quinta-feira, 29 de julho de 2021

Partido do Governo, editorial FSP

 Na reorganização partidária dos estertores da ditadura militar, no início dos anos 1980, o Partido Democrático Social (PDS) herdou o grupo político que até então sustentava o regime na forma da Aliança Renovadora Nacional (Arena).

Com o fim do governo dos generais, em 1985, de sua costela mais dissidente saiu o PFL (Partido da Frente Liberal), que por fim desaguou no atual Democratas.

Já o ramo original passou por fusões envolvendo cinco agremiações e se tornou Partido Progressista Brasileiro (PPB). Sua estrela era o presidenciável derrotado dos militares em 1985, Paulo Maluf.

O partido, hoje Progressistas (abreviado como PP), apoiou todos os governos desde a redemocratização, com mais ou menos poder —o ápice até aqui havia sido sob Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Com a chegada de seu presidente, o senador Ciro Nogueira (PI), à Casa Civil, sela a união que já ocorria na prática desde 2020 sob Jair Bolsonaro na mais alta posição atingida em décadas de adesismo: o coração do governo.

Não só. A agremiação controla a Câmara, na figura do alagoano Arthur Lira, que exerce comando férreo e serve por ora como um elusivo seguro contra o impeachment. É um novo patamar de poder para o chamado centrão, que ganha um partido dominante entre os cerca de dez (não há conta exata) que compõem o bloco.

É certa novidade, dado que o caráter gelatinoso do grupo associado ao mesmo tempo à fisiologia e à governabilidade sempre privilegiou caciques, não siglas.

Ademais, a eventual filiação de Bolsonaro, sob fogo dos interessados em manter alianças regionais com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022, garantiria ao Progressistas poder momentâneo enorme.

Um exemplo se vê no Orçamento, com o esquema das emendas parlamentares do relator, que somam R$ 18,5 bilhões só neste ano.

Invenção do centrão com beneplácito do Planalto, o instrumento permite gastos discricionários com baixíssima rastreabilidade. É um cheque em branco para a compra de apoio de deputados sedentos por verbas para se reelegerem.

Há percalços possíveis. Desalojados da Casa Civil, os militares do governo correm o risco de ver parte de seu butim em cargos ser ameaçada pelo avanço do centrão.

Desde 2020, esses fardados compartilham a Esplanada com as forças que costumavam demonizar como a encarnação dos problemas políticos brasileiros. Agora, numa ironia histórica, parecem destinados a ser minoritários na aliança de ocasião a sustentar Bolsonaro, enquanto ganham protagonismo os herdeiros da velha Arena.

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