quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O urgente não deixa tempo ao necessário


BIANCA RIBEIRO - O Estado de S.Paulo 11 out 12
O governo parece preferir ser criticado por avançar pouco em alívios pontuais da carga de impostos no País a insistir na aprovação de uma reforma abrangente do sistema tributário, que causa embates e frustrações intrínsecos ao tema sempre que vai ao Congresso.
Várias desonerações foram anunciadas desde o ano passado, para estimular a economia. Alguns especialistas avaliam ser iniciativas pragmáticas que rendem resultados no curto prazo, mas destacam também que os atalhos para reduzir o peso dos tributos resultam em novos nós no já embaraçado e pesado sistema de impostos do País.
Desde 1989, um ano após a promulgação da atual Constituição, alterações, emendas e reformas vem sendo propostas, já que a nova Carta não alterou significativamente o regime estabelecido na Constituição de 1967. A última tentativa de alterar esse conjunto de regras partiu da própria União, com a Proposta de Emenda Constitucional 233, de 2008, que previa redução e simplificação do número de tributos, bem como redução da carga de impostos, que passou de 25,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1993 para 35,88% do PIB em 2011 e deve ultrapassar 36% do PIB em 2012.
A proposta não vingou e o tema voltou à tona após a crise europeia, que piorou as condições de competitividade da indústria, levando o governo a formatar mudanças em camadas, para facilitar aprovações ponto a ponto.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), há necessidade e espaço para arranjos pontuais que desafoguem a pressão fiscal sobre as empresas e também projetos para o futuro que sejam mais estruturantes.
"O aperfeiçoamento do sistema tributário brasileiro deve ser buscado em duas frentes: a discussão sobre o desenho de uma reforma completa e, em paralelo, a promoção de mudanças que ataquem alguns problemas do sistema atual. Temos de combinar o idealismo com o pragmatismo", diz o gerente executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
"Não podendo fazer uma grande reforma, são feitos puxadinhos que acomodam necessidades imediatas mas não deixam a casa estruturada", critica a sócia responsável pela área tributária do escritório TozziniFreire Advogados, Ana Claudia Utumi.
Passos dados. O advogado e sócio da Machado, Meyer, Sendacz e Opice, Marcelo Fortes, acredita que o modelo "fatiado" resolve pontos críticos. "Não é preciso uma reforma ampla para racionalizar o sistema tributário. Pragmaticamente não seria necessário mexer na Constituição", diz. "O movimento do governo é compreensível e tenta minimizar distorções, mas uma reforma constitucional na área de tributos é necessária", defende o advogado tributarista Paulo César Vaz, do Vaz, Barreto, Shingaki & Oioli Advogados.
Dos passos já dados pelo governo, destacam-se o fim da guerra dos portos, obtido com a aprovação pelo Senado da Resolução 72, que entra em vigor no começo de 2013 e estabelece uma alíquota única de 4% para o Imposto sobre Circulação de Produtos e Serviços (ICMS) no comércio interestadual de produtos importados.
A medida deve impedir benefícios oferecidos em alguns Estados, que ganham com o tributo na transferência para onde os produtos são processados ou consumidos. Mas há dúvidas sobre a eficiência da resolução. Segundo Vaz, esse tipo de disputa pode se prolongar por causa da dificuldade em regulamentar o assunto. "Já há Estados tentando burlar esse impedimento", complementa Marcelo Fortes.
O governo também avançou na redução dos custos com energia elétrica, por meio de eliminação e/ou redução de encargos setoriais que oneravam essa conta tanto para empresas como para residências e devem garantir contas de energia pelo menos 7% menores a partir do próximo ano. Mas os especialistas lembram que o governo não fez desoneração tributária nesse caso e a maior parte do corte de custo de energia dependerá da renovação das concessões de geração de energia que deverão garantir tarifas mais baixas. Isso, porém, só deverá ser dimensionado a partir de fevereiro de 2013.
Outro ponto da agenda é a desoneração da folha de pagamentos, aplicada a 40 setores e podendo ser ampliada para outros. Com esse mecanismo, o governo abre mão da contribuição patronal ao INSS, de 20%, recolhida na folha, em troca de uma alíquota de 1% a 2% do faturamento das empresas. Sobre essa questão específica, alguns advogados levantam controvérsias. A desoneração não favorece todas as empresas do setor contemplado e, em muitos casos, pode elevar a carga de impostos do empregador, dependendo do volume de empregados.
Paulo Vaz lembra também que, embora o governo defenda ser essa uma desoneração permanente, ela não está garantida a partir de 2014 e, portanto, deve ser vista como provisória. "É precária e indefinida", diz Vaz. Outra crítica constante sobre esse tipo de desoneração é o modelo setorizado. "A opção que o governo adota há algum tempo é de ajudar quem grita mais forte. Os setores que reclamam é que conseguem redução de impostos ou incentivos", diz Ana Claudia.

