segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Agronegócio divulga carta para os presidenciáveis (pauta Jardim)


O ESTADO DE S. PAULO
22 Setembro 2014 | 13h 53

Fórum realizado em Campinas reuniu principais lideranças do setor e lançou documento no qual expressa as preocupações dos produtores neste período de transição política



Marcelo Sayão/EFE
Empresários pedem mais atenção ao agronegócio

CAMPINAS - Empresários e associações ligadas ao Agronegócio divulgaram uma carta endereçada aos presidenciáveis, no Fórum Nacional de Agronegócios realizado em Campinas, no sábado, 20.
O encontro discutiu temas como o código florestal e a necessidade de estimular os investimentos em pesquisa. E destacou a importância do setor para a economia brasileira.
Eis a íntegra do documento:
"O 3º Fórum Nacional de Agronegócios, organizado pelo LIDE e pelo LIDE AGRONEGÓCIOS, com apoio institucional do LIDE CAMPINAS, ocorre duas semanas antes das eleições para a Presidência da República, governos estaduais e parlamentares, para renovação da Câmara dos Deputados, das Assembleias Legislativas estaduais e de um senador por unidade da Federação. 
Portanto, as discussões teriam que ser concentradas nas expectativas do agronegócio brasileiro quanto aos programas de governo dos principais candidatos, notadamente para a chefia do executivo nacional.
Analisadas as atuais condições de confiança dos produtores rurais quanto ao futuro, apreciado o horizonte tecnológico para o setor e avaliadas as expectativas quanto ao futuro governo, as lideranças privadas e acadêmicas reunidas em Campinas em 20 de setembro de 2014 declaram que: 
1 - A sociedade civil brasileira já tem uma visão bastante aproximada do importante papel que o setor dos agronegócios representa para a socioeconomia do País: 23 % do PIB total, 30% dos empregos e mais de 80% do saldo comercial externo. O que se deve à profissionalização dos órgãos de mídia existentes, preocupados em mostrar esta importância em sua verdadeira grandeza.
2 - Como consequência, este reconhecimento foi também assimilado pela classe política brasileira, de modo que o setor ganhou uma nova dimensão na formulação de planos de governo pelos principais candidatos à Presidência. Todos eles buscaram aproximação com as mais importantes entidades representativas das cadeias produtivas e suas lideranças, exatamente para encontrar orientação para o planejamento do futuro.
3 - Isso tem uma dimensão inédita nestas eleições gerais. Nas anteriores, todas as lideranças rurais se mobilizaram para levar propostas aos candidatos e tiveram grandes frustrações por anos a fio. Nunca obtiveram êxito em suas démarches. E agora, parte dos candidatos está à busca do entendimento, fator extremamente bem-vindo.
4 - Atendendo a esta notável expectativa, vários programas preparados pelas instituições de representação, todos muito convergentes, chegaram às equipes coordenadoras dos planos de governo. E mais ainda, os candidatos já se manifestaram a respeito em eventos cobertos pela mídia, assumindo compromissos bastante estimulantes.
5 - Assim, temas recorrentes como a implementação da infraestrutura, a sustentabilidade produtiva em seus três pilares (social, ambiental e econômica), a procura da competitividade com orientação aos mercados, a segurança jurídica, a tecnologia, a boa governança (sem ideologia política no preenchimento dos cargos das instituições ligadas ao setor, sempre buscando a meritocracia), a defesa sanitária, políticas de renda ao produtor com ênfase para o seguro rural e reforma das regras de credito rural, uma política comercial mais agressiva, entre outros temas centrais, estão claramente incorporados ao ideário dos principais candidatos.
6 - Diante de tal perspectiva, os participantes do 3º Fórum Nacional de Agronegócios passam a nutrir grande esperança de que, finalmente, o próximo presidente da República dará ao setor a dimensão que merece, pela simples razão de que seu êxito é também o êxito do Brasil, seja na geração de empregos, na criação de renda e riqueza ou na contribuição brasileira para a segurança alimentar global, base essencial para a paz no universo. E esperam firmemente que as promessas aqui consubstanciadas sejam cumpridas em toda a sua extensão.
7 - Por fim, desejam que as eleições ocorram em um clima pacífico e saudável, como compete a uma democracia consolidada, como é a nossa. E com instituições respeitáveis, como são as brasileiras. E assumem o compromisso de honra de respeitar os resultados da vontade popular brasileira e de contribuir para o sucesso dos eleitos, para o bem de todos, o progresso e a ordem danação.
Campinas, 20 de setembro de 2014".

domingo, 23 de novembro de 2014

O possível colapso do Cantareira



http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,o-possivel-colapso-do-cantareira,1596331
link do Estadão com mapas e ilustrações
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o governo estadual estão se comportando como médicos do século passado. Sabendo que a doença é séria, se recusam a discutir o futuro com o paciente. Fazem o que podem para curar o doente, mas o poupam da angústia de enfrentar a realidade. Hoje, os médicos são educados para contar a verdade. Isso causa angústia, mas ao menos não priva o doente da liberdade de decidir como e onde quer viver enquanto espera o desfecho. 
O Sistema Cantareira está se aproximando rapidamente do colapso. Quando não for possível retirar mais água das represas, 6 milhões de pessoas ficarão literalmente sem uma gota de água. É a parte da população de São Paulo que só pode ser abastecida pelo Cantareira. Esta é uma possibilidade real, cuja probabilidade é difícil de calcular. É por isso que vou tentar descrever de maneira objetiva a realidade hoje, deixando para os leitores as especulações sobre o futuro. Todos as informações foram extraídas de documentos oficiais da Agencia Nacional de Águas (ANA), do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e da Sabesp.

