sábado, 28 de janeiro de 2012

O rombo e o marisco



25 de janeiro de 2012 | 19h40
Celso Ming
O resultado das contas do Brasil com o exterior (exceto fluxos de capital) é negativo desde 2008. Mais do que isso, esse déficit vem crescendo e tende a aumentar.
Por enquanto, a cobertura desse rombo é feita, com folga, por meio da entrada de capitais de longo prazo – como se presume serem os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). Como são capitais de boa qualidade, digamos assim, não sujeitos a retiradas súbitas, caso dos capitais especulativos, não há, até onde a vista alcança, nenhum perigo de hemorragia de moeda estrangeira, o que deixaria a economia a descoberto.
ContasCorrentes2012.jpg
Além disso, as reservas externas são de US$ 353 bilhões, altas suficiente de modo a desencorajar movimentos de fuga de capitais – risco que pode correr uma economia que gasta mais do que fatura com o resto do mundo.
Em princípio, um país em desenvolvimento como o Brasil tende a ter déficits em Conta Corrente – conjunto de transações com o exterior que englobam o fluxo de mercadorias (comércio), de serviços (transportes, turismo, seguros, juros, royalties, etc.) e de transferências de dinheiro entre parentes.
Déficits crônicos em Conta Corrente refletem, em princípio, consumo interno de bens e serviços além do conveniente. O governo Dilma não trabalha com a hipótese de que essa forte elevação do consumo prejudique o equilíbrio das contas externas, por estar mais interessado em impedir a valorização excessiva do real (alta do dólar) – fator que pode tirar competitividade do produto nacional. Mais despesas pagas ao fornecedor externo impulsionam a demanda de moeda estrangeira no câmbio interno e, pela lei da oferta e da procura, atuam contra a alta do real – consequentemente, a favor do pretendido.
Mas, a longo prazo, a perspectiva de ampliação do rombo nas Contas Correntes com o exterior não é a maior tensão que prevalece sobre as contas externas. Dentro de alguns anos, o País expandirá substancialmente receitas no exterior com exportações de matérias-primas (sobretudo minério de ferro e celulose); alimentos (soja, café, milho, açúcar e carnes); e petróleo. A médio prazo, a tendência à alta dessas commodities deverá multiplicar receitas em moeda estrangeira e reforçar a valorização do real.
O marisco, que ficará entre o rochedo e as ondas, será a indústria, com cada vez mais dificuldades para competir não só lá fora, mas também aqui dentro.
O problema de fundo não é, como tantos pensam ingenuamente, o câmbio adverso, que encarece o produto nacional e barateia o importado. É, sim, a falta de competitividade do setor produtivo brasileiro (não só o da indústria, como mostra o caso do etanol). E, por trás dessa baixa competitividade, está o alto custo Brasil: imposto demais; infraestrutura cara e ruim; juro escorchante; a quarta mais onerosa eletricidade do mundo; Justiça ineficiente; excesso de encargos sociais sobre a folha de pagamentos; burocracia; etc.
E, decididamente, o governo Dilma não está fazendo o suficiente para enfrentar essa enorme debilidade da indústria.

Um Banco Central Mentiroso? Atenção Ministério Público.


