domingo, 2 de junho de 2013

Ecos da modernidade


Em ensaio exclusivo para o 'Aliás', antropólogo francês discute as fronteiras entre o silêncio e o barulho na modernidade

01 de junho de 2013 | 15h 51

David Le Breton
O barulho é um som de valor negativo, uma agressão ao silêncio ou simplesmente à tranquilidade necessária à vida em comum. Causa um incômodo àquele que o percebe como um entrave a seu sentimento de liberdade e se sente agredido por manifestações que não controla e lhe são impostas, impedindo-o de repousar e desfrutar sossegadamente de seu espaço. Traduz uma interferência dolorosa entre o mundo e o eu, uma distorção da comunicação em razão da qual as significações se perdem e são substituídas por uma informação parasita que provoca desagrado ou aborrecimento. O sentimento do barulho surge quando as sonoridades ambientes perdem sua dimensão de sentido e se impõem como uma agressão irritante, da qual não há como se defender. Mas o sentimento do barulho põe em relevo, antes de mais nada, um contexto social e a interpretação que o indivíduo faz do ambiente sonoro em que se encontra. Às vezes, o mesmo som é inversamente percebido por outra pessoa como um invólucro sonoro que lhe é indiferente. O barulho não tem objetividade; trata-se de mera sensibilidade individual.
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No limite, o barulho constante das ruas, absorvido pelo indivíduo como algo alheio a sua influência, acaba sendo abafado, ao passo que os excessos sonoros dos vizinhos são percebidos como indesejáveis e como violações da intimidade pessoal. O barulho é uma zona sensível da sociabilidade. Na França, muitas das queixas registradas nas delegacias de polícia referem-se a conflitos entre vizinhos em torno da questão do barulho: televisão, rádio, dispositivos musicais em volume alto, festas noturnas, etc., que invadem a intimidade. A vítima do barulho se sente expulsa da própria casa, invadida, seu espaço interior destruído. Ela é forçada a recuar até suas últimas trincheiras, e o barulho se impõe então como uma forma insidiosa de violência. E, reagindo a essa sensação de estar sendo atormentada, vez por outra a vítima toma uma atitude radical. Muitos incidentes que chegam às páginas dos jornais, um dos mais recentes ocorrido em São Paulo, atestam isso, e o fenômeno está presente em diversas sociedades: os homens (nunca, ou quase nunca, as mulheres) sentem-se incomodados com o barulho e, sem conseguir sensibilizar os vizinhos e fazer com que abaixem o som, acabam pegando uma arma e atirando contra eles ou contra os arruaceiros que teimam em ficar escutando música no último volume bem embaixo de sua janela, às vezes em plena madrugada. Uma violência responde à outra, mas sem nenhuma nuance, traduzindo, todavia, o sentimento de impotência da pessoa que se encontra à mercê do barulho e também seu sentimento de não poder suportar tamanha invasão de si. O conto de Kafka A Construção ilustra muito bem essa violência do barulho que acaba por tornar impossível qualquer repouso, inviabilizando mesmo a própria existência. Mas os barulhos produzidos por nós mesmos não são percebidos como incômodo: eles têm um sentido. Quem faz barulho são sempre os outros.
O sentimento do barulho se difundiu sobretudo com o nascimento da sociedade industrial – e a modernidade o intensificou de maneira desmesurada. O desenvolvimento técnico caminhou de mãos dadas com a penetração ampliada do barulho na vida cotidiana e com uma crescente impotência para controlar os excessos. Novos sons adentraram os apartamentos com o rádio, a televisão, os eletrodomésticos, o telefone, os aparelhos cada vez mais possantes de reprodução musical, etc. E isso no interior de apartamentos ou casas que não foram projetados para represar esses ruídos, sem os impor à vizinhança, degradando assim a tranquilidade do lar. Do mesmo modo, as casas suportam mal as infiltrações sonoras provenientes das ruas adjacentes. Embora sejamos capazes de abstrair os outros sentidos, espantando um odor ou fechando os olhos diante de um espetáculo pouco agradável, a audição resiste a tudo. O sentimento do barulho é a consequência disso.
À profusão de barulhos produzidos pela cidade, à circulação incessante dos automóveis, nossas sociedades acrescentam novas fontes sonoras com os televisores ligados e a música ambiente que toca no interior das lojas, dos cafés, dos restaurantes, dos aeroportos, etc., como se fosse preciso afogar permanentemente o silêncio em lugares onde a palavra se troca no interior de um universo de sons que ninguém escuta, que enervam às vezes, mas que teriam o benefício de emitir uma mensagem tranquilizante. Antídoto ao medo difuso de não se ter o que dizer, infusão acústica de segurança cuja súbita ruptura provoca um desconforto redobrado. A música ambiente tornou-se uma arma eficaz contra certa fobia do silêncio. Esse persistente universo sonoro isola as conversas particulares ou encobre os devaneios, confinando cada um em seu espaço próprio, equivalente fônico dos biombos que encerram os encontros em si mesmos, criando uma intimidade pela interferência sonora assim forjada em torno da pessoa.
