Trabalhos da USP e da UFRJ indicam que produção de etanol não prejudicou pecuária nem plantio de comestíveis. Cientistas refutam tese de que cultivo de vegetais para fazer biocombustíveis afeta comida; preocupação maior é com encarecimento da terra.
A ideia que há uma guerra por espaço acontecendo no interior do Brasil entre o plantio de comida e a produção de biocombustíveis é errada, dizem especialistas. A expansão do cultivo de cana-de-açúcar para para produzir etanol não afetou, até hoje, áreas de cultivo de alimentos, segundo os estudos.
"Até aconteceram mudanças localizadas de cultura, mas no todo não foi significativo. Existem 200 milhões de hectares de pasto no Brasil. Não são os cinco milhões que a cana ocupa que vão fazer falta", diz Roberto Schaeffer, especialista em energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de um trabalho sobre o assunto na última edição da revista científica "Renewable Energy". O Brasil tem 60 milhões de hectares dedicados à agricultura (veja tabela à direita).
Segundo cientistas como Schaeffer ou José Goldemberg, físico da Universidade de São Paulo e um dos pais do Proálcool (que também publicou um estudo recentemente sobre o tema na revista "Energy Policy") é justamente para cima dos pastos -e não dos cultivos de alimentos- que a cana avança, com algumas exceções nos anos 1970 e em alguns poucos locais atualmente. Os dados mostram que os plantios de café, laranja ou feijão não se alteraram com o crescimento das plantações de cana mesmo em São Paulo, grande produtor nacional de etanol (veja ao lado).
Isso não significa que o Brasil esteja produzindo menos carne. Goldemberg lembra que a densidade dos rebanhos vem crescendo. Só entre 2004 e 2005, passou de 128 cabeças por quilômetro quadrado para 141 nos pastos paulistas. Segundo ele, ainda há muito espaço para ganhos em produtividade. Uma eficiência maior poderia evitar inclusive que a pecuária se expandisse em função do desmate da Amazônia, como vem acontecendo no país.
Além disso, a produtividade das plantações da cana vem crescendo com o avanço da biotecnologia. Ou seja, os produtores podem fazer mais etanol sem aumentar seus plantios.
Mesmo porque o preço das terras de algumas regiões de plantio de cana está subindo rápido (Ribeirão Preto, Franca e Bauru, no interior paulista, por exemplo, tiveram uma valorização de mais de 160% entre 2001 e 2006). O mesmo acontece no norte do Paraná.
Isso pode ser, porém, um sinal de que plantar está ficando caro, trazendo risco de aumento no preço dos alimentos no supermercado. "Há algum fundamento em ficar preocupado. Hoje não há problema, mas, se as políticas não forem apropriadas, em alguns lugares eles podem aparecer. É bom ficar de olho aberto", diz Schaeffer (Folha de S.Paulo, 18/11/10)
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Montanhas de lixo Brasil afora
Coleta é maior em relação a produção de lixo
Postado por Saneamento em 15 janeiro 2010 às 15:30
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LILIAN MILENA
Da Redação - ADV
A evolução da coleta de lixo nas cidades ainda tem muito a melhorar, segundo levantamento do último Panorama de Resíduos Sólidos (RSU), da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE).
De 2007 a 2008, a quantidade de lixo coletado no país aumentou 5,9%, saltando de 140.911 toneladas/dia para 149.199 toneladas/dia. Mas a proporção calculada de coleta per capita cresceu apenas 2,8% entre os dois anos, passando de 0,924 quilos para 0,950 quilos recolhidos todos os dias por habitante.
O déficit de coleta no país, em números, é de 7,4 milhões de toneladas/ano, o equivalente a 370 mil caminhões de lixo lotados formando uma fila de 4 mil quilômetros a cada doze meses, sendo que, diariamente, são produzidos cerca de 169 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos. Desse total, 20 mil toneladas não são sequer recolhidas, e outras 60 mil toneladas são dispostas em lixões sem controle ambiental adequado.
