terça-feira, 21 de outubro de 2014

Sabesp avança e capta 4,6 bilhões de litros de 2º volume morto, diz ANA


Boletim aponta que cota da 1ª reserva na Atibainha foi desrespeitada.
Companhia nega que tenha desrespeitado regras de órgãos reguladores.

Do G1 São Paulo
Represas do Sistema Cantareira não registram alta no nível dos reservatórios  (Foto: Reprodução TV Globo)Represas do Cantareira não registram alta no nível
dos reservatórios (Foto: Reprodução TV Globo)
Um boletim da Agência Nacional de Águas (ANA) apontou que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo(Sabesp) captou 4,6 bilhões de litros de água além do limite autorizado pelos órgãos reguladores para a primeira cota da reserva técnica (volume morto) da Atibainha.
A dados da represa que integra o Sistema Cantareira são desta terça-feira (21). O presidente da ANA, Vicente Andreu, disse que o "avanço" caracteriza uso da segunda reserva. "A Sabesp começou a consumir a mais. Tecnicamente, está errado", afirmou.
Segundo a ANA, a empresa está retirando água além do autorizado. A régua que media o nível da Atibainha foi removida do local após vistoria de técnicos no dia 14, de acordo com Andreu. O boletim da agência mostra que foram bombeados 82,71 bilhões de litros do volume morto da Atibainha. O total liberado pela ANA e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado (DAEE) era de 77,14 bilhões de litros para a primeira cota da reserva.
A companhia nega que descumpriu as regras e que tenha avançado no segundo volume morto, mas não se manifestou sobre o boletim divulgado pela ANA. A empresa disse ainda que há mais de 30 bilhões de litros da primeira cota na represa Jaguari-Jacareí e que os 106 bilhões de litros da segunda cota serão usados "caso necessário".
O governador Geraldo Alckmin, no entanto,citou a disponibilidade de uma terceira reserva para garantir o abastecimento da população no estado caso a crise hídrica continue.
Já o presidente da ANA defendeu que só restará o lodo após a retirada da segunda cota do volume morto e considerou impossível a captação de mais uma reserva técnica. "Eu acredito que, tecnicamente, será inviável. E, do ponto de vista ambiental, essa água terá problema”, disse.
Segundo Andreu, se não chover a média esperada, o Cantareira não irá se recuperar. “Do ponto de vista técnico é um chute qualificado”, disse sobre as previsões meteorológicas de longo prazo.
O consumo médio por pessoa na capital paulista era de 140,29 litros de água por dia no mês de junho, data do último balanço divulgado pela Sabesp. A Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que cada pessoa use 110 litros de água/dia.
Situação das reservas
A primeira cota do volume morto começou a ser explorada em maio, mas só restam 166,4 bilhões de litros. A segunda reserva já tem aval da agência federal para ser usada e vai subir 10,7 pontos percentuais o nível das represas. O governo não deu data para início para captação e diz que ela será feita "apenas se necessário".
O Cantareira abastece 6,5 milhões de pessoas só na Grande São Paulo, mas opera com 3,3% da capacidade nesta terça-feira. As represas tiveram queda no nível mesmo com o tempo chuvoso desde domingo (19).
Alckmin defendeu em entrevista à rádio Jovem Pan que o problema da falta d'água é resultado da maior seca dos últimos 84 anos no estado e negou que tenha ocorrido falta de planejamento por parte do governo.

