segunda-feira, 13 de abril de 2015

Vitória parcial, por Luiz Fernando Vianna FSP



FSP
13/04/2015 02h00

RIO DE JANEIRO - Apesar do empurrão da pesquisa Datafolha, divulgada na véspera, os atos contra Dilma perderam um tanto de sua força. Mas não é o caso de desqualificá-los. Pelo contrário. Comprovou-se que há gente engajada no que acredita ser o melhor para o país. Isso é relevante num movimento com marcas de despolitização, como desconhecimento da história brasileira –parecendo crer que a corrupção começou há 12 anos– e apreço pequeno pela democracia duramente conquistada.
No jogo de especulações sobre por que a revolta retraiu, talvez valha pensar em dois pontos, dentre outros. Um é que, mesmo sendo o impeachment o tesouro procurado, parte dos anseios dos descontentes já vem sendo atendida: esfacelamento do PT, que virou uma coisa invertebrada, e triunfo de uma agenda conservadora –redução da maioridade penal, leis para estimular a violência das polícias, bloqueio da ampliação dos direitos de mulheres e gays.
É significativo que, em protestos que têm a corrupção como inimiga, seja difícil ver cartazes contra Eduardo Cunha. Ao emparedar o PT e devolver ao reacionarismo um vigor político que não tinha desde a ditadura, o presidente da Câmara dos Deputados realiza muito do que desejam os manifestantes.
O segundo ponto é que o movimento ainda está sendo guiado mais pelo fígado (ódio ao PT) do que pelo estômago (desemprego, perda de renda); mais por vontade do que por necessidade. Para quem conhece o Rio, foi fácil perceber que não havia em Copacabana gente em situação financeira precária. Eram 10 mil pessoas de uma classe média que segue a pauta dos grupos de comunicação, claramente favoráveis aos protestos. Se a crise se instalar com a força que se espera e os mais pobres saírem às ruas, é possível que a turma deste domingo corra para seus apartamentos. E chame a polícia.

domingo, 12 de abril de 2015

A marcha do caos,in CC




O previsível desfecho da situação criada por quem enxerga em “foradilma” o abracadabra do sortilégio que acaba com a crise
por Mino Carta — publicado 12/04/2015 06:47
Brueghel
Os cegos do quadro de Brueghel. E mais de quatro séculos depois...
Operação Zelotes amplia largamente o retrato do poder à brasileira. Tenho usado a dicotomia casa-grande e senzala para representar a situação do País que não muda, a viver uma Idade Média vincada pelo brutal desequilíbrio social. Na casa-grande moram os senhores envolvidos nas operações em andamento, e em outras anteriores, enterradas e esquecidas. Contam com coinquilinos de porte e nem tanto, desde graúdos até hoje incólumes, até remediados sonhadores do upgrade, mas por ora instalados no sótão.
Em boa parte, ali se cultivam ódio de classe e racismo e, mesmo entre os mais ricos, o espírito pequeno-burguês que move à ostentação para combater os recalques e encobrir as lacunas intelectuais. Chama atenção, no confronto entre Lava Jato e Zelotes, a diferença de comportamento tanto da autoridade judiciária que conduz os casos quanto da cobertura midiática. Explicação rápida e rasteira: os zelotes não são petistas. Se fossem, ai deles.
Há anos CartaCapital registra, sem meias palavras, que o PT no poder portou-se como todos os demais partidos surgidos na história do Brasil, de fato clubes recreativos do pessoal da casa-grande. Nem por isso deixamos de ser rotulados como revista chapa-branca, ou lulopetista. Basta, para tanto, afirmar que o PT, de 1980 a 2003, foi o primeiro e único partido brasileiro merecedor do título, sem contar a peculiar história do MDB de Ulysses Guimarães. Ou que, Lula presidente, o Brasil cresceu em todos os sentidos, sem excluir a política internacional. Tivessem dado ouvidos a Lula e ao seu chanceler, Celso Amorim, o acordo nuclear com o Irã teria sido concluído muito antes e Barack Obama teria poupado o mundo, o Oriente Médio e a si próprio de anos de incerteza e tensão.
Também aqui a explicação é óbvia e veloz: CartaCapital pratica o jornalismo honesto, enquanto a mídia nativa é instrumento da casa-grande e como tal acaba por assumir o papel de partido de oposição. Domingo 12 de abril, mais uma marcha vai desfilar contra o governo, e seu êxito depende da Globo, cujos propósitos parecem ser bastante agressivos. Mudados os horários do futebol, a emissora prepara-se para uma transmissão minuto a minuto dos eventos que dispensam a bola, no habitual esforço de se valer da credulidade da multidão. Da absoluta ausência de espírito crítico.
Que pretende a mídia nativa? Meus acabrunhados botões respondem: o caos. Será possível? Pois é, retrucam, por esta atoada haveria de se esperar por algo mais que o caos? Será o resultado inescapável da insensatez geral, e, na moldura, destaque, por exemplo, para os vislumbres de eminentes cavalheiros da Fiesp inclinados a encarar com alívio a eventual substituição das empreiteiras nacionais atingidas pela Lava Jato por empresas chinesas. Aliás, a China está no topo dos pensamentos positivos, depois do polpudo empréstimo feito à Petrobras.
Aos botões peço que imaginem o preço da transação. Aventam a hipótese: e que tal se fosse à base do preço atual do barril, na previsão de uma elevação substancial, se não a curto, a médio prazo? Se for assim, devolveremos a alma. Não haja espantos. Há quem se regozije com a gestação em curso do banco mundial dos BRICS. Falamos de Rússia, África do Sul, Índia, Brasil. Ah, sim, e China. Na prática, a que se deve a nova esperança? Lula nos livrou da condição de súditos do império norte-americano, mas o rol de país-satélite nos agrada sobremaneira. De sorte que torcemos agora para ser súditos do império chinês que vem aí, inexorável.
Infeliz terra, nosso querido Brasil, tesouro de valor inestimável atirado ao lixo por uma elite predadora e incompetente. Estamos a colher o resultado do tempo perdido, de uma forma repentina, inesperada até, embora o tempo possa incumbir-se de exibir toda a sua inevitabilidade. Talvez os fados tivessem assentado o trágico desenlace, precipitado pela aposta no caos. O qual começaria pela quebra das empreiteiras, únicas empresas brasileiras habilitadas a oferecer emprego e crescimento. O apelo é tão inevitável quanto desesperado: punam-se os corruptos, zelotes e que tais, salvem-se, porém, as empresas.
Quanto ao governo, é tolo e irresponsável quem acredita que “foradilma” é o “abracadabra” de um sortilégio que redime o Brasil.

