O futuro econômico do Brasil é melhor do que o clima atual indica e o crescimento pode voltar ao patamar de 4% ao ano, opina o economista britânico Jim O'Neill, ex-executivo do banco de investimentos Goldman Sachs e conhecido por ter criado a sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) para englobar as principais economias emergentes.
O tom otimista da palestra de O'Neill, nesta sexta-feira, em um congresso da BM&FBovespa em Campos do Jordão (SP), contrastou com a percepção predominante entre analistas brasileiros de que o crescimento do PIB – de 1,5% no segundo trimestre – não resultará em uma retomada econômica mais robusta.
"Suspeito que o futuro (do Brasil) não seja tão sombrio quanto o que tenho ouvido aqui", disse o economista, alegando que a média de crescimento do país é hoje superior à do início da década passada, quando criou o acrônimo BRIC. "O Brasil está melhor, e não pior."
Ele diz que o país tem apresentado indicadores melhores no que chama de "nota de ambiente de crescimento" - como estabilidade política, expectativa de vida, índices de corrupção e até uso de computadores e smartphones.
O economista diz ainda que o comércio sul-sul (realizado sobretudo entre países emergentes) está próximo de alcançar o comércio norte-norte (entre os países desenvolvidos).
"(Mas) para o Brasil melhorar precisa de mais investimentos do setor privado. É preciso aumentar a oferta (econômica), mas não com mais gastos do governo, e sim com o governo saindo do caminho e facilitando a iniciativa privada", declarou.
'E o país precisa ser parte maior da economia global – o país ainda é visto como muito fechado e precisa se relacionar mais com os demais 7 bilhões de pessoas do mundo."
China
A fala de O'Neill ocorre no momento em que países ricos, como os EUA, apresentam sinais de recuperação, enquanto emergentes – até recentemente fortes motores da economia global – vivem uma desaceleração.
A China, em especial, deixou de crescer a taxas de dois dígitos e tem como meta para 2013 crescer 7,5%.
O'Neill, porém, diz acreditar que o governo chinês escolheu crescer a taxas mais baixas para se manter sustentável.
"E esses 7,5% são equivalentes a um crescimento de 3,75% na economia dos EUA, porque seu impacto econômico está cada vez maior."
O'Neill ressalva que não adianta países emergentes como o Brasil tentarem repetir as taxas de crescimento econômico chinesas – algo, segundo ele, só permitido pela situação demográfica da China, país mais populoso do mundo.
BRIC e câmbio
Questionado a respeito do anúncio do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que os BRICS (incluindo a África do Sul) trabalham na criação de um banco de desenvolvimento conjunto, O'Neill disse que até agora o grupo de emergentes "falou muito mas não fez nada juntos politicamente".
"Não é fácil fazer coisas juntos quando se é tão diferente entre si. O fato de terem concordado nisso é muito interessante".
Quanto à desvalorização do real – que ocorre ao mesmo tempo em que outras moedas internacionais perdem força perante o dólar -, O'Neill vê a flutuação como natural e até positiva para o Brasil.
"Mas se querem reduzir sua volatilidade (à moeda americana), têm de aumentar o uso de sua própria moeda no comércio mundial."