Certo dia, experimentei uma barrinha energética com insetos lá dentro. Explico. Eu não sabia. Eu era mais inocente do que uma criança que acredita no Papai Noel. Mas aceitei a oferta, comi, estranhei e depois perguntei a um amigo o que era aquilo.
“Grilos”, disse ele, com um sorriso mórbido. Foi o que bastou para que as três últimas refeições saíssem do meu corpo a uma velocidade estonteante. Grilos?
Pois é. A revista Economist, todos os finais de ano, publica um número especial só para contar como vão ser os 365 dias seguintes. Por essa altura, eu achava que 2020 tinha dado uma lição a esses profetas. Não deu. A Economist é reincidente.
Algumas previsões não são previsões; são já fatos. Exemplo: seremos vacinados contra a Covid-19 na maior operação médica da história. Novo exemplo: alguns hábitos online adquiridos durante a pandemia —trabalhar em casa, fazer compras pela internet, usar o Zoom para reuniões etc.— vieram para ficar.
Mas depois, no meio dos grandes temas, lá vêm os insetos. Não podemos continuar a produzir carne como até aqui. O planeta não aguenta. Donde vamos caçar os nossos amigos que se escondem por baixo da geladeira e fazer um risoto?
Os insetos, informa a revista, são riquíssimos em proteínas, razão pela qual 2 bilhões de pessoas já se entregam a eles.
Infelizmente, o Ocidente resiste: informa a International Platform of Insects for Food and Feed que só 2% dos europeus comeram um burger de larvas ou uma barrinha de grilos em 2019. É manifestamente pouco.
Em 2021, com a introdução de autorizações legais para cada espécie de inseto, é provável que a Europa veja um crescimento exponencial desses petiscos nos seus cardápios.
Imagino: na Itália, haverá pizza Centopiedi; na França, um cassoulet Scarabée; Espanha vai apostar na paella Saltamontes. E o Brasil? Que fará o Brasil quando chegar a sua vez?
O Brasil pode ir ainda mais longe, sobretudo na reinvenção da sua feijoada. Mal posso esperar pelos meus almoços de sábado em São Paulo.
Agora a sério: prometo que farei um esforço para me adaptar aos novos tempos. Se a carne e o peixe caminham lentamente para a clandestinidade, as opções oscilam entre o mercado negro, a fome pura ou a entomologia.
O mercado negro será caro e perigoso. A fome pura é mais barata, sim, mas não é Gandhi quem quer.
Os insetos, pelo menos, estarão um degrau acima do canibalismo, ainda que eu possa hesitar, na hora de verdade, entre uma Joana ou uma joaninha. Ninguém disse que era fácil.
Bom ano, leitor! E, já agora, bom apetite.
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