Publicação apresenta raio-x da gestão dos resíduos da construção civil


Dados sobre as áreas de destinação e reciclagem, os avanços do setor e as políticas públicas, foram destaques de encontro Resíduos da Construção Civil – Soluções e Oportunidades

Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Reeducar. A Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SMA e o  Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) promoveram nesta quinta-feira, 17, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, o encontro técnico “Resíduos da Construção Civil – Soluções e Oportunidades”.
Na oportunidade, o secretário adjunto de Meio Ambiente, Rubens Rizek, anunciou a assinatura do decreto que regulamenta o Programa Estadual de Construção Civil para a semana do meio ambiente, no início de junho. Durante o evento, foi lançada a publicação “Resíduos da Construção Civil e o Estado de São Paulo”.
Participaram dos debates diversas autoridades e representantes do setor. Rubens Rizek, que ao lado de Sergio Watanabe, presidente do SindusCon-SP, realizou a abertura do evento,  falou sobre as ações desenvolvidas pelo convênio entre as duas entidades representadas.
“Já demos diversos passos para auxiliar o setor em melhores práticas. Agora, falta um bloco normatizo para darmos um passo ainda maior. Queremos fazer isso no próximo dia 5 de junho, quando pretendemos assinar o decreto da Construção Sustentável. A SMA dá todo o apoio para o fomento da cadeia de reciclagem na Construção Civil. A reciclagem dos resíduos da construção é uma grande oportunidade”, afirmou.
Sergio Watanabe, reforçou o papel do SindusCon-SP como articulador do setor. “Incentivamos as construtoras paulistas na melhor gestão dos resíduos. Pretendemos levar esta experiência para todo o Estado por meio de um sistema informatizado que lançaremos em breve”.
Raio-x
A publicação “Resíduos da Construção Civil e o Estado de São Paulo” é um levantamento elaborado em 348, dos 645, municípios do Estado de São Paulo para verificar a situação atual dos resíduos da construção civil no Estado. Além disso, foram apresentados dados sobre as políticas públicas e as iniciativas realizadas por atores da cadeia da construção civil que podem colaborar à melhor gestão dos resíduos no setor. A publicação está disponível no site.
Para fazer o lançamento da publicação “Resíduos da Construção Civil e o Estado de São Paulo”, André Aranha Campos, coordenador do Comitê de Meio Ambiente do SindusCon-SP explicou a atuação da instituição desde o ano 2000, quando começou a realizar ações para a sustentabilidade. Com ele, João Luiz Potenza, diretor do Centro de Projetos da Coordenadoria de Planejamento Ambiental da SMA, apresentou dados inseridos no levantamento.
As importantes conclusões que o estudo chegou mostram que 177 municípios possuem Áreas de Transbordo e Triagem (ATTs), 63 possuem recicladoras de resíduos da construção civil e 62 com aterro. Além disso, 39% dos municípios consultados têm legislação específica sobre Resíduos da Construção e Demolição (RCD).
Encontros regionais
Durante o evento, também foi divulgada a realização de outros nove eventos nas regionais do SindusCon-SP, que terão o objetivo de disseminar as questões que envolvem a Política Nacional de Resíduos Sólidos,  capacitar os agentes envolvidos e tirar dúvidas  sobre prazos e metas a serem cumpridos. As cidades são: Sorocaba (29/06), São José do Rio Preto (12/07), Campinas (24/07), Santo André (8/08), Presidente Prudente (23/08), Ribeirão Preto (15/09), além de Bauru, Santos e São José dos Campos, cujas datas ainda serão definidas.
Políticas Públicas
As políticas Estadual e Nacional de Resíduos Sólidos foram destaque do primeiro painel do evento, com a participação de Ronaldo Hipolito, gerente de Projeto da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Na ocasião, o gerente explicou todas as etapas realizadas para a construção da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e, principalmente, as metas do setor da Construção Civil. Para confirmar a urgência das ações a serem realizadas, ele citou o estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) ao MMA, que apontou que o Brasil perde R$ 8 bilhões por ano por não fazer reciclagem de forma adequada. “Precisamos deixar de pensar os resíduos como lixo, como entulho e entendê-los como materiais que podem ser utilizados em novas obras”.
Já Flavio de Miranda Ribeiro, assessor técnico do Gabinete da SMA, falou sobre as etapas para construção da Política Estadual de Resíduos Sólidos (PERS) e explicou como ela não é apenas uma política pública ambiental, mas também de desenvolvimento, sustentabilidade e que distribui direitos e deveres. Ele chamou a atenção para a logística reversa, que ainda é motivo de discussão em alguns fóruns da sociedade que não têm posicionamento definido sobre a responsabilidade de cada ator da cadeia produtiva de determinado material.
Fechando o primeiro painel, Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado da Pinheiro Pedro Advogados e Consultor Ambiental, falou sobre as responsabilidades dos agentes envolvidos no setor e a questão jurídica que envolve as atribuições das empresas da Construção Civil. Entre elas, está a obrigatoriedade da realização dos Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) e as consequências para as empresas que não o realizar. Por fim, destacou a importância dos aterros na implementação da PNRS. “Nossos aterros serão futuras minas de resíduos que podem ser reutilizados”.
Iniciativa Privada: Avanços do Setor
Para encerrar o evento, o terceiro painel trouxe iniciativas da Construção Civil que têm colaborado para o avanço do setor rumo a gestão de resíduos adequada. Lilian Sarrouf, coordenadora técnica do Comitê de Meio Ambiente do SindusCon-SP (COMASP), apresentou a resolução CONAMA 307/2002, que traz prazos a serem cumpridos pelos municípios e geradores. Lilian, afirmou que muitas discussões baseiam-se nas obrigações dos municípios, mas não em como ajudá-los a realizar seus planos e sua gestão. “Lançaremos uma plataforma única que auxiliará na sistematização e no monitoramento online dos resíduos“.
Essa plataforma única que Lilian se refere é um sistema que irá ter cadastrado os resíduos da construção civil desde sua origem para que indicadores, números e todos os envolvidos na gestão saibam, passo a passo, o que acontece no caminho que um resíduo segue até sua disposição final.
Dando continuidade, Gilberto Meirelles, presidente da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (ABRECON), apresentou um panorama do mercado das recicladoras no Brasil. “Hoje, nossas empresas têm toda a estrutura necessária para receber os resíduos a serem reciclados, mas eles não chegam. E quando isto acontece, temos dificuldade em vendê-los.
Encerrando o evento, Horácio Peralta, diretor Associação Paulista das Empresas de Tratamento e Destinação Final de Resíduos Urbanos (APETRES), trouxe importantes contribuições sobre as áreas de destinação e reciclagem de resíduos da construção. Peralta reforçou a preocupação que as autoridades devem ter com as áreas que recebem esse tipo de material em São Paulo. Assim como outros painelistas, o diretor da APETRES mostrou como é importante a atuação do SindusCon-SP nesse processo. “Esse é um momento para estarmos unidos e lutar a favor das boas práticas do setor. Se estivermos assim, seremos um setor cada vez mais forte e exemplo para aqueles que desenvolvem práticas que não serão mais aceitas pela sociedade”.
Texto: Assessoria de Comunicação
Fotografia: Pedro Calado e Alex Silva

