quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A crise da laranja


 Estado de S.Paulo
A produção de laranja, notadamente em regiões tradicionais de cultivo da fruta no Estado de São Paulo, passa por um período de transformação em consequência direta da queda do consumo do produto no mercado internacional, com reflexo nos preços. O mercado interno de suco de laranja industrializado absorve apenas 2% da produção. Cálculos da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus-BR) indicam que o volume bruto da matéria-prima processada pela indústria para a exportação de suco de laranja caiu de 1,150 milhão de toneladas em 2011 para 1,096 milhão de toneladas em 2012, o que significa uma queda de 4,7%, equivalente a 40 milhões de caixas de laranja de 40 kg.
Essa retração pode ser atribuída, em parte, à crise na Europa, o principal mercado do produto, e à recuperação ainda fraca das economias dos EUA e do Japão. A queda é efeito também de uma progressiva mudança de hábitos de consumo nesses países. Pesquisas revelam que cada alemão hoje consome 14 litros de suco de laranja por ano, 25% menos do que há oito anos. No Japão, a retração foi de 30% e nos EUA, de 28%. Com isso, há grandes excedentes nos pomares, com muita fruta apodrecendo por falta de compradores. Em muitos casos, os produtores acabam arrendando suas terras para o cultivo de cana-de-açúcar, como relata reportagem do Estado (20/1).
Outro fator que limita os preços são os estoques existentes de suco. Apesar de o governo ter prorrogado o Lote Econômico de Compras para retenção até junho de 2014 para cerca de 311 mil toneladas, os estoques ainda são elevados. O Centro Avançado de Estudos de Economia Aplicada Esalq/USP, estima que o estoque de passagem da temporada fique em torno de 300 mil toneladas em junho de 2013, se as vendas externas e domésticas forem em média de 1,2 milhão de toneladas.
O consumo, porém, pode voltar a crescer, segundo especialistas. Uma campanha tenaz de produtores de bebidas concorrentes tem sido movida contra o suco de laranja, propagando mundo afora que o produto tem calorias demais. A indústria já preparou uma contracampanha para desmentir essa alegação e se prepara para lançá-la no mercado internacional. No mercado interno, algumas medidas já tomadas, como incluir o suco na merenda escolar, ajudam, mas é preciso também incentivar o brasileiro a tomar mais suco integral, em vez do néctar hoje mais comum, em que metade do produto é composto de água e açúcar.
Considera-se também que há necessidade de renovar os pomares, muitos dos quais têm mais de 20 anos e não recebem tratos adequados. Assim, tem sido elevada a incidência de greening, a doença mais grave das que afetam os laranjais em razão da dificuldade de controle e de sua rápida disseminação, com efeitos altamente destrutivos. A solução muitas vezes é a erradicação de pomares, mas isso também tem um custo alto. Para os produtores, é mais fácil arrendar as terras para cultivo de cana, ficando o arrendatário responsável por essa despesa.
Além disso, novas áreas têm sido abertas para o cultivo de laranja, empregando mais tecnologia, o que resulta em maior produtividade e menores custos. Como sustenta um técnico da Citrus-BR, o importante agora é não olhar para trás e encarar o futuro com base em um diálogo que abranja toda a cadeia produtiva. As disputas internas no setor são a dificuldade maior para definir uma linha de ação, afirma. As indústrias defendem o fortalecimento do Consecitrus, órgão inspirado no Consecana, do setor sucroalcooleiro, que pode servir de fórum para discussão dos problemas do setor e pelo menos amenizar os dissídios entre produtores e processadores industriais de laranja.
A ideia vem ganhando cada vez mais aceitação. O presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, Marco Antonio dos Santos, está organizando para breve uma reunião para convencer os produtores das vantagens do Consecitrus. O órgão, funcionando com absoluta transparência, como se pretende, pode ser "a única saída", como disse Santos, para evitar que o setor fique dependente de benesses do governo, sempre instáveis.

'Professor deve ajudar aluno a ser autodidata'


Cunhador do termo 'nativos digitais', escritor afirma que escola investe na tecnologia de maneira obsoleta

