segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O governo precisa criar juízo e adotar um projeto energético que funcione, DA COLUNA DIRETO DA FONTE


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Publicado em : 09/02/2015
`O governo precisa criar juízo e adotar um projeto energético que funcione´
Pouquíssimas pessoas, em São Paulo e no País, têm o conhecimento e a prática do professor José Goldemberg para entender a dupla crise de água e energia que, desde o final do ano passado, vem assustando milhões de brasileiros, e para sugerir saídas concretas. E o veterano professor, mesmo sabendo das limitações gerais e da indisciplina da população, se mostra esperançoso. "Acho possível gerenciar o problema e evitar a catástrofe. Mas é preciso ter um plano competente e capacidade de levá-lo adiante."
Estudioso do assunto há várias décadas, reitor da USP por 14 anos, titular do Meio Ambiente no Estado e no governo federal e hoje comandando o Instituto de Energia e Ambiente da universidade, Goldemberg alia a tudo isso um grande espírito prático. É o que descobre quem entra na área do IEE, câmpus do Butantã: do portão de entrada até o prédio onde ele trabalha, uma fileira de painéis solares capta a energia e garante o fornecimento de eletricidade quase total do instituto. "Pelo menos uns 90%", diz ele.
"O grande nó a desatar é que há mais consumo do que produção", resume ele nesta entrevista. E a saída para isso tem de ser organizada em três etapas. "A primeira, imediata, é consumir menos - tanto água quanto energia. A segunda, para a água, é apressar as ligações com outras fontes. Para a energia, estimular as alternativas - como a eólica, a solar e a de biomassa, que dão resultados no médio prazo. E a terceira, bem mais cara e mais demorada, é preparar e cumprir um plano para aumentar a oferta de energia, sem a qual o Brasil não vai a lugar nenhum". A seguir, os principais pontos da conversa.

A falta d´água em São Paulo caminha para um momento dramático ou ainda há saídas para se evitar o pior?
Acho que a catástrofe vai ser evitada e que será possível gerenciar o problema, com alguma dificuldade. Mas é preciso ter uma capacidade bastante boa.

De que maneira? Qual a saída rápida para o problema?
A crise, tanto da água quanto da energia, pode ser resumida no seguinte: há mais consumo do que produção. Em São Paulo, gastamos mais água do que há nas represas. E no Sudeste, mais energia elétrica do que as usinas produzem. A curto prazo - digo em 2015 - a única coisa a fazer é racionalizar o uso da água para consumo humano e também da eletricidade. Quer um exemplo? Aqui em São Paulo se consomem 180 litros/dia por pessoa. Os números da OMS nos revelam que a média de grandes cidades de outros países é de 150 litros/dia. Ou seja, há espaço, sim, para uma redução.

E quanto à energia elétrica?
A situação é semelhante. Estamos consumindo energia no limite. Não existe folga e isso provoca coisas como se viu naquela segunda-feira fatídica em que caiu parte do sistema. Muito calor, todo mundo ligou o ar-condicionado, a rede caiu. E não há nisso nenhuma surpresa. Qualquer técnico do setor lhe dirá que, em um sistema interligado, é preciso manter uma reserva de 5%. Naquela tarde, a reserva era zero. Repito: no curto prazo, nada mais há a fazer além de conscientizar a população e reduzir o consumo. Quem tem duas geladeiras, use só uma. Chuveiro, o mínimo. Luzes apagadas. São pequenas medidas que dão resultado quando milhões de pessoas as adotam.

E no médio prazo?
São necessárias obras. No caso da água, fazer logo essas interligações que a Sabesp está providenciando. Pegar a água da Billings e jogar no Alto Tietê, por exemplo. Mas essas obras, mesmo as emergenciais, vão levar seis meses. E a mais importante, a do Rio Jaguari, só fica pronta daqui a um ano e meio.

E o plano no sistema elétrico?
Aqui, todas as obras são de longa duração. E há os atrasos. Dois anos de atraso em Jirau. Em Belo Monte nem se sabe direito qual o atraso e, mesmo quando ficar pronta, não tem reservatório. De tantas concessões, reduções, ela ficou uma represa no chamado fio d´água - quando diminuir o volume do rio, a produção diminui. Em suma, é preciso planejamento para construir mais hidrelétricas com reservatórios e dar um estímulo real às energias renováveis, coisa que o governo não fez.

