segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

‘Estamos criando montanhas de lixo’


Por Tatiana de Mello Dias
Diretora defende modelos alternativos de consumo
LOGIN: Cosima Dannoritzer, cineasta
Por que você fez o filme?
Eu ouvia um monte de lendas urbanas sobre obsolescência programada. Todas elas iam pela mesma linha: era uma vez um inventor que patenteou um produto que duraria para sempre – lâmpadas, pneus, carros, o que seja – e então o inventor ou a invenção desapareceram sob circunstâncias misteriosas. Você pode procurar pela internet. Está cheia dessas histórias. Eu queria saber se havia alguma verdade nelas. E, na verdade, a realidade se tornou ainda mais estranha.
A indústria assume isso?
A maioria dos fabricantes vão dizer que eles nunca fariam algo do tipo porque seria contraproducente e afugentaria os clientes. Mas isso não é verdade porque, por exemplo, a maioria das impressoras jato de tinta tem a vida útil muito curta, independentemente da marca que você compra. Nós não temos alternativa. Outros fabricantes vão dizer que isso não é um problema, contanto que os preços continuem baixos. Eles não estão totalmente errados. Mas tudo isso cria um grande problema para o meio ambiente, sem mencionar para os nossos bolsos.
Quais são as piores empresas?
Meu filme não é sobre empresas específicas. O problema com a obsolescência programada é que isso está espalhado em todo o sistema. É um dos pilares que sustenta o crescimento da economia. O pior para mim é que o consumidor não está sendo avisado sobre a duração do produto. Se nós tivéssemos essa informação, poderíamos fazer uma escolha consciente sobre qual modelo ou marca comprar. Outro grande problema é que a obsolescência programada contribui para a criação de montes de lixo. E, por último, mas não menos importante, um monte de criatividade é dedicado à diminuir a vida útil, e para mim isso é uma perversão. Design e engenharia deveriam melhorar nossas vidas, e não ajudar a criar lixo.
A obsolescência programada fez sentido no passado. E hoje?A obsolescência programada sempre faz sentido quando você pensa em manter o crescimento da economia e a criação de empregos a curto prazo. O problema é a longo prazo. Nós estamos usando os recursos naturais muito mais rápido do que o necessário porque uma vez que algo é jogado fora, a maioria dos materiais não é reutilizada, incluindo alguns metais extremamente raros, e em adição a isso nós estamos criando montanhas de lixo. Nós estamos começando a ver as consequências, que não são aceitáveis.
Você vê sinais de mudanças por parte da indústria?
Quando eu comecei a procurar alternativas, eu fiquei preocupada que só acharia poucos acadêmicos aposentados cujas ideias não funcionariam na prática. Mas eu fiquei gratamente surpresa por encontrar várias abordagens que funcionam. Há empresas vendendo produtos mais duráveis convencendo seus consumidores de que esse é um bom investimento. Uma lâmpada que dura 25 vezes mais e custa 25 vezes mais não é mais cara.
Quais são as melhores práticas da indústria?
Eu acho que as melhores são as que calculam o custo total de um produto, e que pegam de volta os produtos quebrados para reciclá-los. Uma impressora barata parece barata apenas porque os custos reais não foram incluídos no preço, mas eles eventualmente terão de ser pagos na forma de problemas ambientais ou de saúde.
As pessoas estão preparadas para consumir menos e melhor?
Geralmente, a maioria das pessoas está preocupada com o fluxo de caixa, pagando o mínimo possível. Mas alguns consumidores começaram a comprar produtos de maior duração. Também há modelos como o aluguel de uma máquina em vez de comprá-la, ou dividir um produto com os vizinhos, ou iniciativas que ajudam as pessoas a começarem a consertar um produto. Uma vez que nós sabemos que nossos gadgets têm um final, é muito mais fácil se encorajar a fazê-los durar mais.
Como podemos mudar a cultura consumista?
Eu acho que devemos ficar longe da ideia de que “bem-estar” está sempre relacionado à posse de objetos, de preferência algo que ninguém mais tenha. Eu encorajaria as pessoas a pensarem no que estão comprando produtos como presente. A maioria das pessoas hoje nos países desenvolvidos já tem tudo, então eu acho que poderíamos pensar em presentes diferentes: um item de segunda mão, uma doação, em vez de comprar coisas que se tornarão lixo muito rapidamente, e não têm a ver com as reais necessidades daquela pessoa.

