auxílio Brasil, nem aumento do salário-mínimo. A primeira medida do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao assumir o governo em janeiro deve ser um “revogaço” atingindo decretos e sigilos baixados ao longo de quatro anos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Em sua maioria, as medidas que serão revogadas lidam com acesso a armas de fogo, restrição ao combate a crimes ambientais e sigilos de cem anos impostos a uma série de informações do governo. Por serem atos dos Executivo, podem ser feitos sem negociação com o Congresso. “O compromisso expresso na campanha foi revogar decretos que facilitam o acesso a armas e munições”, afirma o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). (Globo)

De volta de um descanso na Bahia, Lula se reúne hoje, em São Paulo, com o vice eleito Geraldo Alckmin, coordenador geral da equipe de transição, e com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Um dos principais temas da conversa será a estratégia para viabilizar promessas de campanha, como a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600. Lula deve ir a Brasília amanhã para visitas de cortesia aos presidentes da Câmara, do Senado, do STF e do TSE. (Poder360)

A composição completa da equipe de transição deve ser anunciada ao longo desta semana, mas três nomes já foram convidados para integrar o núcleo sobre economia: o ex-presidente do BNDES Pérsio Arida, André Lara Resende – os dois criadores do Plano Real – e Guilherme Mello, um quadro técnico do PT. Resende e Mello já aceitaram o convite. (Globo)

Lula tem dito a interlocutores que não pretende nomear para seu ministério pessoas que participarão da transição, revela Igor Gadelha. Na avaliação dele, este grupo estará na “linha de tiro”, podendo chegar a um ministério já em desgaste. Alckmin, Gleisi e Aloísio Mercadante podem ser exceções à regra. (Metrópoles)

Outra preocupação na composição do ministério é não enfraquecer a base do governo no Senado, especialmente após a eleição de nomes simbólicos da direita. Lula quer ter em sua equipe, por exemplo, Flávio Dino (PSB-MA), Wellington Dias (PT-PI) e Jaques Wagner (PT-BA), mas teme tirar esses políticos experientes do Congresso de deixar suas vagas a cargo de suplentes. (Folha)

E por falar... Em ministério, aliados da senadora Simone Tebet (MDB-MS) são contra ela assumir a Agricultura, apesar de seus laços com o agronegócio, conta Guilherme Amado. Eles consideram que essa pasta “anda sozinha”, dando pouca visibilidade ao ocupante. Sem mandato a partir de janeiro, ela precisaria de um cargo como boa exposição política, como Educação, Cidadania ou mesmo Meio Ambiente. (Metrópoles)

facebooktwitterwhatsapp

A equipe responsável pela transição de governo decidiu usar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para garantir a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 e o aumento real do salário-mínimo. O texto será apresentado hoje ao presidente eleito Lula. Setores na base do futuro governo defendiam o chamado Plano B, a liberação de recursos através de uma Medida Provisória com aval do Tribunal de Contas da União, sem passar pelo Congresso. “A PEC dá mais segurança jurídica e política ao País”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE) após a reunião com o vice eleito Geraldo Alckmin. A palavra final, porém, será mesmo de Lula. (Estadão)

O debate sobre a PEC e o Plano B é, na verdade, uma disputa sobre a negociação ou não com o Centrão. Ontem, um dos expoentes do grupo, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), criticou a solução via TCU, dizendo que uma MP tornaria o Congresso “órgão acessório” do tribunal, quando a lei determina o oposto. Nogueira coordena a transição pelo lado do governo Bolsonaro. Pelo outro lado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) voltou a criticar a PEC, afirmando que seu único objetivo é perpetuar o Centrão no poder. Renan tem um interesse pessoal na disputa, já que uma das exigências do Centrão seria o apoio de Lula à reeleição de Arthur Lira (PP-AL), inimigo político do senador, para a presidência da Câmara. (Poder360)