Por que não fez?
Porque o sistema de leilões tinha uma componente ideológica, introduzida em 2004. E a própria presidente esteve, na época, envolvida com a criação desse modelo - não foi uma opinião casual de um técnico desinformado. É a ideia da modicidade tarifária, que parece atraente. O que ela diz? Que só vamos produzir as energias mais baratas. Ora, é como alguém ir à feira pensando "vou comprar um quilo de frutas". Não faz sentido. A produção, e portanto o custo de cada uma, é diferente. É razoável que a uva seja mais cara que a banana%6

Ou seja, a modicidade tarifária é uma solução equivocada.
Sim, é uma fórmula inventada pelo governo federal que passa a tábua rasa nisso. Resultado: nos leilões, as novas fontes de energia, que ajudariam a resolver o sistema - eólica, biomassas, energia solar%6 - não conseguiam competir, já que o custo do quilovate seria maior. Assim, a que situação chegamos? O sistema hidrelétrico não deu conta e o governo colocou usinas térmicas em funcionamento. Foi um ponto positivo, sem elas estaria muito pior. Acontece que o custo da energia das térmicas é cinco a dez vezes maior que a das hidrelétricas. Nessa hora não lembraram da tal modicidade tarifária.

O que explica esse destino inevitável do País, que há décadas vive afundado em dificuldades e atrasos na construção das usinas? Por que é tão difícil resolver esses conflitos entre o governo, as empresas e os movimentos ambientais?
Porque falta firmeza por parte das autoridades responsáveis pelo setor. Belo Monte é um ótimo exemplo. Veja só: a construção da usina ali afeta a população local. É verdade. São 30 ou 40 mil pessoas que seriam afetadas. Por isso, o reservatório foi reduzido a tal ponto que virou a fio d´água. Ficou no mesmo nível normal do rio. Uma usina capenga. Se ela tivesse um reservatório, beneficiaria mais de 5 milhões de pessoas. E o governo não tem pulso para enfrentar essa situação. É verdade que esses grupos são organizados politicamente. E os 5 milhões que seriam beneficiados não são. Mas é para isso, enfim, que existe governo, não? Outro exemplo: o trecho sul do Rodoanel. Ali houve vários problemas. Passa em áreas de nascentes, tem índios etc. E onde, enfim, está o bem comum? É evidente que o bem comum exige que se faça o Rodoanel. Custou mais caro, 25% mais, por desvios etc., mas valeu a pena. O problema foi enfrentado e a obra saiu, com diálogo, sem massacrar as populações. Ficou mais caro? Ficou. Mas ficaria muito mais não fazer.

Por que até agora o sr. não usou a palavra "racionamento"?
O racionamento afeta mais os pobres do que os ricos. E há interesse social em evitá-lo. Veja o caso da água: ainda não falta, não é dramático. Mas quem pode abre poço artesiano, aumenta caixa d´água, aluga carro-pipa. Os pobres não têm como fazer isso. Mas há formas de fazer o racionamento.

Essa solução de "5 dias por 2" foi entendida por muita gente como o clássico "bode na sala". Ou seja, fala-se em uma solução dolorosa para, depois, adotar uma mais aceitável. Foi isso?
Foi isso. Há métodos mais suaves de racionar.

Quais, por exemplo?
Como já mencionei antes, não é bom fazer racionamento numa área onde passa metrô. Pois milhares de pessoas vão pagar por isso. Veja, em Minas Gerais, três grandes empresas consomem 15% da água. Tem de começar por aí. Não vai deixar a população de BH sem água por causa dessas três. Vai provocar desemprego? É uma escolha: criar um problema econômico ou deixar uma cidade inteira sem água. Mas antes do racionamento, valeria um esforço de racionalização.

Acha adequado o modo como o governo paulista tratou até aqui a questão da água?
Antes das eleições o governo federal não fez nada. Pelo contrário, o Ministério das Minas e Energia garantiu que o risco de racionamento seria zero. O governo de SP pelo menos deu um desconto para quem reduzisse o consumo. Mas creio que ele devia ter sido mais rigoroso, multar quem consumisse mais.

