Filiado ao PSDB e com a candidatura ao Governo de São Paulo assumida, o vice-governador Rodrigo Garcia, 47, vestiu o figurino de candidato nas últimas semanas e partiu para viagens ao interior, inaugurações e entrevistas coletivas.
Adotou ainda uma nova estratégia de redes sociais –sempre incentivado pelo governador João Doria (PSDB), que também está em franca campanha para a Presidência da República.
Como postulante ao Palácio dos Bandeirantes, Garcia, que se elegeu deputado estadual pela primeira vez com 24 anos, tem obstáculos pela frente —os índices baixos de intenção de voto captados em pesquisas até agora e a concorrência com Geraldo Alckmin (PSDB), que aparece bem mais acima nas sondagens eleitorais.
O ex-governador quer disputar mais um mandato e, para isso, deve deixar o PSDB, o que facilita o caminho de Garcia, mas deixa mágoas entre os tucanos paulistas.
Garcia e Doria têm adotado a estratégia de percorrer o estado separadamente, em uma espécie de campanha dupla pelo interior. O governador, no entanto, interrompeu a agenda após receber um resultado positivo em teste para Covid na semana passada.
Com anúncios e inaugurações, pretendem desfazer a imagem negativa que atribuem à gestão da pandemia, que exigiu medidas impopulares.
Ao mesmo tempo, concorrentes de Garcia na corrida estadual também se movimentam, como mostrou a Folha. Na esquerda, Guilherme Boulos (PSOL) iniciou um giro pelo estado, e Fernando Haddad (PT) elabora um plano de governo.
Na direita, Arthur do Val (Patriota) avalia filiação ao PSL, o que daria ao youtuber mais tempo no horário eleitoral de rádio e TV.
A entrada de cabeça de Garcia na campanha representa uma mudança de estratégia para quem deixou o DEM e se filiou ao PSDB, em meados de maio, com o discurso de que só avaliaria uma candidatura no ano que vem. A saída do DEM provocou o rompimento entre o presidente da sigla, ACM Neto, e Doria.
A anterior hesitação de Garcia em assumir-se candidato evidenciava uma incoerência de Doria –que defendia prévias tucanas o quanto antes no nível nacional e jogava para frente a questão estadual, na tentativa de evitar o embate com Alckmin.
Na última segunda-feira (19), porém, a executiva estadual do PSDB, comandada pelo aliado e secretário de Doria, Marco Vinholi, formalizou em reunião a decisão de fazer prévias —nas mesmas datas e com as mesmas regras das prévias nacionais.
Apesar de ter pregado a eleição direta nacionalmente, Vinholi acabou decidindo que as prévias paulistas seguirão as mesmas regras de grupos, em que filiados representam 25% da votação e políticos, 75%. Para aliados de Alckmin, trata-se de outra incoerência com a finalidade de beneficiar Garcia.
Na reunião da executiva estadual, tucanos próximos ao ex-governador tentaram pleitear regras que consideram mais justas, como a eleição direta de filiados e a data separada da prévia nacional, mas foram derrotados.
Foi a pá de cal nas chances de Alckmin aceitar prévias. Da forma em que foram desenhadas, o ex-governador considera a disputa desigual e contaminada pela máquina partidária e de governo. Agora, só restaria a ele deixar o PSDB.
Tucanos avaliam, nos bastidores, que ao declarar sua candidatura, Garcia teve uma estratégia mais acertada e jogou pressão sobre Alckmin.
Ao deixar o PSDB, provavelmente rumo ao DEM ou PSD, Alckmin deve buscar uma aliança com Márcio França (PSB), que já foi seu vice-governador, também é pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes e é adversário político de Doria.
As viagens de Garcia pelo estado, intensificadas nos últimos dois meses, dão a dimensão do poder da máquina estatal a seu favor. Desde 1º de maio, o vice esteve em 44 cidades fazendo entregas.
Os compromissos incluem distribuição de vouchers de cesta básica, autorização para construção de moradias e reforma de estradas, além de inaugurações de creches, escolas, veículos escolares, delegacias e centros de idosos –seguindo a estratégia de explorar ao máximo programas e medidas já anunciadas em eventos do governo.
Além disso, em maio e junho, Garcia abriu espaço na agenda em dois dias para conceder, de São Paulo, entrevistas a rádios de 11 cidades do interior.
Para membros do governo paulista, não se trata apenas de agenda eleitoral, mas de executar inaugurações que estavam represadas na pandemia.
“O governo tem mais de R$ 21 bilhões em investimentos em 2021. Doria e Garcia estão acompanhando de perto essas ações”, afirma Vinholi sobre as viagens ao interior.
As agendas, por sua vez, servem para alimentar as redes sociais do vice. Garcia testa, desde o fim de maio, uma nova equipe para gerenciar suas páginas.
Desde então, ele passou a veicular dois tipos de vídeos de cerca de um minuto: um chamado Sextou, com o resumo da semana, e outro com nome Direto ao Ponto, em que aparece em frente ao computador em seu gabinete e comenta, com o forte sotaque do interior, programas de governo, como a vacinação, a privatização de aeroportos e a ampliação de creches.
Entre as publicações nas redes, algumas são de cunho pessoal, como fotos com a mulher no Dia dos Namorados e o retrato de um abraço nos pais. O vice também aposta na divulgação, em vídeo, de trechos de seus discursos.
De toda forma, a presença de Garcia na internet é tímida. O vice tem cerca de 7.000 seguidores no Twitter e 43 mil no Facebook, contra 1,4 milhão e 2,4 milhões de Doria, respectivamente.
Como mostrou a Folha, Garcia já ocupava posição central na administração Doria ao acumular os cargos de vice e de secretário de Governo, responsável pela articulação política e por planejar e acompanhar programas, obras e privatizações.
Diante do desgaste da imagem de Doria com entrevistas coletivas sobre a pandemia, o vice foi escalado também para cumprir esse papel e dividir eventuais repercussões negativas. Em abril, por exemplo, coube a ele anunciar a saída da fase emergencial e a entrada na fase de transição, também restritiva.
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