A modernidade inventou a constância da sonoridade e a capacidade de propagá-la por meio de alto-falantes. O sujeito que não suporta o silêncio tem a oportunidade de recorrer, na totalidade de fatos e gestos da vida cotidiana, a um ruído de fundo. Ao chegar em casa, pode ligar seu rádio ou sua televisão, pode assistir um vídeo ou escutar uma fita cassete ou um CD. O barulho tem um efeito narcótico tanto no interior do apartamento, como no meio da rua, ele tranquiliza quanto à permanência de um mundo sempre incólume. Projeta uma linha de audição controlável e reconhecível, à maneira de uma tela que põe fim à turbulência e à profundidade perturbadora do mundo.
Nossas cidades são particularmente vulneráveis às agressões sonoras. O barulho se propaga e atravessa grandes distâncias. As operações de liquidação do silêncio abundam. Não são deliberadas, mas agregam os barulhos do meio urbano ou simplesmente técnico; sitiam os lugares ainda preservados, incultos, abandonados à pura gratuidade da meditação e do silêncio. A modernidade assinala uma tentativa difusa de saturação do espaço e do tempo por uma emissão sonora sem fim. Sendo uma zona não explorada, em estado de suspensão, livre de uso, o silêncio provoca uma reação de preenchimento, de animação, que tem por intuito dissolver a provocação do "inútil" por ele acobertada. Pois, aos olhos de uma lógica produtiva e comercial, o silêncio não serve para nada, ocupa um tempo e um espaço que poderiam se beneficiar de um uso mais rentável. Para a modernidade, o silêncio é um resíduo à espera de utilização mais lucrativa, assemelha-se a um terreno baldio no centro da cidade, representa uma espécie de desafio lançado ao imperativo de torná-lo rentável, de fazê-lo retribuir com uma utilidade qualquer, pois, enquanto não o faz, o silêncio é pura perda. Anacrônico, um domínio onde o barulho ainda não penetrou, o silêncio é um arcaísmo que precisa encontrar seu remédio. Soa como uma pane ensurdecedora do sistema. O silêncio é um resto, aquilo que o barulho ainda não conseguiu invadir ou degradar, aquilo que os meios ou as consequências das técnicas ainda poupam.
O contexto barulhento de nossas sociedades e a transformação que as sensibilidades coletivas sofreram nesse aspecto ao longo dos últimos anos induzem a uma irritação crescente com o barulho. Uma legislação mais atenta o regulamenta e procura contê-lo dentro de limites precisos. A intenção é proteger os que trabalham em ambientes sonoros insalubres ou manipulam ferramentas barulhentas, atenuar os ruídos dos canteiros de obras a fim de reduzir a poluição sonora para os habitantes das redondezas, regular a circulação de cargas nas cidades, restringindo-a a horários específicos, oferecer uma estrutura jurídica capaz de lidar com os conflitos entre vizinhos quando da utilização imprópria de instrumentos sonoros ou da ocorrência de manifestações inconvenientes (algazarra noturna, por exemplo). Nos planos de urbanismo é maior a preocupação em estabelecer zonas de silêncio. As pessoas com frequência se mobilizam contra projetos envolvendo a construção de estradas, aeroportos, etc., que desfigurariam a acústica de um determinado lugar. E a legitimidade social de tais reivindicações já não sofre muita objeção. O direito ao conforto acústico (a preservação de parte do silêncio) tornou-se uma zona sensível da sociabilidade, um valor unânime em resposta à amplificação ambiental do barulho. O mais extraordinário é que, assediado de todos os lados, o silêncio pouco a pouco se tornou uma referência comercial de peso na promoção de produtos, regiões e passeios turísticos. As empresas e as agências publicitárias também se deram conta da necessária valorização do silêncio numa vida cotidiana perseguida pelo barulho.
Atualmente, valorizamos o silêncio do motor de um carro, dos eletrodomésticos, dos cortadores de grama, etc. O argumento é um eficaz recurso de marketing. O setor de insonorização cresceu muito nos últimos anos. As pessoas isolam acusticamente os apartamentos, os escritórios, os ateliês... Não se tolera mais que o motor do carro, do avião ou do trem atrapalhem as conversas. Cada um se esforça, em princípio, para reduzir suas produções sonoras e espera, em retribuição, que os vizinhos tenham a mesma preocupação. O silêncio torna-se riqueza moral, comercial, turística, ecológica, etc. Espécie em vias de extinção, seu preço sobe diariamente e mobiliza uma atitude de preservação mais ou menos eficaz e interessada. Por outro lado, centenas de milhões de pessoas que gostam de caminhar na natureza deixam as cidades em busca de paz, de silêncio, de conversas, de descobertas, de lentidão. Querem deixar para trás o barulho e os ritmos que lhes são impostos na vida atual, encontrando, por fim, o apaziguamento e a interioridade. /Tradução de Alexandre Hubner
* David le Breton é professor de sociologia na Universidade de Estrasburgo (França). Autor, entre outros, de Du Silence (Métailié). Suas últimas obras traduzidas no Brasil foram Antropologia do Corpo Modernidade (Vozes), As Paixões Ordinárias (Vozes) eAdeus ao Corpo (Papirus). Escreveu este ensaio especialmente para o Aliás.