facebooktwitterwhatsapp

O TSE mandou ontem que o Twitter bloqueasse a conta do ex-secretário da Receita Federa Marcos Cintra, candidato a vice na chapa do União Brasil este ano. No sábado, Cintra, embora criticando a gestão de Jair Bolsonaro (PL), publicou uma série de questionamentos sobre as urnas eletrônicas com pelo menos uma informação falsa. Ele disse não ter havida uma única urna com 100% dos votos para o presidente – houve pelo menos três, e esse não é um resultado incomum em eleições. Sem ligação com Cintra, o Novo protestou contra a “censura” do TSE, mas não fez menção à informação incorreta. (Poder360)

facebooktwitterwhatsapp

Embora as pesquisas indiquem que o Partido Republicano – cada vez mais à direita – deve retomar nas eleições legislativas de amanhã o controle da Câmara e do Senado, o ex-presidente Donald Trump já está contestando o resultado. Não no país inteiro, claro. Ontem ele publicou nas redes sociais: “Lá vamos nós de novo. Eleições fraudadas”, referindo-se à Pensilvânia, onde os democratas fazem um esforço de última hora para obter a vitória. A “prova” da fraude são declarações de autoridades locais dizendo que o resultado pode levar dias para ser conhecido. Trump não comenta, porém, que isso se dá porque o Legislativo local, controlado pelos republicanos, vetou uma série de iniciativas para modernizar o sistema de votação. (CNN)

facebooktwitterwhatsapp

E lá no Planalto...

Orlando Pedroso

Limpeza urbana 560

facebooktwitterwhatsapp
separador

Viver

Um relatório da Organização das Nações Unidas, divulgado neste domingo, aponta que os últimos oito anos provavelmente sejam os mais quentes já registrados. O estudo da Organização Meteorológica Mundial, agência da ONU, ainda indica que ondas de calor extremo, secas e inundações afetaram milhões de pessoas e custaram bilhões de dólares somente em 2022. Os dados foram anunciados na abertura da COP27, evento que reúne governos de mais de 200 países para discutir ações efetivas para conter o aumento da temperatura global e as mudanças climáticas. Neste ano, os encontros ocorrem em Sharm el-Sheikh, no Egito, até o dia 18 de novembro. (g1)

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) está coordenando uma delegação de lideranças que participarão da COP27 para debater sobre a importância das demarcações de terras. O tema foi escolhido pela APIB por considerar as demarcações um ponto fundamental para enfrentar a crise climática. Quem também deve marcar presença no evento é o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aceitou o convite do presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi. (O Eco)

facebooktwitterwhatsapp

Um cálculo feito pelo Observatório da Alimentação Escolar e pela Fian Brasil revela uma perda de R$ 1,4 bilhão aos estados gerada pelo veto do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Sem o reajuste aprovado pelo Congresso na Lei de Diretrizes Orçamentárias do próximo ano, que repõe as perdas inflacionárias desde 2017, os estados mais afetados serão São Paulo, que deixará de receber R$ 247,4 milhões, Minas Gerais, que perderá R$ 123,6 milhões, e a Bahia, com prejuízo de R$ 89 milhões. (Folha)

facebooktwitterwhatsapp

O Brasil perdeu, neste sábado, um dos maiores nomes da física no país. Morreu o professor emérito da UFRJ Herch Moysés Nussenzveig, aos 90 anos, no Rio de Janeiro. Referência no campo da óptica, o físico foi reconhecido ao longo da carreira com honrarias como o Prêmio Max Born, em 1986, a Grã Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e o Prêmio Jabuti, ambos em 1999. Ele também foi membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Academia Mundial de Ciências (TWAS, na sigla em inglês) e da Sociedade Americana de Física, além de fundar a Academia de Ciências da América Latina (Acal). (O Globo)

facebooktwitterwhatsapp
separador

Economia

O Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu, na sexta-feira, negar o pedido do Ministério Público de Contas de suspensão do empréstimo consignado da Caixa Econômica Federal para beneficiários do Auxílio Brasil. Na decisão, o ministro Aroldo Cedraz concluiu que não houve irregularidades na concessão da linha de crédito. Por isso, ele também determinou o arquivamento do processo. Os documentos apresentados pelo banco demonstraram que a decisão quanto à oferta do consignado observou os ritos de governança empresarial, como análises de definição de limites, custos de operação e de especificação. Além disso, a Caixa teria comprovado a viabilidade comercial e financeira da linha de crédito, bem como o produto se alinha ao planejamento do banco, segundo o ministro. A abertura do processo contra a Caixa foi um pedido do Ministério Público junto ao TCU para analisar a concessão de consignados aos beneficiários do benefício social e um possível uso eleitoral da medida. (g1)

