Bivacinado e de máscara dupla, dei-me outro dia o prêmio de um pulo a uma padaria do Leblon em busca de alguns frios e queijos. De repente, na fila do caixa, veio-me a vontade de espirrar. E, se você já espirrou na vida, sabe como é. Nenhum espirro é um simples espirro. Começa por uma comichão no nariz, anunciando algo que emana das profundas e vai irromper queira você ou não. É algo que não leva mais que três segundos, mas, como nos parece vir em câmera lenta, achamos que dura muito mais. E, deflagrado o processo, exatamente como numa ejaculação, não há nada a fazer a não ser relaxar e deixá-lo vir. Dá-se então, saindo de você, um rugido de Stromboli, Vesúvio, Krakatoa.
O problema é que é quase impossível espirrar em segredo. Por perto há sempre alguém que, ao nos ver aflitos e levando as mãos ao rosto, sabe o que vai acontecer. E, mesmo que o espirro respeite os protocolos da pandemia, o fulano se prepara para se proteger. Mas outros são apanhados de surpresa. Para piorar, um espirro abafado por uma máscara emite um som que, mesmo lembrando um ronco produzido por uma tuba, muda apenas de atchim para atchê ou coisa assim.
Explodiu, então, o espirro —ou espirros, porque todo espirro vem em pares. A padaria em massa escutou. Alguns clientes pularam de susto; outros voltaram a cabeça em busca do autor; e todos olharam com reprovação ou medo. Com razão: um espirro em público nos dias atuais é mais conspícuo do que um pum na igreja e, conforme o caso, muito mais grave. Sabe-se lá se, apesar da proteção da máscara, uma falange de vírus infantis ou nanicos não escapou pela trama e povoou o ambiente?
Vexadíssimo, sentindo-me uma ameaça sanitária, paguei rapidamente a compra e tentei sair de fininho, esperando que a máscara me garantisse o anonimato. Mas que nada. Um amigo, lá no fim da fila, quase perto da porta, gritou solidário:
"Saúde, Ruy!".
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