O Sistema Cantareira é composto por três represas. As duas maiores, Jaguari/Jacareí e Atibainha, representam 92% do sistema. Quando cheia até a borda, a Represa Jaguari/Jacareí (acompanhe pelo quadro nesta página) atinge a conta 844 (ou seja, 844 metros acima do nível do mar), armazena 1,047 bilhão de m3 de água (um m3 são 1.000 litros) e cobre uma área de 50 km2 (cada km2 corresponde a 100 quarteirões). No último dia 18, ela estava na cota 815,5, tendo baixado 28,5 metros, e continha somente 140 milhões de m3 de água (13,3% do máximo). Sua superfície cobria somente uma área de 16 km2, deixando 34 km2 de terra e lama expostos (é o que você pode ver nas fotografias publicadas diariamente). 
Neste dia, foi iniciada a retirada da segunda fração da reserva técnica - também chamada de volume morto -, o que vai reduzir o volume para 42 milhões de m3 (4% do máximo) e reduzir a área coberta por água para 8 km2. O barro vai cobrir 84% da área da represa (o quadro mostra os mesmos números para a Represa do Atibainha).
É muito difícil acreditar que seja possível extrair dessas represas uma reserva técnica 3. Se ela existir, será muito pequena. A reserva técnica 1, de 182,5 milhões de m3, já foi consumida. A reserva técnica 2, de 106 milhões de m3, já começou a ser retirada da Represa de Jaguari/Jacareí e praticamente já foi toda retirada da Represa do Atibainha.
Os dados mostram que ainda restam 232 milhões de m3 nessas duas represas, sendo possível retirar 99 milhões de m3. Grande parte do restante não será possível utilizar.
Quando o nível da água baixou para 820, a água deixou de fluir por gravidade para o túnel. Para evitar a interrupção do fornecimento, foi construído um dique em volta do túnel. Grandes bombas flutuantes transportam a água para o interior do dique, de onde ela flui pelo túnel. Dessa maneira, foi possível retirar a chamada reserva técnica 1. Quando a água da parte de fora do dique acabou, um segundo dique foi construído, isolando um grande braço da represa para permitir a retirada da reserva técnica 2. Nesse segundo dique foi instalado um outro grupo de bombas. Hoje, as bombas do segundo dique transportam a água para esse braço isolado da represa e a água chega no primeiro dique, onde é bombeada novamente para poder alcançar a entrada do túnel. Como os locais em que a Sabesp decidiu instalar esses dois grupos de bombas não têm energia elétrica, grandes geradores movidos a diesel foram transportados até a proximidade das bombas. Caminhões-tanque levam o diesel por estradas precárias para manter os geradores ligados 24 horas. É desse esquema improvisado que agora dependem os 6 milhões de pessoas que recebem água do Sistema Cantareira.
O sistema de bombas é capaz de retirar até 20 m3 por segundo da represa (20 pequenas caixas de água por segundo). Mas o problema é que, atualmente, só chegam às represas, trazidos pelos rios, 6 m3 por segundo de água. Assim, a cada segundo, 14 m3 a mais do que chega são retirados da represa. A rápida velocidade de perda das reservas significa que a, cada dia, a represa perde 1,2 milhão de m3 de água.
Mantido esse ritmo de perdas, é fácil calcular que a duração das reservas atuais é de 79 dias até o término da reserva técnica 2 e de 6 meses até que toda a água existente na represa se esgote.
Para que esse prazo seja estendido é necessário que a entrada de água na represa aumente. Se os atuais 6 m3 por segundo aumentarem para um número menor do que 20 m3 por segundo, a represa vai continuar a ser delapidada, mais lentamente. Se ela chegar a 20 m3 por segundo (o mesmo que as bombas retiram hoje), a represa vai parar de esvaziar. Mas são necessários mais de 20 m3 por segundo, um aumento constante de 4 vezes no fluxo atual dos rios, para que a represa volte a encher. 
O problema é que isso não está ocorrendo nestes dois primeiros meses de chuva deste final de ano (outubro e novembro) e não ocorreu nenhuma vez nos meses de chuva do início de 2014 (janeiro, fevereiro, março e abril). 
É claro que pode chover, e espero que chova muito, mas se o futuro próximo se comportar como o passado próximo, 6 milhões de pessoas ficarão sem água. E, infelizmente, é impossível abastecer 6 milhões com caminhões-pipa. Como e onde essas pessoas vão viver até que o Cantareira se recupere ou outras represas tomem seu lugar? É isso que eu gostaria de saber.
MAIS INFORMAÇÕES: BOLETIM ANA/DAEE DE MONITORAMENTO DO SISTEMA CANTAREIRA (18/11/2014). PROJEÇÃO DE DEMANDA DO SISTEMA CANTAREIRA, SABESP, 2014, E DADOS DE REFERÊNCIA ACERCA DA OUTORGA DO SISTEMA CANTAREIRA ANA/DAEE, 2013 