Enquanto isso, a contratação do consignado permanece suspensa até 14 de novembro. Após esse prazo, o empréstimo voltará a ser ofertado. Segundo a Caixa, a linha de crédito estará suspensa por duas semanas para processar folhas de pagamentos do Auxílio. A oferta do empréstimo está suspensa desde o dia 1º. (Agência Brasil)

facebooktwitterwhatsapp

Uma ação popular de autoria do ex-presidente de exploração e produção da Petrobras, Guilherme Estrella, pede o bloqueio de dividendos que seriam pagos pela estatal antecipadamente ao governo federal, conforme foi aprovado em julho. A ação pede que sejam feitos estudos para comprovar que a distribuição de dividendos não compromete a competitividade da Petrobras. Na sexta-feira, procuradores do TCU pediram a suspensão do pagamento antecipado de dividendos de cerca de R$ 43,7 bilhões da Petrobras devido a um lucro mais forte que o esperado no terceiro trimestre. (Estadão)

Ao justificar o pagamento de R$ 43,7 bilhões em dividendos, o diretor financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras, Rodrigo Araujo Alves, afirmou que está “completamente dentro do que prevê a política de remuneração” da estatal. (g1)

facebooktwitterwhatsapp

E a Petrobras elevou o preço do querosene de aviação (QAV) em 7,3%, totalizando um aumento de 48,4% no ano. Segundo a companhia, a alta do QAV se deu após três meses consecutivos de redução média no preço do produto. Os reajustes do querosene são mensais e negociados com as distribuidoras com base em fórmulas contratuais. O QAV responde por cerca de 40% dos custos totais de uma companhia aérea. (Agência Brasil)

facebooktwitterwhatsapp

E o início dos trabalhos de transição para o governo eleito e o otimismo na economia chinesa fizeram o mercado financeiro ter mais um dia de alívio na sexta-feira. O Ibovespa fechou em alta de +1,08%, aos 118.155 pontos. Na semana, o principal índice da Bolsa brasileira acumulou alta de +3,16%. Frente ao real, o dólar perdeu -1,24%, fechando a semana com queda de -4,5%, negociado a R$ 5,06. Em Nova York, Dow Jones e S&P 500 subiram, respectivamente, +1,26% e +1,36%. (InfoMoney)

Na Europa, as bolsas operavam em alta nesta manhã, apesar das frustrações sobre a reabertura do lockdown na China. Frankfurt estava em +0,94%, Paris em +0,27% e Londres em -0,08%. Na Ásia, Tóquio estava em +1,21%, Xangai em +0,23%, Hong Kong em +2,69% e Coreia do Sul em +0,99%. (Investing)

facebooktwitterwhatsapp
separador

Cultura

Morreu ontem em Belo Horizonte, aos 53 anos, Guilherme de Pádua, assassino condenado da atriz Daniella Perez. O ex-ator e atualmente pastor de uma igreja sofreu um infarto fulminante em casa. A informação foi confirmada pelo pastor Márcio Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha. (UOL)

sábado, 5 de novembro de 2022

Edição de Sábado: O centro das atenções, MEIO

 

5 de novembro de 2022

convide amigos


Por Luciana Lima

De Brasília

Latitude: 16º 42' 45” Sul. Longitude: 39º 08' 33” Oeste. A pista de terra batida fica a 31 quilômetros ao sul de Porto Seguro (BA) e foi onde o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou com a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, sua mulher, para a lua-de-mel atrasada em 6 meses pela disputa eleitoral. Caraíva é um paraíso de coqueirais na beira da praia de areias brancas e água morna no sul da Bahia. A ideia era ficar isolado com Janja. O sossego foi interrompido, no feriado de Finados, pelos ex-governadores da Bahia Rui Costa (PT) e o senador Jaques Wagner (PT), que passaram o dia na casa de praia da Ponta do Camarão. Coisa de amigos. A assessoria não divulgou o destino para não atrapalhar as breves férias do casal — mas notícias vindas de Salvador indicam que a casa de veraneio foi emprestada pelo deputado federal Ronaldo Carletto (PP-BA).