28 de janeiro de 2013 | 2h 05
Davi Lira - O Estado de S. Paulo
Dos três adjetivos associados à sua pessoa - visionário, inventivo e futurista -, talvez o primeiro seja o mais adequado para descrever o norte-americano Marc Prensky, especialista em educação e em tecnologia. Prensky é conhecido pela criação dos termos "nativos digitais", geração que nasceu durante a era digital, e "imigrantes digitais", aqueles que nasceram antes da explosão digital.
Para Marc Prensky, currículo e métodos devem ser adaptados à tecnologia - Divulgação
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Para Marc Prensky, currículo e métodos devem ser adaptados à tecnologia
Autor de livros premiados, como o Não me atrapalhe, mãe! Estou aprendendo eAprendizagem baseada em jogos digitais, Prensky deve lançar no fim do ano sua sexta obra, que vai discutir a reformulação dos currículos ao propor mais ênfase à abordagem de habilidades voltadas ao estímulo do senso crítico, aprofundamento do pensamento, sociabilidade e relacionamento humano.
A convite da Fundação Telefônica Vivo, o escritor fará uma palestra na Campus Party 2013 (evento de inovação tecnológica) amanhã, em São Paulo. Na quinta-feira, Prensky conversou com o Estado por telefone de sua casa em Nova York.
Como o avanço da tecnologia agrava as dificuldades da educação hoje no mundo? 
Marc Prensky - A educação formal que oferecemos não é muito boa, independentemente do lugar ou da rede de ensino. Isso porque vivemos num momento onde o tempo é cada vez mais acelerado, cheio de incertezas, complexidades. A educação que nós oferecemos às nossas crianças ainda é a mesma que era oferecida no século passado.
Como adaptar a escola ao novo contexto tecnológico?
Marc Prensky - A forma como os professores ensinam é a mesma. Eles ficam em pé na frente dos alunos e apenas falam, enquanto os estudantes apenas escutam, quando escutam, e fazem anotações. São métodos velhos. O melhor método é único, é o da parceria. E há várias formas de se alcançar bons resultados quando professores e alunos trabalham como parceiros. Estudantes podem fazer suas atividades e o professor deveria estar presente como um guia, uma espécie de técnico esportivo. Essa mudança conceitual é uma forma pedagógica que está mais relacionada a esse novo contexto.
Mas como se daria efetivamente essa parceria?
Marc Prensky - Professores e alunos devem conversar. Não sobre notas, mas sobre quem eles são. E como eles fazem as coisas que fazem. Isso é a principal coisa que falta. Eles acham que são dois grupos diferentes. Eles devem se enxergar como parceiros. Como pessoas que estão trabalhando juntas buscando resolver problemas comuns. Professores precisam conhecer as paixões dos estudantes, a maneira como eles pensam e como eles aprendem. E estudantes precisam saber mais sobre os seus professores. O que eles estão tentando fazer, quais são os seus objetivos. Esse relacionamento pode continuar formal, mas numa maneira menos distante.
O senhor propõe uma revolução nos métodos educacionais?
Marc Prensky - Eu não gosto de falar em revolução. Eu prefiro falar em adaptação a um novo contexto. O aspecto tradicional da escola deve ser preservado, mas ela deve ter como norte a preparação dos alunos para o mundo.
É onde entra a tecnologia?
Marc Prensky - Parte dessa adaptação deve ser feita com a tecnologia, porque as crianças vivem na era da tecnologia. Mas isso é apenas uma parte da questão. Nós devemos deixar os estudantes fazerem coisas úteis, devem pesquisar assuntos que serão discutidos em sala, utilizando cada vez mais a tecnologia. E a função do professor seria responder às dúvidas. A outra parte tem a ver com a maneira como ensinamos. O que ensinamos para as crianças é Matemática, Línguas, Ciência e Estudos Sociais e isso não é o que deveríamos ensinar pensando no futuro.
Deveríamos reformular o currículo então? 
Marc Prensky - Sim, nós temos que mesclar as disciplinas. Mas o que eu proponho vai além disso. Nós deveríamos ensinar numa lógica de aprofundamento de habilidades de análise, pensamento, discussão, sociabilidade e relacionamento humano.
Como deve ser a postura do professor? 
Marc Prensky - Os professores devem ser como técnicos esportivos. Eles devem ser bons em fazer com que os jogadores sejam bons. O professor deve trabalhar como se fosse um guia que incentiva o aluno a ser mais autodidata.
Os professores devem ser mais tecnológicos?
Marc Prensky - Os professores não deveriam nem se aproximar da tecnologia, porque a função do professor é observar o que os estudantes fazem e ter certeza de que o que eles estão fazendo é de boa qualidade. Eles devem saber apenas as possibilidades que a tecnologia pode oferecer.
Os professores não precisariam nem se familiarizar com o assunto?
Marc Prensky - Eles devem saber que é possível que os estudantes possam se comunicar bem através de um vídeo, e a partir daí avaliar a qualidade do material produzido. Ou seja, os professores não precisam ficar preocupados com a tecnologia. Agora, existe algo que é muito estúpido. Os professores dizem: agora nós todos iremos criar uma apresentação em power point juntos. O que os professores deveriam dizer é que todos precisariam apresentar alguma coisa sobre o conteúdo específico, usando a ferramenta que eles quiserem.
Então como tornar a escola mais atraente?
Marc Prensky - Aumentaríamos o interesse de alunos se mostrássemos a eles porque estamos ensinando o que ensinamos e para quê serve tudo isso. Não damos respostas aos alunos que perguntam porque estamos aprendendo equação quadrática ou porque eles deveriam estudar, em detalhes, a história da Grécia.
Você é um entusiasta dos cursos online, como os do educador Salman Khan, que viraram uma febre na internet?
Marc Prensky - As crianças deveriam ter acesso a cursos online. Mas acho que são velhos métodos em novos formatos. A velha educação apresentada de uma maneira online. Se você quiser promover essa velha educação, tudo bem. Mas se você acha que esse método defasado é ruim, então, fazê-las num formato moderno não adicionada nada. As pessoas ainda tentam consertar um sistema defasado de maneiras diferentes como essa.
QUEM É
O nova-iorquino Marc Prensky, de 67 anos, é considerado um dos maiores especialistas na aplicação de tecnologias nas áreas de educação. Ele é formado em Matemática e Francês com especializações pelas universidades de Yale e pela Escola de Negócios de Harvard. Com passagem por Wall Street, é também criador do site Spree Games e presidente da Game2Train, que utiliza jogos no processo de aprendizagem. 

O cenário otimista para 2013, por Luis Nassif



Autor: 
 
Coluna Econômica
Nos últimos anos, sob comando do economista Otávio de Barros, o Bradesco constituiu a maior equipe de economia entre as empresas privadas brasileiras. Meticuloso com indicadores, Otávio montou um painel minucioso dos principais indicadores nacionais e internacionais, e  - o diferencial – passou a trabalhar a enorme base de clientes do banco.
A partir dessa montanha de informações, o Departamento de Economia chegou ao seguinte consenso:

O pibinho de 2012 se deveu a um conjunto inédito de fatores negativos.

Os principais fatores (que não deverão se repetir) foram:
  1. Seca no Nordeste e do sul, detonando o PIB agrícola.
  2. Crise no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), devido aos escândalos, paralisando os investimentos em infraestrutura.
  3. A implantação abrupta de novos padrões de motores, praticamente paralisando a venda de caminhões.
  4. Endividamento do setor sucroalcooleiro, paralisando a produção de álcool.
  5. Queda brutal na produtividade da Bacia de Campos que, de repente, passou a 70% da capacidade anterior.
  6. Queda brusca das exportações para a Argentina.
  7. Os apertos do Banco Central na Selic, em 2011, somados às medidas macro prudenciais, que acabaram afetando 2012.
Tais fatores teriam “roubado”  de 0,8% a 1% do PIB.
O segundo ponto é a metodologia adotada pelo IBGE (aparentemente, em revisão). Segundo Otávio, os mesmos dados, se colocados no sistema que roda o PIB da OCDE (o grupo de países mais avançados), haveria no mínimo um ponto a mais no PIB e outro nas taxas de investimento.

Novo “normal”

Em 2013 e, especialmente em 2014, se colherão os frutos do novo padrão de política econômica implantado a partir de agosto de 2011.
O “novo normal”, na economia mundial, seria constituído dos seguintes fatores:
  1. Crescimento moderado do crédito. Moderado porque mais cuidadoso, ao contrário do porre de 2010 e 2011.
  2. Maior intervenção do Estado.
  3. Menores taxas de retorno sobre o capital.
  4. Crescimento baseado na produtividade e no investimento, e não mais no consumo.
No caso brasileiro, a posição do governo Dilma, segundo Otávio, é a do território conquistado em batalha, portanto irreversível. O “território” em questão consiste na taxa Selic civilizada, nos aportes no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), câmbio mais competitivo, redução dos impostos, do custo de energia e dos encargos trabalhistas.
O Bradesco trabalha com uma previsão de crescimento de 3,5% do PIB. Nas últimas semanas, os rumores de racionamento de energia fizeram o mercado derrubar um pouco a projeção.

Cenário internacional

Contribui para essa previsão a situação internacional. Os Estados Unidos já completaram as quatro etapas de entrada e saída da crise; a Europa estaria no terceiro quartil. O presidente do Banco Central Europeu, Mário Draghi, teria operado uma impressionante reversão na ortodoxia, principalmente, do Bundesbank alemão. E a economia alemã já estaria refletindo essa situação.
Além disso, com a redução do risco sistêmico, a enorme injeção de liquidez na economia internacional poderá, finalmente, refletir-se na economia real.