quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Gleisi, por Antonio Delfim Netto

Gleisi Hoffmann reassumiu sua cadeira no Senado depois de ter se desincumbido muito bem de suas funções na espinhosa Casa Civil. Testemunhos de importantes interlocutores do setor privado são a prova de que sua inteligência e seu comportamento foram importantes para melhorar suas relações com o governo.
O sucesso dos recentes processos de concessões deve muito à sua ação e à dos ministros Mantega e César Borges, no convencimento dos potenciais concorrentes de que a defesa da "mocidade tarifária", na transferência de monopólios públicos para o setor privado, estava longe de ser o desejo ideológico de construir um "capitalismo sem lucro".
Numa entrevista concedida à competente jornalista Débora Bergamasco, publicada no domingo pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Gleisi revela, por um lado, humildade e coragem e, por outro, que captou as dificuldades da administração pública que o PT ainda não entendeu. Por conta da humildade, temos sua réplica à pergunta "por que as respostas do governo são lentas?" Diz ela: "porque dependem da articulação das três esferas da Federação e de vários órgãos".
E acrescenta sem rebuços: "Claro que eu gostaria que tivesse maior celeridade. Claro que se eu tivesse, no início, a experiência e o conhecimento que tenho agora, acho que eu teria conseguido fazer isso".
Mais importante é a sua corajosa reflexão em resposta à pertinente, mas incômoda, pergunta da arguta jornalista: "Qual é a maior dificuldade do governo em fazer o Brasil andar?" Vale a pena transcrever, para iluminar alguns ideólogos das virtudes do estatismo. Ela responde: "Ainda é a falta de cultura da máquina pública de agir por resultado. Temos uma baixa cultura de comprometimento de entregas. O serviço público não está acostumado a isso, então quando nós cobramos resultados muitas vezes tem reação. Quando cobramos metas, organização, não temos o retorno esperado porque é uma questão de cultura e também da própria organização do serviço público, em que a estabilidade está na base e a instabilidade está no comando. Isso faz com que o setor público acabe ficando mais acomodado". A frase é antológica, "a estabilidade está na base e a instabilidade no comando"!
Se há alguma dúvida sobre a verdade essencial dessa ponderação, basta atentar para as dificuldades que estamos vivendo no setor elétrico, além dos problemas climáticos: 40% do volume de energia planejado para estar em operação não foi entregue na data prevista, por dificuldades de toda natureza. Ainda mais lamentável é o descompasso de mais de um ano entre os projetos que estão prontos e as necessárias linhas de tra

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Eu, não, meu senhor'


Menino preso a poste no Rio descende de homens livres, mas a chibata continua lá: dentro da alma