E as ações de longo prazo?
É fundamental fazer leilão para diferentes formas de energia. Com preços competitivos, para realmente atrair o setor privado a participar.

De que modo se aproveitariam essas energias alternativas?
A eólica só valeria de fato no Norte do País, e um pouco no Sul. A biomassa, sobretudo em SP, poderia dar um choque de gestão, despertar o espírito animal do empresário, como dizia o (ex-ministro Guido) Mantega. As usinas de álcool e açúcar têm bagaço de cana seis meses por ano, para gerar eletricidade e vapor. E há dois tipos de energia solar: a que gera calor para aquecer água, que vem sendo usada inclusive em algumas unidades do Minha Casa Minha Vida; e o coletor solar, que produz eletricidade.

Esse segundo sistema foi implantado aqui no IEE.
Sim, e ele supre praticamente toda a energia usada no Instituto. É uma tecnologia um pouco mais cara, a fotovoltaica. Por isso, para ser adotada de fato é preciso trabalhar com escala.

No quadro econômico atual, com déficit de 6,7% do PIB - ou seja, faltando recursos - e muitas grandes empresas amarradas nas denúncias da Lava Jato, o governo tem uma limitação estratégica enorme. Algum think tank por aí tem um plano para o País voltar a crescer em ritmo razoável?
Essas medidas de curto alcance que mencionei não precisam de dinheiro do governo. O que é preciso é mudar os leilões, fazê-los de uma forma que o setor privado entre. E mais: um morador de casa térrea pode instalar uma fonte de energia para si próprio por uns R$ 10 mil a R$ 15 mil. E deixaria de gastar a energia fornecida pelas empresas do setor. Acho que o governo poderia fazer um pequeno esforço com os bancos de financiamento, o próprio BNDES, por exemplo. Já as grandes obras são mais complicadas. O fato é: para produzir 1 kW precisa-se de US$ 2 mil. Mas o Brasil necessita de 5 milhões de kW por ano. Por isso defendo que se ataque o problema de maneira descentralizada, com pequenos projetos - eólica, biomassa etc. O governo precisa criar juízo e um grande projeto energético que funcione.

Quando começaram a contar, em público, as reservas das represas, elas já não estavam em 100%, nem em 70%. As quedas começaram de 30%. Todo mundo bobeou lá atrás? Dá para por a culpa nos ambientalistas?
No caso do governo federal, acho que a resposta é clara: populismo e proximidade das eleições. Em 2012, várias pessoas alertaram - eu, inclusive - as autoridades para o fato de que os reservatórios estavam diminuindo muito. O que fez o governo? Deu desconto de 20% na tarifa de energia elétrica e, ao mesmo tempo, reduziu o IPI da linha branca, encorajando a compra de eletrodomésticos. Que contradição, e que hora para se fazer isso! Façamos justiça, os técnicos do Ministério de Minas e Energia viram, claramente, essa situação. Aí foi mesmo um DNA populista. Em São Paulo, o sistema energético não está nas mãos do governo do Estado. Mas na água, poderia ter sido mais proativo.

O ONS tem capacidade e autonomia para cumprir suas tarefas adequadamente?
Ele é tecnicamente competente. Ao contrário de outras agências, que são aparelhadas politicamente. Mas o ONS só é responsável por gerir os problemas que existem.
Gabriel Manzano

Fonte: O Estado de S. Paulo - Brasil

Lixo da indústria de alimentos pode virar energia limpa



14/01/2015
Fonte: Agência Fapesp

Pesquisadores do Cempeqc/Unesp desenvolvem metodologia para produzir hidrogênio a partir de águas residuárias do beneficiamento da laranja (Divulgação)Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) em Araraquara (SP) estudam a viabilidade de usar a água residuária da indústria de suco de laranja para produzir hidrogênio – fonte de energia renovável, inesgotável e não poluente.

A pesquisa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), está em andamento no Centro de Monitoramento e Pesquisa da Qualidade de Combustíveis, Biocombustíveis, Petróleo e Derivados (Cempeqc) do Instituto de Química da Unesp.