Sabesp oferece volume morto de Paraibuna em troca de transposição

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ADRIANA FERRAZ E RAFAEL ITALIANI - O ESTADO DE S.PAULO
23 Novembro 2014 | 02h 00

Projeto feito em parceria com técnicos da Universidade de São Paulo dá como garantia reserva de 162 bilhões de litros de água

SÃO PAULO - A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) quer criar uma reserva de 162 bilhões de litros de água para oferecer ao governo do Rio como forma de compensar a obra de transposição prevista para a Bacia do Paraíba do Sul. A expectativa do Estado é de que esse "volume morto" funcione como uma espécie de "fiador" no processo de aprovação da medida, que visa a aumentar a capacidade hídrica das regiões metropolitanas de Campinas e São Paulo.
De acordo com estudo formulado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) em parceria com técnicos da Universidade de São Paulo (USP), a que o Estado teve acesso, a intenção é reforçar e aumentar os níveis de garantia do Sistema Cantareira, a partir de uma obra de interligação entre as Represas Jaguari e Atibainha (mais informações nesta página).
Caso o projeto de Alckmin, que está avaliado em R$ 830 milhões, receba o aval da Agência Nacional de Águas (ANA), a Sabesp poderá captar, em média, 5 mil litros de água por segundo da Bacia do Rio Paraíba do Sul, dando fôlego ao Cantareira.
A autorização da ANA é necessária porque a Bacia do Paraíba do Sul tem gestão federal. O rio corta Minas e São Paulo, onde a água é armazenada na Represa de Paraibuna, na qual será assegurado o volume morto. Em seguida, corre para o Estado do Rio, onde posteriormente forma a Represa do Funil. Na prática, a reserva representa a soma dos litros por segundo que serão revertidos para o Cantareira ao longo de um ano de transposição entre os mananciais.
A empresa desenvolveu o projeto segundo critérios de segurança para o abastecimento e também a geração de energia - os Rios Jaguari e Paraíba do Sul são usados pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp). A Furnas, que produz energia para o Estado do Rio, também usa os mesmos recursos na divisa de Estados.
REPRESA DE PARAIBUNA
Werther Santana/Estadão
Com capacidade total de 2,1 trilhões de litros de água, quase duas vezes maior do que o Sistema Cantareira, a Represa Paraibuna vive uma das maiores estiagens de sua história.
Garantia. As condições apresentadas por São Paulo ao governo do Rio e à ANA foram baseadas em simulações feitas no Laboratório de Sistema de Suporte a Decisões (LabSid), da USP. De acordo com o coordenador do órgão, Rubem La Laina Porto, o volume morto é sugerido como uma garantia.
"É uma reserva que só deve ser usada em casos extremos, em uma probabilidade muito pequena", afirma o engenheiro e professor de Hidrologia da USP. "A quantia é o suficiente para atender à necessidade dos três Estados", diz.
Ao mesmo tempo em que possibilita a reversão de água de Jaguari para Atibainha com o objetivo de reforçar o Sistema Cantareira, a transposição libera a captação inversa. Isso quer dizer que a obra permitirá que São Paulo "devolva" o mesmo volume captado caso chova o suficiente no Estado para aliviar a crise hídrica sem a utilização da alternativa.
Tanto essa devolução quanto o uso do volume morto são vistos pelo governo fluminense como cenários extremos. De acordo com a Secretaria Estadual de Ambiente do Rio, ambos seriam cogitados caso não ocorressem as chuvas da estação, que já começaram.
Em nota, a pasta informou que, apesar de o Rio ter entrado na temporada de chuvas, a orientação é prever quadros adversos. Por isso, a secretaria já solicitou dados sobre a reserva técnica de Paraibuna. O pedido foi feito à ANA no dia 5.
Segurança. Já a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos de São Paulo afirmou que a interligação proposta entre Jaguari e Atibainha vai assegurar o armazenamento de água nos dois reservatórios.
Quanto ao uso do volume morto de Paraibuna, o governo paulista afirmou que o tema é de responsabilidade do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da ANA, que disse ainda estar discutindo com os demais interessados a viabilidade de execução da obra.
Custo de R$ 3,5 bi. A interligação das Represas de Jaguari e Atibainha, em São Paulo, faz parte de um plano de ação apresentado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) à presidente Dilma Rousseff, no início deste mês, para enfrentar a crise hídrica. São oito obras no total, ao custo de R$ 3,5 bilhões.
A lista inclui, por exemplo, a construção de estações que transformam esgoto em água de reúso, de dois novos reservatórios em Campinas e a perfuração de poços artesianos na região do Aquífero Guarani. Nenhuma saiu do papel ainda.