Quando a Ford anunciou neste ano o encerramento das operações no Brasil, governadores olharam para a China em busca de empresas interessadas nas instalações que ficariam para trás.
Quando a Mercedes comunicou o fechamento da fábrica no interior de São Paulo, foi também para os chineses que as atenções se voltaram.
Não sem motivo. Em pouco tempo, a China se posicionou como um dos maiores investidores no Brasil.
O foco das empresas chinesas ampliou-se ao longo dos anos.
A chamada primeira onda de investimentos, até 2010, tinha como objetivo garantir acesso a produtos básicos, como petróleo, minérios e soja.
Num segundo momento, os chineses passaram a enxergar o Brasil também como um mercado consumidor e, assim, vieram investimentos no setor industrial, como em carros, motocicletas e aparelhos de ar-condicionado.
A terceira onda foi marcada por investimentos em serviços, especialmente na área financeira e em transporte por aplicativo. Depois, na quarta fase, ocorreram operações vultosas em energia elétrica e infraestrutura no Brasil.
Apesar de a trajetória sugerir diversificação, os investimentos são concentrados no setor de energia, incluindo eletricidade e petróleo, o que responde por 76% do valor total, segundo um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) que será lançado em 5 de agosto.
Vários analistas esperavam que, com a crise econômica associada à pandemia, a China fosse ampliar seus investimentos no exterior. Foi assim em 2008, quando a crise financeira desvalorizou ativos mundo afora e fez aumentar o apetite chinês por bons negócios.
Agora, no entanto, mesmo com a moeda valorizada, os chineses não foram às compras, para a frustração de muitos. Desde o auge em 2016, a China passou a ser mais criteriosa ao investir no exterior, inclusive em função de novas exigências legais. Em 2020, manteve o fluxo de investimentos no exterior elevado, mas não o expandiu como na crise anterior.
Em vez de investir mais, a China reavalia estratégias e tira o pé do acelerador. Reconsidera projetos inclusive no contexto da Nova Rota da Seda. Ao mesmo tempo, por tensões geopolíticas, o investimento chinês tem encontrado mais resistência em países como EUA, Austrália e mesmo na Europa.
Além disso, empresas de vários setores veem boas oportunidades no próprio mercado chinês —que, em 2020, foi o campeão mundial de atração de investimento externo direto (IED). Enquanto os fluxos globais caíram em mais de 30%, o IED para a China subiu. A percepção de muitas empresas chinesas é de que os bons negócios estão no próprio país.
Quando, em 2019, o governo brasileiro buscava investidores estrangeiros para dois leilões do pré-sal, Bolsonaro usou a visita à China para promover os projetos.
A realização dos leilões logo depois revelaria que, se não fosse pelas empresas chinesas, não haveria estrangeiros interessados no investimento.
Em 2018, o então candidato havia dito que a China não queria “comprar do Brasil”, mas queria sim “comprar o Brasil”. Pois não demorou para que viesse a Pequim buscar mais investimento chinês. As cenas dos próximos capítulos incluem o desenrolar da privatização da Eletrobrás.
Hoje, das 27 unidades da Federação, 23 contam com investimentos chineses, segundo o estudo do CEBC. Atrair investimentos é um grande objetivo de governadores nos seus contatos com a China.
Já era assim antes da pandemia, passa a ser ainda mais agora. O fluxo de IED no Brasil despencou assombrosos 62% em 2020, segundo a Unctad. E é justamente em tempos bicudos que esses investimentos são especialmente necessários.
Todo mundo quer um investidor chinês para chamar de seu —até mesmo Bolsonaro, relutantemente.
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