quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Lições da Covid-19 para o agro mundial, FSP

 


Grazielle Parenti

Presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) e diretora global de Relações Institucionais da BRF

pandemia do novo coronavírus impactou o mundo de uma forma que ainda não conseguimos dimensionar. São mais de 29 milhões de casos e poderemos chegar à triste marca de 1 milhão de mortes em todo o planeta. A economia mundial foi seriamente afetada, e milhares de negócios foram fechados, agravando ainda mais um quadro de recessão econômica e modificando significativamente o comportamento dos consumidores ao redor do mundo.

Mas o que aprendemos de fato com essa pandemia, que começou em um mercado municipal e gerou impactos sociais e econômicos globais? Que ensinamentos nos indicam como os países devem se comportar e que mudanças devem promover no setor de alimentos?

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A presidente da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), Grazielle Parenti - Keiny Andrade - 26.ago.19/Folhapress

A resposta é: o rigor da legislação sanitária é, sim, crucial para garantir a segurança alimentar e a segurança do alimento em todo o planeta.

Nesse sentido, o mundo conta muito com a agroindústria brasileira. Diante de um cenário de crise global nunca visto por gerações, foi o Brasil que ajudou no abastecimento mundial de alimentos, não só honrando seus compromissos internacionais, mas aumentando suas remessas ao exterior. De acordo com levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), as exportações do setor aumentaram 12,8% no primeiro semestre de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019.

Estamos falando do segundo maior exportador de alimentos do mundo. As indústrias alimentícias do Brasil obedecem a uma legislação rigorosa, com critérios regulatórios e de segurança da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vinculada ao Ministério da Saúde, e de inspeção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Nossa indústria ainda passa por um criterioso processo de inspeção das agências internacionais e dos países importadores. O Brasil exporta alimentos industrializados para mais de 180 países com regras e culturas diferentes uns dos outros.

Isso é motivo de orgulho! Nosso país tem vantagens competitivas como água e terra em abundância, sol, chuva, um povo que gosta e sabe trabalhar na terra e inovação tecnológica por meio não só da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mas também de universidades e empresas engajadas em produzir e aplicar conhecimento técnico e científico. É por essa inovação e investimentos constantes em pesquisas que o Brasil é exemplo internacional em conciliar produtividade agroindustrial com proteção ao meio ambiente.

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A sustentabilidade, a sanidade animal e a segurança dos processos produtivos, além dos controles sanitário e fitossanitário, são prioridades da agroindústria brasileira —e temos tido muito êxito em aumentar a produção preservando a riqueza ambiental do nosso país.

Mas é importante irmos além para nos tornar ainda mais competitivos no cenário internacional. Devemos avançar para ser também referência mundial na comercialização de produtos de maior valor agregado, e não apenas na exportação de matérias-primas. Queremos e podemos ir além disso.
Com diálogo e empatia nas relações empresariais, vamos avançar cada vez mais no cenário global. O planeta pode confiar e contar com a indústria brasileira de alimentos.

Maria Hermínia Tavares Um espectro ronda o PT, FSP

 O colapso político-eleitoral do PT em 2018, que abriu as portas do Planalto a Bolsonaro, fez encolher a sua bancada no Congresso. Mas não o tirou do pódio entre as 24 legendas ali representadas. Ainda que as próximas eleições municipais confirmem —ou mesmo agravem— a sangria de votos sofrida em 2016, o Partido dos Trabalhadores continuará sendo até onde a vista alcance o alicerce de qualquer barreira oposicionista ao predomínio da direita radical do capitão-presidente.

Por isso, é importante ouvir o seu comandante-chefe, goste-se ou não de suas palavras. E, no 7 de Setembro, ele fez afirmações num tom que de há muito não se ouvia. Na sua fala, é possível reconhecer o Lula capaz de ser íntimo dos que perderam pessoas queridas ou sua fonte de renda por causa da pandemia; dos que dependem do SUS; dos que sofrem discriminações de toda ordem e dos que têm medo do amanhã; ao lado da defesa da democracia e das liberdades ameaçadas pelo bolsonarismo.

Lula em pronunciamento no dia 7 de Setembro - Lula no youtube

Para os seus septuagenários coetâneos, porém, o discurso soou parecido ao do PT dos velhos tempos. Tempos do partido da crítica social radical, do igualitarismo social e do nacionalismo, da denúncia das oligarquias e dos poderosos —em suma, da agremiação que se fechava a alianças porque se apresentava como porta-voz sem par da “classe trabalhadora”. Oposição pura e dura, aversa à negociação política, o PT votou contra todos os planos de estabilização —do Cruzado ao Real— e não assinou a Constituição de 1988.

A retórica incisiva e a estratégia de apresentar candidatos próprios em eleições para cargos executivos importantes, além de disputar a Presidência sempre com o seu maior nome, deram frutos. Em 20 anos, o PT se transformou no maior partido da esquerda brasileira, e Lula, no político mais popular do país, conhecido mundo afora.

Mas o que serviu para fortalecer o PT na oposição não bastou para fazê-lo chegar ao governo. Só o conseguiu ao moderar o discurso na Carta ao Povo Brasileiro e trazer o centro para a vice-presidência, com José Alencar, em 2002, e o MDB para a coalizão de governo, em 2006.

Entre 2002 e 2016, o PT governou com um amplo enlace, que atravessava o espectro político da esquerda até a centro-direita —sem esquecer que, antes, a moderação política já havia tingido campanhas municipais do partido.

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Repetir a retórica da recusa aos “pactos pelo alto” e a estratégia eleitoral dos primórdios pode confortar a militância fiel, mas não tem a amplitude necessária para afastar do horizonte o pesadelo da extrema direita. É um espectro a rondar o PT.

Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap. Escreve às quintas-feiras.