Conselheiros do CNJ pedem sessões extraordinárias para reduzir atraso, in FSP


POR FREDERICO VASCONCELOS
09/04/15  12:06
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Demora em quase 400 procedimentos “viola o princípio constitucional da duração razoável do processo”, dizem.
Em ofício ao presidente do Conselho Nacional de Justiça, ministro Ricardo Lewandowski, sete dos quinze conselheiros do órgão pedem que as sessões ordinárias passem a ser realizadas pela manhã e à tarde, e que sejam marcadas sessões extraordinárias para reduzir o volume de processos acumulados sem decisão.
“Na presente data, quase 400 procedimentos aguardam inclusão em pauta, início ou conclusão de julgamento pelo Plenário do Conselho Nacional de Justiça, alguns distribuídos há anos, o que depõe contra as finalidades do CNJ e viola o princípio constitucional da duração razoável do processo”, afirmam.
Um processo que trata de assunto relevante –a regulamentação da Lei de Acesso à Informação no Poder Judiciário– aguarda inclusão em pauta desde meados de 2014.
O ofício foi recebido pela presidência na última terça-feira (7), antes da sessão ordinária.
A manifestação é assinada pelos conselheiros Ana Maria Duarte Amarante Brito, Gilberto Valente Martins, Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Luiza Cristina Fonseca Frischeisen, Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira, Rubens Curado Silveira e Saulo José Casali Bahia.
Os subscritores requerem que a primeira sessão extraordinária seja realizada antes do dia 28/4, para julgamento de processos relatados e com vistas para os conselheiros que encerrarão o mandato nessa data.
Pedem ainda o julgamento dos seguintes processos, todos incluídos na pauta ou com pauta solicitada:
- Processo 6737-58.2014.2.00.0000 – relatoria de Flávio Sirângelo (propostas de alteração do Regimento Interno);
- Processo 779.57.2015.2.00.0000 – relatoria de Saulo Bahia (propostas de alterção do Regimento Interno)
- Processo 3739-88.2012.2.00.0000 – relatoria de Gilberto Valente (proposta de regulamentação da Lei de Acesso a Informações no Poder Judiciário).
Os conselheiros consideram que a realização de cinco sessões extraordinárias no final do ano passado –em razão de requerimento semelhante– atenuou o represamento, “mas a situação voltou a agravar nos primeiros meses de 2015, inclusive ante a realização de sessões ordinárias apenas no turno vespertino”.