“A vantagem de produzir hidrogênio a partir de águas residuárias é aproveitar, de maneira sustentável, uma fonte de carbono que hoje está sendo descartada”, argumentou a pesquisadora do Cempeqc, Sandra Imaculada Maintinguer. Segundo Imaculada, a proposta é reaproveitar a energia gerada localmente, na própria indústria, para abastecer as bombas dos sistemas de tratamento biológico, por exemplo.

“O método poderia beneficiar não apenas o setor citrícola, como o sucroalcoleiro, indústrias de refrigerantes, cervejas e de outros alimentos”, afirmou Maintinguer.

O hidrogênio, explicou a pesquisadora, é quase três vezes mais energético que os hidrocarbonetos e que o metano e quatro vezes mais que o etanol. No entanto, em razão do custo ainda elevado de armazenamento e transporte, seria inviável usar o gás, por exemplo, para substituir a energia hidrelétrica – ainda muito barata no Brasil.

O grupo de pesquisadores do Cempeqc está estudando três diferentes resíduos do beneficiamento da laranja cedidos por uma empresa situada em Matão (SP): o melaço, a vinhaça e a água residuária.

Embora o melaço e a vinhaça apresentem concentrações mais elevadas de açúcares (40 a 150 g glicose/L), testes preliminares sugerem que a água residuária (12g glicose/L) é a mais indicada para a produção biológica de hidrogênio.

“Quando a concentração de substrato é muito elevada, pode ocorrer a inibição do crescimento dos microrganismos que quebram os açúcares em moléculas menores, como ácidos orgânicos e hidrogênio. Existe uma faixa ideal, que parece ser a da água residuária”, disse Maintinguer.

Além da glicose, os pesquisadores também encontraram outras fontes de carbono na água residuária, como frutose e ácidos orgânicos, além de impurezas como óleos e detergentes usados no processo industrial.

“Fizemos os testes usando a água residuária com todas as impurezas e, mesmo assim, os resultados foram muito promissores. Conseguimos transformar cerca de 65% desse resíduo em hidrogênio. Como os microrganismos usam os nutrientes para crescer e se multiplicar em primeiro lugar, a produção nunca chega a 100%”, explicou a pesquisadora.

Arqueas metanogênicas
Os ensaios, em escala de bancada, foram feitos em reatores anaeróbios (frascos de vidro hermeticamente fechados), para evitar que o contato com o oxigênio inibisse a produção da enzima hidrogenase, extremamente importante na produção biológica de hidrogênio.

Na água residuária foi inoculado um conjunto de microrganismos de diferentes classes coletado em sistemas de tratamento biológico de esgotos sanitários. De acordo com a pesquisadora, o inóculo também pode ser obtido a partir do próprio lodo formado nos sistemas biológicos de tratamento industrial.

Porém, é necessário um pré-tratamento para eliminar as chamadas arqueas metanogênicas, um tipo de microrganismo capaz de consumir o hidrogênio produzido para formar metano, algo indesejável nesse caso.

“O processo biológico anaeróbio tem várias etapas e, em cada uma delas, atua uma classe diferente de microrganismo. Os carboidratos são quebrados em açúcares, ácidos orgânicos, acetato, hidrogênio e, se o processo não for interrompido, em metano”, disse a pesquisadora.

Para evitar que isso aconteça, o inóculo é submetido a um choque térmico e o pH do meio é reduzido para 5,5. O pré-tratamento causa a eliminação das arquéias metanogênicas, enquanto as bactérias úteis para o processo apenas entram em estado vegetativo, voltando a se multiplicar quando as condições se tornam favoráveis.

“É um método fácil e barato e só é necessário fazê-lo uma vez. Depois posso reaplicar o inóculo em outra amostra quando acabar o substrato no reator. Por enquanto, estamos usando apenas a configuração de reator em batelada (frascos com quantidades limitadas onde a reação ocorre até o substrato acabar e depois é preciso reabastecer). O próximo passo é testar em um reator de fluxo contínuo”, disse Maintinguer.