A serviço da treva



Âncora do Jornal Nacional da Globo, William Bonner espera ser assistido por um cidadão o mais possível parecido com Homer Simpson, aquele beócio americano. Arrisco-me a crer que Pedro Bial, âncora do Big Brother, espere a audiência da classe média nativa. Ou por outra, ele apostaria desabridamente no Brasil, ao contrário do colega do JN. Se assim for, receio que não se engane.
Houve nos últimos tempos progressos em termos de inclusão social de sorte a sugerir aos sedentos por frases feitas o surgimento de uma “nova classe média”. Não ouso aconselhar-me com meus carentes botões a respeito da validade dos critérios pelos quais alguém saído da pobreza se torna pequeno burguês. Tanto eles quanto eu sabemos que para atingir certos níveis no Brasil de hoje basta alcançar uma renda familiar de cerca de 3 mil reais, ou possuir celular e microcomputador.
Tampouco pergunto aos botões o que há de “médio” neste gênero de situações econômicas entre quem ganha salário mínimo, e até menos, e, digamos, os donos de apartamentos de mil metros quadrados de construção, e mais ainda. Poupo-os e poupo-me. Que venha a inclusão, e que se aprofunde, mas est modus in rebus. Se, de um lado, o desequilíbrio social ainda é espantoso, do outro cabe discutir o que significa exatamente figurar nesta ou naquela classe. Quer dizer, que implicações acarreta, ou deveria acarretar.
Aí está uma das peculiaridades do País, a par do egoísmo feroz da chamada elite, da ausência de um verdadeiro Estado de Bem-Estar Social etc. etc. Insisto em um tema recorrente neste espaço, o fato de que os efeitos da revolução burguesa de 1789 não transpuseram a barreira dos Pireneus e não chegaram até nós. E não chegou à percepção de consequências de outros momentos históricos também importantes. Por exemplo. Alastrou-se a crença no irremediável fracasso do dito socialismo real. Ocorre, porém, que a presença do império soviético condicionou o mundo décadas a fio, fortaleceu a esquerda ocidental e gerou mudanças profundas e benéficas, sublinho benéficas, em matéria de inclusão social. No período, muitos anéis desprenderam-se de inúmeros dedos graúdos.
A ampliação da nossa “classe média”, ou seja, a razoável multiplicação dos consumidores, é benfazeja do ponto de vista estritamente econômico, mas cultural não é, pelo menos por enquanto, ao contrário do que se deu nos países europeus e nos Estados Unidos depois da Revolução Francesa. De vários ângulos, ainda estacionamos na Idade Média e não nos faltam os castelões e os servos da gleba, e quem se julga cidadão acredita nos editoriais dos jornalões, nas invenções de Veja, no noticiário do Jornal Nacional. Ah, sim, muitos assistem ao Big Brother.
Estes não sabem da sua própria terra e dos seus patrícios, neste país de uma classe média que não está no meio e passivamente digere versões e encenações midiáticas. Desde as colunas sociais há mais de um século extintas pela imprensa do mundo contemporâneo até programas como Mulheres Ricas, da TV Bandeirantes. Ali as damas protagonistas substituíram a Coca e o Guaraná pelo champanhe Cristal. Quanto ao Big Brother, é de fonte excelente a informação de que a produção queria um “negro bem-sucedido”, crítico das cotas previstas pelas políticas de ação afirmativa contra o racismo. Submetido no ar a uma veloz sabatina no dia da estreia, Daniel Echaniz, o negro desejado, declarou-se contrário às cotas e ganhou as palmas febris dos parceiros brancos e do âncora Pedro Bial.
A Globo, em todas as suas manifestações, condena as cotas e não hesita em estender sua oposição às telenovelas e até ao Big Brother. E não é que este Daniel, talvez negro da alma branca, é expulso do programa do nosso inefável Bial? Por não ter cumprido algum procedimento-padrão, como a emissora comunica, de fato acusado de estuprar supostamente uma colega de aventura global, como a concorrência divulga. Há quem se preocupe com a legislação que no Brasil contempla o específico tema do estupro. Convém, contudo, atentar também para outro aspecto.
A questão das cotas é coisa séria, e quem gostaria de saber mais a respeito, inteire-se com proveito dos trabalhos da GEMAA, coordenados pelo professor João Feres Jr., da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: o site deste Grupo de Estudos oferece conteúdo sobre políticas de ação afirmativa contra o racismo. Seria lamentável se Daniel tivesse cometido o crime hediondo. Ainda assim, o programa é altamente representativo do nível cultural da velha e da nova classe média, e nem se fale dos nababos. Já a organização do nosso colega Roberto Marinho e seu Grande Irmão não são menos representativos de uma mídia a serviço da treva.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Dilma sanciona lei com orçamento da União para 2012


BRASÍLIA - O Diário Oficial da União publica na edição dessa sexta-feira, 20, o Orçamento para 2012. A lei aprovada pelo Congresso Nacional no final de dezembro do ano passado foi sancionada na quinta-feira, 19, sem vetos, pela presidente Dilma Rousseff.
A lei estima em R$ 2,257 trilhões a receita da União para o exercício financeiro deste ano. Excluindo-se os gastos com o refinanciamento da dívida - no valor de R$ 655 bilhões - o total cai para aproximadamente R$ 1,6 trilhão.
O orçamento para pagamento de pessoal em 2012 chega a R$ 203,24 bilhões. O valor não contempla nem os reajustes salariais dos servidores nem o aumento real dos benefícios pretendidos pelos aposentados que ganham acima do salário mínimo.
A concessão dos reajustes foi um dos pontos controversos da proposta orçamentária. Manifestantes que pediam recursos para os aumentos chegaram a provocar a interrupção de uma reunião da Comissão de Orçamento.
A Lei do Orçamento abrange o orçamento fiscal referente aos poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta - inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, no valor de R$ 959,1 bilhões.
Engloba também o orçamento da seguridade social (R$ 535,7 bilhões), com todas as entidades e órgãos a ela vinculados, além de fundos e fundações, instituídos e mantidos pelo Poder Público.
(Com Agência Brasil e Agência Estado)