Por Pedro Doria
Os bastidores das negociações nas Conferências sobre as Mudanças Climáticas da ONU raramente são tornados públicos. Todos os anos, desde 1995, diplomatas vão tendo sequências de reuniões preparatórias até aquele momento em que os papéis serão postos à mesa no grande evento que é a COP, a Conferência das Partes. É quando aparecem os líderes, presidentes, primeiros ministros, aqueles que assinam por cada país. A cada edição, o drama é novo. Todos têm de ceder, de pagar, de diminuir emissões, precisam dar mostras do que já fizeram. Ninguém quer se comprometer — mas todos desejam aparecer bem nos discursos. Hoje estão lá, quase todos em Dubai, nos Emirados Árabes, para a edição de número 28. Esta história é de outra edição, no ano de 2009, quando a reunião foi na Dinamarca. Quem a conta é um diplomata. Que não representava o Brasil.
Quando o então presidente americano, Barack Obama, chegou a Copenhagen, a reunião já estava próxima do fim e as coisas não iam bem. Americanos e europeus planejavam se comprometer com US$ 100 bilhões por ano em ações de combate às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento, mas queriam uma contrapartida. Até ali, nenhum país fora do mundo desenvolvido havia se comprometido com números, com metas de queda de emissões. A pressão vinha crescendo ano a ano e o objetivo era que, naquela reunião dinamarquesa, as principais nações do planeta pusessem algum número no papel e assinassem embaixo.
Só que o acordo não saía. Não apenas o acordo não saía como Obama não conseguia se encontrar com ninguém. Ele tinha três nomes na lista. O brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o indiano Mamohan Singh e, lá no topo, o premiê chinês Wen Jiabao. E os três se esquivavam. Estavam sempre ocupados, com a agenda cheia, dificuldades várias. Não à toa. Os embaixadores, afinal, poderiam dizer que não tinham autoridade para assumir compromissos. Os líderes, não. E ninguém queria que depois diplomatas americanos dissessem que um acordo não saiu porque o país tal disse não. A tática era sumir.
Sem conseguir marcar pelos meios oficiais, Obama deu ordens ao seu serviço secreto — que se espalhassem em busca de algum sinal sobre onde poderia estar Wen. Rodaram tudo, até que um agente encontrou, à frente de uma porta, um rosto familiar. Alguém que, ele jurava, fazia parte da segurança do premiê chinês. Quando o presidente americano foi informado, decidiu arriscar. Foi ele, a secretária de Estado, Hillary Clinton, e vários assessores. “Quero entrar”, disse ao segurança solitário. Lívido. Que não teve como dizer não.
Dentro da sala, à mesa, entocados, não só Wen. Também Singh. E Lula. Obama abriu um sorriso, era com eles mesmo que queria conversar.
A COP-15, de Copenhague, é tida como um fracasso. Dela saíram poucos acordos. Lula, que se despedia do poder, saiu como estrela internacional. Obama, que começava no poder, foi percebido como indeciso. No documento oficial estava o compromisso dos cem bi ao ano e o de que o mundo reconhecia que não podia passar dum aumento de dois graus Celsius. Mas daquele encontro entre os quatro chefes de Estado saiu um outro acordo. Informal. Pela primeira vez, países em desenvolvimento se comprometiam no papel com metas de redução de emissões. Em 2015, aquilo seria oficializado no Acordo de Paris.
A diplomacia tem seus truques.
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