segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Ventos do Sudeste, FSP

 Com as campanhas nas ruas e a propaganda partidária em cena, as pesquisas revelam novos movimentos nas disputas eleitorais. A mais recente sondagem do Datafolha registrou situações dignas de nota nos maiores colégios eleitorais do país, na região Sudeste.

Em Minas, onde não há candidaturas competitivas de esquerda, o governador Romeu Zema (Novo) tem 52% das intenções de voto, ante 22% de seu rival mais próximo, Alexandre Kalil (PSD).

Zema conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declara simpatias a Kalil.

As intenções de voto no estado, que sugerem possível vitória no primeiro turno, contrastam com os números da corrida presencial —entre os mineiros, Lula lidera por 47% a 30% a disputa com o atual presidente da República.

No Rio, Cláudio Castro (PL), que também é o incumbente, aparece à frente de Marcelo Freixo (PSB), o preferido de Lula. A distância entre os dois —31% a 26%— é numericamente expressiva, mas pode ser considerada como empate técnico, uma vez que a margem de erro é de três pontos percentuais para cima ou para baixo.

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Castro, que concentra o voto bolsonarista, era vice na chapa de Wilson Witzel e assumiu o governo em agosto de 2020, após o impeachment do titular. No Rio, Lula tem 42% das intenções, contra 32% de Bolsonaro —Freixo, portanto, está aquém do seu aliado petista.

Em São Paulo, o quadro é mais complexo. O governador Rodrigo Garcia (PSDB), que substitui João Doria desde abril passado, mostrou algum crescimento na última pesquisa (passou de 11% a 15%), mas, diferentemente de Zema e Castro, não lidera na pesquisa.

É sintomático que até aqui o principal embate em São Paulo se dê entre o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), com 35%, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 21%. Tarcísio conta com firme apoio de Bolsonaro, de quem foi ministro. No Datafolha, demonstrou crescimento em relação à pesquisa anterior, quando estava em 16%.

Lula tem a preferência dos paulistas, mas a vantagem sobre Bolsonaro, agora de 40% a 35%, vem se estreitando. Nada, obviamente, permite vaticínios definitivos, mas no Sudeste as disputas estaduais parecem descoladas da nacional.

editoriais@grupofolha.com.br

Henrique Meirelles será conselheiro de gigante global de criptomoedas, FSP

 Daniele Madureira

SÃO PAULO

Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, está de volta à iniciativa privada. Há cerca de uma semana, aceitou o convite da Binance, a maior corretora mundial de criptomoedas, para ocupar um lugar no conselho consultivo global da companhia.

"Eu ainda preciso estudar o assunto, é um mercado muito novo, mas achei a proposta interessante", disse à Folha o ex-presidente mundial do BankBoston, banco americano comprado pelo Itaú em 2006. Até o momento, Meirelles afirma não ter feito qualquer investimento em criptoativos.

Fundada em 2017 pelos chineses Changpeng Zhao e Yi He, a Binance se apresenta como "o principal ecossistema de blockchain do mundo, com um conjunto de produtos que inclui a maior de todas as corretoras de ativos digitais". A empresa fornece atendimento aos clientes em 40 idiomas, incluindo português. Seu braço de capital de risco, a Binance Labs, administra ativos de US$ 7,5 bilhões.

Homem careca, de óculos, vestido de terno preto
Henrique Meirelles, ex-secretário da Fazenda de Doria, ex-ministro da Fazenda de Temer e ex-presidente do Banco Central de Lula. - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Ex-presidente do BC (Banco Central) no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele diz que, por enquanto, o petista tem o seu voto. "Apesar de algumas declarações equivocadas dele", afirma o ex-ministro da Fazenda de Michel Temer (PMDB).

Como equivocadas, Meirelles cita a intenção de Lula de acabar com o teto de gastos. "O sistema fiscal brasileiro está muito ruim, sem um controle dos gastos o Brasil pode quebrar e entrar em recessão", disse, destacando que a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2023 é baixa, de 0,5%.

Este ano, afirma, o país deve crescer acima do esperado por conta da injeção fiscal. "Mas isso torna a situação do BC muito difícil", diz ele, referindo-se às taxas de juros.

