sábado, 31 de maio de 2014

Até setembro, 2,1 mi de consumidores serão transferidos do Cantareira, diz Alckmin


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O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou nesta sexta-feira (30) que, até setembro, 2,1 milhões de pessoas na Grande SP não serão mais abastecidas pelas águas do Sistema Cantareira. Normalmente, o sistema abastece 8,8 milhões de pessoas, segundo a Sabesp.
O motivo é a falta de chuvas que reduziu as reservas nas represas que formam o sistema. De acordo com o tucano, essa população será atendida por outros sistemas de abastecimento, como os já utilizados Guarapiranga e Alto Tietê.
Atualmente, de acordo com o governador, 1,6 milhão de pessoas já recebem água dos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê. No Sistema Cantareira, a água já usada é reserva do "volume morto", que fica abaixo das comportas do sistema.
Mariana Martins/Folhapress
Governador Geraldo Alckmin, em Brodowski, durante a reabertura do Museu Casa de Portinari
Governador Geraldo Alckmin, em Brodowski, durante a reabertura do Museu Casa de Portinari
Alckmin também comentou a decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro, que nesta quinta-feira (29) deu 72 horas para que o governo paulista se posicione sobre a proposta de usar água do rio Paraíba do Sul para levar até o Cantareira.
De acordo com o tucano, serão prestadas todas as informações. O objetivo, segundo ele, será apontar a viabilidade da medida. A decisão da Justiça foi dada após pedido da Procuradoria Federal, que quer evitar a transposição de águas do Paraíba do Sul, principal manancial de abastecimento da capital fluminense.
"Estamos monitorando o Sistema Cantareira diariamente. Um milhão e seiscentas mil já foram retiradas do sistema e estão sendo abastecidas pelo Guarapiranga e Alto Tietê. Até setembro, teremos 2,1 milhões de pessoas fora do Sistema Cantareira, porque a seca foi muito grande na região Bragantina e em Minas Gerais, foi muito localizada. Então, estamos tirando boa parte [e transferindo] para outros sistemas do Estado", disse.
O governador também falou sobre o trabalho que resultou na captação, por bombas, do "volume morto". "Fizemos em 74 dias o trabalho da reserva técnica [volume morto]. E além disso, fomos o único governo que falou: 'faça economia, ajude evitando o desperdício e ganhe o bônus de 30% a menos na conta'", disse.
De acordo com o tucano, 87% da população de São Paulo reduziu o consumo de água em SP. Alckmin participou na manhã desta sexta-feira da reabertura do museu Casa de Portinari, em Brodowski (338 km de São Paulo).
PARAÍBA DO SUL
"Olha, nós vamos prestar todas as informações [para a Justiça Federal]. Há muita desinformação. Ninguém vai tirar um litro do Paraíba do Sul. Não há transposição de água. O que será feito é interligar os dois reservatórios, que é o que o mundo inteiro faz, porque aumenta a capacidade de reservação", disse o tucano.
Segundo o governador, o Sistema Cantareira "é pequeno" se comparado ao Jaguari do rio Paraíba do Sul. A capacidade de reservação de água do Cantareira, segundo a Sabesp, é de 1 trilhão de litros. "Interligando [os reservatórios], dobra a capacidade de reservação. Quando chove demais, guarda [água]. Isso é o que vamos explicar", disse. 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Desigualdade, por Delfim Netto na Folha


Folha presta um excelente serviço à sociedade brasileira ao continuar dando espaço à interessante discussão em torno do livro do economista francês Thomas Piketty, "O Capital no Século 21".
Foi imenso o "choque" que a obra produziu após o lançamento de sua tradução em inglês. Olhada com cuidado, a sua tese está longe de provar empiricamente o inevitável fim do "capitalismo", imposto por alguma "lei" histórica (o que Marx pensou ter feito com o uso de argumentos lógicos).
Reduzida à sua essência, ela é o resultado de pura aritmética: se a taxa de retorno do capital (que ele, como a maioria dos economistas em seus modelos chama de "r") for permanentemente maior do que a taxa de crescimento do PIB (que ele, como os economistas, chama de "g"), então haverá, necessariamente, uma acumulação de renda e patrimônio que, ao fim e ao cabo, submeterá a democracia ao controle do capital e tornará o "capitalismo" disfuncional.
O problema não é econômico, é político! Não tem nada a ver com "esquerda" ou "direita". Instituições mal construídas permitem que uma classe se aproprie do excedente econômico produzido pelo trabalho, como ocorria no regime colonial e ocorre no capitalismo de "compadres"...
O problema é que "g" e "r" não são constantes e não satisfazem, necessariamente, a desigualdade: "r" sempre maior do que "g". Dependem da qualidade das instituições e, portanto, são de extrapolação duvidosa. A relação entre eles controla aritmeticamente, no longo prazo, a distribuição da renda entre o trabalho e o capital e a acumulação dos patrimônios. São as instituições e o jogo dialético permanente entre o bom funcionamento dos "mercados" e o bom funcionamento das "urnas" que determinam a relação entre "g" e "r".
O livro de Piketty já produziu dois resultados notáveis. O primeiro, muito triste para nós que amamos a França. Infelizmente, o francês transformou-se numa língua paroquial em matéria de economia, para prejuízo do próprio pensamento econômico universal. O livro só teve a merecida repercussão quando vertido para o inglês.
O segundo, é que mostra a insanidade do "cientificismo" que domina a pobre modelização de alguns economistas que têm inveja da física e se recusam entender que o átomo da economia (o cidadão comum, sujeito da política do governo) tem memória, aprende e reage num jogo dinâmico com a autoridade. E, o que é pior e mais grave, protesta e vota!
A distribuição da renda sempre implicará uma valorização filosófica. Como ensinou Adam Smith há mais de 250 anos ("A Teoria dos Sentimentos Morais", 1759), se a economia for um dia "ciência", ela há de ser uma ciência moral. 