Ampliação do bônus
O governador informou que deve ser aprovado nesta terça-feira no conselho da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) o bônus gradual na conta de água para quem não atingir a meta de economia de 20%. A ideia é que o desconto será feito de acordo com o que foi reduzido no consumo.
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Bioenergia necessita de políticas públicas para avançar em escala global (não lido)


21 de outubro de 2014

Por Elton Alisson, de Campos do Jordão
Agência FAPESP – A bioenergia pode contribuir para aumentar a segurança energética e, se for produzida corretamente, pode também mitigar os impactos das mudanças climáticas globais e compensar problemas ambientais associados ao desmatamento e à degradação florestal.
Para trazer esses benefícios, contudo, são necessárias políticas públicas que contemplem toda a cadeia de produção de energias renováveis, incluindo uso da terra, tecnologias de conversão e questões sociais, ambientais, econômicas e de governança relacionadas a esse tema.
As conclusões são da síntese de um relatório de avaliação sobre a implantação de sistemas de bioenergia no mundo que está sendo elaborado por cientistas brasileiros ligados aos programas FAPESP de Pesquisa em Bionergia (BIOEN), de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA) em colaboração com especialistas de 24 países, sob a égide do Comitê Científico para Problemas do Ambiente (Scope) – órgão intergovernamental parceiro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A síntese do relatório, denominado Processo Rápido de Avaliação (Rapid Assessment Process, em inglês) sobre biocombustíveis e sustentabilidade, foi apresentada no dia 20 de outubro na abertura do 2nd Brazilian BioEnergy Science and Technology Conference (BBEST), que ocorre até sexta-feira (24/10) em Campos do Jordão, no interior de São Paulo.
O documento final será divulgado nos dias 14 e 15 de abril de 2015, durante um seminário na FAPESP, que incluirá também o lançamento de um resumo para guiar políticas públicas.
“A síntese do relatório é resultado de discussões realizadas no fim de 2013, na sede da Unesco, em Paris, por 50 especialistas na área de bioenergia, de 13 países, durante uma oficina de planejamento do processo de avaliação rápida em bioenergia e sustentabilidade”, disse Glaucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do programa BIOEN, à Agência FAPESP.
“As conclusões das discussões desses especialistas sobre temas como segurança energética, alimentar, ambiental e climática, além de desenvolvimento sustentável e inovação servirão de base para o relatório final, que terá 21 capítulos, 700 páginas e será disponibilizado gratuitamente no formato de e-book”, afirmou Souza, que coordena a redação do documento.
Uma das principais conclusões é a de que – com a diminuição das reservas de petróleo, o aumento dos preços dos combustíveis fósseis e a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) – a bioenergia desponta como alternativa promissora para aumentar a segurança energética no futuro e poderá se tornar uma das maiores fontes da matriz energética de muitos países nas próximas décadas.
Para atingir esse objetivo, entretanto, os autores da avaliação recomendam aumentar a compreensão sobre os impactos de políticas, regulamentações e sistemas de certificação para a definição de métodos de governança que garantam a sustentabilidade e a igualdade na distribuição dos benefícios trazidos pela bioenergia, além de uma cuidadosa análise do investimento financeiro necessário para a implementação de sistemas de produção de energia renovável.
“Existem políticas públicas locais e globais que impactam no financiamento, no mercado e na exportação e importação de biocombustíveis e que competem com uma indústria muito barata, que é a do petróleo”, disse Souza.
“É preciso que a cadeia de produção de bioenergia conte com subsídios e o apoio de políticas públicas para conseguir aumentar a escala de produção e torná-la mais competitiva”, avaliou.
Os autores do documento avaliam que o peso da bioenergia para a segurança energética tende a crescer, em razão do avanço de tecnologias de conversão de biocombustíveis a partir de biomassa e de materiais celulósicos. Esse fator aumentará significativamente a base de recursos globais para a geração de energia sustentável.