Do blog do Kanitz
Onde está a mentira neste aviso do Banco Central publicado hoje no Estado de São Paulo? 
O juro há mais de dois anos é de um único dígito, em torno de 4% depois do IR. 
Por que então o próprio Banco Central mente para o público em geral? 
Porque publicar a verdade dificulta a colocação dos Títulos Públicos. 
Você compraria a próxima rolagem da dívida sabendo que somente receberá 4% ao ano, quando a maioria das empresas brasileiras distribui 3% de dividendos? 
E, que estes dividendos representam 25% do lucro? 
Óbvio que não.
Por isto mentem, dizendo que a taxa de juros é de 10%, e que vai demorar ainda para chegar a 9%. 
Juro nominal não é juro, juro real é o verdadeiro juro. Algo que quem acompanha este blog está cansado de saber.
Mas esta mentira tem consequências graves para o país, por isto estou sugerindo que RT para seus amigos no MP.
Os leitores do Estado de São Paulo, as viúvas e os aposentados, irão gastar os 10,5% de "juros", já que aprenderam que só podem gastar até o limite da renda, e juro é renda. 
Vão gastar 10% e não 4% que é o juro real, como qualquer curso elementar de Administração Financeira irá mostrar.
Ao gastar 10% e não 4%, estarão gastando Mais do que sua renda, e isto, MP, causa inflação. 
Estarão gastando mais do que a produção, e isto gera inflação. 
Mal sabendo que estão sendo enganados pelo Banco Central e que estão na realidade gastando os mesmos 4% de juro real de sempre, e gastando parte do seu capital acumulado.
Quando o Banco Central e o Tesouro dizem que "pagam" 10,5% de juro, na realidade estão fazendo o seguinte truque: 
Estão pagando 4% de juros reais, e "devolvendo" mais 6,5% do seu investimento.
Do seu próprio capital, dizendo que é "juro".
Ainda por cima, tributando este "juro", o que é claramente um apropriação indébita, o que é crime neste país. 
Devolver o seu próprio dinheiro investido, dizendo que isto foi uma "remuneração" é uma mentira e tanto.
Triste que o Estado de São Paulo, depois de 60 anos desta prática no Brasil, não defenda o seu leitor pelo menos com um alerta. 
Algo que nós administradores socialmente responsáveis deste país, vivemos fazendo e contamos com seu apoio.

Pleno emprego e juros


CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Nunca, como ontem, o Banco Central chegou tão perto de admitir que persegue uma meta de juros de um dígito (abaixo de 10% ao ano).
Também nunca até agora o Brasil apresentou um índice tão baixo de desemprego. E, no entanto, esse é um dos maiores obstáculos a ser enfrentado pelo Banco Central, dirigido pelo economista Alexandre Tombini, para alcançar uma meta sustentada de juros de apenas um dígito.
Apesar dos desníveis regionais, o nível de desemprego de apenas 4,7% da força de trabalho indica situação de pleno emprego na economia, ainda que técnicos do governo federal se esforcem em escondê-la, com o objetivo aparente de viabilizar números ainda mais expressivos.
Toda política econômica em regimes democráticos persegue situação de pleno emprego - que é, ao mesmo tempo, garantia de paz social e de bom retorno eleitoral. Desse ponto de vista, nada melhor do que forte crescimento dos postos de trabalho. Mas isso também cobra seu preço.
Um mercado de trabalho aquecido como o de agora é fator que puxa para cima a renda das famílias. Conjugado com o aumento do crédito e do salário mínimo (que subiu 14,13% em janeiro), tende a impulsionar o consumo em níveis superiores à própria atividade produtiva. Pode-se dizer que favorece a expansão da chamada inflação de demanda (que se dá quando o consumo cresce mais do que a produção) sobretudo no segmento dos serviços (transportes, assistência técnica, academia, refeições fora de casa, etc.) que não podem ser supridos por importações.
Embora reconheça em parte essa pressão em direção contrária à desejada, proveniente do "vigor do mercado de trabalho", a Ata do Copom divulgada ontem aposta na ampla compensação desse efeito negativo pela atuação em sentido oposto de outros fatores: desinflação no mercado internacional; garantia de que haverá cumprimento da meta de superávit primário equivalente a 3,1% do PIB (que o Banco Central avalia em R$ 139,8 bilhões); desaceleração da atividade econômica; e, mais que tudo, a ocorrência de "mudanças estruturais significativas na economia brasileira". Entre essas mudanças, o Banco Central cita conquistas que já têm algum tempo: "O cumprimento da meta de inflação pelo oitavo ano consecutivo, a estabilidade macroeconômica e avanços institucionais".
Os pressupostos da inflação sob controle são os mesmos que foram fixados em agosto, quando começou a atual política de redução dos juros básicos (Selic). E, no entanto, algumas dessas condições esperadas não vêm se confirmando. Não houve a grande catástrofe na economia mundial, hipótese que parece afastada. E também não aconteceu a forte derrubada dos preços das commodities, principalmente do petróleo e dos alimentos.
Poucas vezes como agora o Banco Central pareceu tão determinado a derrubar juros, mesmo que a trajetória interna da inflação possa não ser a ideal.
Tornou-se relativamente fácil chegar aos juros de um dígito. Mais difícil será mantê-los aí. Ficou a impressão de que esta é agora questão de honra. Se um fator qualquer atrapalhar esse objetivo, o Banco Central perderá credibilidade.