Geólogo aposta na criação de "piscinões verdes" para combater as enchentes

Urbanismo

Geólogo aposta na criação de "piscinões verdes" para combater as enchentes

A multiplicação dos bosques florestados urbanos está entre as medidas defendidas por Álvaro Rodrigues dos Santos para aumentar a permeabilidade nas cidades. Veja artigo na íntegra

28/Maio/2014
 
Google ilustrativas
Piscinões verdes contra as enchentes
As enchentes urbanas tem sua principal causa na incapacidade das cidades em reter suas águas de chuva, o que as faz, pela impermeabilização generalizada de sua superfície, lançar essas águas em enormes e crescentes volumes, e em tempos progressivamente reduzidos, sobre um sistema de drenagem que não mais lhes consegue dar a devida vazão. O excesso de córregos canalizados e o intenso assoreamento por sedimentos, lixo e entulho que atinge todo o sistema de drenagem urbana só fazem agravar o problema.
Não é por outro motivo que o Coeficiente de Escoamento Superficial - parâmetro que expõe a relação entre o volume das águas que escoam superficialmente sem infiltrar no terreno e o volume total de uma chuva - na cidade de São Paulo está atingindo a escandalosa ordem de 80%. Ou seja, 80% do volume de uma chuva pesada que cai na capital paulista escoa superficialmente comprometendo rapidamente seu sistema de drenagem. Inversamente, em uma floresta, ou um bosque florestado urbano, o CES fica em torno de 20%; ou seja, cerca de 80% do volume das chuvas torrenciais é retido pela floresta, alimentando em boa parte, por infiltração, o lençol freático.
Fica claro que, ao contrário do que gostam de afirmar nossos governantes, as enchentes urbanas não acontecem por um eventual excesso de chuvas, ou, mais prosaicamente, por vingança dos deuses, e muito menos como efeito do polêmico aquecimento global, mas sim, liminarmente, pela absurda compulsão com que as cidades procuram livrar-se de suas águas pluviais o mais rápido que possam. 
Frente a esse claro diagnóstico é estranho e inconcebível que os programas oficiais de combate às enchentes, insistindo isoladamente nos dispendiosos projetos de ampliação das calhas de nossos principais rios, não tenham até hoje implementado um arco de medidas voltadas a recuperar a capacidade da cidade em reter suas águas de chuva, ou seja, medidas que atacariam as enchentes em suas causas elementares.
Inúmeros são os dispositivos e expedientes conhecidos para o aumento da retenção das águas de chuva, como calçadas e sarjetas drenantes, pátios e estacionamentos drenantes, valetas, trincheiras e poços drenantes, reservatórios para acumulação de águas de chuva internos aos lotes, multiplicação dos bosques florestados na cidade, etc. Todos devem se implantados, pois será a somatória de seus efeitos que propiciará os resultados hidrológicos esperados. Como um bom exemplo, por sua eficácia hidrológica e por seus enormes trunfos ambientais, vale destacar a importância da multiplicação dos bosques florestados urbanos, entendidos como espaços da cidade assemelhados a uma verdadeira floresta. Comportar-se-iam como verdadeiros e virtuosos piscinões verdes, tão diversos dos atuais deletérios piscinões, que comportam-se como verdadeiros agentes de deterioração sanitária, ambiental e urbanística das regiões onde vem sendo instalados.
Importante considerar que para que os bosques florestados realmente cumpram um papel representativo no combate às enchentes teriam que ser disseminados em profusão por toda a área urbana, o que, do ponto de vista ambiental, já seria um espetacular ganho. Muitas praças nossas, hoje praticamente sem árvores, e inúmeros terrenos públicos totalmente abandonados, poderiam ser transformados rapidamente em bosques florestados. Pode-se trabalhar na perspectiva de, ao final de um determinado prazo, cada sub-bacia hidrográfica urbana passe a contar com um mínimo de 12% de sua área total cobertos por pequenos, médios ou grandes bosques florestados, o que, em termos hidrológicos, significaria reduzir, somente via esse expediente, em cerca de 10% ou mais o volume pluvial que escoa hoje para o sistema de drenagens urbanas colaborando para a ocorrência de enchentes.
Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br) é ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT, autor dos livros "Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática", "A Grande Barreira da Serra do Mar", "Cubatão", "Diálogos Geológicos" e "Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções", além de consultor de Geologia de Engenharia e Geotecnia.