A expectativa de iniciativas mundiais, como o Sustainable Energy for All (SE4ALL, criada em 2011 pela Organização das Nações Unidas (ONU), é de que até 2030 entre 40% e 60% da energia renovável produzida no mundo seja proveniente de biomassa. E que pelo menos 10% da energia primária mundial seja suprida por bioenergia.
Para atender essa meta, porém, ainda é preciso encontrar respostas para questões sobre como financiar esse esforço, quais matérias-primas serão utilizadas e quais as opções tecnológicas para os biocombustíveis, energia elétrica e produção de calor para diferentes regiões do mundo, entre outras perguntas, ressaltam os autores da avaliação.
“Estamos observando que não existe uma única solução adequada para todos os países ou regiões do mundo”, disse Souza. “Os casos de produção de bioenergia que avaliamos mostram que, apesar de algumas semelhanças, há diferenças de impactos ambientais, sociais e econômicos de diferentes biocombustíveis, determinadas por condições locais.”
Segundo os pesquisadores, a produção de bioenergia no mundo ainda é muito local. Hoje, alguns dos exemplos são o etanol de cana-de-açúcar no Brasil e na Tailândia, a bioeletricidade nas Ilhas Maurício e também no Brasil, o biogás nos Estados Unidos, na Alemanha e no Reino Unido e o biodiesel de pinhão-manso no Malauí e em Moçambique, na África.
A perspectiva, contudo, é que a bioenergia se torne um negócio global nas próximas décadas. “Há a possibilidade de os países produtores se tornarem exportadores de energia renovável e de a bionergia mudar a geopolítica mundial, da mesma maneira como o petróleo criou uma divisão entre os países que têm ou precisam comprar esse recurso energético”, disse Souza.
Redução de emissões
Outra vantagem apresentada pela bioenergia destacada no relatório é sua contribuição para a redução das emissões de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono.
Atualmente, cerca de 87% da energia consumida no mundo é proveniente de combustíveis fósseis, como a gasolina.
Embora a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) preveja que essa participação cairá para 75%, o consumo total de combustíveis fósseis continuará a aumentar, acrescentando mais 6 gigatoneladas (Gt) desses gases na atmosfera até 2035.
Estudos citados no relatório indicaram que, quando o etanol de cana-de-açúcar é usado para substituir os combustíveis fósseis no transporte, o biocombustível pode contribuir para uma redução de algo entre 80% e 100% das emissões líquidas de GEE, apontam os autores da avaliação.
O aumento da produção de bioenergia deve ser acompanhado, contudo, de estudos e análises de todas as implicações associadas e dos impactos ambientais para não causar o efeito contrário ao que se deseja, ressalvam os pesquisadores.
“Às vezes, o tipo de manejo do solo para a produção de cana-de-açúcar pode levar até ao aumento das emissões de GEE”, disse Reynaldo Victoria, professor da USP e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.
“Se, para plantar cana, forem depositadas toneladas de nitrogênio no solo, isso pode aumentar as emissões de gases de efeito estufa, como o óxido nitroso. Por isso, há que se tomar muito cuidado com as tecnologias utilizadas”, avaliou o pesquisador, que é um dos editores do relatório.
A produção de bioenergia a partir de biomassa também pode contribuir, em alguns casos, para a recuperação e o aumento de recursos ambientais para a fauna de solos degradados.
“Em algumas circunstâncias, quando pastagens degradadas são substituídas pelo cultivo de cana ou de eucalipto, por exemplo, isso pode permitir a recuperação do solo e, inclusive, um aumento de recursos para a fauna nessa área”, disse Luciano Verdade, professor da USP e membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP, também editor do relatório.
“Mas também há impactos que podem ser negativos, porque a intensificação da agricultura implica, por exemplo, aumento do uso de agroquímicos que, em geral, resultam na contaminação da água e da biota”, ponderou.
Algumas das formas de tentar minimizar esses impactos negativos, segundo o pesquisador, são priorizar o uso de técnicas de cultivo amigáveis ao ambiente e implementar programas de monitoramento ambiental e de biodiversisade de longo prazo.
“Os programas de monitoramento ambiental e de biodiversidade permitem detectar, o quanto antes, possíveis impactos negativos em uma área degradada que não são tão evidentes”, avaliou.
Mais informações sobre o BBEST em http://www.bbest.org.br/
 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pedagogia do atraso



