O perigo de golpe é mais um argumento pró-impeachment
A pergunta que não quer calar é se a liquefação do governo já tornou Jair Bolsonaro eleitoralmente inviável ou se ainda corremos risco de vê-lo no páreo em 2022. Adoraria poder cravar a primeira opção, mas, especialmente depois de Bolsonaro em 2018, que eu jurava que não seria eleito, aprendi a não mais superestimar a racionalidade de meus coetâneos.
O último Datafolha mostra que os apuros por que passa o presidente são sérios. As avaliações negativas já chegam a 51%. Em termos de imagem, a situação é ainda pior. A maioria dos eleitores já vê Bolsonaro como desonesto, falso, incompetente, despreparado, indeciso, autoritário e burro. São adjetivos difíceis de combater numa campanha. E nem dá para dizer que a avaliação seja injusta.
O problema é que a eleição é só daqui um ano e três meses, tempo suficiente para muita coisa acontecer. Vale lembrar que o Brasil costuma reabilitar líderes que um dia pareceram casos perdidos pelas pesquisas, como Sarney e o próprio Lula.
No médio prazo, dois fatores poderiam ajudar Bolsonaro. A vacinação, que ele sabotou, avança e já começa a conter a epidemia. A economia também dá mostras de recuperação. Se o governo, em suas múltiplas incompetências, não tivesse gerado uma ameaça de apagão, as perspectivas seriam melhores.
Há ainda a possibilidade de Bolsonaro procurar uma saída "off label". Na verdade, quanto mais fraco ele fica, mais tentador o golpe lhe parece. Gostaria de poder dizer que as instituições são fortes e impossibilitam essa cartada, mas surgem das Forças Armadas sinais de que as coisas podem não ser assim. Se havia uma coorte democrática no comando militar, ela foi demitida em março.
Acho que o perigo de golpe é mais um argumento pró-impeachment. É preferível desferir um ataque frontal contra a pior administração da história quando ela está mais fraca a fazê-lo num momento em que tenha força para reagir.
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