Networking do xadrez, do Aliás


Prisões dominadas pelo PCC ajudam detentos a ampliar a rede criminal

01 de junho de 2013 | 16h 27

Bruno Paes Manso
Em abril, São Paulo ultrapassou a casa dos 200 mil presos. Eles se amontoam em apenas 102 mil vagas disponíveis no sistema penitenciário paulista. Quais os resultados dessa política de encarceramento em massa? A socióloga Camila Nunes Dias, que lança na quarta-feira o livro PCC – Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência (Editora Saraiva), em que descreve o papel da facção nas prisões de São Paulo, mostra como os efeitos colaterais do remédio (a pena de privação de liberdade) podem, muitas vezes, ser piores que a própria doença a ser curada (o crime). Diante da força do PCC, ela afirma que o sistema penitenciário vive um impasse.
Camila Nunes Dias, socióloga  - Divulgação
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Camila Nunes Dias, socióloga
Atualmente, em vez de ser o instrumento de punição para coibir os crimes, o sistema prisional tornou-se etapa importante para ascensão no universo criminal. Nos presídios, graças aos longos tentáculos sociais do PCC, os criminosos ampliam as oportunidades de fazer contatos com quadrilhas organizadas. Para eles, as prisões, assim, deixam de ser vistas como ameaça e se transformam em oportunidade para o sucesso na carreira.
O PCC, ao mesmo tempo, garantindo a ordem no cárcere, acaba se fortalecendo e ampliando sua legitimidade entre os criminosos. Desatar esse nó, segundo ela, é um dos maiores desafios da política de segurança pública nos dias de hoje.
Mais forte
"A maior prova de força atual da facção é a capacidade do PCC de manter a ordem social nas prisões, a despeito das péssimas condições do encarceramento. Celas de 12 lugares têm 50 presos. A situação é muito precária no sistema e o PCC segura os motins e rebeliões. Se o PCC representasse minimamente a população carcerária, a gente teria hoje rebeliões maciças por melhores condições nas prisões. Mas, em vez disso, o PCC se tornou um ator político que mantém certa ‘acomodação’ com o Estado. O que o PCC ganha em manter a calma no sistema? As principais lideranças do PCC estão cumprindo pena em unidades comuns, em vez de serem mandadas para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Enquanto a maioria dos Estados manda seus criminosos para presídios federais, São Paulo não manda.
Ordem nos presídios
"Irmãos do PCC fazem a mediação de diversos tipos de conflitos nos presídios: resolvem problemas com visitas, com comida, etc. Em algumas unidades eles controlam o acesso a bens materiais, como itens de higiene e medicamentos. Muitas vezes, a administração prisional passa os medicamentos para que eles distribuam à população carcerária. Isso vai depender da unidade. As lideranças têm um papel muito importante na regulação dos conflitos que ocorrem na prisão, no acesso a bens materiais básicos e de produtos ilícitos, como maconha, cocaína e bebidas alcoólicas. A administração prisional acaba muitas vezes legitimando os presos como seus interlocutores. Eu testemunhei um problema que houve na cozinha de um presídio. O responsável da administração teve que conversar com o piloto do PCC para autorizar a tirar o detento que estava dando problema.
Alcance nacional