Além do hidrogênio, resultam do processo alguns ácidos graxos voláteis – como o ácido butírico e o ácido acético – também passíveis de serem transformados em hidrogênio por bactérias fotoheterotróficas.

“Elas consomem esses ácidos na presença da luz e liberam mais hidrogênio, elevando assim o rendimento”, explicou a pesquisadora.

Na avaliação de Maintinguer, o Brasil tem um grande potencial para ser referência em tecnologia do hidrogênio e é beneficiado pelo fato de ser um país tropical, com temperaturas médias anuais em torno de 25ºC – favorável ao desenvolvimento de bactérias.

“Em países como Holanda e Alemanha é preciso aquecer os reatores para que o processo seja bem sucedido”, comentou.
O Ministério de Minas e Energia tem planos para introduzir o hidrogênio na matriz energética do país até 2025, inclusive como combustível automotivo. Uma das metas do governo brasileiro é que, após 2020, toda a produção do gás seja obtida a partir de fontes renováveis.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

O "FIM" DO BRASIL, por Mauro Santayana





(REVISTA DO BRASIL) - Já há alguns meses, e mais especialmente na época da campanha eleitoral, grassam na internet mensagens com o título genérico de “O Fim do Brasil”, defendendo a estapafúrdia tese de que a nação vai quebrar nos próximos meses, que o desemprego vai aumentar, que o país voltou, do ponto de vista macroeconômico, a 1994 etc. etc. – em discursos irracionais, superficiais, boçais e inexatos. 

Na análise econômica, mais do que a onda de terrorismo antinacional em curso, amplamente disseminada pela boataria rasteira de botequim, o que interessa são os números e os fatos.

Segundo dados do Banco Mundial, o PIB do Brasil passou, em 11 anos, de US$ 504 bilhões em 2002, para US$ 2,2 trilhões em 2013. Nosso Produto Interno Bruto cresceu, portanto, em dólares, mais de 400% em dez anos, performance ultrapassada por pouquíssimas nações do mundo. 

Para se ter ideia, o México, tão “cantado e decantado” pelos adeptos do terrorismo antinacional, não chegou a duplicar de PIB no período, passando de US$ 741 bilhões em 2002 para US$ 1,2 trilhão em 2013; os Estados Unidos o fizeram em menos de 80%, de pouco mais de US$ 10 trilhões para quase US$ 18 trilhões.

Em pouco mais de uma década, passamos de 0,5% do tamanho da economia norte-americana para quase 15%. Devíamos US$ 40 bilhões ao FMI, e hoje temos mais de US$ 370 bilhões em reservas internacionais. Nossa dívida líquida pública, que era de 60% há 12 anos, está em 33%. A externa fechou em 21% do PIB, em 2013, quando ela era de 41,8% em 2002. E não adianta falar que a dívida interna aumentou para pagar que devíamos lá fora, porque, como vimos, a dívida líquida caiu, com relação ao PIB, quase 50% nos últimos anos.

Em valores nominais, as vendas nos supermercados cresceram quase 9% no ano passado, segundo a Abras, associação do setor, e as do varejo, em 4,7%. O comércio está vendendo pouco? O eletrônico – as pessoas preferem cada vez mais pesquisar o que irão comprar e receber suas mercadorias sem sair de casa – cresceu 22% no ano passado, para quase US$ 18 bilhões, ou mais de R$ 50 bilhões, e o país entrou na lista dos dez maiores mercados do mundo em vendas pela internet.

Segundo o Perfil de Endividamento das Famílias Brasileiras divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o ano de 2014 fechou com uma redução do percentual de famílias endividadas na comparação com o ano anterior, de 62,5%, para 61,9%, e a porcentagem de famílias com dívidas ou contas em atraso, caiu de 21,2%, em 2013, para 19,4%, em 2014 (menor patamar desde 2010). A proporção de famílias sem condições de pagar dívidas em atraso também diminuiu, de 6,9% para 6,3%.

