Trump não está conseguindo o que deseja: a morte da democracia americana, com o rei Donald no comando. Já falei sobre a queda na sua aprovação nas pesquisas de opinião.
Por que isso? Não porque os americanos sejam adultos racionais que desejam claramente a igualdade de permissão e sabem que o estatismo não a produz. Os eleitores americanos são tão obtusos quanto os brasileiros. Eles são, em sua maioria, como dizem os cientistas políticos, "eleitores mal informados". Muito mal.
Na verdade, não é racional coletar informações para votar como um adulto. Seu único voto, apontam os economistas, tem impacto banal no resultado. A menos que você seja louco, o menor inconveniente para votar —uma chuva— deveria fazê-lo ficar em casa. Por isso faz sentido permitir que as pessoas votem de casa pelo computador, como na Estônia.
Eu disse "a menos que você seja louco". Vocês, caros leitores, certamente não são, mas a maioria das pessoas é. Elas votam de acordo com suas paixões, seus ódios, seus medos irracionais, suas esperanças absurdas. Uma campanha eleitoral serve para despertar emoções, não para explicar prudência e justiça adultas. Se fosse assim, o Brasil teria livre comércio, tanto externa quanto internamente, e Trump não conseguiria se safar com tarifas absurdas sobre países que não se curvassem ao rei Donald.
Mas governar não é eleição. É verdade que tanto Trump como Milei, com objetivos diferentes para seus países —um autoritário, o outro libertador—, são hábeis em manter o despertar das emoções. É como os faraós egípcios, que navegavam pelo Nilo para que seus súditos pudessem ver seu deus-líder, ou como os reis ingleses, que viajavam de castelo em castelo de seus subordinados aristocráticos para lembrar-lhes quem mandava e mostrar ao povo quem era o glorioso. A mídia moderna torna essas viagens desnecessárias se os eleitores simplesmente ouvirem os meios de comunicação que expressam suas paixões, como Fox News ou MSNBC nos EUA.
Mas, repito, por que ele perderá? Porque fez tudo rápido demais. Isso alarmou até alguns de seus eleitores mal informados. Trump não tem paciência nem inteligência para um jogo duradouro. Tiranos bem-sucedidos vão devagar e vencem, como Erdogan na Turquia, ou Putin, querido amigo de Trump, ou outro amigo, o húngaro Orbán, ou outro amigo autoritário, o príncipe Mohammed bin Salman Al Saud. Todos conhecem o provérbio do sapo que é cozido sem protestar em água cada vez mais quente.
Trump elaborou seus planos rapidamente, de modo desleixado e inconstitucional. Falta-lhe o que os gregos chamavam de "metis" —capacidade sábia, em comparação, digamos, com a força bruta dos persas. É judô, usa-se o peso do oponente contra ele mesmo, ou como em "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, usa-se a preparação lenta e inteligente em vez de improvisação precipitada e imprudente. "Metis" é trapaça inteligente, como a que os ucranianos estão usando contra os russos desastrados. Os truques de Trump são impulsivos demais para o sucesso em longo prazo numa autocracia.
Até o impulso funciona numa autocracia tradicional. Mas não em um país onde a opinião pública importa.
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