Sim, Carletto é do mesmo partido de Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara que foi fiador da campanha derrotada de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. No próximo ano, Carletto estará sem mandato, visto que disputou a eleição como 1º suplente de Cacá Leão (PP-BA) para o Senado, na chapa de ACM Neto. Leão perdeu a vaga para Otto Alencar (PSD-BA), da chapa encabeçada por Jerônimo Rodrigues (PT) e apoiada por Lula. A expectativa na Bahia é que o PP passe a integrar a base de Jerônimo e se reaproxime de Lula na Câmara dos Deputados.

O reassentamento da política, porém, não produziu imagens na praia nordestina. A primeira cena do governo de Lula ocorreu a 1.500 quilômetros país adentro. Em Brasília, em meio ao estalar de flashes, reuniões, e seguranças abrindo caminho no empurra-empurra de repórteres, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB-SP), apresentava-se ao Congresso Nacional. Tinha o seu característico sorriso com os lábios e dentes cerrados e, enquanto se locomovia pelo carpete azul, educadamente, se desculpava por não responder às muitas tentativas de diálogos disparadas por jornalistas. “Vamos no púlpito”, chamava o ex-tucano, ao se dirigir, escoltado, para a porta da Presidência da Casa, onde o aguardava a torre apinhada de microfones. Eram os primeiros passos de uma transição que desembarcava na capital federal, na quinta-feira pós-finados, enquanto Lula curtia o descanso à beira-mar.

Sob a batuta de Alckmin, seguiam o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT-SP), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), e o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), em conversas no Tribunal de Contas da União (TCU), no Palácio do Planalto, no Senado, e nas salas subterrâneas das lideranças do PT. A agenda incluiu ainda, no dia seguinte, uma visita ao prédio que abrigará a comissão de transição, o Centro Cultural Banco do Brasil, que também passou por uma vistoria em sua preparação. Coordenador da transição, Alckmin atraiu todos os olhares em Brasília. “Tivemos uma overdose de Alckmin”, apontavam jornalistas no meio da tarde de quarta, após a quarta entrevista do ex-governador em um só dia. Alckmin saiu do PSDB por divergências com o então governador de São Paulo, João Doria. Após ser convidado por Lula para ser seu vice, se abrigou no PSB, partido coligado, para a formação da tão esperada frente ampla. Foi seu primeiro nome e símbolo. Desde o início, Alckmin representou uma reaproximação de Lula com representantes do setor produtivo. Agora, Lula tem o desafio de ampliar ainda mais sua rede de apoio para garantir governabilidade. A contar pelo primeiro dia, o passaporte Alckmin funcionou.

O vice eleito chegou negociando com o relator do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), um estouro no teto de gastos para que, ao assumir o mandato, o petista tenha condições de cumprir promessas de campanha — entre elas, continuar pagando R$ 600 do Bolsa Família, mais um incremento de R$ 150 para cada criança de famílias mais necessitadas. Só nesse quesito, o custo estimado é de R$ 70 bilhões ao Estado. Saiu da reunião com a combinação de uma proposta de emenda constitucional (PEC) para furar o limite. Com a “PEC da transição” combinada, o PT quer agora aproveitar sua negociação para ampliar ainda mais sua relação com líderes de partidos que não estiveram na aliança de Lula, dando a relatoria para membros do MDB ou do PSD. O partido de Lula quer ainda que o texto seja apresentado no Senado por um conjunto de líderes. “De que adianta um relator do PT? A gente precisa que seja uma PEC dos líderes do Senado”, disse o deputado Paulo Rocha (PT-PA).

Com apuração própria do Meio e um apanhado do que a imprensa conseguiu de informações de possíveis indicações, eis aqui alguns dos nomes e movimentos do PT rumo ao centro. Trata-se tanto de um reposicionamento ideológico, de se distanciar do que afasta os antipetistas aguerridos, quanto de visões pragmáticas de gestão e acordos políticos para atender demandas de setores como o empresariado, o agronegócio e o mercado financeiro.

