sexta-feira, 23 de março de 2018

Programa em Goiás incentiva usinas solares, FSP

Luiz Antônio del Tedesco
SÃO PAULO
Em Goiás, apesar de a biomassa ser a grande fonte de energia renovável —à parte as usinas hidrelétricas—, a energia solar também tem atraído a atenção do governo local.

O estado tem incentivado projetos nessa área desde 2011, mas as iniciativas eram até então muito isoladas. Em 2016, em busca de um projeto mais abrangente, o governo promoveu encontros entre empresários e universidades para discutir o tema. Surgiu daí, em fevereiro de 2017, o programa de incentivo Goiás Solar. 
A usina fotovoltaica da fazenda Figueiredo, em Cristalina, em Goiás, usa painéis solares flutuantes
A usina fotovoltaica da fazenda Figueiredo, em Cristalina (GO), usa painéis solares flutuantes - Divulgação
Apesar de partir de números muito pequenos, já que a participação da energia solar na matriz energética do Brasil é insignificante, com menos de 0,1%, o crescimento dessa fonte de energia em Goiás neste primeiro ano de vida do programa impressiona.
Em fevereiro do ano passado, havia no estado cerca de 170 usinas solares, que produziram 1.300 kW naquele mês. Em dezembro já foram cerca de 7.000 kW produzidos. O balanço de fevereiro deste ano mostra que a produção ultrapassou 8.500 kW e que as usinas se multiplicaram —já são 605 em atividade.
Com isso, Goiás passou do 16º para o 8º lugar entre os estados na geração de energia solar no Brasil. E registrou dois recordes.
Em junho de 2017, foram instaladas 2.800 placas sobre o telhado de um supermercado atacadista em Goiânia. Os cerca de 8.000 m² ocupados pelos painéis representam a maior usina fotovoltaica em área urbana do Brasil e vão gerar por ano 1.500 MWh, ou 40% da demanda da loja.
Já em Cristalina, a cerca de 130 km de Brasília, a fazenda Figueiredo, que produz 23 mil litros de leite por dia, é a primeira do país a ter uma usina fotovoltaica flutuante. Além de gerar energia capaz de suprir a demanda de 170 casas populares, as placas flutuantes reduzem em 70% a evaporação do lago.
Há ainda outra vantagem. “Pode parecer estranho, mas as placas solares não gostam de calor, elas gostam de luz. Então, devido ao resfriamento natural provocado pela água do lago, os painéis flutuantes acabam tendo eficiência 14% superior à dos painéis colocados no chão ou em telhados”, diz Rodrigo Costa Silveira, gerente de energia e telecomunicações da Secima (secretaria de meio ambiente de Goiás). 

quinta-feira, 22 de março de 2018

Incentivos a carros elétricos podem prejudicar arrecadação dos Estados, diz Fitch, OESP

Altamiro Silva Junior, O Estado de S.Paulo
22 Março 2018 | 15h36
Incentivos tributários do governo para reduzir o custo dos carros elétricos no Brasil podem ter impacto negativo na arrecadação de Estados e municípios, alerta a agência de classificação de risco Fitch Ratings nesta quinta-feira, 22, ao comentar o Rota 2030, um programa de estímulo para o setor automotivo que prevê a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros elétricos de 27% para 7%.
Carro elétrico
Agência de risco alertou para potencial impacto na arrecadação que incentivo tributário para carro elétrico poderia causar Foto: Sérgio Castro/Estadão
Os carros elétricos no Brasil respondem por menos de 1% dos veículos leves, destaca a Fitch. Assim, o impacto de curto prazo na receitas dos Estados e municípios com a decisão do governo seria pequeno. No entanto, se o incentivo fiscal alterar o padrão de venda desses veículos, há potencial para um impacto mais significativo na arrecadação, ressalta relatório da agência.
Além da menor arrecadação por conta da alíquota menor do IPI, a Fitch ressalta que no médio prazo o incentivo do governo para carros elétricos pode afetar também a receita vinda dos impostos sobre combustíveis, como o etanol e a gasolina. O Rio de Janeiro seria o Estado mais exposto neste caso, pois depende muito dos royalties do petróleo, que devem garantir US$ 2,6 bilhões ao cofres cariocas este ano - cerca de 10% da arrecadação total.
A previsão da Fitch é que os Estados menores, do Norte e Nordeste, tenham os primeiros impactos na arrecadação da redução do IPI, na medida em que são mais dependentes deste tributo. Estes Estados também são os que possuem menor autonomia fiscal, na medida em que tributos como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) respondem por menos 50% das receitas próprias. Para os Estados maiores, como São Paulo, Santa Catarina e Paraná, o ICMS responde por 70% da receita total e os royalties do petróleo não são importantes para estas regiões, ressalta a Fitch.
De acordo com estimativas da Fitch, tributos sobre os combustíveis respondem por 18% da arrecadação com ICMS, o equivalente a US$ 24 bilhões por ano. Já a taxa sobre energia elétrica está ao redor de 13% das receitas com o ICMS para os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Outra mínima histórica, Celso Ming OESP


