Marcelo de Moraes, O Estado de S.Paulo
27 de julho de 2021 | 18h01
BRASÍLIA – A escolha de Ciro Nogueira (Progressistas-PI) como novo ministro da Casa Civil mostra como o senador não teve problemas em mudar de lado político até se tornar um dos principais integrantes do governo de Jair Bolsonaro. Menos de três anos atrás, Ciro se associava fortemente aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Em 2018, durante campanha para conseguir mais um mandato como senador, Ciro chegou a defender no seu Twitter que deixar Lula de fora da disputa presidencial – o petista estava preso – era “tirar do eleitor um direito de escolha”. E ainda afirmou que ficaria com Lula “até o fim”.
No plano regional, Nogueira e o Progressistas passaram as últimas eleições aliados ao atual governador do Piauí, Wellington Dias (PT). E esse apoio se estendia à campanha nacional. Mesmo com o Progressistas nem sempre se coligando formalmente aos petistas, o apoio a Lula e a Dilma era público. Em 2018, isso ficou escancarado já que o PP se coligou com o PSDB em torno da candidatura de Geraldo Alckmin e inclusive indicou a senadora Ana Amélia (Progressistas-RS) como vice na chapa. O problema é que Lula sempre foi um poderoso cabo eleitoral no Nordeste e Nogueira deixou claro que ele era seu candidato, mesmo com as acusações que envolviam o ex-presidente na ocasião. Além disso, sua chapa local era coligada no Piauí com o PT de Wellington Dias e com o MDB do senador Marcelo Castro, o que fez com que passasse a pedir votos abertamente colando na força de Lula no Estado.
Em postagem feita no Instagram, em 19 de agosto de 2018, quando Lula já tinha sido preso mas ainda tentava viabilizar sua presença na eleição para o Palácio do Planalto, Nogueira chegou a criticar a imprensa por duvidar de seu apoio ao petista – afinal, seu partido era coligado nacionalmente com o Alckmin.
“Boa (?) parte da imprensa do Centro-sul do País parece não ter arquivos. Faz um ano que digo: sendo Lula candidato, voto nele. Nunca escondi isso de ninguém, sobretudo de meus aliados. É uma questão de se manter a palavra, que faço como bom nordestino que sou”, escreveu o senador, ilustrando a postagem com uma foto observando, sorridente, Lula discursando.
Na mesma campanha, já em setembro, quando Fernando Haddad tinha assumido a vaga do ex-presidente na disputa presidencial, Nogueira continuava associando sua campanha local ao cenário nacional, dizendo que “não podemos abrir mão dos sonhos do presidente Lula de um País melhor para os brasileiros”. “Por isso, defendi e continuarei defendendo programas importantes como o Minha Casa, Minha Vida e o Luz para Todos, que tanto melhoraram a vida da gente”, escreveu o senador no seu Instagram em 20 de setembro de 2018.
Apenas 15 dias antes, ele já tinha feito campanha nas redes sociais com a hashtag “Sou Lula”, que usava durante seu horário na propaganda eleitoral de televisão. E citava como razão para “estar com Lula” “gratidão e reconhecimento por tudo o que ele fez pelo Nordeste e os nordestinos, em especial pelo muito que realizou no Piauí e pelos piauienses”. No dia 27 de setembro, ainda publicou uma foto sua ao lado de Lula, Haddad e Wellington, chamando o grupo de “time do povo”.
O apoio dado por Nogueira aos petistas vinha de antes e se manteve durante as duas eleições de Dilma Rousseff. Em 2014, apoiou abertamente a campanha pela reeleição da petista. E, como presidente nacional do Progressistas, divulgou nas suas redes sociais nota do partido, assinada por ele, comemorando a vitória da petista. “Hoje, as urnas retrataram definitivamente a vontade do povo brasileiro de continuar crescendo. O Piauí e o Brasil disseram sim ao desenvolvimento social e econômico, disseram sim a Dilma Rousseff. E nós queremos celebrar estar vitória, que pertence a todos aqueles que não se calam diante das injustiças e que arregaçam as mangas para ir à luta por um País melhor”, diz o texto publicado por Nogueira em 26 de outubro de 2014.
Dilma sofreu impeachment menos de dois anos depois e Nogueira e o Progressistas deram apoio ao governo de Michel Temer, participando da equipe ministerial, com Ricardo Barros na Saúde e Blair Maggi na Agricultura. Mesmo se realinhando com o PT para garantir sua vitória no Estado, Nogueira e o Progressistas não demoraram para se aproximar no presidente Jair Bolsonaro, graças ao papel de liderança do partido dentro do Centrão. E, agora, em julho de 2021, o senador chega ao cargo de ministro da Casa Civil.
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