08 de fevereiro de 2014 | 17h 01

José de Souza Martins
Era de noite. Foi no Flamengo. Trinta marmanjos chegaram em 15 motos. Os quatro adolescentes caminhavam para Copacabana, "para tomar um banho de mar". "Era (um) fortão e tinha um magrinho. O magrinho já chegou jogando a moto em cima. Vou matar! Vou matar os quatro!" A moto e a enturmação fizeram o magrinho ficar fortão e valente. O magrinho foi acusando: "Bando de ladrão, fica roubando bicicleta dos outros". Três dos garotos conseguiram fugir. O menino de 15 anos, não. Nenhum deles estava de bicicleta.
Adolescente de 15 anos foi agredido e preso a poste. - Yvonne Bezerra de Mello/Divulgação
Yvonne Bezerra de Mello/Divulgação
Adolescente de 15 anos foi agredido e preso a poste.
Desde quando seus antepassados foram trazidos da África, empilhados em navios negreiros, para serem vendidos no Valongo depois de estirados na praia para destravar o corpo, o menino negro sabe quem manda e quem obedece. O tronco e a chibata no lombo de seus antepassados surraram também sua memória e lhe ensinaram as lições que sobrevivem 125 anos depois da liberdade sem conteúdo da Lei Áurea. A lei que libertou os brancos do fardo da escravidão antieconômica. Mais de um século depois, o menino ainda sabe como é que se fala até mesmo com moleque que herdou os mimos da casa-grande: "Eu não, meu senhor, todo mundo aqui é trabalhador", defendeu-se.
Esse menino descende de homens livres há mais de um século. Mas a chibata ficou lá dentro da alma, ferindo, dobrando, humilhando, criando desconfiança, ensinando artimanhas de quilombo para sobreviver. Esse "meu senhor" diz tudo, fala alto, grita na consciência dos que a tem. Esse "meu senhor" desdiz a liberdade, desmente a Lei Áurea, nos leva de volta aos tempos da senzala, do tronco e do pelourinho. Esse "meu senhor" expressa uma liberdade não emancipadora, que não integrou o negro senão nas funções subalternas de uma escravidão dissimulada, mas não na ressocialização para a liberdade e para a cidadania. Quem acusa o menino não sabe que a sociedade não pode colher o fruto que não semeou.
No dia 13 de maio de 1888 não libertamos ninguém. Continuamos todos escravos da escravidão que não acaba, da moral retorcida que nos legou, da consciência cindida que nos faz crer que somos uma coisa sendo outra. No mundo novo da liberdade abstrata de um contrato fictício não podemos nos encontrar porque não encontramos o outro, não podemos ser livres porque não nos libertamos no outro, não podemos ter direitos de que os outros carecem.
O menino levou uma surra de capacetes. "Bateu, bateu", disse ele a uma repórter. Desmaiou. Foi ferido a faca na orelha. Com uma trava de bicicleta, foi amarrado pelo pescoço num poste. Coisa de gente muito valente, coisa de macho: 30 homens contra um menino franzino. E na Câmara dos Deputados houve quem se orgulhasse disso. Confessou um deputado mais inclinado ao justiçamento do que à Justiça: "Praticou um ato corajoso quem deu uma surra nesse vagabundo, porque os moradores estão cansados de serem roubados e assaltados por essa gentalha". Isto é, gentinha, populacho, ralé. O mesmo tratamento que tinha vigência antes da lei do 13 de Maio, quando o escravo era considerado coisa, semovente, mercadoria, um ser abaixo da condição humana. Mero animal de trabalho, com a diferença de que das azêmolas diferia porque falava, gemia, chorava, sabia.
A Lei Áurea trouxe implícita a igualdade jurídica do negro liberto, coisa que não ficou muito clara na Constituição de 1891, que condicionou a cidadania ao ter propriedade e ao ser alfabetizado, não ser mendigo, não ser mulher, não ser praça de pré. A igualdade do 13 de Maio era, portanto, uma igualdade relativa. Porém, quem não é igual não pode ser livre. O deputado que agora, no próprio Parlamento, se congratula com os agressores do menino negro, revoga a Lei Áurea, restaura a inferioridade social do cativo e dos filhos e herdeiros do cativeiro. Traz de volta o feitor.
O Estado brasileiro, de que o deputado é membro e privilegiado beneficiário, é um Estado omisso, descumpridor das próprias leis que inventa e promulga. A delinquência juvenil é fruto dessa omissão e do desamparo que engendra e alimenta. Mas fruto, também, da pseudocidadania dos atiradores de pedra e dos linchadores, dos que reclamam direitos, omitindo-se quanto aos deveres correspondentes. No próprio caso ocorrido no Flamengo, alguns boyzinhos de 14 que foram presos e já estão soltos declararam que patrulham "o Aterro em busca de potenciais autores de delitos". O caso do menino deixa claro que os "potenciais autores de delitos" têm cor e raça. O vigilantismo reacionário ergue uma muralha de terror para criar um território fechado e excludente, só deles. Uma pátria particular, impatriótica.
O menino foi libertado pelos bombeiros que o socorreram. Tiveram que usar maçarico para cortar o cabo de aço que lhe atava o pescoço ao poste. Foi levado para o hospital. De lá fugiu e foi espontaneamente se apresentar na casa abrigo da prefeitura do Rio. Os agressores louvados pelo deputado não se apresentaram em lugar nenhum. Fugiram. Por aí se vê que ao menos o menino tem recuperação.
JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP, ORGANIZADOR E COAUTOR DE O MASSACRE DOS INOCENTES (HUCITEC, 1993)

Pode haver ex-pai?


Para professor de ética, é difícil saber se acusações procedem, mas importa entender por que a reencenação da história caiu em terreno fértil