Comunicado do BC manteve a intenção de encerrar o ciclo de baixa de juros, mas deixou aberta a porta para que a queda dos juros continue mais um pouco, dependendo do ritmo da inflação




Celso Ming, O Estado de S.Paulo
21 Março 2018 | 21h03
Mais do que aconteceu nas três últimas reuniões do Copom, o mais importante é saber o que vem depois dessa nova baixa dos juros básicos (Selic), para 6,50% ao ano, outra mínima histórica (veja o gráfico abaixo).

Ilan Goldfajn. A surpresa da inflação baixa Foto: Adriano Machado/Reuters
O comunicado divulgado logo após a reunião desta quarta-feira manteve a intenção da diretoria do Banco Central, comandado por Ilan Goldfajn, de encerrar o ciclo de baixa de juros, mas deixou aberta a porta para que a queda dos juros continue mais um pouco, dependendo do ritmo da inflação, bem como de “balanço e riscos”. Ou seja, o Banco Central vem sendo surpreendido pela fraqueza da inflação que “evoluiu de forma mais benigna do que o esperado” e não sabe até onde pode seguir passando a tesoura.
Mas há questões novas em jogo. Uma delas é que vai pintando mais um ano de inflação abaixo da meta, que é de 4,5% acumulada em dezembro. Mas pode ser até mesmo abaixo do piso da meta, os tais 3,0%.
Há quem argumente que o estouro da meta para baixo é menos grave do que o estouro para cima, o que é um equívoco. Trata-se de execução igualmente inadequada da política monetária. Juros acima do estabelecido para o cumprimento da meta atrasam a recuperação da atividade econômica e criam distorções. Os juros reais (descontada a inflação) ainda parecem acima do necessário para controlar o custo de vida.

Outra questão nova em jogo é a de que a meta de inflação para 2019 é 4,25%, com área de escape de 1,5 ponto porcentual. Portanto, é um nível mais baixo do que o deste ano. Como envenenamento por arsênico, que age devagar e persistentemente sobre o organismo, o efeito dos juros também leva certo tempo para acontecer. Em consequência desse retardamento, o nível dos juros definidos agora pelo Banco Central já começa a atuar ao longo de 2019. Se já estão elevados demais para uma meta de 4,50% (a de 2018), mais elevados estarão para uma meta de 4,25% (a de 2019).
Para justificar juros mais altos em relação ao tamanho da inflação a ser tolerada, o Banco Central tem chamado a atenção (não no comunicado desta quarta-feira) para a existência de incertezas lá fora e aqui dentro, fatores que, em princípio, trabalham contra a queda da inflação.
São duas as incertezas que nadam em círculos no mercado internacional, como tubarões em torno de uma presa. Uma delas é o risco renitentemente lembrado de que os grandes bancos centrais elevem os juros mais do que o previsto, de maneira a reverter a política monetária expansionista que prevaleceu de 2008 até agora. O mercado internacional não está convencido de que os bancos centrais serão tão cautelosos e gradualistas quanto dizem a respeito dessa operação de retirada de dólares da economia. Continuam temerosos de que alguma manobra desajeitada poderá provocar solavancos nas cotações do câmbio e rápida migração de capitais financeiros de aplicações de mais risco para aplicações mais seguras. Se isso acontecer, será inevitável algum impacto inflacionário também no Brasil.
O outro risco de origem externa está na ameaça de guerra comercial depois que o presidente Trump intensificou seu discurso protecionista e se movimenta em direção à sobretaxação do aço e do alumínio.
A maior incerteza de origem interna (também não mencionada no comunicado) está no quadro político que desembocará nas eleições deste ano. O risco é o de que assuma um governo gastador, pouco identificado com a causa das reformas, que alargue o rombo para o imponderável.
Mas essas incertezas não podem ser exageradas até porque há antídotos em ação. Nas principais economias do mundo, a inflação nunca foi tão persistentemente baixa. E, pela primeira vez em muitos anos, pode-se dizer que elementos estruturais que constituíram a inflação brasileira estão sendo quebrados e devem agora trabalhar por uma inflação também mais baixa no futuro.