O montante poderia ser reduzido sensivelmente com o reaproveitamento industrial dos resíduos recicláveis, uma vez que a composição média do “lixo” urbano se divide em: 52% de matéria orgânica (transformável em adubo e combustível); 25% de papel, 16% de outros materiais, 3% de plástico, 2% de metal, e 2% de vidro.
Apesar dos números apontarem para a necessidade de mais investimentos na expansão dos serviços de coleta, os dados também permitem concluir que a quantidade de RSU gerado no país cresceu menos que o total coletado – entre 2007 e 2008 a população urbana aumentou a produção de lixo em 1% - a geração de lixo saltou de 1,106 quilo para 1,080 quilo por pessoa/dia.
“A proporção de resíduos urbanos e indústrias recolhidos está aumentando significativamente, não apenas pelo aumento do lixo gerado, mas também pelo desempenho do setor. Em 2004, por exemplo, o país coletou 7,3 milhões de toneladas de resíduos, em 2009 foram 15,7 milhões de toneladas”, esclarece o diretor presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (ABETRE), Diógenes Del Bel.
Déficit de aterros
O destino final de 55% do lixo são os aterros sanitários, enquanto 19% (29.243 toneladas/dia) é encaminhado a aterros controlados e 25% a lixões (espaços com pouco ou nenhum critério ambiental). A região Sudeste apresenta o maior nível de coleta (54%), seguida pela Nordeste (22%), Sul (11%), Centro-Oeste (7%) e Norte (6%).
Acesse: Mais de 60% das cidades brasileiras não contam com aterros sanitários
A engenheira ambiental Lícia Silveira, autora do estudo “Desafios da gestão de resíduos sólidos: a gestão de seis aterros sanitários simplificados no estado da Bahia”, destaca que o desenvolvimento de infra-estrutura para o setor requer investimentos em recursos humanos de várias áreas (engenharia, economia, física, química, biologia, geofísica, sociologia, entre outros).
O aumento de soluções para que os municípios superem os déficits também depende do comprometimento dos gestores em projetos de longo prazo para reduzir a geração ou aumento do percentual de reaproveitamento, “de forma que não sejam aterrados. Nessas circunstâncias, muitos aterros transformam-se em lixões”, ressalta Silveira em estudo.
Del Bel explica que a elaboração de novas tecnologias não é um problema no país, e que as dificuldades para alcançar os 100% de coleta e tratamento são de gestão pública. “Já existe conhecimento suficiente para tornar a coleta e disposição dos resíduos algo sustentável e muitas empresas do setor, em especial as privadas, têm competência tecnológica para isso. O gargalo, na realidade, ocorre porque são os municípios que, por lei, são responsáveis por esse serviço público e muitos não têm condições financeiras e de infra-estrutura para acompanhar a demanda”, avalia.
Segundo levantamento da ABETRE, o custo para a construção de um aterro sanitário ambientalmente adequado e consagrado internacionalmente é relativamente baixo, ou seja, entre R$ 14,00 e R$ 18,00 por habitante. Entretanto, a engenheira Lícia Silveira aponta em seu estudo que o valor de implantação de aterros nos moldes da sustentabilidade é elevado para os municípios de pequeno porte.
Custo menor x sustentabilidade
A média de implantação de um aterro convencional – que envolve a instalação de balanças, construção de drenos, mantas e lagoas – é de R$ 1,3 milhão. Além disso, existe o custo de operação permanente, que gira em torno de R$ 20 mil ao mês pelo uso de máquinas, veículos, trator de esteira, máquina retro-escavadeira e caçambas, sem contar mão de obra.
Silveira avaliou a implantação de aterros sanitários simplificados – obras menos complexas sem exigência de impermeabilização com mantas e sem lagoas de estabilização de resíduos líquidos – em pequenas cidades baianas. A proposta de substituição de lixões por áreas com menor impacto ambiental foi iniciada em 2002 pelo Governo do Estado da Bahia e Secretaria de Desenvolvimento Urbano, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER).
Cerca de 90% dos municípios baianos possuem até 20 mil habitantes urbanos que geram, em média, entre 10 toneladas/dia e 15 toneladas/dia de RSU. Até 2006 o governo estadual havia implantado 35 aterros sanitários simplificados e 19 aterros do tipo convencional.
O levantamento da engenheira permitiu concluir que o custo dos aterros convencionais variou entre R$ 517 mil e R$ 2,31 milhões. Já os projetos de aterros simplificados variaram entre R$ 180 mil e R$ 260 mil, “em geral com abertura de duas valas, guarita, cerca, portão e poços de monitorização”, completa.
O porta-voz da ABETRE, Diógenes Del Bel, lembra que a solução para o déficit da coleta e disposição sustentável do lixo deve ser enquadrada a realidade de cada município. A reciclagem, por outro lado, é um habito que deve ser desenvolvido por todos – população e indústria têm forte responsabilidade pela recuperação de materiais, desde o modelo de fabricação até a forma de descarte.
No caso dos aterros simplificados – opção aos municípios com baixo orçamento – Silveira aponta que apesar de substituírem os lixões não resultam, necessariamente, em modelos eficientes. Dos 35 projetos implantados pela CONDER a engenheira avaliou 30 que apresentaram os seguintes resultados: 12,5% considerados em condição aceitável de operação, 56,2% regulares, e 31,3% de péssima condição.
Enquanto que, dos 19 aterros sanitários convencionais, também implantados pela CONDER, foram avaliados 15 sendo: 18,7% classificados em condição aceitável, 43,8% regular, e 37,5% péssima. “A complexidade que envolve o manejo dos RSU e a busca por soluções adequadas às peculiaridades de cada cidade levam, muitas vezes, a adoção de ações simplistas cujos resultados são insatisfatórios e insustentáveis no longo prazo”, conclui.
Panorama do setor
O levantamento da ABRELPE aponta que o custo médio do gerenciamento de resíduos urbanos - transporte, mão de obra, limpeza pública e manutenção de aterros - em municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes é de R$ 2,57/habitante/mês, já em cidades com população acima de 500 mil, o valor do serviço por pessoa gira em torno de R$ 3,75 ao mês.
Em 2008, o setor de limpeza urbana no Brasil empregou diretamente 264.779 trabalhadores (sendo 112.636 vagas em empresas públicas e 152.143 em empresas privadas). O Sudeste foi a região com mais contratos de trabalho – 126.894 do total de vagas verificadas no país, sendo 57.896 postos públicos e 68.998 postos privados.
Em âmbito geral, o mercado de serviços de limpeza urbana movimentou, no mesmo ano, R$ 16,8 milhões. As companhias privadas foram responsáveis por R$ 11,8 milhões desse montante, e as companhias públicas, pelo restante de R$ 5,0 milhões.
O estudo também permitiu concluir que parte significativa das cidades brasileiras não investe em sistemas de coleta seletiva e reciclagem: 44,1% dos municípios (2.456) não apresentaram iniciativas de coleta contra 55,9% (os 3.109 restantes).
O percentual de coleta também é maior nas cidades mais populosas: 52% dos municípios com até 50 mil habitantes não realizam a ação contra 47% daqueles entre 50 mil e 100 mil habitantes. Já 91% das cidades com mais de 500 mil habitantes realizam políticas de coleta seletiva.
A pesquisadora Lícia Silveira publicou, em estudo, os fatores que dificultam o manejo dos RSU na América Latina e Caribe (ALC) levantados pela Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), em 2005:
- Horizontes muito curtos de planejamento e de compromisso para a autoridade local, dado o breve período das administrações municipais;
- Volatilidade e descontinuidade política nas administrações municipais;
- Falta de cultura de pagamento pelos serviços públicos com que a população é atendida;
- Excessivo atraso e graves deficiências nos procedimentos e mecanismos para a cobrança de impostos municipais;
- Partidarismo das decisões e do debate público;
- Persistência de traços culturais rurais nas cidades, o que equivale em geral à desconsideração do espaço público em um contexto urbano;
- Falta de uma cultura de limpeza e de responsabilidade pelos RSU gerados a nível individual;
- Falta de aplicação da ordem jurídica e de controle;
- Incerteza para o investimento e falta de transparência nas decisões dos governos locais;
- Baixo nível de competência e capacitação no serviço público;
- Visão incompleta e distorcida da gestão ao assimilá-lo fundamentalmente como um problema relativo ao serviço esquecendo de seus componentes ambiental, social, econômico e de saúde;
- Ausência de organismo operadores autônomos sob regras claras de eficiência e prestação de contas;
- Marco regulatório e normativo difuso, obsoleto, incompleto, carente de uma estrutura intersetorial e de instrumentos jurídicos de caráter técnico;
- Falta de instrumentos econômicos, jurídicos e de promoções que motivem a participação social em processos de separação e reciclagem do lixo;
- Ausência de políticas e estratégias para a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Municipais;
- Falta de estratégias para a incorporação do setor informal (catadores) na gestão dos resíduos sólidos;
- Desvinculação entre as distintas instâncias envolvidas na área de resíduos sólidos;
- Desvinculação entre as distintas instâncias envolvidas na área de resíduos sólidos gerados pelas diferente fontes.
Para acessar apresentação da ABRELPE sobre o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, clique aqui.
Já, para acessar o estudo “Desafio da gestão de resíduos sólidos”, clique aqui.
Tags: aterros, lixões, resíduos, saneamento, sólidos, tecnologia
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Postado por Saneamento em 15 janeiro 2010 às 15:30
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LILIAN MILENA
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A evolução da coleta de lixo nas cidades ainda tem muito a melhorar, segundo levantamento do último Panorama de Resíduos Sólidos (RSU), da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE).
De 2007 a 2008, a quantidade de lixo coletado no país aumentou 5,9%, saltando de 140.911 toneladas/dia para 149.199 toneladas/dia. Mas a proporção calculada de coleta per capita cresceu apenas 2,8% entre os dois anos, passando de 0,924 quilos para 0,950 quilos recolhidos todos os dias por habitante.
O déficit de coleta no país, em números, é de 7,4 milhões de toneladas/ano, o equivalente a 370 mil caminhões de lixo lotados formando uma fila de 4 mil quilômetros a cada doze meses, sendo que, diariamente, são produzidos cerca de 169 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos. Desse total, 20 mil toneladas não são sequer recolhidas, e outras 60 mil toneladas são dispostas em lixões sem controle ambiental adequado.
O montante poderia ser reduzido sensivelmente com o reaproveitamento industrial dos resíduos recicláveis, uma vez que a composição média do “lixo” urbano se divide em: 52% de matéria orgânica (transformável em adubo e combustível); 25% de papel, 16% de outros materiais, 3% de plástico, 2% de metal, e 2% de vidro.
Apesar dos números apontarem para a necessidade de mais investimentos na expansão dos serviços de coleta, os dados também permitem concluir que a quantidade de RSU gerado no país cresceu menos que o total coletado – entre 2007 e 2008 a população urbana aumentou a produção de lixo em 1% - a geração de lixo saltou de 1,106 quilo para 1,080 quilo por pessoa/dia.
“A proporção de resíduos urbanos e indústrias recolhidos está aumentando significativamente, não apenas pelo aumento do lixo gerado, mas também pelo desempenho do setor. Em 2004, por exemplo, o país coletou 7,3 milhões de toneladas de resíduos, em 2009 foram 15,7 milhões de toneladas”, esclarece o diretor presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (ABETRE), Diógenes Del Bel.
Déficit de aterros
O destino final de 55% do lixo são os aterros sanitários, enquanto 19% (29.243 toneladas/dia) é encaminhado a aterros controlados e 25% a lixões (espaços com pouco ou nenhum critério ambiental). A região Sudeste apresenta o maior nível de coleta (54%), seguida pela Nordeste (22%), Sul (11%), Centro-Oeste (7%) e Norte (6%).
Acesse: Mais de 60% das cidades brasileiras não contam com aterros sanitários
A engenheira ambiental Lícia Silveira, autora do estudo “Desafios da gestão de resíduos sólidos: a gestão de seis aterros sanitários simplificados no estado da Bahia”, destaca que o desenvolvimento de infra-estrutura para o setor requer investimentos em recursos humanos de várias áreas (engenharia, economia, física, química, biologia, geofísica, sociologia, entre outros).
