segunda-feira, 30 de junho de 2025

O principal alvo de Alcolumbre e Motta é Dino; Lula, o bônus, Alvaro Costa e Silva, FSP

 Quando o roubo é rotineiro, fácil de executar e há por trás dele uma rede de proteção, os cuidados para ocultar o dinheiro diminuem. Pense nos políticos acostumados a guardar bufunfa viva para comprar apartamentos. Usavam como esconderijo panelas, meias, cuecas, até as nádegas.

Hoje qualquer lugar serve. Na sexta (27), a PF achou maços de dinheiro —no total, R$ 3,2 milhões— espalhados num guarda-roupa ao deflagrar a quarta etapa da operação Overclean, cujo objetivo é desarticular organizações criminosas envolvidas no desvio de emendas parlamentares. Ligados ao deputado Félix Mendonça (PDT-BA), três prefeitos foram afastados.

Os desvios de verba pública são tão numerosos que os espertos se atrapalham. Desmascaram-se mesmo sem a participação da polícia. Uma troca de acusações nas redes sociais entre a cantora sertaneja Simone Mendes e o deputado Fábio Teruel (MDB-SP) acabou revelando que o parlamentar direcionou R$ 2,2 milhões em emendas Pix para recapear o condomínio de luxo onde mora, em Barueri. O motivo da treta entre os vizinhos? Um cachorro fujão que incomodava a mulher de Teruel, Ely, que é vereadora.

São dois episódios que comprovam a disfuncionalidade da Câmara. Um colosso que lidera o ranking dos maiores e mais caros Legislativos do planeta, com servidores saindo pelo ladrão e um orçamento próximo ao dos Estados Unidos e superior ao de países da Europa. Como se não bastasse, veio o inexplicável aumento no número de deputados, de 513 para 531 nas próximas eleições, um custo adicional de R$ 65 milhões por ano. A manobra contraria 76% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha, e nasceu de um projeto da deputada Dani Cunha, filha de Eduardo Cunha, que inventou Arthur Lira, que engendrou Hugo Motta.

A derrubada dos três decretos mexendo nas alíquotas do IOF, mais do que desmoralizar o governo, mira a aliança entre Lula e o STF, especialmente o ministro Flávio Dino. Em jogo, o julgamento que pode retirar o controle desmedido do Congresso sobre os recursos do Orçamento.

Tribunal retoma pagamentos a juiz réu por usar nome falso, OESP


O Tribunal de Justiça de São Paulo retomou os pagamentos ao juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis , réu por falsidade ideológica por ter usado o nome Edward Albert Lancelot Dodd-Canterbury Caterham Wickfield durante 45 anos. Os repasses mensais foram reativados após Reis apresentar um novo CPF (Cadastro de Pessoa Física) ao tribunal, dessa vez com o nome verdadeiro.

José Eduardo exerceu a carreira por 23 anos com o nome forjado de Edward Albert e, neste ano, foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo sob acusação de usar documentos falsos e cometer crime de falsidade ideológica. A defesa dele diz que isso ocorreu devido a transtornos psicológicos que ele tem desde a juventude.

O TJSP afirmou, em nota, que os pagamentos ao magistrado haviam sido interrompidos porque "o CPF vinculado ao seu cadastro [no tribunal] estava suspenso por decisão judicial" e que eles foram e retomados "após a apresentação da documentação com os dados verdadeiros". Os pagamentos haviam sido suspensos em abril , após a repercussão do caso, por decisão do presidente do tribunal, Fernando Antonio Torres Garcia.

Além de réu por falsidade ideológica, Reis também é alvo de procedimento administrativo na Corregedoria Geral da Justiça, que investiga se ele cometeu alguma falta funcional ao usar um nome falso durante seus 23 anos na magistratura. Os dois processos estão em sigilo.

Na semana passada, o tribunal alterou o nome em todas as decisões assinadas por ele durante o exercício da função, reconhecendo que ele se chama José Eduardo Franco dos Reis.

Aposentado em abril de 2018, o magistrado recebe vencimentos do Tribunal de Justiça pagos com o erário. Em fevereiro, o tribunal pagou a ele o valor bruto de R$ 166.413,94. Em dezembro e janeiro, ele recebeu R$ 187.427 e R$ 155.621, respectivamente.

De acordo com a denúncia, em julho de 1973 Reis recebeu sua primeira cédula de identidade em Águas da Prata, no interior paulista. Para isso, apresentou sua certidão de nascimento original e se identificou como filho de Vitalina Franco dos Reis e José dos Reis -segundo a Promotoria, sua filiação verdadeira.

Em 1980, ele se apresentou no Instituto de Identificação estadual como filho de Richard Lancelot Dodd Cantebury Caterham Wickfield e Anne Marie Dubois Vincent Wickfield. Para isso levou cópias de um certificado de dispensa do Exército Brasileiro, um título de eleitor, uma carteira de trabalho uma carteira de servidor do Ministério Público do Trabalho.

