Pouco do projeto original, que previa ainda 75 estações, virou realidade, após 45 anos
31 de março de 2013 | 2h 05
ARTUR RODRIGUES E CAIO DO VALLE - O Estado de S.Paulo
Uma linha amarela ligando a Estação Jockey Club, na zona oeste, à Via Anchieta, na sul, cruza com a linha vermelha, que vai da Estação Casa Verde à Vila Maria, ambas na zona norte. O projeto original do metrô paulista, que está completando 45 anos, se parece só um pouco com o que virou realidade. A proposta indicava que São Paulo deveria ganhar 75 estações, oito a mais do que as existentes hoje.
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O traçado da rede básica, entregue em 1968 à gestão do prefeito José Vicente Faria Lima (1965-1969) - à época, a Companhia do Metropolitano pertencia ao governo municipal -, era composto por quatro linhas, denominadas conforme o traçado.
Elaborado pelo consórcio alemão HMD (das empresas Hochtief, Montreal Empreendimentos e Deconsult), o esquema era ousado, com ambição de transformar a mobilidade em uma metrópole que já sofria com os congestionamentos e a falta de um bom transporte coletivo.
Visto hoje, o projeto pode ser interpretado como o "futuro do pretérito" da rede metroviária da capital, feito para uma cidade que acabou não acontecendo. Talvez, a própria não concretização dessa cidade idealizada se deva, em parte, ao fato de que apenas algumas das projeções para o metrô tenham saído do papel. A principal é o que se chama atualmente de Linha 1-Azul, aberta em 1974, três anos após a data prometida.
No tempo de Faria Lima, até os prazos eram arrojados. Os estudos tinham como cenário e meta o ano de 1987.
Pela proposta alemã, naquele ano, os paulistanos deveriam ter à disposição 66,2 quilômetros de metrô, uma extensão que só seria atingida (pasmem) mais de duas décadas depois.
Hoje, a rede metroviária tem 74 quilômetros de comprimento, acanhada perto de cidades menores, como Londres (402 quilômetros) e Santiago do Chile (103 quilômetros).
Cultura do carro. O então prefeito foi ainda mais longe e, na introdução que escreveu para o projeto original, afirmou que São Paulo precisaria de 360 quilômetros de linhas de metrô em 1990. Mas por que os sucessivos governos do município e, depois, do Estado falharam em seguir até mesmo o plano de 1968, entregando os ramais em um ritmo muito lento?
De acordo com o Metrô, além da insuficiência de recursos, a cultura do automóvel "refletiu-se diretamente, então, no ritmo insatisfatório de metrô para a dimensão em que a metrópole foi se transformando".
Por sua vez, o presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp), José Geraldo Baião, avalia que a execução foi estancada porque a fonte de dinheiro secou. "Depois de inaugurarmos a primeira linha em 1974, houve a crise do petróleo. Foi um incentivo a mais para investir em transporte eletrificado, mas, ao mesmo tempo, tivemos problemas financeiros que ficaram mais latentes nas décadas de 1980 e 1990."
Em 1968, a cidade tinha 5,8 milhões de habitantes. Hoje, são 11 milhões de moradores. Muitos deles vivendo nos extremos da capital, que são carentes de metrô.
A arquiteta e urbanista Lucila Lacreta, diretora do Movimento Defenda São Paulo, acredita que a capital seria melhor hoje se, em 1987, todo o projeto tivesse sido concretizado. "Provavelmente, teriam a capacidade de continuar planejando mais metrô conforme o crescimento da cidade." Para ela, o curso da administração pública na época da ditadura militar seguiu pelo caminho errado, apostando no modelo rodoviário.
Fantasmas. A maior das linhas do projeto inicial era a que ligaria o Jockey à Via Anchieta, com 23,8 quilômetros e 26 estações. A mais parecida com as de hoje, a Santana-Jabaquara, teria 21 quilômetros, 23 estações e um ramal até Moema, na zona sul, parcialmente construído a partir da Estação Paraíso.
Na atual Estação Pedro II é possível ver outra construção fantasma: a plataforma do que seria a parada do ramal Pedro II-Vila Bertioga, na zona leste.
O atual governo do Estado promete "a maior ampliação de metrô" da história paulistana, com quatro linhas em obras (extensões da 4-Amarela e da 5-Lilás e construção da 15-Prata e 17-Ouro).
Espera-se que, desta vez, o plano seja seguido.
Trens trariam 'horas de economia para todos'
31 de março de 2013 | 2h 03
ROSE SACONI / DO ARQUIVO - O Estado de S.Paulo
Em 1968, quando o projeto do metrô foi concebido, os moradores e políticos de São Paulo sonhavam com um novo meio de transporte subterrâneo capaz de fazer evaporar o engarrafamento das ruas. O objetivo maior era oferecer um meio de transporte rápido para milhões de paulistanos. "Serão muitas horas de economia para todos", apostavam os técnicos da prefeitura. "O metrô não será apenas a solução dos problemas de transportes coletivos da capital, será importante também para o desenvolvimento industrial de todo o Brasil", declarou na época ao Estado o prefeito Faria Lima.
As expectativas eram muitas para o ano de 1972, quando a primeira linha Norte-Sul estivesse concluída. As equipes responsáveis pela arquitetura do metrô anunciavam um projeto inspirado em Paris, "com cancelas automáticas que se fecham quando o trem entra na estação, além de perfeita iluminação dos ambientes e jogo de cores". Nos jornais, os esboços de três protótipos do logotipo de identificação das estações do futuro metrô provocavam a curiosidade das pessoas.
"Metrô começa no segundo semestre", anunciou o Estado em sua edição do dia 2 de abril de 1968. A extensão total da linha Norte, a primeira a ser inaugurada, incluía um ramal para Moema, com um total de 23 estações, informou a reportagem.
A primeira linha deveria estar toda concluída em 1972. O trecho Sul, entre Liberdade e Jabaquara, entraria em operação já em 1971. "A segunda linha, Leste-Oeste, começará dois anos após o início da primeira e assim sucessivamente em relação aos demais trechos: Sudeste-Sudoeste e Avenida Paulista."
Em 24 de abril de 1968 foi formada oficialmente a Companhia do Metropolitano. "Inicia-se hoje uma empresa destinada a ombrear-se, dentro de pouco tempo, com as maiores da América Latina", disse o prefeito Faria Lima.