terça-feira, 17 de junho de 2025

Do carvão ao hidrogênio: quem leva os empregos do futuro?, Joisa Dutra, FSP

 Acaba de ser publicado o The Future of Jobs Report 2025, do Fórum Econômico Mundial (WEF). O relatório mapeia riscos e transformações do mercado de trabalho global, com base em mais de mil entrevistas com representantes de empresas de 22 setores, em 55 países que somam 88% do PIB mundial. Juntas, essas empresas empregam mais de 14 milhões de pessoas.

Dentre as macrotendências identificadas, a transição verde se destaca como uma geradora líquida de empregos, mesmo diante do avanço da digitalização e da inteligência artificial generativa. O setor de energia, aliás, está entre os que mais adotam —ou pretendem adotar— essas novas tecnologias.

Trabalhador do setor energético em Itumbiara
Trabalhador do setor energético em Itumbiara - Ueslei Marcelino/Reuters

E o Brasil? Nosso país aparece em posição relativamente favorável. Há reconhecimento da necessidade de capacitar a força de trabalho (upskilling e reskilling) frente a essas transformações, que incluem mudanças demográficas e geopolíticas com impacto no comércio global. Mas reconhecer o problema, por si só, não gera empregos.

Mais do que um diagnóstico, é essencial perguntar: que empregos queremos gerar na transição energética? Quais políticas podem priorizar trabalho decente e oportunidades de qualidade? A resposta exige coordenação de políticas e ação.

Mas há também exemplos que ilustram os desafios —como Santa Catarina, estado líder na atividade carvoeira do país. Apesar de representar apenas 2% da geração de eletricidade nacional, o carvão conta com forte apoio político e segue sustentado por subsídios. O problema vai além da resistência à mudança, renovada a cada novo projeto no Congresso: falta uma estratégia clara de transição para trabalhadores e comunidades locais. Um paradoxo notável, considerando que o estado abriga a WEG, referência global em tecnologias para a transição energética. Uma transição justa exige articular esforços para requalificar essa força de trabalho e, assim, viabilizar o fim dos subsídios ao carvão.

Outros lugares mostram que alternativas são possíveis. Lembro-me de uma missão técnica aos Estados Unidos para conhecer a indústria eólica offshore. Em Virgínia Beach, onde há uma importante base naval, chamou-me a atenção o esforço para aproveitar o capital humano local —militares altamente qualificados prestes a se aposentar— em atividades futuras da cadeia eólica. O porto, antes voltado ao carvão, passava a operar como base logística da cadeia eólica. A qualificação de pessoas era tratada como ativo estratégico para atrair investimentos verdes, engajando faculdades comunitárias e centros de pesquisa.

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Pensei imediatamente no Porto de Pecém, no Ceará —um dos candidatos a hub de hidrogênio de baixo carbono no Brasil. A analogia sugere que é possível planejar uma transição em que trabalhadores sejam parte da solução, e não vítimas do processo. Há novos esforços nessa direção: o Senai instalou um centro de capacitação em energias renováveis na Barra do Ceará, e o governo estadual lançou o programa H-TEC, com meta de qualificar 12 mil profissionais para o setor. São sementes promissoras de uma transição energética com inclusão.

O relatório do WEF mostra que setores verdes enfrentam gargalos de qualificação e que a requalificação da força de trabalho é prioridade para empresas que lideram essa transição. Esses achados reforçam um ponto crucial: transformar potencial em empregos exigirá foco nas pessoas, com estratégias de qualificação conectadas à realidade do mercado. A falta de coordenação entre essas esferas gera inércia institucional —justamente quando o Brasil poderia se destacar como destino atrativo de capital num cenário global conturbado.

Às vésperas da COP30, o Brasil se vê diante de uma confluência rara de desafios e oportunidades: sediar a principal conferência climática do mundo, reformar seu setor elétrico (com a MP 1300) e atrair investimentos em atividades intensivas em dados e energia —como os data centers. Como anfitriões, temos a chance —e o dever— de mostrar como uma transição justa começa pelas pessoas, com trabalho digno no centro da agenda.