Os marines contra as drogas


Mac Margolis - O Estado de S.Paulo
A guerra latino-americana contra as drogas acaba de ficar mais quente. Desde o fim de agosto, uma leva de fuzileiros navais dos EUA está na Guatemala para ajudar no combate aos traficantes, que converteram o país centro-americano em um antro de crimes e violência.
Apesar do nome belicoso, a Operação Martelo está limitada a oferecer apoio logístico às tropas locais. São 4 helicópteros e 200 soldados para monitorar terra, mar e o espaço aéreo do litoral guatemalteco, vias onde a bandidagem transita desimpedida.
Sem dúvida, algo precisava ser feito. Com os cartéis mexicanos em expansão, o crime tomou conta de nacos importantes do istmo, corredor expresso de 90% das 700 toneladas de cocaína sul-americana rumo à América do Norte.
No caminho, converteram Honduras, El Salvador e Guatemala em campeões de violência. Honras para Honduras, que, em 2010, teve 82 homicídios por 100 mil habitantes, seguida por El Salvador (66) e Venezuela (65). Em quarto, a Guatemala (41 homicídios por cada 100 mil) virou "paraíso de criminosos", conforme relatório do International Crisis Group. "Autoridades locais são corrompidas. Partes do território nacional estão fora de controle", segundo o comando militar dos EUA.
Palavras como essas provocam arrepios. Nos EUA, ao tempero ardente da campanha presidencial, a direita republicana acusa o presidente Barack Obama de rasgar a Constituição ao enviar tropas sem a devida aprovação do Senado. O argumento é curioso para a oposição americana, que acusa o presidente de frouxo em política externa.
Os defensores dos direitos humanos lembram o passado polêmico da intervenção americana na América Central, a começar com o golpe de 1954 contra o presidente da Guatemala, Jacobo Arbenz, com um dedo da CIA. O golpe plantou a semente da longa guerra civil. Os militares americanos se retiraram em 1978, mas o confronto durou 36 anos e deixou 200 mil mortos.
A barulheira política e a desconfiança com as segundas intenções gringas fazem parte do enredo das Américas. Bem mais preocupante é a falta de clareza sobre a real política de Washington. A Operação Martelo sinaliza uma mudança de estratégia ou é mais um improviso do império?
Há dúvidas. Os países mais flagelados pelo narcotráfico já repensam a fracassada guerra às drogas, até com propostas de descriminalizá-las. Os EUA desconversam. Em sua visita à região, no início do ano, o vice-presidente Joe Biden ouviu a mensagem de vários governantes, distribuiu sorrisos e juras de amizade.
A Operação Martelo poderia ser uma resposta, mas para que tenha relevância, ela terá de fazer parte de uma estratégia maior, com metas, meios e fins delineados. Com a convulsão no Oriente Médio, a crise na Europa e a eleição americana, é pouco provável que América Latina ocupe um espaço importante na agenda de Washington. Não seria a primeira vez que o déficit de atenção define a diplomacia na região e não são 200 marines que mudarão esse fato. Melhor para o narcotráfico.    
É COLUNISTA DO ESTADO, CORRESPONDENTE DA NEWSWEEK E EDITA O SITE BRAZILINFOCUS.COM