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"Não há dúvida de que existe um problema social grave e que é preciso prorrogar o Auxílio Brasil no próximo ano, mas é fundamental haver um corte de despesas para tentar equilibrar um pouco as contas", afirmou.

Como proposta, Meirelles defende uma reforma administrativa no governo, com desestatização de empresas públicas, nos moldes do processo que ele comandou quando foi secretário da Fazenda de João Doria (PSDB).

Celso Rocha de Barros Bolsonaro deveria terminar seu discurso no dia 7 gritando: 'Incompetência e morte!', FSP

 O bicentenário da Independência do Brasil deveria ser um momento de grandes eventos culturais e discussões públicas sobre o que foi a história brasileira até aqui e o que devemos fazer de agora em diante. Em vez disso, Bolsonaro está andando pra lá e pra cá com um pedaço de defunto e vai fazer um comício a favor do golpe de Estado no dia 7 de setembro.

Ainda não se sabe o quanto o ato de quarta-feira será comício e o quanto será tentativa de golpe: só se sabe que será uma mistura dos dois, e que crimes serão cometidos. Golpe de Estado é proibido, usar as Forças Armadas em comício também.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia em alusão ao Dia do Exército, com a Imposição da Ordem do Mérito Militar e da Medalha Exército Brasileiro, em Brasília (DF)
O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia em alusão ao Dia do Exército, em Brasília - Gabriela Biló - 19.abr.2022/Folhapress

No último sábado, o presidente da República já chamou o ministro Alexandre de Moraes de vagabundo, de modo que, se eu fosse o Temer, deixaria a cartinha preparada.

No fundo, Bolsonaro deve estar em dúvida sobre o que fazer. As pesquisas não o ajudam. Se Bolsonaro tivesse ultrapassado Lula, seria melhor desistir do golpe e se concentrar em ganhar a eleição. Se Lula estivesse com 20 pontos na frente de Bolsonaro, a vitória nas urnas seria impossível e só restaria a Jair tentar um golpe. Com a diferença estável, mas não intransponível, fica a dúvida.

Não é fácil tentar um golpe de Estado e fazer uma campanha eleitoral ao mesmo tempo.

Todas as pesquisas mostram que o eleitorado em geral não quer um golpe, quer comida. Mesmo o eleitor de 2018, aliás, podia não querer um político, mas queria um governo: queria vacina, queria salário-mínimo com reajuste real que lhe permitisse sobreviver à alta dos preços, queria, enfim, tudo que o governo Bolsonaro não lhe entregou.

Quatro anos depois, os brasileiros ainda querem um governo, e, se não quiserem um político, não vai ser Bolsonaro quem vai representá-los. Jair é o candidato do centrão e sua única esperança de reeleição é o uso da máquina pública durante a campanha. Sobre isso, aliás, recomendo o artigo do cientista político Jairo Nicolau na última edição da revista piauí.

Por isso, se Bolsonaro tiver como prioridade vencer a eleição, deve fazer o que fez durante sua entrevista no Jornal Nacional: mentir o tempo todo, mas mentir sobre coisas que interessam à população, como emprego, comida e vacina.

Por outro lado, se Bolsonaro tiver como prioridade dar um golpe, deve mentir sobre coisas que mobilizam o ódio de seus seguidores mais radicais: as urnas eletrônicas, as mulheres, o STF, os LGBTs, a esquerda. Aqui a prioridade não é tanto prometer bem-estar aos aliados, é prometer que os inimigos, reais ou imaginários, sofrerão. Para um público de sádicos, funciona.

Note-se que a única opção que Jair não tem é falar a verdade: como candidato à reeleição, não tem nada a dizer sobre seu governo que seja ao mesmo tempo bom para o Brasil e verdade. Como golpista, só lhe resta entregar a seus seguidores as teorias conspiratórias mais alucinadas sobre inimigos da liberdade. Se falasse a verdade, teria que admitir que o inimigo da liberdade é ele.

Seja como for, é triste que nosso bicentenário seja comemorado como uma festa em homenagem não ao Brasil, mas ao pior líder que o país já teve, culpado pelo assassinato em massa de brasileiros durante a pandemia, militante do ódio às mulheres e à liberdade democrática. Se fosse sincero, Bolsonaro terminaria seu discurso no dia 7 gritando: "Incompetência e morte!".