terça-feira, 3 de junho de 2025

Ministério Público investiga Cacau Show por suspeita de más condições de trabalho, FSP

 Alex Sabino

São Paulo

O Ministério Público do Trabalho de São Paulo abriu inquérito para investigar denúncias recebidas contra a Cacau Show. A assessoria do órgão informa que o procedimento está em fase de apuração e não há processo judicial aberto.

As denúncias foram apresentadas no último dia 16 e estão com a procuradora Patricia Mauad Patruni Isotton, em Itapevi, na Grande São Paulo. Ela afirma, em e-mail obtido pela Folha, planejar uma audiência para as próximas semanas.

Uma pessoa está segurando uma caixa de papelão com doces coloridos, enquanto escolhe entre uma variedade de doces dispostos em recipientes transparentes. Os doces são de diferentes cores, incluindo rosa, azul e marrom, e estão organizados em pilhas ao fundo da imagem.
Loja da Cacau Show em São Paulo durante a Páscoa deste ano - Bruno Santos -16.abr.2025/Folhapress

A denúncia foi enviada pela Associação União de Franqueados, que representa donos de lojas da Cacau Show. A entidade coletou depoimentos de funcionários e ex-funcionários da indústria da Cacau Show e do resort Bendito Cacao, em Campos do Jordão, no interior de São Paulo. Na lista de denúncias estão condições precárias de trabalho, assédio, homofobia, jornadas exaustivas e pressão para participação de rituais.

A procuradora recebeu também cópias dos livros "A Doce Amargura", que contam experiências de franqueados da Cacau Show. A trilogia foi escrita por Náira Alvim Passionoto, ex-dona de loja da franquia, sob o pseudônimo de Helena do Prado.

Procurada, a Cacau Show disse não medir "esforços para ouvir e resolver qualquer ponto relatado por franqueados, colaboradores, parceiros e consumidores".

"Contamos com um canal de denúncia gerido por empresa independente, que garante anonimato e imparcialidade. As denúncias são rigorosamente apuradas e resultam em medidas cabíveis sempre que necessário. Reforçamos nosso compromisso de continuar investigando todos os casos com seriedade, para assegurar um ambiente ético, respeitoso e transparente", afirmou a empresa em nota.

Como a Folha publicou no último sábado (31), franqueados e ex-franqueados da rede fazem uma série de críticas à rede, de taxas consideradas abusivas, ameaças veladas ou diretas recebidas de consultores da empresa, multas teoricamente inexplicáveis e culto à personalidade do fundador da empresa e CEO, Alexandre Costa.

Todas as acusações são consideradas falsas pela Cacau Show, que tem mais de 4.600 unidades no país, segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising).

Nesta segunda-feira (2), a empresa enviou mensagem aos franqueados e ao time de vendas, mas sem abordar as reclamações apresentadas. Disse apenas que os conteúdos divulgados "não representam o que somos".

"Quero deixar claro que rejeitamos veementemente qualquer afirmação ou acusação que vá contra os valores que sempre nos guiaram", afirma o texto assinado por Alexandre Costa.

No mesmo dia, Náira, a Helena do Prado, recebeu comunicado da Cacau Show rescindindo o contrato de sua loja em Rancharia, no interior de São Paulo. A empresa disse que a tentativa de venda do estabelecimento não deu certo e que não há mais interesse "na continuidade da relação estabelecida no contrato de franquia". A unidade foi fechada.


RAIO-X | Cacau Show

Fundação: 1988, na Casa Verde, zona norte de São Paulo

Lojas: 4.661; 4.287 franqueadas e 374 próprias; grupo também tem hotéis e parque de diversão

Revendedores: 81,5 mil

Produção: capacidade para 30 mil toneladas ao ano

Faturamento: R$ 5,3 bilhões em 2023

Principais concorrentes: Kopenhagen, Lindt, Dengo e Brasil Cacau

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