A lista de milhões

“Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.” Essa foi uma das mensagens de Lula no discurso de sua vitória, na noite do domingo, dia 30. Ele já vinha insistindo na garantia de que o governo não seria do PT. É esperado e natural que o partido do presidente trave disputas para garantir espaço e protagonismo. Mas tudo indica que o comando de Lula foi compreendido por correligionários, ao menos por enquanto. O esforço inclui a própria composição da equipe de transição. O recado a ser dado é de que o governo está disposto ao diálogo, e mais, espera colaboração dos fiadores junto aos representantes do mercado. Alckmin, ao falar da lista de cerca de 50 nomes, indicou que membros do MDB de Simone Tebet (MS) e do PDT de Ciro Gomes (CE) foram convidados a integrar a equipe e aceitaram. Ele também disse que pessoas não filiadas a partidos políticos podem integrar a equipe. “A partir de segunda-feira vamos anunciar os nomes”, disse.

Nos bastidores da aliança de Lula, um pensamento jocoso diz muito sobre o que se pretende do novo governo: trata-se de um reconhecimento de que Bolsonaro proporcionou para Lula uma grande coligação, impensada anteriormente. “Ter Guilherme Boulos (Psol-SP), Geraldo Alckmin e Fernando Haddad (PT-SP) em um único carro de som era uma coisa inimaginável”, reconheceu um dos interlocutores do presidente eleito. A mesma lógica serve para os garantidores junto ao mercado, que passaram a não estranhar e até desejar ver nomes historicamente ligados ao PSDB em um governo de Lula. A dupla do Plano Real, que chegou a ser chamado de plano “Larida”, André Lara Resende e Persio Arida, entra nesse contexto. Ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), Arida coordenou o programa de governo de Alckmin em São Paulo. Mesmo que ele não vá parar na lista da transição, Lula e o PT fazem questão de mantê-lo como conselheiro e é um nome que poderá ser convidado a compor o Conselho de Desenvolvimento Econômico de Lula, caso não tenha uma posição na Esplanada. O mesmo ocorre com Lara Resende. É preciso ressaltar que, apesar de terem assinado o plano que estabilizou a economia do país, o pensamento dos dois enveredou por rumos diversos de lá para cá. Lara Resende ficou mais heterodoxo — daí o fato de seu nome soar mais redondo aos ouvidos petistas. “Persio Arida e Lara Resende são como Sandy e Júnior. Hoje, são completamente diferentes”, brincou um petista.

Já Henrique Meirelles, do União Brasil de São Paulo, é tão querido pelo mercado que já existe, por parte da classe política, a desconfiança de que alguém possa estar usando seu nome para especular e mexer com os ânimos da Faria Lima. Toda vez que se quer uma alta das ações, aparece Meirelles como possível nome para comandar a Fazenda de Lula. “Isso tem ocorrido há algumas semanas. Está parecendo coisa para se ganhar dinheiro”, disse um representante do mercado. Mas o próprio Meirelles vem se apresentando para jogo sempre que pode. Meirelles tem a admiração de Lula e é político. Ele foi ministro da Fazenda do governo de Michel Temer (MDB-SP) e comandou o Banco Central durante os dois mandatos do petista. Na última quinta, precisou vir a público mais uma vez para desmentir que havia sido chamado. O fato é que Lula ainda não disse quem estará no comando da economia, mas indicou o perfil desejado. Tudo o que o petista não quer é um nome estritamente técnico. O presidente eleito quer um ministro alinhado com ele e que tenha traquejo político para negociar. Nesse perfil, ainda concorrem petistas. Wellington Dias é visto como um grande negociador. O deputado federal Alexandre Padilha (SP) é tido como um profundo conhecedor da relação com o Congresso, característica que suplantaria sua performance como economista. E ainda tem o ex-ministro Fernando Haddad, que tem mestrado em Economia e é político.

Mesmo no PT, é difícil alguém que arrisque cravar o que poderá vir da cabeça de Lula. Enquanto essa tão aguardada indicação não sai, outras na área da economia seguem pipocando nas apostas. O economista Bernard Appy, que foi secretário de Lula e é autor de uma das propostas de reforma tributária que estão no Congresso, é um deles — mas nega que tenha sido chamado, repetindo que, antes do nome do camisa 10, o resto do time não é escalado.

