Medidas precisam diminuir a circulação de pessoas, não a de veículos
Por mais que tente, não consigo ver consistência na ideia do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, de instituir um megarrodízio de veículos no município, com o objetivo de restringir a circulação de pessoas. A partir da próxima segunda-feira, as regras do rodízio mudarão para tirar das ruas metade da frota a cada dia, incluindo sábados, domingos e feriados, e a interdição valerá na cidade inteira (era só no centro expandido), durante todo o dia (era só nos horários de pico).
A preocupação do alcaide é correta. A adesão dos paulistanos ao distanciamento social vem caindo, ao mesmo tempo em que a ocupação das UTIs está aumentando. E essa é uma combinação explosiva. A persistir a tendência, teremos cada vez mais infectados e menos condições de cuidar dos doentes.
Só que a resposta para esse problema são medidas que diminuam a circulação de pessoas, não a de veículos. Em termos sanitários, é muito melhor que os indivíduos que estão autorizados a continuar trabalhando se locomovam em carros particulares do que se utilizem do transporte coletivo, no qual ocorrem muito mais oportunidades de transmissão do vírus e onde diferentes clusters populacionais entram em contato.
Isso para não mencionar o caso daqueles que, mesmo sem integrar o grupo dos que atuam em serviços essenciais, precisam deslocar-se emergencialmente para um hospital, uma consulta médica, ou para comprar um remédio. Muitas vezes, são pessoas do grupo de risco as que não podem adiar tratamentos.
Minha impressão é que Covas optou por esse rodízio meio maluco porque não teve coragem de instituir o “lockdown”, no qual o controle se daria, como faz muito mais sentido, sobre o objetivo da saída e não sobre o meio de transporte utilizado. Só posso especular sobre as razões que levaram o prefeito a preferir esse arremedo de solução, que poderá até agravar o contágio, ao “lockdown”, que, infelizmente, parece cada dia mais inevitável.
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