À época, esses eram documentos facilmente falsificáveis. Ele conseguiu se matricular no curso de direito do Largo São Francisco, da USP, e ser aprovado num concurso de juiz com o nome inglês, que usou por toda a carreira.

Seu nome verdadeiro foi descoberto após ele comparecer a uma unidade do Poupatempo na Sé, no centro da capital, com a intenção de obter uma segunda via de seu RG com o sobrenome Wickfield. As impressões digitais, colhidas no Poupatempo e enviadas ao sistema de identificação automatizada estadual, mostraram o verdadeiro nome do juiz.

Em depoimento que prestou em dezembro do ano passado, Reis declarou que Edward Wickfield é seu irmão gêmeo, que teria sido dado a outra família durante a infância. Disse também que só conheceu o irmão na década de 1980, após a morte de seu pai. Segundo ele, Wickfield era professor e retornou à Inglaterra após a aposentadoria. 

Retorno a Ítaca: uma homenagem a Laurent Cantet, OESP

 

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Retorno a Ítaca

Palma de Ouro com Entre os Muros da Escola, o francês Laurent Cantet faz, com Retorno a Ítaca, um puro filme cubano, sem tirar nem pôr. Totalmente filmado em Havana, ou melhor, num terraço debruçado sobre a capital cubana, Ítaca fala dos eternos dilemas da ilha, e talvez o principal deles - permanecer no país e sofrer privações ou exilar-se e morrer de saudades pelo resto da vida.

Para imergir nesse espírito cubano, Cantet aliou-se ao grande escritor Leonardo Padura Fuentes (de O Homem que Amava os Cachorros, sobre a vida e assassinato de Liev Trotski). Leu um conto do cubano que descrevia uma situação crucial - um homem que havia se mudado para Madri volta após 16 de exílio e se reencontra e se confronta com velhos amigos - e, juntos, escreveram o roteiro do longa-metragem.

Para você

Contando com uma estrutura dramática bastante costurada, e com atores de primeira (entre eles Jorge Perrugorría, Pedro Julio Díaz Ferran, Fernando Echeverria, Isabel Santos), Cantet pode driblar qualquer monotonia ao resumir toda a ação a um terraço de prédio em Havana. É nele que os amigos se reúnem em torno de Amadeo, que viajou para o exterior e permaneceu fora por 16 anos, sem voltar uma única vez à ilha.

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A comemoração é grande, mas, compreensivelmente, toma ares de confronto à medida que as horas passam e os amigos vão conversando. Por que a situação de quem ficou é bem precária. Todos passaram pelo chamado "período especial", de grandes restrições, quando a União Soviética acabou e, com ela, o subsídio que permitia manter o nível de vida em Cuba. Todos sofreram, com exceção talvez, deste imigrante que vivia na Europa e agora volta e fala de sua existência nesses anos. Há um ressentimento generalizado contra Amadeo e que surge quando as doses de rum vão se sucedendo - ele teria abandonado a esposa doente para viajar para seu exílio dourado. E ela acabou morrendo.

Na verdade, o terraço transforma-se num microcosmo da sociedade cubana, que contém em si as diversas expectativas em relação ao país. Há os que ficaram e se ressentiram porque sofreram restrições ou tiveram suas vidas profissionais cortadas. Um deles é um idealista dos tempos da revolução, que ainda acredita no socialismo tropical de Fidel e no advento do homem novo de que falava Che Guevara. É visto, pelos outros, como um utopista amalucado. Há também os que se deram bem e surfaram nas dificuldades do regime e conseguiram lucrar.

Esta ala é representada pelo personagem de Perrugorría que aparece para a festa bem vestido, trazendo uísque escocês, comidinhas e produtos de luxo. Obviamente, tem ligações com o tráfico de produtos no mercado negro, mas diz que faz isso "para sobreviver". Existem os jovens, que chegam no meio da festa e representam as novas gerações. Filhos dos antigos militantes, eles nada têm a ver com ideais de um tempo passado. E, claro, há Amadeo, a consciência que vem de fora, acusado de abandonar a mulher doente, mas que tem um segredo a revelar a todos, o que só fará quando o sol começar a nascer sobre a noitada de reencontro.

Se Cantet é brilhante na direção de atores e na tensão obtida pelos diálogos, é também um cineasta ético e, portanto, respeitoso com seus personagens. Em momento algum procura disfarçar as agruras por que passou o povo cubano. Ao mesmo tempo que não demoniza quem se cansou e foi embora, não ridiculariza quem ficou e procurou construir a partir de escombros. Todo o drama de um povo, que passa por dificuldades, mas não perde a dignidade, está lá, nas entrelinhas desses diálogos cortantes e, por vezes, comoventes. Na Ítaca a que retorna esse Ulisses chamado Amadeo não existe uma Penélope esperando. Mas ainda assim, o filme o insinua, essa volta pode não ter sido em vão.

Foto do autor
Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema