Comunicado do BC manteve a intenção de encerrar o ciclo de baixa de juros, mas deixou aberta a porta para que a queda dos juros continue mais um pouco, dependendo do ritmo da inflação
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
21 Março 2018 | 21h03
Mais do que aconteceu nas três últimas reuniões do Copom, o mais importante é saber o que vem depois dessa nova baixa dos juros básicos (Selic), para 6,50% ao ano, outra mínima histórica (veja o gráfico abaixo).
O comunicado divulgado logo após a reunião desta quarta-feira manteve a intenção da diretoria do Banco Central, comandado por Ilan Goldfajn, de encerrar o ciclo de baixa de juros, mas deixou aberta a porta para que a queda dos juros continue mais um pouco, dependendo do ritmo da inflação, bem como de “balanço e riscos”. Ou seja, o Banco Central vem sendo surpreendido pela fraqueza da inflação que “evoluiu de forma mais benigna do que o esperado” e não sabe até onde pode seguir passando a tesoura.
Mas há questões novas em jogo. Uma delas é que vai pintando mais um ano de inflação abaixo da meta, que é de 4,5% acumulada em dezembro. Mas pode ser até mesmo abaixo do piso da meta, os tais 3,0%.
Há quem argumente que o estouro da meta para baixo é menos grave do que o estouro para cima, o que é um equívoco. Trata-se de execução igualmente inadequada da política monetária. Juros acima do estabelecido para o cumprimento da meta atrasam a recuperação da atividade econômica e criam distorções. Os juros reais (descontada a inflação) ainda parecem acima do necessário para controlar o custo de vida.
Outra questão nova em jogo é a de que a meta de inflação para 2019 é 4,25%, com área de escape de 1,5 ponto porcentual. Portanto, é um nível mais baixo do que o deste ano. Como envenenamento por arsênico, que age devagar e persistentemente sobre o organismo, o efeito dos juros também leva certo tempo para acontecer. Em consequência desse retardamento, o nível dos juros definidos agora pelo Banco Central já começa a atuar ao longo de 2019. Se já estão elevados demais para uma meta de 4,50% (a de 2018), mais elevados estarão para uma meta de 4,25% (a de 2019).
Para justificar juros mais altos em relação ao tamanho da inflação a ser tolerada, o Banco Central tem chamado a atenção (não no comunicado desta quarta-feira) para a existência de incertezas lá fora e aqui dentro, fatores que, em princípio, trabalham contra a queda da inflação.
São duas as incertezas que nadam em círculos no mercado internacional, como tubarões em torno de uma presa. Uma delas é o risco renitentemente lembrado de que os grandes bancos centrais elevem os juros mais do que o previsto, de maneira a reverter a política monetária expansionista que prevaleceu de 2008 até agora. O mercado internacional não está convencido de que os bancos centrais serão tão cautelosos e gradualistas quanto dizem a respeito dessa operação de retirada de dólares da economia. Continuam temerosos de que alguma manobra desajeitada poderá provocar solavancos nas cotações do câmbio e rápida migração de capitais financeiros de aplicações de mais risco para aplicações mais seguras. Se isso acontecer, será inevitável algum impacto inflacionário também no Brasil.
O outro risco de origem externa está na ameaça de guerra comercial depois que o presidente Trump intensificou seu discurso protecionista e se movimenta em direção à sobretaxação do aço e do alumínio.
A maior incerteza de origem interna (também não mencionada no comunicado) está no quadro político que desembocará nas eleições deste ano. O risco é o de que assuma um governo gastador, pouco identificado com a causa das reformas, que alargue o rombo para o imponderável.
Mas essas incertezas não podem ser exageradas até porque há antídotos em ação. Nas principais economias do mundo, a inflação nunca foi tão persistentemente baixa. E, pela primeira vez em muitos anos, pode-se dizer que elementos estruturais que constituíram a inflação brasileira estão sendo quebrados e devem agora trabalhar por uma inflação também mais baixa no futuro.
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