Uma das maiores taxas de alfabetização da América Latina. A terceira maior expectativa de vida da região. A menor taxa de mortalidade infantil, superando com vantagem o Brasil ou a Argentina. Reconheçam, amigos. Isto é Cuba.
Sim: Cuba em 1958, antes da revolução. Durante a detestável ditadura de Fulgencio Batista, um Estado policial bem ao estilo latino-americano, o país já estava relativamente avançado em termos sociais, se comparado ao Brasil.
Não imagino, entretanto, que admiradores do tirano Batista invocassem esses progressos para falar bem de seu “modelo cubano”, como fazem os eternos seguidores de Fidel Castro por aqui.
Claro, há inimigos da democracia por todos os lados. E é comum que elogiem as “conquistas” e “progressos” das ditaduras a que se alinham.
A ditadura militar, no Brasil, justificou-se por bastante tempo graças a investimentos em infraestrutura e níveis de expansão econômica que, hoje em dia, parecem de sonho por aqui.
A taxa de mortalidade infantil no Chile, quando Pinochet tomou o poder num golpe sangrento, era de 65,8 por mil. Em 1990, quando acabou a ditadura, era de 16 por mil. Impressionante conquista social!
Não canso de ficar espantado com a teimosia de largas parcelas da esquerda brasileira quando o assunto é Cuba. Prevalece a paixão, o espírito de torcida, acima de qualquer racionalidade.
Do ponto de vista dos interesses políticos da esquerda, não há nenhuma vantagem em reverenciar o regime cubano. Por mais que o PT bata palmas, nem sua ala mais radical, imagino, pensa em imitar as atitudes de Fidel.
Quando estava no auge da popularidade, Lula poderia ter tentado alguma coisa parecida com o que Hugo Chávez fez na Venezuela, com mudanças na Constituição e reeleições sucessivas. Não quis, ou percebeu que não conseguiria.
Em que aspecto, então, Cuba seria uma “inspiração” política para a esquerda brasileira? É até engraçado. Nos velhos tempos do leninismo triunfante, as forças majoritárias dentro da esquerda achavam bonita a palavra “ditadura”.
É “ditadura do proletariado” mesmo, companheiros, e a violência é a “parteira da história”. Danem-se os escrúpulos legalistas burgueses e os sentimentalismos de classe média.
Hoje em dia, o apoio ao autoritarismo cubano é diferente. Sim, diz o companheiro, aquilo é uma ditadura, ou melhor, não é uma democracia.
Mas, mas, mas… veja só quanta coisa boa tem lá. Parece um pedido de desculpas. Qual a lógica desse argumento? Tento entender.
A primeira justificativa seria a de que, sem ditadura, aquelas conquistas na educação e na saúde teriam sido impossíveis. A eternização da burocracia, a falta de alternância no poder, a censura, a perseguição a homossexuais, tudo seria “o preço” a ser pago por um maior bem-estar social. Isso simplesmente não é verdade.
A segunda justificativa é que não se tratava apenas de melhorias nos índices sociais, mas de acabar com desigualdades de renda. Nivelaram-se, não tenho dúvida, as condições de quase toda a população.
Aí, a discussão se torna um pouco mais complexa. Sem democracia, não há controle sobre o grau de vantagens a que uma parcela mínima de burocratas pode ter acesso. As injustiças podem ser enormes, como bem se sabe a partir da União Soviética e dos países do Leste Europeu, para não falar da Coreia do Norte, em termos de carreira profissional e de destino de vida, para quem não faz parte dos quadros privilegiados.
Uma terceira justificativa se mede por critérios puramente imaginários. A população pode se sentir mais “feliz” por ser um farol de resistência aos Estados Unidos, e a derrota do regime seria uma humilhação nacional. Ponha propaganda nisso.
Com certeza, é monstruoso o que os Estados Unidos fizeram contra a democracia na América Latina. Chile, Argentina, Brasil, não houve ditadura capitalista que eles não tenham apoiado ou imposto por aqui.
Não consigo achar que, por isso, tenhamos de defender os “nossos” ditadores. Eram poucos, na esquerda brasileira, os que ainda gostavam de Stálin, e menos ainda os que consideravam Brezhnev, Tchernenko e Andropov líderes do progresso humano.
Qual a diferença entre apoiar a União Soviética, a Albânia ou a Coreia do Norte, e apoiar Cuba, Nicarágua, Venezuela? O percurso dessas “revoluciones” é sempre o mesmo. Não há como ver em nada disso o futuro da humanidade.
Que é, ainda acredito, o de mais igualdade, com mais democracia também.
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