As presenças entusiasmadas de Simone Tebet (MDB-MS) e Marina Silva (Rede-SP) no segundo turno de campanha e as perspectivas de que estarão com Lula em posições no governo ou no Congresso também animam setores da economia. Simone, na avaliação de petistas ligados ao presidente eleito, passa um recado importante de responsabilidade fiscal, desejo da turma que opera o mercado. Além disso, sinaliza para a Agricultura. A senadora é proprietária de fazendas no Mato Grosso do Sul. Seu pai, Ramez Tebet, um dos ícones do MDB, presidiu o Senado. Ela continua repetindo que não condiciona seu apoio a cargos, mas seu partido quer um espaço de projeção. A preferência, segundo o Globo, é pelo Ministério da Cidadania, pasta com orçamento gigante, responsável por gerir os programas sociais mais importantes, como o Auxílio Brasil, o antigo Bolsa Família, e o Cadastro Único, que identifica famílias de baixa renda. Já o Estadão diz que Simone gostaria mesmo de comandar a Educação.

Marina é, em si mesma, portadora da plataforma do respeito ao meio ambiente e de que sequer se ganha dinheiro “passando a boiada”. “Mesmo que não seja um pensamento majoritário, os mais esclarecidos do mercado gostam muito dela”, destacou um interlocutor de Lula. O mercado sabe que um investidor estrangeiro feliz coloca dinheiro no país sem medo. E investidores hoje olham para o que se faz com o meio ambiente. Na próxima semana, Simone e Marina viajarão com Lula para a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), no Egito. Aos olhos do mundo, Lula quer mostrar que o país não está mais na posição de pária ambiental e a ex-ministra empresta a Lula seu reconhecimento na defesa da Amazônia. Foi durante sua gestão na pasta que o Brasil conseguiu reduzir em 83% o desmatamento da região. Ela chegou a afirmar recentemente que "o Brasil vai deixar de ir para a COP para fazer chantagem", referindo-se aos pedidos feitos pelo ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP) para que os países fossem obrigados a remunerar o Brasil como condição para a conservação da floresta.

O pedágio no Congresso

Enquanto Alckmin estreava o governo no Senado, em outra frente, o deputado José Guimarães (PT-CE) garantia outra ampliação na transição de Lula. A poucos quilômetros do Salão Azul, na Residência Oficial da Câmara, a negociação era com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão e dono da pauta. Afinal, não se chega ao centro sem passar pelo centrão. O petista saiu da reunião dizendo ter obtido o compromisso de Lira de deixar “portas abertas para pautar as matérias de interesse do novo governo”. Esse compromisso inclui o tratamento célere para a PEC da transição, negociada por Alckmin.

É claro que, no Congresso, o caminho de Lula ao centro tem o pedágio da sucessão na Câmara. Lira quer apoio dos petistas para se reeleger presidente da Casa em fevereiro. Por enquanto, o que tem é a disposição do PT em não lançar candidato. O PT não quer Lira como inimigo, apesar da divergência quanto ao “orçamento secreto”. “O PT precisa evitar ter um novo Eduardo Cunha no comando da Câmara”, disse um petista, lembrando o trauma com o emedebista, que foi cassado e preso depois que abriu o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff.

Na próxima semana, Lula desembarca em Brasília e vai conversar com o alagoano. Tudo indica que a divergência sobre a legitimidade das emendas de relator, o infame orçamento secreto, não será obstáculo a um entendimento. Mais fácil, nesse caso, deixar que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida sobre a legalidade desse ponto do orçamento. A presidente da Corte, Rosa Weber, prometeu levar o assunto a julgamento logo depois das eleições. Em nome da ampliação da base, petistas apostam que uma definição do STF servirá para colocar fim ao problema. Na terça, além de se encontrar com Lira, Lula terá conversas com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Rosa Weber e com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes.