"O PCC passa por três fases. A primeira, quando ele nasce, em 1993, até 2001, quando ocorre a primeira megarrebelião. O PCC começa a se expandir pelas unidades prisionais pelo uso recorrente da violência. Havia decapitações e outras formas de matar. A partir da primeira megarrebelião, o PCC mostra a cara. A reação do Estado foi sobretudo a criação do Regime Disciplinar Diferenciado, que nunca cumpriu o objetivo de desarticular o PCC. Em 2006, ocorrem novos ataques, em maio, fase que se caracteriza pela consolidação do PCC, não só dentro como fora das prisões. Acho que a facção vai atualmente em direção a uma quarta fase, que eu chamo de nacionalização. Há evidências muito fortes da presença de membros e sintonias do PCC em diversos Estados. Há casos em que não existem dúvidas sobre a presença do PCC, como Mato Grosso do Sul e Paraná. Acho que vai haver configurações diferentes conforme o Estado, de acordo com as articulações com o crime local.
Carreira criminal
O criminoso não quer ser preso, claro. Mas passar pela prisão representa hoje um ganho simbólico. É um status para a carreira do criminoso. A prisão também é uma etapa positiva no sentido de ampliar a possibilidade de se inserir em redes mais complexas de crime. A prisão é mais do que uma faculdade. O ladrão de carro, por exemplo, que age sozinho, vai ter contato com uma série de pessoas. Quando ele sair de lá, vai poder se inserir em uma rede criminal mais complexa, que envolve levar o carro para outro país, trocar por drogas, etc. A prisão possibilita a ampliação dos contatos, o fortalecimento dos laços no mundo do crime e da ideologia que é a base do PCC. O Estado, muitas vezes, ressalta o aspecto da violência do PCC. Óbvio que há violência. Mas apenas esse aspecto não explica o tamanho do PCC. É importante compreender como o discurso contra a opressão ganha legitimidade conforme aumenta a opressão do Estado contra os presos.
Homicídios
"Vejo como clara a relação entre o PCC e a queda dos homicídios. No espaço prisional é nítido. Fora das prisões, o papel da facção também é importante. Na medida em que o PCC se apropria da possibilidade de aplicar punições àqueles que transgridem a lei, você cria uma instância de mediação e regulação de conflito. O PCC é essa instância de mediação. Nos debates promovidos pela facção, os lados em conflitos são chamados para ponderar e encontrar solução. Dentro das prisões é quase impossível morrer um preso. Antes, um preso tinha um problema com o outro, ia lá e matava. O outro grupo se vingava, criando um ciclo. Com a ascensão do PCC, esses ciclos de vingança se rompem, porque nenhum preso hoje pode dar um tapa no outro sem autorização do PCC. Fora, é mais ou menos igual. Os conflitos vinculados a atividades ilícitas em grande parte são regulados pelo PCC. Existe uma hegemonia no mercado de drogas. E quando essa hegemonia existe, os homicídios não interessam.
Nobel da paz
"O coronel José Vicente da Silva (ex-secretário nacional de Segurança) me provocou em um programa de TV ao perguntar se não era o caso de dar o Nobel da Paz ao PCC ou levá-lo para resolver o problema de homicídios na Bahia. Sobre o Nobel da Paz, o PCC não medeia os homicídios porque é bonzinho e valoriza a vida, mas por uma questão de negócios. Nas primeiras fases, matar era preciso. Agora que o poder se consolidou em São Paulo, matar é antieconômico. Em relação aos outros Estados, em muitos a violência está relacionada à disputa no mundo do crime. E o PCC atua nessa disputa e mata para ganhar mercado. Quando é preciso matar, ele mata." 