O aumento de soluções para que os municípios superem os déficits também depende do comprometimento dos gestores em projetos de longo prazo para reduzir a geração ou aumento do percentual de reaproveitamento, “de forma que não sejam aterrados. Nessas circunstâncias, muitos aterros transformam-se em lixões”, ressalta Silveira em estudo.
Del Bel explica que a elaboração de novas tecnologias não é um problema no país, e que as dificuldades para alcançar os 100% de coleta e tratamento são de gestão pública. “Já existe conhecimento suficiente para tornar a coleta e disposição dos resíduos algo sustentável e muitas empresas do setor, em especial as privadas, têm competência tecnológica para isso. O gargalo, na realidade, ocorre porque são os municípios que, por lei, são responsáveis por esse serviço público e muitos não têm condições financeiras e de infra-estrutura para acompanhar a demanda”, avalia.
Segundo levantamento da ABETRE, o custo para a construção de um aterro sanitário ambientalmente adequado e consagrado internacionalmente é relativamente baixo, ou seja, entre R$ 14,00 e R$ 18,00 por habitante. Entretanto, a engenheira Lícia Silveira aponta em seu estudo que o valor de implantação de aterros nos moldes da sustentabilidade é elevado para os municípios de pequeno porte.
Custo menor x sustentabilidade
A média de implantação de um aterro convencional – que envolve a instalação de balanças, construção de drenos, mantas e lagoas – é de R$ 1,3 milhão. Além disso, existe o custo de operação permanente, que gira em torno de R$ 20 mil ao mês pelo uso de máquinas, veículos, trator de esteira, máquina retro-escavadeira e caçambas, sem contar mão de obra.
Silveira avaliou a implantação de aterros sanitários simplificados – obras menos complexas sem exigência de impermeabilização com mantas e sem lagoas de estabilização de resíduos líquidos – em pequenas cidades baianas. A proposta de substituição de lixões por áreas com menor impacto ambiental foi iniciada em 2002 pelo Governo do Estado da Bahia e Secretaria de Desenvolvimento Urbano, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER).
Cerca de 90% dos municípios baianos possuem até 20 mil habitantes urbanos que geram, em média, entre 10 toneladas/dia e 15 toneladas/dia de RSU. Até 2006 o governo estadual havia implantado 35 aterros sanitários simplificados e 19 aterros do tipo convencional.
O levantamento da engenheira permitiu concluir que o custo dos aterros convencionais variou entre R$ 517 mil e R$ 2,31 milhões. Já os projetos de aterros simplificados variaram entre R$ 180 mil e R$ 260 mil, “em geral com abertura de duas valas, guarita, cerca, portão e poços de monitorização”, completa.
O porta-voz da ABETRE, Diógenes Del Bel, lembra que a solução para o déficit da coleta e disposição sustentável do lixo deve ser enquadrada a realidade de cada município. A reciclagem, por outro lado, é um habito que deve ser desenvolvido por todos – população e indústria têm forte responsabilidade pela recuperação de materiais, desde o modelo de fabricação até a forma de descarte.
No caso dos aterros simplificados – opção aos municípios com baixo orçamento – Silveira aponta que apesar de substituírem os lixões não resultam, necessariamente, em modelos eficientes. Dos 35 projetos implantados pela CONDER a engenheira avaliou 30 que apresentaram os seguintes resultados: 12,5% considerados em condição aceitável de operação, 56,2% regulares, e 31,3% de péssima condição.
Enquanto que, dos 19 aterros sanitários convencionais, também implantados pela CONDER, foram avaliados 15 sendo: 18,7% classificados em condição aceitável, 43,8% regular, e 37,5% péssima. “A complexidade que envolve o manejo dos RSU e a busca por soluções adequadas às peculiaridades de cada cidade levam, muitas vezes, a adoção de ações simplistas cujos resultados são insatisfatórios e insustentáveis no longo prazo”, conclui.
Panorama do setor
O levantamento da ABRELPE aponta que o custo médio do gerenciamento de resíduos urbanos - transporte, mão de obra, limpeza pública e manutenção de aterros - em municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes é de R$ 2,57/habitante/mês, já em cidades com população acima de 500 mil, o valor do serviço por pessoa gira em torno de R$ 3,75 ao mês.
