Mesmo separada de Wladimiro do Amaral Lopes desde que as filhas Lucia e Margarida do Amaral Lopes eram crianças, Agar permaneceu com o sobrenome de casada por toda a vida.
Irreverente, engraçada, comunicativa e exótica na forma de se vestir, Agar foi uma Dercy Gonçalves que nunca subiu ao palco.
Tocava piano, de ouvido, e compunha marchinhas de Carnaval com letras que contavam trechos da própria vida. Uma delas virou marchinha do bloco Pré-Pré, que sai na Vila Ipojuca, na zona oeste da capital paulista, antes do pré-carnaval.
Nascida em Amparo (a 133 km de SP), veio jovem para São Paulo. Cursou história na USP e teve como único emprego o cargo de titeriteira (manipula títeres, tipo de boneco articulado movido por fios) na prefeitura de São Paulo.
A prisão política da filha Margarida, aos 18 anos, em meados de 1969, tornou-se um trauma que carregou até os últimos dias. Aos 96 anos, Agar tinha pesadelos e acordava chorando e dizendo que a filha tinha sido presa e por isso precisava ir à prisão.
Lucia e Margarida foram para a França no início da década de 1970, onde ficaram exiladas.
Durante cerca de cinco anos, Agar fez da sua tristeza a alegria dos presos políticos em São Paulo —alguns amigos de suas filhas. Ela os visitava semanalmente e estabeleceu uma ligação afetiva com todos.
Como conquistou a amizade dos carcereiros, Agar chegou a entrar no presídio com 20 pizzas e carrinhos de sorvete.
“Uma vez, mandou uma mala imensa para as presas políticas. Elas ficaram animadíssimas pensando que eram livros, mas para surpresa delas, eram vestidos de baile, chapéus e outros acessórios que ganhava”, conta Lucia.
As filhas só retornaram da França com a anistia. “Ela representou muitos heróis e heroínas anônimos da luta contra a ditadura”, diz Lucia.
Agar morreu dia 7 de julho, aos 96 anos, em casa.
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