08 de fevereiro de 2014 | 17h 09

Renato Janine Ribeiro
Por que a ruptura entre Woody Allen e Mia Farrow, assunto já antigo, volta à cena com tanta paixão? Penso que é porque expõe duas histórias de incesto, atribuídas a um cineasta que tematizou tanto a própria vida que acreditamos conhecer sua personalidade e, sobretudo, suas falhas. Tentemos destrinchar esse emaranhado.
Da esquerda para direita: Allen, Ronan, Mia, Dylan e Soon-Yi; à frente, Moses. - Ann Clifford/Time Life/Getty Images
Ann Clifford/Time Life/Getty Images
Da esquerda para direita: Allen, Ronan, Mia, Dylan e Soon-Yi; à frente, Moses.
Datam de 1992 duas histórias, diferentes, mas paralelas, que muitos confundem. Primeira, Allen deixa Mia para ficar com a filha adotiva dela, Soon-Yi (que não era filha dele, mas do maestro André Prévin). Consta que nunca teve vida familiar com Soon-Yi; não seria uma figura paterna para ela. É incesto por derivação, não por definição. É incesto aos olhos, sobretudo, de Mia. Eis uma tragédia familiar, que traz problemas éticos, porque ambos traíram Mia, namorada de um, mãe da outra – mas não é um crime. E o final, para os "cúmplices", é feliz: Allen e Soon-Yi se casaram e têm dois filhos.
Segunda história: no meio dessa tormenta, Allen teria acariciado sexualmente Dylan, de 7 anos, filha adotiva dele e de Mia. Aqui temos incesto, sim, na forma do abuso sexual de menor – ação odiosa, pois fere um ser duas vezes vulnerável, pela idade e pelo laço com o agressor. Mia processa Allen, mas sem sucesso: os peritos psiquiatras do tribunal opinam que a menina e seu irmão mais velho, Moses, teriam sido treinados ("coached") pela mãe para depor. Esse caso, e apenas ele, seria crime, mas não foi provado.
A história ressurge agora, graças a jornalistas amigos de Mia. Principia com ela dizendo à revista Vanity Fair que seu único filho biológico com o cineasta talvez não seja dele, mas do ex-marido Frank Sinatra: revela que manteve um longo caso com Sinatra quando já estava com Allen. Depois, o New York Times divulga uma longa carta de Dylan acusando o ex-pai do abuso sexual de 1992.
Esse escândalo afeta gente decente, liberal, empenhada em boas causas. Mia é ativista social. Allen nunca rodou um filme defendendo a violência ou o preconceito, e uma virtude de vários de seus filmes é a empatia com o infeliz. O conflito dos simpatizantes dele e dela é uma guerra civil dividindo pessoas de bem.
No meio disso, muitas complicações. Há mudanças de nomes (Dylan virou Malone; o filho biológico, Satchel, hoje é Ronan), de filiação (Allen perde o acesso aos adotivos e talvez não seja pai do biológico), de lado (um adotivo, Moses, que em 1992 pediu que Allen "se suicidasse", hoje apoia o pai). É mais confuso do que romance russo. Bem disse o ex-filho biológico, Satchel que virou Ronan: é complicado ser filho do cunhado, irmão da madrasta.
Mas o desabafo de Satchel-Ronan se refere à primeira história, à traição, não ao abuso sexual. O dano que se abateu sobre o clã quando as figuras materna e paterna romperam, e o "pai" fugiu com a "irmã" foi devastador – mas não é crime. Como diz Andrea Pachá num ótimo livro, "a vida não é justa". Crianças sofreram, mas devido a uma separação apenas pior que as litigiosas "normais". E o final, para os dois que saíram do clã (André Prévin diz que Soon-Yi "não é mais minha filha"), foi feliz. É a relação mais duradoura que Allen já teve. Uma família feliz, um happy end, ainda que só para eles: por isso mesmo, como culpá-los, hoje, pela ruptura de 1992? Eles entraram na banalidade das relações sem tormenta. Assim, como a história dos dois perdeu o charme do proibido, o foco passou para o possível abuso, o caso que então era secundário, a agressão sexual à menina menor.
Entra em cena a segunda história. Aceitamos casamentos rompidos, mas temos ódio crescente ao abuso sexual; esse tema saiu do armário. (Por coincidência, Allen é acusado de abusar de Dylan dentro de um armário.) Mas aconteceu? Sim: aos sete anos se entende melhor o que são carícias sexuais do que aos quatro – idade que tinham as crianças da Escola Base, quando os donos dela quase foram linchados sob acusações de abuso sexual que eram, afinal, fantasias infantis. Ou não: o próprio irmão Moses, que testemunhou com Dylan em 1992, hoje diz que Mia pressionava as crianças para ficarem contra Allen. Não consigo ter posição. As decisões da Justiça, embora tomadas em momentos distintos, deram em empate. Mia não conseguiu condenar Allen, mas ele perdeu o acesso aos filhos. Uma decisão estranha, porque se era culpado deveria pagar por isso, se era inocente não havia por que perder as crianças.
Há mais. Por que essa história volta à cena? Há as hipóteses menores, como a possível aposta do ex-filho talvez biológico de Allen numa carreira profissional ou a irritação da ex-família com as homenagens ao diretor. Mas o importante não são as motivações de Mia e dos seus filhos, e sim: por que a reencenação da história caiu em terreno fértil.