Em 2008, o setor de limpeza urbana no Brasil empregou diretamente 264.779 trabalhadores (sendo 112.636 vagas em empresas públicas e 152.143 em empresas privadas). O Sudeste foi a região com mais contratos de trabalho – 126.894 do total de vagas verificadas no país, sendo 57.896 postos públicos e 68.998 postos privados.
Em âmbito geral, o mercado de serviços de limpeza urbana movimentou, no mesmo ano, R$ 16,8 milhões. As companhias privadas foram responsáveis por R$ 11,8 milhões desse montante, e as companhias públicas, pelo restante de R$ 5,0 milhões.
O estudo também permitiu concluir que parte significativa das cidades brasileiras não investe em sistemas de coleta seletiva e reciclagem: 44,1% dos municípios (2.456) não apresentaram iniciativas de coleta contra 55,9% (os 3.109 restantes).
O percentual de coleta também é maior nas cidades mais populosas: 52% dos municípios com até 50 mil habitantes não realizam a ação contra 47% daqueles entre 50 mil e 100 mil habitantes. Já 91% das cidades com mais de 500 mil habitantes realizam políticas de coleta seletiva.
A pesquisadora Lícia Silveira publicou, em estudo, os fatores que dificultam o manejo dos RSU na América Latina e Caribe (ALC) levantados pela Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), em 2005:
- Horizontes muito curtos de planejamento e de compromisso para a autoridade local, dado o breve período das administrações municipais;
- Volatilidade e descontinuidade política nas administrações municipais;
- Falta de cultura de pagamento pelos serviços públicos com que a população é atendida;
- Excessivo atraso e graves deficiências nos procedimentos e mecanismos para a cobrança de impostos municipais;
- Partidarismo das decisões e do debate público;
- Persistência de traços culturais rurais nas cidades, o que equivale em geral à desconsideração do espaço público em um contexto urbano;
- Falta de uma cultura de limpeza e de responsabilidade pelos RSU gerados a nível individual;
- Falta de aplicação da ordem jurídica e de controle;
- Incerteza para o investimento e falta de transparência nas decisões dos governos locais;
- Baixo nível de competência e capacitação no serviço público;
- Visão incompleta e distorcida da gestão ao assimilá-lo fundamentalmente como um problema relativo ao serviço esquecendo de seus componentes ambiental, social, econômico e de saúde;
- Ausência de organismo operadores autônomos sob regras claras de eficiência e prestação de contas;
- Marco regulatório e normativo difuso, obsoleto, incompleto, carente de uma estrutura intersetorial e de instrumentos jurídicos de caráter técnico;
- Falta de instrumentos econômicos, jurídicos e de promoções que motivem a participação social em processos de separação e reciclagem do lixo;
- Ausência de políticas e estratégias para a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Municipais;
- Falta de estratégias para a incorporação do setor informal (catadores) na gestão dos resíduos sólidos;
- Desvinculação entre as distintas instâncias envolvidas na área de resíduos sólidos;
- Desvinculação entre as distintas instâncias envolvidas na área de resíduos sólidos gerados pelas diferente fontes.
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Já, para acessar o estudo “Desafio da gestão de resíduos sólidos”, clique aqui.
Tags: aterros, lixões, resíduos, saneamento, sólidos, tecnologia
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Tratamento de esgoto por raízes dá resultado positivo em Foz
14/01/2010 - 12h01
Tratamento de esgoto por raízes dá resultado positivo em Foz
O sistema alternativo de tratamento de esgoto por zona de raízes, implantado na Escola Municipal Padre Luigi Salvucci, de Foz do Iguaçu, está apresentando bons resultados. A constatação é dos técnicos da Sanepar, que acompanham o processo para testar a eficiência do tratamento.
As análises mostraram que o tratamento é eficiente. Foram verificados mais de 20 parâmetros, entre químicos e biológicos, do esgoto antes do tratamento e do efluente (parte líquida do esgoto tratado). As análises de DQO (Demanda Química de Oxigênio), que mede a redução da carga orgânica existente no esgoto - um dos parâmetros responsáveis para testar a eficiência do tratamento -, mostraram variação positiva entre 52% e 99%, apresentando média de 85,5%.
