quinta-feira, 13 de outubro de 2011



Musculação vira remédio para idoso combater doenças

Pacientes com osteoporose e artrose, antes orientados pelo médicos a praticar exercícios leves, agora são estimulados a malhar na academia

17 de setembro de 2011 | 21h 28
Karina Toledo, O Estado de S.Paulo
Exercícios físicos se tornaram tão importantes quanto os remédios no tratamento de doenças como osteoporose, osteoartrose e artrite reumatoide. Não à toa, estima-se que a frequência de pessoas com mais de 60 anos nas academias de ginástica tenha aumentado cerca de seis vezes nos últimos dez anos.
Melhora. Antonio Carlos Amabile recorreu à musculação após uma cirurgia do fêmur - Filipe Araújo/AE
Filipe Araújo/AE
Melhora. Antonio Carlos Amabile recorreu à musculação após uma cirurgia do fêmur
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De olho nesse filão, muitos estabelecimentos têm feito parcerias com consultórios médicos e oferecido descontos e atividades específicas para os idosos por eles encaminhados. Surgiram até academias especializadas nesse público, com equipe médica própria e instalações adaptadas a quem tem mobilidade reduzida (mais informações nesta página).

O boom teve início após a comprovação, no início da década passada, de que exercícios com sobrecarga são capazes de impedir o avanço da osteoporose, conta Kleber Pereira, presidente da Associação Brasileira de Academias (Acad). "Os médicos passaram a recomendar a musculação para os idosos, que hoje representam quase 30% de nossos alunos."

Estudos recentes têm demonstrado os benefícios da musculação para outro problema que atinge quase 60% das pessoas com mais de 60 anos: a osteoartrose. Caracterizada pelo desgaste das articulações, a doença causa dor e restringe os movimentos.
Mitos. "Até pouco tempo atrás, pacientes com artrose recebiam a recomendação de praticar apenas atividades leves e evitar carregar peso ou subir escadas", conta Julia Greve, coordenadora do Laboratório de Estudos do Movimento (LEM) da Faculdade de Medicina da USP.
Mas hoje já se sabe que o fortalecimento da musculatura reduz a sobrecarga na articulação, diminui a dor e recupera a amplitude dos movimentos.

Outro mito que vem sendo derrubado por uma pesquisa realizada no LEM é o de que idosos não respondem tão bem aos exercícios quanto pessoas jovens.

A equipe coordenada por Julia acompanhou três grupos de mulheres ao longo de 13 semanas de musculação. O primeiro era composto por idosas com osteoartrose nos dois joelhos que já haviam se submetido a cirurgia para colocação de prótese em um deles. O segundo era de idosas sem problemas articulares e o terceiro, jovens saudáveis.
Quatro quesitos foram avaliados antes e depois das 13 semanas: a distância caminhada durante 6 minutos, a velocidade com que subiam um lance de escada, o tempo gasto para levantar e sentar em uma cadeira e o tempo para levantar da posição deitada. Em todos eles, o grupo de mulheres com problemas articulares foi o que mais evoluiu. Também esse grupo foi o que mais conseguiu aumentar a sobrecarga durante o período avaliado e melhorar o equilíbrio.
A história do aposentado Antonio Carlos Amabile, de 72 anos, é prova de que, independentemente da idade e da condição inicial, sempre é possível melhorar com a prática de atividade física. Em 1999, ele teve de passar por uma cirurgia para retirar a cabeça do fêmur por causa de um abcesso. "Os médicos acharam melhor não colocar prótese por causa da diabete. Ficaram com medo de rejeição", conta. Após dois anos de fisioterapia, ele teve o aval da equipe para praticar musculação.
"No começo, chegava à academia de andador e tinha de fazer os exercícios sem peso. Aos poucos fui recuperando tudo. Hoje subo e desço escadas com facilidade. Sou independente, embora ainda tenha de usar bengala."
Amabile sente-se em casa no meio dos marombeiros e das garotas de coxas grossas. É tão popular entre os colegas que acabou se tornando garoto propaganda da rede de academias Nível A. "A parte social é importantíssima. Deixa a gente estimulado. Sinto falta quando não venho."
Kokichi Takano, de 76 anos, é outro que já incorporou a malhação na rotina. Quatro vezes por semana, ele dedica duas horas para exercício de musculação, alongamento e esteira. Aos fins de semana, vai ao Parque do Ibirapuera caminhar. "Comecei a treinar com regularidade aos 70 anos. Sofria de artrose e tinha muita dor no nervo ciático. Agora não sinto mais nada", garante.
Treino ideal. Fabio Jennings, reumatologista e especialista em medicina esportiva da Universidade Federal de São Paulo, diz que o treino ideal para idosos deve incluir exercícios aeróbicos, para ajudar no controle do peso corporal, fortalecimento muscular e alongamento, para melhorar a flexibilidade. "Também é importante acrescentar atividades que trabalhem o equilíbrio. Isso diminui o risco de quedas e, consequentemente, de fraturas."
Nem sempre, porém, pessoas com problemas nas articulações conseguem atingir essa meta logo de início. "Muitas vezes começamos apenas com a musculação e, depois que a dor diminui, entramos com a caminhada e exercícios de alongamento", conta o professor de educação física Emmanuel Gomes Ciolac.
O segredo da atividade física em pacientes com problemas de saúde é saber o que fazer, como fazer, com qual carga e intensidade, diz Julia Greve. "É uma prescrição individualizada. Como a de um medicamento."
SAIBA MAIS
 
Osteoporose
Exercícios de musculação e de impacto, como corrida, estimulam a formação de massa óssea e impedem a progressão da doença. A dor também diminui porque a atividade física estimula a produção da substância osteoprotegerina, que protege os ossos.
Corrida
Embora benéfica para a massa óssea, é contraindicada para pessoas com osteoartrose de joelhos. A pressão nas articulações causada pelo
peso corporal aumenta cerca de cinco vezes durante a corrida.
Musculação
O fortalecimento da musculatura diminui a sobrecarga e estabiliza as articulações, diminuindo a dor e facilitando os movimentos. Os exercícios também estimulam a produção do líquido sinovial,
essencial para o bom funcionamento do sistema locomotor.

Equilíbrio
A prática regular de exercícios também melhora o equilíbrio e a coordenação motora, diminuindo o risco de quedas e de fraturas. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011


O poder com o negócio 
ROLF KUNTZ
O ESTADÃO - 12/10/11

A presidente Dilma Rousseff tenta passar à história não como grande faxineira, mas como gestora de um ambicioso plano de crescimento econômico e de eliminação da miséria remanescente.

Só não parou mais cedo a faxina porque a imprensa continuou denunciando bandalheiras na administração federal.

Se as denúncias continuarem, e não faltará material para isso, a vassoura só será encostada se ela se render,de uma vez, às pressões de seu partido e dos grupos aliados. Nesse caso, prevalecerá, mais uma vez, o grande pacto político pela predação do Estado.

O primeiro passo para romper esse pacto seria uma reforma política para valer - não, é claro, aquela em tramitação no Congresso.

O projeto já relatado e provisoriamente posto em banho- maria deixa intocados todos os males e acrescenta alguns ao sistema.

Não basta mexer no processo eleitoral e no registro de partidos, nem adianta muito adotar uma Lei da Ficha Limpa.

Alguns ladrões serão barrados, mas outros logo entrarão em campo, simplesmente porque o jogo do poder, no Brasil, é excepcionalmente lucrativo. Pode ser lucrativo no mundo todo, mas o caso brasileiro é fora do comum.

Para tornar o jogo menos tentador, seria preciso sacramentar alguns princípios simples. Contribuinte não tem de financiar partidos, nem de sustentar sindicatos, nem de entregar dinheiro para ser presenteado a ONGs. Não deve ser forçado a custear a reeleição de parlamentares.

Manter escritórios políticos tem de ser atribuição dos próprios políticos e de seus partidos, assim como as viagens de visita às bases. Não se deve usar a verba indenizatória para essas finalidades.

Secretarias, Ministérios e diretorias de autarquias e estatais são funções públicas e nenhum governante deve ter o direito de lotear cargos. Também não deve permitir a formação de feudos partidários em setores da administração.

Não pode haver cotas de grupos ou partidos nem, portanto, "cota presidencial",uma aberração ininteligível no mundo civilizado.

A"cota" de quem chefia o governo é todo o Ministério. Isso não exclui a presença de aliados no primeiro escalão, mas não por loteamento. Também é indispensável diminuir o número de postos de livre provimento.

É preciso mudar o processo orçamentário.

Sem isso,parlamentares continuarão distribuindo favores e desviando verbas por meio de emendas. Alguns defendem o sistema de emendas arbitrárias e picadinhas com o democrático, assim como o presidente do Senado, José Sarney, defendeu os privilégios dos congressistas como "homenagem à democracia".

Não há democracia nenhuma na apropriação de verbas para distribuição de benefícios a indivíduos, grupos, organizações, empresas ou mesmo cidades escolhidas de acordo com interesses pessoais do parlamentar.

O dinheiro é público, a tramitação do Orçamento é um ritual a vida pública e o parlamentar ocupa um cargo público. Mas é um abuso chamar de política pública a transformação do Orçamento numa pizza dividida segundo os objetivos privados de cada participante.

Cabe ao Executivo propor políticas e prioridades e submetê-las ao Legislativo.

Num país politicamente maduro, a discussão antecede a elaboração do Orçamento e se prolonga, muitas vezes,durante a tramitação da proposta orçamentária.

No Brasil, tem havido no máximo caricaturas desse processo. Mesmo sem comércio de emendas, sem dinheiro para organizações de fachada e sem distribuição de favores, o atual sistema resulta em desperdício de bilhões.

Mas o problema não está só nas emendas.

Faltam discussão e clareza na elaboração da proposta. A saúde é prioritária? As verbas destinadas ao setor são bem alocadas? Os programas atendem a um esquema bem definido de prioridades?A distribuição total de recursos é compatível com a importância de cada setor? Discussões desse tipo serão mais prováveis quando os parlamentares se interessarem mais pelas questões públicas.

Não será impossível chegar lá. Haverá menos mensaleiros e outros malandros, entre os candidatos, quando o Legislativo for menos parecido com um grande mercado. Ingenuidade? Não. Basta reduzir os incentivos errados ao ingresso na vida parlamentar.

O atual projeto de reforma apenas servirá, se aprovado, para reforçar as distorções. Não há um único bom motivo para forçar o eleitor a financiar os partidos - nem com verbas de campanha, nem com o fundo partidário já existente. O ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito e reeleito presidente da República, sempre com financiamento privado. Contribuições de particulares sempre serão disponíveis, se os partidos tiverem atrativo suficiente. Se o dinheiro for entregue de modo claro e dentro dos limites legais, o sistema será mais equilibrado e mais limpo do que aquele em discussão no Congresso. Não se criará mais democracia forçando os cidadãos a financiar interesses privados - como são, em princípio, os interesses partidários.

Nova ciência da moral 
HÉLIO SCHWARTSMAN 
FOLHA DE SP - 12/10/11

SÃO PAULO - A notícia publicada ontem em Ciência de que bebês de 15 meses já dispõem de um senso de justiça rudimentar acrescenta mais um tijolinho à disposição dos pesquisadores que tentam fundar a nova ciência da moral.

Uma das ideias centrais dessa protodisciplina é a de que a faculdade moral é um instinto. A analogia que cabe é com a teoria da gramática universal de Noam Chomsky. Da mesma forma que nossos cérebros são equipados com um hardware linguístico, que nos habilita a aprender praticamente por osmose o idioma ao qual somos expostos na primeira infância, nossa cachola também já viria com uma moral de fábrica.

Não se trata, por certo, de um código penal, uma lista pronta e acabada de todas as ofensas possíveis e as respectivas punições, mas de um conjunto de princípios elementares, comuns a toda a humanidade, como as noções de justiça, pureza e autoridade. Elas se combinariam umas com as outras e também com elementos culturais para formar toda a exuberância de padrões morais observáveis nos mais diversos grupos.

A maioria dos estudiosos da moral para por aqui -o que já é um projeto para gerações. A exceção é o neurocientista Sam Harris, que, em "The Moral Landscape" (a paisagem da moralidade), sustenta que é possível, ao menos em princípio, usar a ciência para decidir quais valores morais são corretos e quais são errados.

O critério de verdade escolhido por Harris, na melhor tradição utilitarista, é o bem-estar. Assim, práticas morais que contribuem para aumentar a felicidade das pessoas, como tratar bem o próximo, são validadas pela nova ciência. Já hábitos que fazem crescer a miséria humana, como castigos corporais, tornam-se uma chaga a eliminar.

Com esse engenhoso mecanismo, Harris consegue, de um só golpe, atacar seus adversários à esquerda (multiculturalismo, relativismo) e à direita (religião, tradicionalismo).