Começo pela crise da família. Uma coisa é ter ex-marido, ex-mulher. Uma separação pode doer, mas conseguimos conceituá-la. Agora, dos laços de família, os de pai e filho são eternos. Mas são mesmo? No caso, não foram. Por isso falei, com espanto meu inclusive, em ex-pai, ex-filho, ex-filha. Se os últimos mudaram de nome, foi para consumar a ruptura. O susto nos vem do que deve ser um temor fundo, talvez ancestral: nem mesmo os laços do sangue, nem mesmo os vínculos a nossa origem, hoje estão garantidos. O clã Farrow era um grande experimento de filiação: filhos adotados por ela com Prévin, com Allen, um concebido por ela e Allen – como se fossem uma tipologia das diferenças que há no mundo. De repente cai um raio sobre essa tribo, que não sabemos se era feliz, mas pretendia sê-lo. A mãe, vértice da família, é traída.
Isso perturba nossa talvez última garantia, quando tudo ficou líquido, até as alianças mais firmes: a família como espaço dessexualizado. O casal é sexualizado e por isso resiste mal à perda do desejo. Mas a relação pais-filhos é de amor porque não tem sexo. Pode durar para sempre, deveria durar para sempre. Só que a histoire de cul, como os franceses chamariam o caso de Allen com Soon-Yi, afetou as filiações, fraternidades e, para termos um equilíbrio de gênero entre homens e mulheres, as "sororidades" do clã. A experiência ambiciosa de criar laços de família entre pessoas que não têm relação de sangue quase foi pelos ares.
Dessa história, ou resulta que Allen é o pai-negação-de-pai, que abusou da filha, ou que Mia é a mãe-negação-de-mãe, Medeia que sacrificou os filhos para se vingar dele. Pai e mãe que neguem sua condição são fantasmas atuais, amedrontadores. Até nossa origem, nossa filiação, se torna precária. (O único que parece ter escapado da maldição foi o que mudou de lado, Moses, atravessando as águas do ódio.)
Some-se que o incesto "falso" deu certo, e o incesto "real" ficou impune. Mil aspas! Incesto falso foi o amor de Allen e Soon-Yi. Não eram pai e filha, mas aos olhos da família um era tabu para o outro. Não violaram a lei, mas o choque afetivo é igual. Porém, esse incesto revelado, publicado, gerou um casal feliz. Quanto ao suposto abuso, aí sim teríamos um incesto de verdade, real, entre pai e filha, pouco importando que fosse adotiva. Mas não se sabe a verdade. Porém, a contaminação dos casos é inevitável. Basta suspender um pouco as dúvidas que a imagem de Allen despenca. Imagem, para um cineasta, é muito. Depois de privá-lo da paternidade, Mia tenta tirar-lhe a homenagem, e a filha pede que ninguém veja os filmes do ex-pai. (Luiz Zanin comentou muito bem esse ponto em seu artigo no Estado: mesmo que ele seja culpado, sua obra subsiste).
Mas há uma relação entre os dramas de 1992 e a obra de Woody Allen. Lembram temas seus. Se ele rodasse westerns ou thrillers, sua história pessoal nada teria a ver com seus filmes. Mas Allen dirige e protagonizou, inclusive contracenando com suas parceiras Diane Keaton e Mia Farrow, várias películas como um personagem neurótico, atrapalhado, que se equilibra entre a busca da felicidade e a da sanidade. Difundiu assim a crença de que ele, ator e personagem, é ele, pessoa. O contrário exato do que diz Fernando Pessoa sobre o poeta, fingidor que finge que é dor a dor que deveras sente. Essa identidade mais que duvidosa entre ator e personagem, no caso dele, é tomada como uma certeza. Daí que tantos acreditem vê-lo em seus filmes. Há quem cultue, ainda hoje, a ideia de que a obra expressa a verdade íntima de seu autor.
Ora, dá para fazer um filme de Woody Allen com uma dessas histórias? Sim e não. Com o abuso sexual, nem pensar. Nenhuma película dele trata de uma violência tão dura, no limite do irrepresentável, que impossibilita qualquer humor. Já o caso de amor com Soon-Yi poderia dar um filme seu, mas de final diferente. Seria um amor platônico, com muitas palavras, mas provavelmente sem toque físico, ao fim do qual a moça e a mãe encontrariam novos parceiros, com o personagem masculino frustrado e, ao mesmo tempo, enunciando uma frase final com aquele toque de humor que é a maneira de Allen lidar com a frustração, a derrota. A realidade foi mais bem-sucedida, foi melhor (para o casal) do que teria sido um filme. Mas no horizonte permanece esse imaginário alleniano sobre a dificuldade atual das relações amorosas.
Provavelmente nunca saberemos se Allen fez mal a Dylan. Mas, partindo do princípio de que o abuso sexual é sempre repugnante, parece-me que a história vai além dele, tratando de medos atávicos, a traição, a traição pelo pai e pela mãe, a traição pela filha. Talvez por isso, mereça ser falada. A fala pode libertar. Mas sob a condição de que falemos de nossos medos, em vez de gastar tempo discutindo quem é culpado, num enredo inextricável e provavelmente sem saída.
RENATO JANINE RIBEIRO, PROFESSOR TITULAR DE ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA DA USP, É AUTOR DE A UNIVERSIDADE E A VIDA ATUAL