O Minhocão tem os dias contados. Tanto que na sociedade civil já se discute se ele deve ser derrubado ou virar jardim suspenso.
Como você vai pagar a conta, é bom formar opinião.
Na semana passada estiveram em São Paulo os responsáveis pelo parque High Line, em Nova York, que, sobre uma via elevada, tem servido de inspiração para os que sonham ver um jardim construído sobre o horrível viaduto.
Robert Hammond, coautor do livro "High Line: A História do Parque Suspenso de Nova York" (BEÎ Editora), ficou fascinado com o Minhocão: "Ele é muito maior do que o High Line. Lá não havia residências dando para o elevado, só depósitos e empresas. Os nova-iorquinos não conheciam a via que deu origem ao parque. Aqui, pessoas passeiam por ela aos domingos".
Hammond diz que se o elevado for derrubado, deixará em seu lugar apenas uma avenida movimentada, mas se virar um jardim, a cidade ganha um cartão postal.
Herança podre da ditadura militar, o Minhocão sobreviveu intocado à democracia. A ligação leste-oeste atravessando o centro de São Paulo foi construída a toque de caixa por um prefeito biônico (Paulo Maluf), nomeado pelo ditador marechal Costa e Silva. Pronta, em 1970, a obra recebeu o nome do tirano, que assim segue torturando a cidade.
Ao longo desses seus 43 anos, a via elevada acabou por se tornar uma unanimidade negativa (só a voz anasalada de seu criador às vezes o defende). O que o mantém aberto é a insegurança dos governantes quanto ao impacto de seu fechamento para o trânsito.
Na última eleição, os principais candidatos (Haddad, vencedor, e Serra, segundo) disseram que gostariam de eliminá-lo se houvesse alternativa.
A alternativa já existe, prevista na Operação Urbana Lapa-Brás.
Também aparece em planos recém apresentados à prefeitura para o projeto Arco do Tietê: trata-se de uma avenida paralela e mais longa que o Minhocão, construída no leito por onde correm várias linhas de trem no sentido leste-oeste.
Há um debate entre urbanistas: essa via deve ficar ao nível do trilho dos trens ou as vias férreas devem ser enterradas, abrindo espaço para quadras urbanizadas e parques, com a avenida correndo pela superfície?
O professor emérito de Arquitetura Cândido Malta, da FAU-USP, secretário de Planejamento da prefeitura entre 1976-1981, defende a avenida ao lado dos trilhos: "O custo e o prazo de realização são menores. Mais cedo se poderá fechar o Minhocão".
Miguel Bucalem, professor da Poli-USP, secretário de Desenvolvimento Urbano da prefeitura entre 2009-2012, defende o enterramento dos trilhos e a urbanização das áreas liberadas: "Essa solução leva mais tempo, mas cria um eixo de desenvolvimento urbano que beneficiará a cidade ao longo dos próximos 100 anos".
Não há orçamentos precisos para cada uma. Cálculos chutados por pessoas experientes em obras públicas apontam algo em torno de R$ 700 milhões para a solução ao nível do chão, com inauguração em quatro anos; R$ 3,5 bilhões custaria a obra que enterra os trilhos, com prazo em torno de 15 anos.
Uma vez escolhida a solução para a nova ligação leste-oeste, junto às linhas férreas que passam pela Luz, você deverá decidir o que fazer com o Minhocão: derrubar ou transformá-lo em parque?
Como você vai pagar a conta, é bom formar opinião.
Na semana passada estiveram em São Paulo os responsáveis pelo parque High Line, em Nova York, que, sobre uma via elevada, tem servido de inspiração para os que sonham ver um jardim construído sobre o horrível viaduto.
Robert Hammond, coautor do livro "High Line: A História do Parque Suspenso de Nova York" (BEÎ Editora), ficou fascinado com o Minhocão: "Ele é muito maior do que o High Line. Lá não havia residências dando para o elevado, só depósitos e empresas. Os nova-iorquinos não conheciam a via que deu origem ao parque. Aqui, pessoas passeiam por ela aos domingos".
Hammond diz que se o elevado for derrubado, deixará em seu lugar apenas uma avenida movimentada, mas se virar um jardim, a cidade ganha um cartão postal.
Herança podre da ditadura militar, o Minhocão sobreviveu intocado à democracia. A ligação leste-oeste atravessando o centro de São Paulo foi construída a toque de caixa por um prefeito biônico (Paulo Maluf), nomeado pelo ditador marechal Costa e Silva. Pronta, em 1970, a obra recebeu o nome do tirano, que assim segue torturando a cidade.
Ao longo desses seus 43 anos, a via elevada acabou por se tornar uma unanimidade negativa (só a voz anasalada de seu criador às vezes o defende). O que o mantém aberto é a insegurança dos governantes quanto ao impacto de seu fechamento para o trânsito.
Na última eleição, os principais candidatos (Haddad, vencedor, e Serra, segundo) disseram que gostariam de eliminá-lo se houvesse alternativa.
A alternativa já existe, prevista na Operação Urbana Lapa-Brás.
Também aparece em planos recém apresentados à prefeitura para o projeto Arco do Tietê: trata-se de uma avenida paralela e mais longa que o Minhocão, construída no leito por onde correm várias linhas de trem no sentido leste-oeste.
Há um debate entre urbanistas: essa via deve ficar ao nível do trilho dos trens ou as vias férreas devem ser enterradas, abrindo espaço para quadras urbanizadas e parques, com a avenida correndo pela superfície?
O professor emérito de Arquitetura Cândido Malta, da FAU-USP, secretário de Planejamento da prefeitura entre 1976-1981, defende a avenida ao lado dos trilhos: "O custo e o prazo de realização são menores. Mais cedo se poderá fechar o Minhocão".
Miguel Bucalem, professor da Poli-USP, secretário de Desenvolvimento Urbano da prefeitura entre 2009-2012, defende o enterramento dos trilhos e a urbanização das áreas liberadas: "Essa solução leva mais tempo, mas cria um eixo de desenvolvimento urbano que beneficiará a cidade ao longo dos próximos 100 anos".
Não há orçamentos precisos para cada uma. Cálculos chutados por pessoas experientes em obras públicas apontam algo em torno de R$ 700 milhões para a solução ao nível do chão, com inauguração em quatro anos; R$ 3,5 bilhões custaria a obra que enterra os trilhos, com prazo em torno de 15 anos.
Uma vez escolhida a solução para a nova ligação leste-oeste, junto às linhas férreas que passam pela Luz, você deverá decidir o que fazer com o Minhocão: derrubar ou transformá-lo em parque?
Leão Serva, ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor e coautor de 'Como Viver em SP sem Carro'.