As negociações ao centro no Congresso, inclusive com a centro direita, incluem conversas de Gleisi com um acolhedor Luciano Bivar, do União Brasil — que, além de abrigar Meirelles, é também o partido de Sergio Moro, ACM Neto, e companhia.

Ciúmes

Nessa política de expansão da aliança, todo cuidado é pouco para não perder aliados pelo caminho. A reaproximação com Lira em torno da PEC da transição parece ter causado o primeiro episódio público de ciumeira do governo Lula. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) não se conteve e se mostrou estridente nas críticas, tão logo o primeiro pedido de Lula chegou ao Senado: “Barbeiragem”, classificou o emedebista. Isso rendeu uma ligação de Gleisi a Renan. “Conversei com o senador e mostrei que precisamos viabilizar aquilo que foi contratado nas urnas. Não podemos entrar em 2023 sem o Auxílio Brasil e sem garantia de aumento do salário mínimo”, explicou Gleisi.

Já no Senado, Lula deverá apoiar a recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o que atende o PSD de Gilberto Kassab (SP), partido que adotou a posição de neutralidade no primeiro e no segundo turno. Agora, Kassab está em grand tour na imprensa apresentando suas condições. Na próxima semana as negociações com o PSD, até então nos bastidores, devem ganhar mais corpo e parlamentares do PT já indicam que a legenda foi chamada “a fazer parte” da equipe. Kassab, por sua vez, assumiu a função de convencer a ala do partido que esteve com Bolsonaro para o apoio ao petista. “Agora nós temos uma realidade e no partido tem uma parcela muito expressiva que apoiou o presidente Lula. Existe sim, da minha parte, um entendimento de que, em havendo convite do PT, e haverá na semana que vem, nós deveremos examinar”, disse o ex-ministro em entrevista ao UOL, antes de viajar a Curitiba para conversar com o governador reeleito do partido Ratinho Júnior, que lidera a ala apoiadora de Bolsonaro. “É importante para o Brasil que esse governo tenha governabilidade e é importante que nessa governabilidade o PSD esteja envolvido”, enfatizou. Na Câmara, o PSD terá 42 deputados em 2023 — mesmo número do MDB, na quinta posição das maiores bancadas.

Também não está descartada a possibilidade de que o PSD tenha uma pasta na Esplanada de Lula. O senador Carlos Fávaro (PSD-MT) tem se colocado ativo na tarefa de levar o partido para os braços do petista e é um dos cotados para assumir o ministério da Agricultura. Na próxima semana, haverá uma reunião para bater o martelo sobre a posição do PSD. Dos 11 senadores que a legenda terá na próxima legislatura, a segunda maior bancada da casa, pelo menos 4 já são aliados de Lula: Fávaro, Alexandre Silveira (MG), Otto Alencar (BA) e Omar Aziz (AM). Uma das vantagens de se fundar um partido “nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”, nas palavras de Kassab, em 2011.

ONDE ESTÁ O FASCISMO NO BOLSONARISMO

Por Pedro Doria

Não são acidentais as imagens capturadas no interior de Santa Catarina, onde homens e mulheres bolsonaristas fazem a saudação romana, braço estendido à frente, em ângulo para cima. Os apologistas dizem que juravam a bandeira. Mas não é disso que se trata — o juramento à bandeira, além de uma cerimônia rara, é sempre feito com uma bandeira que esteja na frente das pessoas e o braço tem de estar paralelo ao chão. Na cena bolsonarista, as bandeiras estavam ao lado, entre os militantes, e o que saudavam era um quartel. O gesto que muitos faziam tem um único significado na cultura política do Ocidente. É a saudação nazista. Não é acidental por uma única razão. Mesmo que as pessoas ali não tenham qualquer noção do que fazem, ainda que seja uma reação gutural e instintiva, por trás de seu rito há uma ideologia. Uma ideologia antiga. Sua visão de Brasil e de mundo é fascista. De um fascismo bastante específico: o brasileiro.

