A aleatoriedade tem um papel central no estranho mundo da física quântica: os resultados de experimentos não podem ser previstos, eles são "decididos" na hora, como se Deus lançasse dados a cada vez, para usar as palavras de Albert Einstein.
Já na física clássica, determinística, o acaso é meramente um reflexo da nossa ignorância: se conhecêssemos as condições precisas do lançamento de uma moeda, poderíamos calcular o seu movimento e, assim, saberíamos antecipadamente se vai dar cara ou coroa. Como não conhecemos, substituímos o cálculo por um modelo probabilístico simples, segundo o qual o resultado é aleatório, com probabilidade de 50% para ambas as opções.
Isso acarreta que as probabilidades que atribuímos a diferentes eventos dependem da informação disponível. Foi lançado um dado (equilibrado), qual é a probabilidade de que tenha saído a face 4? A resposta é 1/6, já as faces do dado são todas igualmente prováveis. Mas se formos informados de que saiu um número par, a probabilidade de ter sido o 4 pula para 1/3, já que agora são só três casos possíveis.
Esse é um exemplo simples: em geral, o efeito da informação sobre a probabilidade pode ser muito mais difícil de apreender. Senão, considere a seguinte situação:
Em um país bárbaro, que ainda não aboliu a pena de morte, três condenados (Aldo, Beto e Caio) aguardam em celas separadas as respectivas execuções. O governador escolhe ao acaso um deles para ser perdoado: cada um tem uma probabilidade de 1/3 de ser o escolhido.
O carcereiro sabe qual é, mas não está autorizado a contar. Aldo suplica ao carcereiro que lhe diga o nome de um dos dois que serão executados: "Se Beto está perdoado, responda Caio; se Caio está perdoado, responda Beto; se o perdoado sou eu, lance uma moeda para decidir se responde Beto ou Caio", propõe. Quando o carcereiro responde que Beto será executado, Aldo fica contente: considera que a sua probabilidade de sobreviver passou de 1/3 para 1/2, já que agora a coisa está apenas entre ele e Caio.
Mas quando Aldo conta o segredo a Caio, este último não concorda: opina que a situação de Aldo não mudou em nada com a nova informação (continua em 1/3), mas que a sua própria chance de sobrevivência pulou para 2/3.
Quem está certo?
Surpreendentemente, é Caio quem tem razão. O ponto é que, para Aldo, a resposta do carcereiro não traz nada novo: saber que Beto será executado ou que Caio será executado não diz nada sobre a sua própria situação. E se não há nova informação, a probabilidade de que sobreviva permanece a mesma, ou seja, 1/3. Como sabemos que um deles está perdoado, isso implica que a chance de Caio passou a ser de 2/3, tal como ele afirma.
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