O câmbio, a renda e a indústria - SAMUEL PESSÔA

 

FOLHA DE SP - 02/06

Políticas que desvalorizam o câmbio em 20% são associadas às que reduzam a renda das famílias em 5%


Na quarta-feira que passou, o IBGE divulgou o resultado das contas nacionais referentes ao primeiro trimestre de 2013. Novamente o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) decepcionou.

Crescemos míseros 0,6% ante o quarto trimestre de 2012. Se mantivermos essa toada nos três trimestres restantes de 2013, teremos crescido 2,3% no ano ante 2012.

Pela ótica da oferta, o setor que mais decepcionou foi a indústria.

A indústria de transformação cresceu 0,3% ante o quarto trimestre de 2012. Tomando como base o terceiro trimestre de 2008, a indústria de transformação encontra-se em um nível 5,5% abaixo.

Serão cinco anos, de 2009 até 2013, com a indústria de transformação rodando abaixo do pico pré-crise.

Há diversos economistas que consideram a indústria de transformação como o setor que lidera o crescimento econômico. Esses mesmos analistas avaliam que o problema de desempenho está associado a um câmbio muito valorizado.

Na coluna de hoje não debaterei essas duas proposições. Mostrarei as dificuldades de alterar o câmbio.

Peço ao leitor paciência para se debruçar um instante sobre o gráfico desta página.

Cada ponto do gráfico contém duas informações. No eixo horizontal está representada a renda média da população brasileira medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada anualmente pelo IBGE. O IBGE vai a campo no mês de setembro de todos os anos e entrevista amostra representativa da população brasileira de 300 mil domicílios.

Como os diversos dados de renda correspondem ao mês de setembro em diferentes anos, coloquei todos os dados em R$ de setembro de 2009 para controlar o efeito da inflação. Empreguei como indexador o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE.

Os dados referem-se aos anos de 1995 até 2011, excluindo 2000 e 2010, anos de censo demográfico, quando não há Pnad.

No eixo vertical se lê a segunda informação de cada ponto do gráfico: a taxa de câmbio real referente ao mês de setembro de cada ano.

A taxa de câmbio real é dada pela taxa de câmbio nominal corrigida pela diferença da inflação doméstica com a inflação de nossos parceiros comerciais.

Por exemplo, se houver inflação de 10% por aqui e nos países com os quais comercializamos a inflação for nula, o câmbio real terá valorizado em 10% se o câmbio nominal tiver ficado parado.

O gráfico expõe de forma cristalina as dificuldades da indústria. Há clara e elevada correlação negativa entre câmbio e renda. Se o câmbio desvaloriza-se, a renda cai e vice-versa.

Ou seja, para atendermos aos interesses legítimos da indústria de um câmbio mais desvalorizado temos que avançar sobre o interesse legítimo das famílias brasileiras de maior renda.

A correlação entre ambas as variáveis sugere que políticas que desvalorizam o câmbio em 20%, o que levaria o real a ser cotado em 2,5 por dólares americanos, são associadas a políticas que reduzam a renda das famílias em 5%. Essa queda é próxima da queda de 7% na renda média da Pnad observada em 2003 ante 2002.

Falta à indústria encontrar algum político que defenda a sua bandeira em 2014.