EDUARDO PORTELLA - O ESTADO DE S. PAULO
18 Outubro 2014 | 16h 00

O tema da educação sempre surge em período eleitoral para cair no esquecimento logo depois




LUIS CLEBER
Eterna reivindicação. A educação, ou é de qualidade ou não é, diz autor

Os períodos eleitorais costumam dedicar especial cuidado à educação. Um cuidado só proporcional ao esquecimento pós-eleitoral. Uns enfatizam a importância do ensino superior, do médio, do fundamental e prometem a multiplicação das creches. Até aí, nenhuma novidade. Mas se esquecem que, em matéria de educação, tudo é prioritário. Do pré ao pós. Chego até a imaginar que a pós-graduação começa no pré-escolar.
No que diz respeito ao ensino médio, os indicadores oficiais e oficiosos apontam para acentuada perda de rendimento. Em 16 Estados houve substancial retrocesso. Permanecemos dessincronizados face à velocidade das mudanças.
As questões do acesso nos diferentes níveis precisam ser reprogramadas, alargando-se a interlocução entre professores e alunos. Sem esquecer dos empresários empreendedores. E daí configurando o novo desenho da profissionalização, capaz de atender à formação de quadros, em consonância com as atuais exigências da gestão pública e privada. Vem se tornando insuportável o déficit da gestão em um país que é candidato, até aqui reincidente, a vaga no mapa das potências emergentes.
O pré-requisito dessa jornada, realista ou apenas ambiciosa, é o compromisso da qualidade. A educação, ou é de qualidade ou não é. É o que venho chamando de uma pedagogia da qualidade. Seria uma redundância se não continuasse a ser uma questão em aberto. Somente a educação de qualidade, mais especificamente hoje, é capaz de promover a inclusão social. Caso contrário, distante do pacto qualitativo, ela não passará de um perigoso agente da exclusão social. A qualidade jamais é concebida abstratamente, sem chá e sem pouso, mero troféu de guerra. Ela é o ponto de encontro e de desencontro entre o conjunto de demandas historicamente enraizadas e as incertezas da vida cotidiana. Logo, depende de todos nós.
O papel e o lugar do professor não têm sido satisfatoriamente compreendidos. Ao lado da valorização profissional e remunerativa, seu exercício cotidiano necessita de condições de trabalho adequadas, de instrumentos técnicos atualizados, de laboratórios e bibliotecas convenientemente equipados.
Por isso mesmo reivindico, para o professor do nosso tempo, a condição de carreira de Estado, distante de vento e tempestades ocasionais. Como o caso da carreira de diplomata. O professor independe do diplomata. Já o diplomata não se habilita sem passar pelo professor. Sobretudo agora, quando a diplomacia cada vez mais funciona menos.
O professor deve ser visto e tratado como protagonista da frente comum da reconstrução nacional. E tendo em vista a diferença entre o país adiado e o país com os prazos vencidos. Eles quase nunca coincidem. O Brasil se encontra no primeiro caso. 
Convém não negligenciar a interface estrutural entre educação e a cultura, hoje separadas em dois ministérios distintos. A educação é a cultura escolarizada, enquanto a cultura vem a ser a educação transescolar. Ambas aguardam, com certa ansiedade, o encontro, ou a parceria, entre o virtuoso e o virtual, transitando pelas grandes veredas e os pequenos sertões, o transitório e o transitivo, o endividamento e o controle.
A educação deve ser um projeto social vazado de interlocução intelectual, recorrendo à participação pública e privada, e mesmo ao intercâmbio criterioso de trocas materiais e capital simbólico. É altamente preocupante a deficiência operacional de nossa gestão administrativa, justamente porque têm faltado a ela educação e cultura. 
Há todo um esforço a ser desenvolvido, tendo como força motriz a vontade de transformação, inscrita na reinvenção da democracia, hoje abalada pela corrupção representativa alimentada pela fraude política, pela desqualificação do Estado, pela instabilidade econômica, pela globalização de mão única. Por todas essas razões, ou desrazões, as nossas contas educacionais permanecem no vermelho.
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Eduardo Portella é escritor, professor e advogado. Ex-ministro da Educação e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), é autor de 'Jorge Amado - a sabedoria da fábula' (Tempo Brasileiro