É esse país – que aumentou o tamanho de sua economia em quatro vezes, cortou suas dívidas pela metade, deixou de ser devedor para ser credor do Fundo Monetário Internacional e quarto maior credor individual externo dos Estados Unidos, que duplicou a safra agrícola e triplicou a produção de automóveis em 11 anos, que reduziu a menos de 6% o desemprego e que, segundo consultorias estrangeiras, aumentou seu número de milionários de 130 mil em 2007 para 230 mil no ano passado, principalmente nas novas fronteiras agrícolas do Norte e do Centro-Oeste – que malucos estão dizendo que irá “quebrar” em 2015.

E se o excesso de números é monótono, basta o leitor observar a movimentação nas praças de alimentação dos shoppings, nos bares, cinemas, postos de gasolina, restaurantes e supermercados; ou as praias, de norte a sul, lotadas nas férias. E este é o retrato de um país que vai quebrar nos próximos meses?

O Brasil não vai acabar em 2015.

Mas se nada for feito para desmitificar a campanha antinacional em curso, poderemos, sim, assistir ao “fim do Brasil” como o conhecemos. A queda das ações da Petrobras e de empresas como a Vale, devido à baixa do preço do petróleo e das commodities, e também de grandes empresas ligadas, direta e indiretamente, ao setor de gás e de petróleo, devido às investigações sobre corrupção na maior empresa brasileira, poderá diminuir ainda mais o valor de empresas estratégicas nacionais, levando, não à quebra dessas empresas, mas à sua compra, a preço de “bacia das almas”, por investidores e grandes grupos estrangeiros – incluídos alguns de controle estatal – que, há muito, estão esperando para aumentar sua presença no país e na área de influência de nossas grandes empresas, que se estende pela América do Sul e a América Latina.

Fosse outro o momento, e o Brasil poderia – como está fazendo a Rússia – reforçar sua presença em setores-chave da economia, como são a energia e a mineração, para comprar, com dinheiro do tesouro, a preço muito barato, ações da Petrobras e da própria Vale. Com isso, além de fazer um grande negócio, o governo brasileiro poderia, também, contribuir com a recuperação da Bolsa de Valores. Essa alternativa, no entanto, não pode sequer ser aventada, em um início de mandato em que o governo se encontra pressionado, praticamente acuado, pelas forças neoliberais que movem – aproveitando os problemas da Petrobras – cerrada campanha contra tudo que seja estatal ou de viés nacionalista.

Com isso, o país corre o risco de passar, com a entrada desenfreada de grandes grupos estrangeiros na Bolsa por meio da compra de ações de empresas brasileiras com direito a voto, e a eventual quebra ou absorção de grandes empreiteiras nacionais por concorrentes do exterior, pelo maior processo de desnacionalização de sua economia, depois da criminosa entrega de setores estratégicos a grupos de fora – alguns de capital estatal ou descaradamente financiados por seus respectivos países (como foi o caso da Espanha) nos anos 1990.

Projetos que envolvem bilhões de dólares, e mantêm os negócios de centenas de empresas e empregam milhares de brasileiros já estão sendo, também, entregues para estrangeiros, cujas grandes empresas, no quesito corrupção, como se pode ver no escândalo dos trens, em São Paulo, em nada ficam a dever às brasileiras.

Para evitar que isso aconteça, é necessário que a sociedade brasileira, por meio dos setores mais interessados – associações empresariais, pequenas empresas, sindicatos de trabalhadores, técnicos e cientistas que estão tocando grandes projetos estratégicos que poderiam cair em mãos estrangeiras –, se organize e se posicione. Grandes e pequenos investidores precisam ser estimulados a investir na Bolsa, antes que só os estrangeiros o façam. 

O combate à corrupção – com a punição dos responsáveis – deve ser entendido como um meio de sanar nossas grandes empresas, e não de inviabilizá-las como instrumentos estratégicos para o desenvolvimento nacional e meio de projeção do Brasil no exterior.

É preciso que a população – especialmente os empreendedores e trabalhadores – percebam que, quanto mais se falar que o país vai mal, mais chance existe de que esse discurso antinacional e hipócrita, contamine o ambiente econômico, prejudicando os negócios e ameaçando os empregos, inclusive dos que de dizem contrários ao governo. 

É legítimo que quem estiver insatisfeito combata a aliança que está no poder, mas não o destino do Brasil, e o futuro dos brasileiros.