Joel Pinheiro da Fonseca Só um país pode trazer a paz ao Oriente Médio, FSP

 O regime fundamentalista do Irã tem como ponto ideológico inegociável varrer Israel do mapa e está buscando os meios militares para realizar esse intento. Além disso, patrocina grupos armados que atacam Israel repetidamente. Essa é a justificativa para a ofensiva israelense contra o Irã.

Há uma assimetria na relação Irã-Israel. O Irã deseja o fim de Israel. A recíproca não é verdadeira. Se amanhã o governo iraniano mudasse e os novos mandatários aceitassem a existência de Israel, o conflito cessaria na hora. A recíproca não é verdadeira: mesmo se um governo pacifista vencer em Israel, isso em nada mudaria a linha oficial do regime iraniano de varrê-lo do mapa.

A imagem mostra uma área urbana devastada, com prédios danificados e em ruínas. Um edifício em destaque está parcialmente destruído, com escombros visíveis ao seu redor. Ao fundo, há uma vista da cidade com vários arranha-céus e construções. O céu está claro e a cena parece ser de um local que sofreu um desastre, possivelmente um ataque ou um terremoto.
Equipes de resgate israelenses vasculham os escombros no local de um ataque noturno com mísseis iranianos em Bat Yam, a poucos quilômetros de Tel Aviv - Gil Cohen-Magen/15.jun.25/AFP

Israel aproveitou uma janela de oportunidade. O Irã está enfraquecido, agora que as milícias por ele patrocinadas —os houthis, o Hezbollah, o Hamas— estão debilitadas, e o regime sírio, que era seu aliado, caiu. Nos últimos meses, conforme Israel atacava inclusive o território iraniano, a resposta iraniana, embora sempre anunciada em termos duríssimos, foi pífia. O Irã teme mais o confronto do que Israel. Se, contudo, ele desenvolvesse bombas nucleares, isso poderia mudar.

É por isso que o ataque ao Irã consegue um apoio interno muito mais expressivo do que a campanha em Gaza, cuja brutalidade já passou de qualquer limite. Numa pesquisa da Universidade Tel Aviv publicada no domingo, 83% da população judaica israelense apoia os ataques ao Irã.

O sistema de defesa israelense pode não ser perfeito, mas é incrivelmente eficaz. Ele simplesmente anula a imensa maioria dos mísseis e drones iranianos. Israel, por outro lado, acerta alvos específicos dentro do Irã a seu bel-prazer. O aiatolá Khamenei pode continuar com suas ameaças, mas a realidade mostra a desigualdade de poder bélico.

E, no entanto, Israel não tem como vencer sozinho. Invasão por terra está fora de questão de ambos os lados. Bombardeios são tudo o que os dois países podem fazer. Israel precisa de tecnologia americana para atingir as instalações subterrâneas mais profundas do Irã.

Israel talvez consiga matar as lideranças militares, políticas e religiosas, e o caos dos ataques pode dar fim ao regime, mas não teria como escolher seu sucessor. Quem garante que o substituto dos aiatolás seria melhor ou mais favorável a Israel? Por mais que o regime seja odiado por boa parte da população, o ataque de uma potência estrangeira costuma ter o efeito colateral de unir a opinião pública em nome da defesa nacional e a odiar ainda mais o agressor. Israel quer um Oriente Médio ainda mais instável?

O Irã não tem nada a ganhar com essa guerra e seu regime tem muito a perder. Ele deve buscar a paz, ainda que ceda muito nas negociações. Seja para a paz, seja para a destruição do programa nuclear iraniano, a presença dos EUA é fundamental.

Hoje os EUA viraram espectadores passivos dos conflitos globais. Apoiam Israel, mas deixam que ele faça o que quiser. Algum acordo que ponha fim ao conflito exigirá que coloquem limites a Netanyahu, mesmo que isso prejudique as ambições dos extremistas de seu governo. Quando os EUA se ausentam da política internacional, o resultado não é a harmonia entre os povos, e sim a guerra sem fim.