Para a diretora de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Maria Arlete Rosa, o resultado apresentado nas análises mostra que o sistema pode ser uma alternativa para propriedades rurais, áreas de pouca densidade populacional ou onde o sistema convencional é inviável economicamente. “O acompanhamento do processo de tratamento realizado até agora atestou a eficiência do sistema”, completa.
FUNCIONAMENTO - Desenvolvido pelas biólogas da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Tamara Van Kaick e Caroline de Macedo, o projeto prevê a adoção de um sistema natural de tratamento de esgoto em regiões de solo com baixa capacidade de absorção e filtragem de material orgânico. O sistema, que já é utilizado na Alemanha e foi adaptado para o Paraná, utiliza plantas aeróbicas como papirus, cana-da-índia, cortadélia, sterelizia e helicônia. As raízes dessas espécies são responsáveis pela retenção dos dejetos e oxigenação.
A montagem do sistema é simples e consiste na instalação de um tanque de concreto com uma camada de areia e outra de pedra brita, cobertas pelas plantas, no canal de entrada de esgoto. O esgoto é lançado por meio de sistema de tubulações instaladas logo abaixo de uma área plantada, ou seja, na zona de raízes. Esta área plantada é dimensionada de acordo com o volume de esgoto previsto para ser tratado.
Por ser uma tecnologia de baixo custo, contribui para resolver o problema de tratamento convencional dos dejetos. A Sanepar também está financiando estudos com a mesma tecnologia na Ilha da Peças, no litoral paranaense.
(Envolverde/Governo do Estado do Paraná )
Tratamento de esgoto por raízes dá resultado positivo em Foz
O sistema alternativo de tratamento de esgoto por zona de raízes, implantado na Escola Municipal Padre Luigi Salvucci, de Foz do Iguaçu, está apresentando bons resultados. A constatação é dos técnicos da Sanepar, que acompanham o processo para testar a eficiência do tratamento.
As análises mostraram que o tratamento é eficiente. Foram verificados mais de 20 parâmetros, entre químicos e biológicos, do esgoto antes do tratamento e do efluente (parte líquida do esgoto tratado). As análises de DQO (Demanda Química de Oxigênio), que mede a redução da carga orgânica existente no esgoto - um dos parâmetros responsáveis para testar a eficiência do tratamento -, mostraram variação positiva entre 52% e 99%, apresentando média de 85,5%.
Para a diretora de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Maria Arlete Rosa, o resultado apresentado nas análises mostra que o sistema pode ser uma alternativa para propriedades rurais, áreas de pouca densidade populacional ou onde o sistema convencional é inviável economicamente. “O acompanhamento do processo de tratamento realizado até agora atestou a eficiência do sistema”, completa.
FUNCIONAMENTO - Desenvolvido pelas biólogas da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Tamara Van Kaick e Caroline de Macedo, o projeto prevê a adoção de um sistema natural de tratamento de esgoto em regiões de solo com baixa capacidade de absorção e filtragem de material orgânico. O sistema, que já é utilizado na Alemanha e foi adaptado para o Paraná, utiliza plantas aeróbicas como papirus, cana-da-índia, cortadélia, sterelizia e helicônia. As raízes dessas espécies são responsáveis pela retenção dos dejetos e oxigenação.
A montagem do sistema é simples e consiste na instalação de um tanque de concreto com uma camada de areia e outra de pedra brita, cobertas pelas plantas, no canal de entrada de esgoto. O esgoto é lançado por meio de sistema de tubulações instaladas logo abaixo de uma área plantada, ou seja, na zona de raízes. Esta área plantada é dimensionada de acordo com o volume de esgoto previsto para ser tratado.
Por ser uma tecnologia de baixo custo, contribui para resolver o problema de tratamento convencional dos dejetos. A Sanepar também está financiando estudos com a mesma tecnologia na Ilha da Peças, no litoral paranaense.
(Envolverde/Governo do Estado do Paraná )
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