Plínio Salgado era jornalista e escritor. Gustavo Barroso, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, historiador. E Miguel Reale, o pai, era, como o filho, jurista. Os três formavam o comando da Ação Integralista Brasileira. O bolsonarismo não tem, nem que se jogue Olavo de Carvalho no meio, sequer um naco da qualidade intelectual do fascismo brasileiro original. Talvez por isso as crenças, a ideia de Brasil ideal do presidente que perdeu a eleição no último domingo, jamais tenham sido sistematizadas para além de slogans vagos. Mas os integralistas, não. Eles escreveram livros, fizeram discursos detalhados, até às crianças ensinavam sobre seu projeto utópico. Reconhecemos de cara.

O brasileiro ideal do integralismo era o descendente do bandeirante — todo fascismo tem seu tipo ideal. Aquele homem (é sempre um homem) que em sua personalidade representa o melhor do país. Em sua leitura, os bandeirantes haviam domado a terra brasileira. Abriram espaço nas matas, lutaram bravamente onde foi que encontrassem adversários, ergueram grandes fazendas e descobriram onde havia minério para garimpo. O descendente do bandeirante era o brasileiro do interior, que ainda vivia nas terras abertas por suas expedições. Por isso mesmo, por permanecer ali, tinha fincado raízes profundas que fazia este homem ter uma conexão direta com a história brasileira. Era o homem do campo e do minério, que trabalhava com suas mãos. Muito diferente de um tipo para quem os integralistas olhavam com desdém: os homens da cidade, cosmopolitas, com o olhar voltado para o mundo e não para seu próprio país. Homens cuja desconexão com o interior do país fazia deles afeminados — esta era, precisamente, a palavra que Plínio usava.

O interior é melhor que a cidade. O bolsonarismo concorda. A dicotomia homem de verdade, homem afeminado — estava lá, como está aqui. A apologia do agro e do garimpo. O olhar sobre a floresta como terra que é preciso ocupar, devastar. O homem de valor se impõe sobre a mata.

Plínio Salgado era católico — profundamente religioso. Escreveu uma biografia de Jesus Cristo. Havia muitos padres integralistas porque o movimento era de todo permeado por uma leitura do catolicismo. Ele defendia que uma das razões de o mundo estar em decadência era o fato de que valores religiosos terem saído da vida civil. Por isso mesmo, defendia que o cristianismo precisava ser reinstituído como guia tanto para o Estado quanto para a família. Sua família ideal, portanto, era uma em todo tradicional e hierarquizada: o pai trabalha fora e está no comando; a mãe cuida da casa e organiza a vida dos filhos. Os filhos obedecem aos dois. Igreja todo domingo. No integralismo, os rituais civis se misturavam com os católicos. Seu símbolo, a letra grega Sigma, entrava dentro da igreja que voltava a realizar casamentos civis, batismos civis. A Igreja e o Estado se fundiam.

Quem ouve a senadora eleita Damares Alves ou mesmo a primeira-dama Michelle Bolsonaro de presto reconhece todo o desenho. É verdade que o que antes foi católico, hoje tem a cara dos evangélicos. Que os padres foram substituídos por pastores. Mas o desenho da família é o mesmo, a aproximação de Igreja e Estado, também.

Por fim, havia Gustavo Barroso. Sua principal missão no movimento foi criar uma milícia armada da qual foi comandante. Elas eram disciplinadas. Distribuíam-se em decúrias com dez militantes cada, sobre elas os terços — de três decúrias comandadas por um monitor —, daí bandeiras com quatro terços e um bandeirante os orientando, e então as legiões, de quatro bandeiras, com no topo um mestre de campo. Acima de todos, uma dupla. Barroso e seu lugar-tenente, Olympio de Mourão Filho. (O mesmo que, décadas mais tarde, dispararia o golpe de 1964.) Os integralistas tinham este exército privado que de fato patrulhava ruas em muitas cidades do interior — para garantir a segurança e auxiliar o Estado, diziam. Era este o discurso. Cada qual com sua arma.

O bolsonarismo não tem milícias — hoje seriam imediatamente ilegais. Mas os CACs, os clubes de tiro, todos são, essencialmente, o arcabouço para a criação de algo equivalente. O que o governo conseguiu fazer para livrá-los da vigília do Estado, ele fez.

Quase cem anos separam integralistas e bolsonaristas. Representam a mesma visão de Brasil, têm os mesmo valores, e apostam nas mesmas crenças.